Pesquisar este blog

quarta-feira, janeiro 07, 2015

Esquentando os tamborins (Parte 6)


Denise Carla
Os ranchos carnavalescos começaram a surgir na cidade do Rio de Janeiro em fins do século 19. As datas variam: 1872, 1895 e 1896. 
A princípio, desenvolviam apresentações bem próximas das características do folclore nordestino. 
Com seus emblemas e símbolos, formavam cortejos, cantando chulas ingênuas de origens africanas, acompanhados por uma “orquestra” composta de violões, violas, ganzás, pratos, castanholas e, às vezes, flautas. 
Os ranchos diferem das escolas de samba pela organização do desfile, pelo instrumental semelhante ao de bandas de coreto e pela música que, sempre inédita, constava de três peças: marcha-rancho, alusiva ao enredo, de andamento arrastado e acentuada riqueza melódica, a chamada marcha-de-passeio, de exaltação ao carnaval, e um samba-rancho.

Em sua fase áurea (1919-1939), os ranchos se apresentavam com fantasias luxuosas e criativas, figuras de damas e cavaleiros, com esplendores nas costas, pórticos e painéis com pinturas artísticas, além dos seguintes elementos: abre-alas, comissão de frente, figurantes, alegorias, mestre de manobra, mestre-sala (baliza) e porta-estandarte. 
Havia ainda as grandes sociedades, com seus carros alegóricos repletos de mulheres bonitas, alegorias mitológicas, históricas e cívicas. 
Os carros de crítica política encerravam, no fim da noite de terça-feira gorda, os disputados festejos. 
Tais agremiações se chamavam Tenentes do Diabo, Fenianos, Pierrôs da Caverna, Clube dos Democráticos, Congresso dos Fenianos, Clube dos Embaixadores e assim por diante.
A grande concentração popular se fazia na Avenida Rio Branco, da Cinelândia até a Rua do Ouvidor. A classe média alta preferia as imediações do Jóquei Clube, entre a Avenida Almirante Barroso e a Rua Araújo Porto Alegre. 
Alguns levavam os próprios assentos, cadeiras e banquinhos, mais tarde substituídos por palanques e arquibancadas montados pela prefeitura. 

A segunda-feira era célebre não só pelo desfile de ranchos, que usavam fogos de artifícios coloridos, mas também porque os frequentadores do baile do Municipal eram observados pelo populacho, que ia admirar-lhes as fantasias. 
A Galeria Cruzeiro, hoje edifício Av. Central, era o ponto focal do trecho entre a Rua São José e a Avenida Almirante Barroso, na época a área de maior animação dos carnavalescos tradicionais, que cantavam e dançavam ao som das músicas lançadas nos palcos dos teatros de revista e nas emissoras de rádio.
Com o desaparecimento gradual dos cordões, outros foliões, que não haviam aderido aos ranchos carnavalescos, se juntaram a conjuntos mais simples, não dramatizados, sem fantasias elaboradas e sem alegorias, que ainda mantinham certo paralelismo com os famosos cordões. 
Eram os blocos carnavalescos, que logo se organizaram em estruturas mais fechadas, formadas nas comunidades (“blocos de samba”) e outras formas mais livres e populares (“blocos de sujos” ou “de rua”) e logo cresceram em número e qualidade. 

Os primeiros foram predominantemente influenciados pela cultura negra e se tornaram os “embriões” de renomadas escolas de samba do carnaval carioca: o Vai Como Pode deu origem à Portela, o Arengueiros à Mangueira, e o Prazer da Serrinha ao Império Serrano.

Os “blocos de sujos” deram origem aos “blocos de clóvis”. 
Segundo alguns especialistas da história do carnaval, o nome “clóvis” é uma corruptela de “clown”, palavra que em inglês significa “palhaço”. 
Também conhecidos como bate-bola, os clóvis se assemelham a antigos arlequins medievais, que usavam bastões para agredir os desafetos e carregavam uma bexiga de porco ou de boi cheia de urina para arremesar nos incautos. 
Outros “blocos de sujo”, como os de mascarados e de nega maluca, também se transformaram em manifestações populares típicas do carnaval de rua, onde o improviso e a desorganização dão um sabor especial.

Nenhum comentário: