Edson Aran
O tropicalista mascarado aderiu à revolução. A seguir,
trechos selecionados dos “Diários Revolucionários” de Caê.
“Agora é odara ou desce pra esse capitalismo desumano, ôxe!
Eu mais Paulinha mais Gil mais Gal mais Bethânia mais Pemba formamos um
coletivo revolucionário na Lagoa de Abaeté. Mas a gente também passa no Pelô e
no circuito Barra-Ondina.”
“A gente ia se chamar Doces Vândalos, mas Gil falou que o
‘propagandamento da vandalização é extrinsicamente contra-informação da mídia
fedaputalhizante’. Não entendi nada, mas como eu amo essa preta, mudei o nome.
Agora é Axé Vandálico. Pemba gostou.”
“Eu organizo o movimento, eu oriento o carnaval. Mas tem que
pedir pra Paulinha. Senão ela me enfia a mão no pé do ouvido e a revolução
acaba antes de começar, ôxe.”
“Liguei pra Pablo Capilé. Expliquei a ele como Carmen
Miranda e Chacrinha planejaram a Semana de 22 e como esse evento revolucionário
influenciou o axézismo de Dodô e Osmar. Capilé falou que prefere a parte dele
em dinheiro. Não entendi.”
“Esse moço do hip-hop, o Espermicida, veio visitar nosso
coletivo. Ele chegou e falou ‘Eu sou Amarildo, eu sou Candelária, eu sou
Carandiru, eu sou Sem-Terra’. Coitado. Tão moço e já esquizofrênico, ôxe.”
“Enquanto os homens exercem seus podres poderes, eu mais Gil
mais Gal mais Giló mais Gozô mais Wanderley Wellington (nosso núcleo não para
de crescer, ôxe) escrevemos a pauta de reivindicação da revolução.
Exigimos:
1) Uma baleia
2) Uma telenovela
3) Um alaúde
4) Um trem
5) Uma arara
6) E ao mesmo tempo, bela e banguela, a Guanabaaaara”
“Liguei pra Black Bloc. Expliquei a eles como os Irmãos
Campos e as Irmãs Galvão inventaram a Bossa Concretista e como esse evento
revolucionário influenciou o enlarguecimento da roda de Sarajane e Luís Caldas.
O Black Bloc falou que vem aqui me dar um pau. Falei para eles que chamo
Paulinha. O Black Bloc mudou de assunto.”
“Eu mais Gariroba mais Quizomba mais Caleidoscópio mais
Wanderley Wellington mais Pemba fomos comprar material pra fazer coquetel
molotov. Eu expliquei que só podia ser com vodca importada, mas Quizomba falou
que eu era um baiano burguês e não entendia porra nenhuma de molotov. Fiquei
cheio de ódio e unhei a cara dele. Começou o maior quebra-quebra. Chegou uma
fila de soldados quase pretos dando porrada na nuca dos malandros pretos e
sobrou até pra mim que sou quase branco, mas fui tratado feito preto.”
“Agora estou em cana. O sol nasce quadrado e me enche de
alegria e preguiça. Os porcos capitalistas podem prender meu corpo, mas meu
pensamento voa livre sem livros e sem fuzil para espalhar a revolução no
coração do Brasil. Só que não. Só que não. Só que não. Só que não.”
xxx
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