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quinta-feira, novembro 30, 2017

Poeira de Estrelas – Histórias de Boemia, Humor e Música (31)


Por Luiz Carlos Miele

Na inauguração da Sala Baden Powell, no Rio de Janeiro, vários shows foram realizados. Homenagens obrigatórias a um dos gigantes da música brasileira. Conheci Baden logo que vim para o Rio, na TV Continental, no programa Is e Rosana. “Is” era a marca de cigarros. Rosana Toledo, a cantora. Ótima e muito bonita, na linha da Maysa. Sua irmã, Maria Helena Toledo, era namorada de Luiz Bonfá, o que prova que as duas irmãs entendiam tudo de violões.

Estabelecemos, eu e Baden, uma razoável intimidade. Alguns anos depois, eu e Ronaldo produzimos o seu show. Estávamos em período de ensaios, no Teatro da Praia. Baden vinha de uma sofrida separação com sua mulher, Tereza, que, de musa inspiradora, virou alvo da revolta do Baden. Ele brigou do jeito que sabia. Com sua música.

Para não deixar dúvida, chamou letras talentosas do parceiro Paulo César Pinheiro e a primeira das composições dessa safra cheia de farpas. “Todo mundo se admira, da mancada que a Terezinha deu e deu no pira, sem levar um nada ter de seu. Ela não quis levar fé, na virada da maré, mas que malandro sou eu pra ficar dando colher de chá se eu não tive colher. Quá quá rá quá quá, quem riu, quá quá rá quá quá, fui eu.”

Durante os ensaios, Baden e Ronaldo foram alimentando a tese de vingança e resolveram colocar no show o título de Trator na margarida. Achei que era um pouco demais e, quando os dois se distraíram, coloquei o título Baden é de lei.

Ronaldo ainda produziu sozinho outros espetáculos dele e nos encontramos novamente em Vivendo Vinicius, que foi realizado inicialmente no Metropolitan, com o poetinha recebendo as homenagens dos parceirinhos queridos, Baden, Toquinho, Carlinhos Lyra e Tom Jobim. Esse, nas vozes de Miúcha e Leila Pinheiro. Baden tinha agora, como esposa e guardiã, Silvia, que lhe deu os dois filhos maravilhosos, Marcel e Phillipe, herdeiros do talento do pai, no violão e no piano.

Os dois me convidaram para a apresentação dos shows que citei no início desse texto. Artistas como Alcione, Wanda Sá e muitos outros faziam parte dos convidados das três noites de espetáculo. Sempre ao lado dos “meninos” do Baden.

Na primeira noite, eu na vez de mestre-de-cerimônias do evento, Marcel, no palco, me convida:

– Ô Miele, manda aí o Refém da solidão. Depois a gente faz Lapinha para encerrar.

No canto do cenário, havia uma enorme foto do Baden, cujo olhar apontava diretamente para o centro do palco. Como se fosse dizer para mim:

“Miele, vê bem o que é que você vai aprontar com a minha música.”

Falei dessa preocupação com os garotos, mas eles me “carregaram no colo” com o acompanhamento e eu cheguei são e salvo ao fim das músicas. Agora, eles fazem parte de vários projetos que eu ando sonhando. Afinal, é importante para mim saber que eu estou trabalhando com os filhos de artistas maravilhosos que eu tive a honra de produzir.

Nesses shows de homenagem ao Baden, cantei também com a Carol Saboya, filha do Antonio Adolfo, com quem gravei uma canção infantil quando ela tinha 9 anos de idade. E espero que seja assim com o Jairzinho de Oliveira, Luciana Mello, Pedro Camargo Mariano e agora Maria Rita, a cujos shows fui assistir emocionado.

Bom, com o netinho da Elis acho que não vai dar mais tempo para show juntos, não. Mas com Simoninha deu. Fizemos já três apresentações, no Rio e em São Paulo, e é muito divertido. Claro que o tema do show é o relacionamento profissional (e pessoal) que eu tive com seu pai, Wilson Simonal.

Além dos sucessos de seu repertório atual, Simoninha relembra os grandes sucessos do “velho”: Vesti azul, Meu limão, meu limoeiro, Mamãe passou açúcar em mim, País tropical, Minha namorada etc. Durante o show, Simoninha me chama carinhosamente de “tio Miele”. É melhor do que vovô, não é mesmo? E vamos lembrando um pouco das aventuras do artista que uma noite regeu “o maior coral do mundo”, no Maracanãzinho, quando, com sua habitual irreverência e domínio absoluto do público, comandou:

– Agora, só os quinze mil do lado de cá. Depois os 15 mil do lado de lá.

Eram 30 mil pessoas que lotavam o estádio, aguardando o show de Sergio Mendes, que voltava consagrado dos Estados Unidos e, inadvertidamente, convidou Simonal para “abrir” o show. Pois ele abriu e quase fechou. Sergio teve que esperar um bom tempo, até a rapaziada sossegar e ele poder se apresentar.

Fizemos muitos espetáculos juntos até a tragédia artística e pessoal que ele sofreu. Recentemente, seus filhos prepararam uma primorosa caixa especial com várias das inúmeras gravações de uma carreira extraordinária, no Brasil e no exterior, prematuramente encurtada por uma série de acontecimentos nebulosos.

O trabalho de Simoninha e Max resgata (em parte) essa carreira, o que as autoridades brasileiras se preparam também para fazer, com justiça. Na época do processo, “um processo sem réu” na opinião do juiz responsável, pois nunca houve uma acusação formal contra Wilson Simonal, eu fui solicitado a dar um depoimento sobre o mesmo, assim como Chico Anysio, a cuja reputação o Brasil deve grande respeito.

Meu depoimento:

À Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH OAB),

Atendendo à solicitação do Dr. Antônio Ribeiro Romanelli, venho dar o meu testemunho sobre o processo de reabilitação moral do cantor Wilson Simonal (proc. 01/2002/cndh protocolo 595/2002).

Prezados senhores,

Não pretendo fazer nenhuma literatura com relação ao meu depoimento sobre o resgate da memória de Wilson Simonal.

Acredito que a simples citação dos momentos profissionais e pessoais de nossa convivência bastem para definir a minha opinião o artista e o homem.

Durante os anos 60, eu e Ronaldo Bôscoli nos tornamos os produtores dos espetáculos que tornaram famoso o Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, onde foram revelados, entra tantos artistas, Elis Regina, Sergio Mendes, Leny Andrade, Trio & Tambo, Luiz Carlos Vinhas e a maioria dos instrumentistas que deram início ao movimento da Bossa Nova, hoje reconhecido internacionalmente.

Simonal era crooner de boates como Drink e Top Club. Impressionados com o seu sucesso na noite, fomos convidá-lo para estrear um show. Ele era a estrela principal, claro. Foram dois shows, o primeiro deles em companhia da atriz Darlene Glória, e, no segundo, já estabelecido como grande atração, Simonal lançou a cantora Rosa Maria. Os shows tiveram a participação do Bossa 3, formado por Luiz Carlos Vinhas, Otavio Baily e Ronye Mesquita.

Em pouco tempo, Simonal tornou-se um dos artistas queridos do Beco da Garrafas. Assim como os demais artistas que serão aqui citados, dentre as pessoas que ainda estão entre nós, todos os testemunhos podem ser facilmente identificados.

O Beco das Garrafas ficou pequeno para Simonal. Fomos para o Teatro Santa Rosa, onde produzimos (Miele & Bôscoli… sempre!!!) o primeiro show de MPB apresentado em teatro, com roteiro e textos especiais. Além do Bossa 3, a bailarina Marly Tavares completava o elenco.

Nesse espetáculo Simonal, além de cantar, fazia várias imitações, contava piadas, enfim, era o início da sua afirmação como grande showman. Em pouco tempo foi contratado pela TV Tupi para apresentar o programa Spot Light, dirigido por Aberlado Figueiredo.

Depois, veio a TV Record, onde passou a liderar o programa Show em Simonal num momento em que os movimentos musicais no Brasil tinham suas tribos absolutamente separadas, como o samba de raiz, a Bossa Nova, a Tropicália, a Jovem Guarda. O show de Simonal era absolutamente aberto a todas as vertentes da melhor música popular, dos Vips a Nara Leão e a Ciro Monteiro. Sem preconceito. Nem mesmo o preconceito musical.

Simonal tornou-se, então, um dos maiores cartazes do Brasil, dividindo o primeiro lugar entre os cantores com Roberto Carlos. Já durante a fase de grande sucesso, depois de um ensaio, ele me chamou para irmos a uma sauna. E partimos para a sauna Leblon, que ele não conhecia. Quando chegamos, houve uma grande correria, tanto de funcionários quanto dos clientes.

Afinal, na semana anterior, Simonal havia feito um sucesso extraordinário no Maracanãzinho, ao reger o que a imprensa chamou de “o maior coral do mundo”, quando 30 mil pessoas cantaram com ele o “Meu limão, meu limoeiro”.

Portanto, naquela tarde na sauna, Wilson Simonal de Castro foi recebido como um rei. Autógrafos, fotografias ao lado dos funcionários etc. Depois de observar detalhadamente o imóvel onde a sauna estava localizada, ele perguntou:

“Miele, qual é o endereço daqui?”

“Rua Carlos Góes, 84”, respondi:

“Miele, minha mãe foi cozinheira da família que morava aqui, e como eles não admitiam empregada com filhos, enquanto a família estava à mesa, almoçando, ela fazia um prato para mim e colocava no fundo do quintal. Eu pulava o muro, almoçava escondido e pulava o muro de volta para minha dureza.”

É evidente que a mudança de situações serviu para desenvolver uma série de conflitos na personalidade de Wilson Simonal. Na ocasião em que foi roubado por um dos contadores do seu escritório (contador que confessou o roubo na polícia), Simonal, em lugar de recorrer às providências oficiais, aceitou a sugestão de dois policiais, dos muitos que frequentavam as boates onde fazíamos os nossos shows.

“Simonal, deixa que a gente dá um aperto nele e ele entrega tudo…” Assim foi feito, assim o fato veio a público. Simonal foi detido e acredito que, em um de seus momentos de ingênua soberba, teria afirmado nada temer, pois tinha apoio e relacionamento com as autoridades que dominavam o país, todas elas fãs de seu talento. Num momento em que muitos artistas exerciam uma grande militância política, sofrendo por isso pesadas repressões, a atitude de Simonal foi considerada um verdadeiro ato de traição. O que lhe valeu o banimento do meio artístico.

Essa é a versão que eu conheço e na qual acredito, como, aliás, passaram a acreditar vários de seus acusadores e órgãos de imprensa, depois que Simonal amargou anos de exílio pessoal e profissional que culminaram com a sua morte.

É da profissão dos diretores de espetáculos definir o comportamento, atitude e caráter dos personagens que dirige. É inevitável que esse trabalho nos leve à apreciação da sensibilidade do homem que vive o personagem. E eu, e os outros profissionais citados nesse depoimento, não podemos ter nos enganado todos em relação a WILSON SIMONAL.

Atenciosamente,

Luiz Carlos Miele.

Poeira de Estrelas – Histórias de Boemia, Humor e Música (32)


Por Luiz Carlos Miele

“Nesta casa se escreve a história da Música Popular Brasileira.” A frase é do Ronaldo, não me lembro quando foi escrito, mas permanece até hoje na fachada do Canecão.

Realizamos naquele palco alguns dos shows mais importantes de nossa carreira. Desde o primeiro espetáculo de Roberto Carlos, em 1970, Roberto Carlos a 200 quilômetros por hora. Tinha a ver, é claro, com a paixão do Rei, naquele momento fascinado pela velocidade. Foi nosso primeiro show com direito à grande produção, com orquestra, cenografia etc.

Naquela época, a TV Record dominava absolutamente o cenário da música brasileira. Roberto, dirigido por Carlos Manga, e coadjuvado por Erasmo Carlos e Wanderléia, liderava Jovem Guarda, e Elis comandava O fino da bossa, dirigido por Miele & Bôscoli. Todos eram contratados do empresário Marcos Lázaro. Assim como Simonal, Agnaldo Rayol, Renato Corte Real, Elizete Cardoso, Aracy de Almeida, Juca Chaves, Fred e Carequinha, enfim, todo grande cartaz do Brasil ou aqueles que viriam a ser os grandes cartazes do Brasil, ou ainda aqueles que já haviam sido os grandes cartazes do Brasil e que ainda continuavam firmes na carreira.

A Record tinha um musical diferente por noite, mas a maioria dos artistas participava eventualmente de todos eles. O Regional de Caçulinha também, e acompanhava desde Silvio Caldas a Pepino di Capri. Caçulinha ainda não havia descoberto aquela moleza de faturar uma nota só para tocar oito compassos por domingo no programa do Faustão, com a frase “Quem disse que não dá?”. Tudo bem, pois o Caçulinha é gente finíssima e já batalhou muito tentando acertar o tom para muitos equívocos musicais que aconteceram na própria Record e que continuam acontecendo até hoje.

Marcos Lázaro controlava toda essa programação semanal, que envolvia talvez uma centena de artistas, de maneira quase familiar. Cuidava das contratações e pagamentos de todos os artistas convidados para os programas. Das estrelas principais era responsável inclusive pelas despesas particulares. Assim, pagava as prestações do carro do Erasmo (Rolls Royce), o colégio dos filhos do Roberto, o aluguel do apartamento da Elis. Luz e gás incluídos.

Você chegava no escritório, pedia um vale, ele mandava fazer o cheque e você assinava o primeiro papel que estivesse por perto, o qual ele colocava num fichário daqueles antigos de colégio. Como é que ele conseguia fazer aquelas contas, ninguém sabe até hoje. Mas eu adorava o Marcos, e a maioria dos artistas também. Havia uma grande amizade entre ele e a turma. Seu apelido carinhoso era Tio Patinhas.

Estavam todos empolgados com a carreira, o sucesso, e também não se ganhava o dinheiro que gira hoje em dia em torno do show business. Como no futebol, as estrelas eram famosas, mas não milionárias.

Marcos convidou a dupla Miele & Bôscoli para a produção do tal primeiro show do Roberto. Ao mesmo tempo, terminava a época de O fino da bossa, e ele tornou a proposta muito atraente, conjugada com outra participação minha:

– Veja Miele, vai acabar mesmo seu contrato com a Record, eu negociei a sua ida para a Globo para substituir o Agildo Ribeiro em Mister Show, pois o Agildo não renovou o contrato.

Tudo bem, pensei. Desfaço a casa aqui em São Paulo, volto para o Rio, para a Globo, e ainda produzindo o Roberto. Beleza. Eu devia ganhar naquela época uns 4 mil alguma coisa (cruzeiro, reais?). Não tinha a menor idéia de quantos vales havia solicitado ao Marcos, nem por quanto ele havia negociado a minha ida para a Globo. Portanto, perguntei:

– OK, Marcos. Tudo Bem. Como é que estão as nossas contas?

– Veja Miele, contando o salário da Record e os shows que você tem feito, você me deve 50 mil.

Fiquei sem fala durante os 45 minutos do primeiro tempo, os quais ele esperou pacientemente, enquanto efetuava os pagamentos dos cachês de Yvone de Carlos e Gene Barry (o Bat Masterson), que tinham vindo fazer um show na Record (péssimo, por sinal).

Quando me recuperei, ele continuou a conversa:

– Tudo bem, Miele, eu vou descontando dos próximos shows e do salário da Globo. Agora, voltando ao show do Roberto. Quanto é que você quer para dirigir?

Respondi imediatamente:

– 50 mil.

E o Marcos, também imediatamente:

– Fechado.

E assim começou a nossa primeira grande aventura no Canecão.

Logo no início, um impasse. Marcos e Roberto exigiam um depósito que seria equivalente hoje a, digamos, 350 mil reais. Era um fato novo nos shows brasileiros, e o Canecão hesitou em aceitar a proposta. Preocupado com a possibilidade de o show não se realizar, pedi a Anita para me apresentar o assessor do presidente do Banco do Estado da Guanabara (BEG), Marcio Lomba, ex-colega dela no governo Negrão de Lima. O presidente do BEG era Carlos Alberto Vieira. Devidamente autorizado pelo Marcos e pelo Canecão, apresentei a proposta:

– O banco adianta o dinheiro e retira “x” por cento da bilheteria durante cada noite do show. (Os shows, naquele tempo, duravam meses.) Além disso, na fachada e nos anúncios de jornais estará a frase “BEG apresenta”, assim como nos cartazes internos e nas tabuletas de reserva em cada mesa etc.

– OK – concordou o presidente – mas banco é banco, e preciso de um fiador.

– É claro, respondi. Ninguém melhor do que Roberto Carlos.

Não vou dizer que inventei o merchandising, mas foi no mínimo a mais estranha operação do gênero. Roberto foi fiador de um dinheiro que ele mesmo recebeu, e o banco, que ganhou o benefício de toda a propaganda, como patrocinador, recebeu, da bilheteria, todo o dinheiro de volta. Vai ver que foi isso que, ao fim da temporada, o presidente me perguntou:

– Miele, você não quer vir trabalhar com a gente, não?

Quem sabe não teria sido uma boa escolha. Pelo menos, eu não acordava toda segunda-feira tendo que correr para cobrir minha conta, repetindo aquela frase:

– Ah, eu tenho muita vontade de voltar a ser pobre por um dia. Porque todo dia é foda.

De qualquer maneira, com Roberto e o Canecão, fomos felizes quase para sempre. Fizemos vários outros shows em que Roberto aceitava diversos desafios que eram desnecessários à sua condição de maior ídolo do país. O mais marcante, para mim, foi o de se travestir de palhaço.

Foi idéia do Ronaldo, para fazer justiça. Eu fiquei apavorado, na certeza de que, se aquilo não funcionasse, eu e ele teríamos um brilhante fim de carreira no Tocantins, produzindo o show de aniversário do Boto Tucuxi. Pois, depois de experimentar 40 perucas e narizes de palhaço, Roberto topou (ficou com a primeira que experimentou) e foi um sucesso enorme, com a capa da Veja anunciando o show.

Lembro também do Roberto cantando em dupla com ele mesmo, com o vídeo de sua imagem projetada numa tela vertical do tamanho exato do seu corpo. Como eu não queria fazer nenhum corte no vídeo, fazendo gravação direta para dar a idéia perfeita de “outro” Roberto, gravamos durante 16 horas, nos estúdios da Miksom, em São Paulo.

Durante o show, a tela era puxada para o palco por uma cordinha bem rudimentar. Foi um dos primeiros “efeitos especiais” feito com martelo e pregos. Projetávamos a imagem do “Robertinho”, que entrava no show só para perturbar o Rei, com perguntas sobre as mulheres da vida dele, quem dividiu com ele o “café da manhã” etc. “Robertinho” havia gravado apenas com a participação de um teclado, enquanto eu, deitado no chão, soprava as frases que seriam cantadas depois pelo Roberto, no palco.

Todos os técnicos consultados afirmaram que não seria possível realizar o quadro, pois a orquestra iria acompanhar tudo ao vivo, no palco, e não havia condição de dar certo. Pois deu certo e foi um tremendo sucesso. Acredito que foi a primeira vez no mundo que isso tenha sido realizado, sem o auxílio de computador etc. Apesar de tudo, um crítico escreveu que a idéia era muito boa, mas mal realizada, pois o sósia do Roberto não se parecia muito com ele. Rimos muito, pois o “sósia” era ele mesmo.

Tenho muitas lembranças formidáveis dos shows do Roberto. Eu e Ronaldo bolamos um quadro em que o Pepe trazia as roupas de várias épocas da carreira do ídolo. Pepe é o maior diretor de palco do Brasil e o único com moral para dar bronca em estrelas do porte de Simone, Vinicius, Gal e o próprio Roberto. Pois bem, ele trazia até o centro do palco a arara, que é aquele cabide com rodinhas que se usa nos camarins.

Roberto pegava cada uma das roupas, que representava uma época diferente, vestia, contava a história e cantava a música correspondente. Nos primeiros shows, incluíamos sempre uma música internacional e lembro de um arranjo espetacular de Chiquinho de Moraes para McArthur’s Park, um grande momento, que mostrava um intérprete completamente amadurecido.

Foi muito bacana também a participação da garotinha que cantava Imagine, do John Lennon, junto com Roberto. Mas, a bem da verdade, esse quadro e a descoberta da menina foram por conta do Eduardo Lages, maestro do Rei até hoje. Engraçado, o destino. Chiquinho de Moraes é um arranjador genial, que, de tantos compromissos, teve que interromper repentinamente seu trabalho conosco, durante os ensaios que antecediam a estréia de mais um show.

Tínhamos pouco tempo para encontrar alguém para substituí-lo. Depois de uma reunião tensa, parei no bar Preto 22 para tomar um uisquinho para descontrair (boa desculpa, sempre). Havia um bom conjunto, um quinteto fazendo música de qualidade, que ficou ainda melhor no meu quinto uísque. Fui até o pianista e líder do conjunto e perguntei:

– Boa noite, está beleza o som. Os arranjos são seus?

Eram.

– Escuta, você não quer ganhar mais uma graninha? Aparece amanhã no ensaio do Roberto Carlos pra gente conversar…

Quem sabe se eu não entrasse naquele bar, Eduardo Lages não estaria há mais de vinte anos como o maestro e arranjador do Roberto Carlos?

Lembro da surpresa do Lages, em outro espetáculo cuja estréia foi no Maracanãzinho. Roberto resolveu que o título do show seria Verde-Amarelo. Ele havia acabado de compor uma canção com esse tema ufanista e eu fiquei preocupado com a repercussão política junto à imprensa. Afinal, Don & Ravel foram marginalizados quando gravaram Eu te amo, meu Brasil, eu te amo, que foi considerada uma canção a serviço do governo militar.

Quando levei essa preocupação até Roberto, ele respondeu que todo o Brasil sabia que ele não carregava nenhuma bandeira para qualquer governo. E depois, tinha todo orgulho em ser brasileiro, tivera aquela inspiração e não tinha o menor receio de ser mal interpretado. Ia cantar a música e gostaria de manter o título.

Quando ele diz educadamente que gostaria de manter o título, quer dizer que o título vai ser aquele mesmo, e não há de ser nenhuma dupla que vai mudar. Nem Miele & Bôscoli, nem Geisel & Médici, que, aliás, não fizeram muitos sucessos. De qualquer maneira, achei que podia dar uma disfarçada no roteiro e tentei incluir duas músicas que, na minha opinião, iriam contrabalançar o que eu acreditava que era um risco, Coração de estudante e  .

Aprovadas por ele as sugestões, pedi ao Lages um arranjo imponente. O querido maestro caprichou na escrita e escalou o coral de uma universidade para cantar à capela a primeira parte. Roberto só entrava em “Queixo-me às rosas, mas que bobagens, as rosas não falam…” Pra quê? No ensaio do dia seguinte, ele me chamou num canto:

– Bicho, você viu o que é que você ia aprontando? Eu fui rever a letra da música. Você já prestou atenção nessa letra?

– Claro, Roberto. Música e letra são uma obra-prima.

– Tá certo, bicho. É muito bem-feita, mas não exata. Diz aqui que as rosas não falam. E todo mundo sabe, tá provado cientificamente que as flores e as plantas ficam muito mais viçosas quando o homem se comunica com elas. Você sabe do meu carinho com as minhas plantas. E tem outra coisa errada. Diz aqui que as rosas exalam o perfume que roubam de ti. O homem é que se aproveita do perfume das rosas, industrializa tudo…

Sem perceber que aquilo era uma coisa importante para ele, um assunto sério, eu quis defender minha idéia e respondi:

– OK, Roberto. Você tem razão. Mas a gente já gastou uma grana nessa produção e o resultado com o coral ficou lindo. Você podia explicar para as rosas que eu não sabia de nada e já pedi para fazer os arranjos, que a culpa não é sua e…

Pela primeira vez em 30 anos de convivência, vi Roberto irritado. E pela primeira vez, levei uma certa bronca, o ensaio foi interrompido, ele voltou para o camarim, houve um grande atraso, até que eu fui lá me desculpar, e ele não só me serviu um uísque, como ainda me garantiu que ia livrar a minha cara com as rosas. Mas não cantou.

Nunca, nem antes, nem depois desse episódio, vi Roberto Carlos levantar a voz para alguém da sua produção, ou para um de seus empregados domésticos. É um homem de grande generosidade e educação. Solidário, fechado nas suas convicções.

Quando me acidentei, ele me ligou. Não me lembro de ter recebido outro telefonema dele em 30 anos de trabalho, embora tenha sempre atendido as minhas ligações profissionais. Dessa vez atendi ao chamado, transmitido por uma enfermeira emocionadíssima:

– Seu Miele, seu Miele, é o Roberto Carlos no telefone.

– Alô, Mielão. Qual é, bicho? Que é que você andou aprontando? Assim você assusta a gente. Nem tantas emoções assim…

E continuou brincando comigo, sem deixar de perguntar se eu precisava de alguma coisa etc. Desconfiando de que eu precisava, mandou depositar uma simpática quantia na minha conta e depois mandou me chamar para a reunião de produção do próximo show.

Sabiamente orientado por Dodi Sirena, empresário da maior competência, que acho que deu a ele uma grande tranquilidade em termos de estrutura, Roberto resolve hoje todo o seu repertório e comportamentos no show. É amparado por uma equipe da maior qualidade, da qual fazem parte o próprio Dodi, Lages, Césio, responsável pela iluminação e desenho de palco, e Genival Melo, o famoso Quem-Quem, que faz o som e muito mais. Essa equipe faz mais ou menos a arte-final do que Roberto pretende.

Durante seus dois últimos shows, fiz parte dessa equipe e das sugestões, mas pouco pude acrescentar. Acho que Ronaldo fez muita falta para mim e para Roberto. Sei que Roberto jamais iria me substituir e, então, quando convocado para a reunião do show mais recente, inventei outro compromisso. Acho que resolvi o problema de todos nós. Mas vou estar sempre na platéia para aplaudi-lo no palco, onde ele é soberano. O Rei.

Poeira de Estrelas – Histórias de Boemia, Humor e Música (33)


Por Luiz Carlos Miele

Muitas lembranças do Canecão. Ainda fizemos lá shows da Elis, da Alcione, do Agnaldo Timóteo, do Simonal, da Regina Duarte, além de inúmeras convenções e eventos especiais. E também como outros produtores, NÃO fizemos o show de João Gilberto. Depois de noites e noites de ensaios e pesquisas sobre o acompanhamento – orquestra, trio, conjunto, quarteto, quinteto de cordas, berimbau, só piano??? –, João não se convenceu com nenhuma formação.

Após uma semana de ensaios e tentativas, desistiu daquele espetáculo e seguiu brilhantemente sua carreira, acompanhado somente por João Gilberto, único capaz de entendê-lo em seu imenso talento, técnica, suingue e sensibilidade.

Mas os ensaios ao lado de Mario Priolli, o proprietário do Canecão, valeram sempre pelos muitos sucessos e mínimas decepções. Mario mandava colocar uma mesa enorme em frente ao palco, onde ficávamos eu, ele, Ronaldo, Maneco, responsável por solucionar as eventuais loucuras técnicas que a gente pudesse inventar, Zeca Priolli e algum convidado especial.

Mario sempre foi muito fidalgo em relação às mordomias, o que a gente pedisse para comer etc. Por uma estranha afinidade entre proprietário e produção, o uísque foi eleito por unanimidade o elemento principal desse menu noturno e, embora os ensaios terminassem mais ou menos às três da manhã, era normal que eu, Mario e Ronaldo ficássemos discutindo as possibilidades do roteiro, da música brasileira em geral, da situação da política mundial, do futuro da cultura de abobrinhas na Escócia e de qualquer outro assunto que resistisse ao consumo da imensa adega do Canecão.

Naquela época, o Canecão não tinha as cortinas, eram as paredes de vidro que deixavam passar as luzes da noite, que não atrapalhavam os shows. Mas, em virtude da extensão do horário de nossas reuniões, todas elas no sentido de contribuir para a melhoria das condições dos espetáculos, em favor da cultura do Brasil, o sol que atravessava as vidraças começou a perturbar nossa concentração.

Numa dessas ocasiões, mais ou menos às dez da manhã, remanescentes ainda os bravos profissionais do show da noite anterior, Mario houve por bem mandar instalar as cortinas negras, que imediatamente se mostraram supereficientes, também em relação aos espetáculos. Mas que foram colocadas por causa do “nosso sol”, foram.

Em outra ocasião, Mario trouxe para o Brasil o Moulin Rouge. Foi preciso adaptar o palco do Canecão para receber toda aquela cenografia. Veio um batalhão de técnico, bailarinos e bailarinas e um… leão. Leão de verdade, mesmo, porque em matéria de leões-de-chácara, o Canecão tinha a melhor equipe do Brasil.

Mas onde é que vai ficar guardado o leão? Naquele tempo, ainda não havia sido construído o shopping, ali ao lado, e ainda estava lá o morro, com alguns barracos. Ofereceram uma grana altíssima a um dos moradores para construir um cercado para hospedar a fera e o dono do barraco, que não era leão, mordeu rapidinho. De maneira que, todas as noites, o domador descia a pé pelo morro com o leão na corrente até uma estradinha onde uma Kombi aguardava para levar o bicho até o Canecão.

Numa dessas noites, durante a descida pelo matagal, domador e leão passaram perto de um casal que fazia das estrelas seu cobertor. No auge da empolgação, o macho homem sentiu aquele bafo quente na nuca. Como ele estava por cima, estranhou, e, ao virar a cabeça, deu de cara com aquela tremenda cabeça, que ainda por cima urrou. O leão urrou, mas não comeu ninguém. É claro que o apaixonado amante também não. Aliás, nunca mais comeu ninguém. Ficou broxa para sempre.

Poeira de Estrelas – Histórias de Boemia, Humor e Música (34)


Por Luiz Carlos Miele

“Atenção, passageiros da ponte aérea com destino a São Paulo.” Não sei há quantos anos escuto essa frase dita pela voz maravilhosa de Íris Letieri, com quem, aliás, trabalhei na TV Continental, quando, acho, nem eu, nem ela, tínhamos verba para as passagens aéreas.

As primeiras viagens entre Rio e São Paulo foram feitas mesmo nos ônibus da Cometa ou Brasileiro Viação Ltda. Depois, quando as passagens passaram a ser emitidas pelas emissoras de TV ou pelos clientes dos primeiros shows é que vieram as mordomias do Electra.

Muitos anos atrás (antes do Tom Jobim ensinar que “todos os anos são atrás”), fui convidado a escrever um depoimento sobre a ponte aérea, como um dos mais assíduos usuários. É, que durante uns dez anos, trabalhei no Rio e em São Paulo, o que obrigava a necessidade de duas e às vezes três viagens semanais.

O que não fazia de mim um Mauro Salles, com quem fiquei muito impressionado. Era uma grande vocação de Ícaro, com a diferença de que Mauro não caiu, graças a Deus. Só que, enquanto eu ficava nos vôs regionais, acrescentado vez por outra um Belo Horizonte-Porto Alegre, os roteiros semanais do Mauro assinalavam Rio-São Paulo-Nova York-Brasília-Frankfurt-Ribeirão Preto-Bangcoc. Parecido com a agenda do Roberto Carlos, que em dez dias fez Rio-Nova York-Patos de Minas-Bogotá.

Os meus vôos, bem mais modestos, ficavam por conta dos programas da TV Record e, depois, pela minha participação na Mikson Tecnologia de Comunicações, que foi a maior empresa de audiovisual do Brasil e a terceira do mundo, segundo o ranking feito pelo norte-americano que tinham as duas produtoras dos primeiros lugares. Mas a Mikson chegou a uma perfeição impressionante no multivisão, conseguindo resultados formidáveis.

Tinham clientes como a GM, Fiat, Kibon, Johnson & Johnson, Kaiser, Gessy-Lever e inúmeros outros, para quem produzimos convenções memoráveis. A maioria dos clientes exigia os espetáculos dos grandes cartazes como Roberto Carlos, Simone, Gal Costa, Jorge Ben, Gilberto Gil etc, mas muitas vezes criamos temas e roteiros especiais que foram muito gratificantes para nós. Acabamos por produzir shows especiais nos Estados Unidos, Espanha, na Alemanha etc.

Na Miksom fiquei mais de 15 anos como uma espécie de diretor de criação dos eventos especiais. Os Ortalli, família dos proprietários e diretores, foram muito especiais na minha trajetória profissional. Enquanto a tecnologia avançava, eles mantinham as tradições de amizade dos italianos. O presidente continuou a se chamar seu Zeca, os filhos Carlos Augusto e Zé Francisco iam transitando pelos computadores cada vez mais sofisticados, e ele continuava como se estivéssemos nas mesmas pequenas instalações do início da empresa.

Certa ocasião, numa tarde na qual íamos receber o presidente da Ford do Brasil para uma apresentação, eu sugeri que talvez fosse providencial remover o papagaio de estimação que ficava na sala pós-produção, proposta imediatamente rebatida por seu Zeca:

– O papagaio é do tio Nero e está conosco desde o começo. A Ford tem o seu presidente, e eu não dou nenhum palpite lá nas instalações deles.

E, assim, papagaios e computadores viveram felizes para sempre na mesma sala. Depois, a Miksom cresceu muito, e era impossível para mim continuar lá, pois a minha função exigia um profissional full-time, diariamente e desde as primeiras horas da manhã, para atender à grande demanda de produções. Mas ainda estivemos juntos no Moinho Santo Antônio, espetacular centro de entretenimento com quatro restaurantes, discoteca, sorveteria, arena de rodeios e um bar com música ao vivo (by Miele). Ficou uma grande amizade.

As amizades paulistas são muitas. Como a que tenho por muitos anos com Abelardo Figueiredo, grande produtor de espetáculos. Abelardo tem uma história que não cabe neste livro, e, por isso, o dele também já está pronto, ou quase. Vai falar de suas produções na TV, do Beco, tradicional casa de espetáculos de São Paulo, em que, durante muitos anos, os paulistas aplaudiram grandes shows. Abelardo foi a primeira pessoa que quis me colocar no palco num espetáculo que produziu no Rio de Janeiro chamado 12 Bikinis. Ele acreditava que eu podia ser um showman, mas eu não me convenci e preferi continuar apenas como assistente dele.

Na noite que antecedia a estréia, naquele nervosismo da véspera do show, fui chamado por alguém que, embora à paisana, parecia bem acostumado a dar ordens.

– Vem cá, meu amigo, você é que é responsável pelo elenco?

– Exatamente. Fala rápido que nós estamos no meio do ensaio.

– É o seguinte. Eu estou aqui para buscar a Srta. Mariela Maldonado (codinome de uma uruguaia que era a moça mais bonita do elenco). Ela tem um compromisso em Brasília e estará de volta amanhã ao meio-dia.

Sem entender, a princípio, aquele “texto” do compromisso em Brasília, eu recusei veementemente.

– Nem pensar. A estréia é amanhã. Não dá para liberá-la de jeito nenhum.

Com a mesma firmeza militar da primeira vez, ele continuou:

– Você não está entendendo, garoto. Eu tenho um jato esperando por ela na base de Santa Cruz e estou lhe informando que ela estará aqui amanhã ao meio-dia. E não há como dizer não a quem fez o convite, pois a tranquilidade da nação depende também de certos momentos de privacidade e paz. Paz e amor, naturalmente.

Informado da patente dele e da urgência do compromisso, acedi gentilmente. Realmente, no dia seguinte, ao meio-dia, lá estava ela no ensaio. Naturalmente, todos os outros 11 biquínis queriam saber dos detalhes daquela noite e eu fiquei imaginando qual teria sido o cerimonial: um primeiro drinque para relaxar, abaixar um pouco as luzes, deixando apenas a luz do abajur lilás, colocar no toca-discos uma música romântica e, então, parabadaram, parabadaram, invadem a sala os primeiros acordes do Hino Nacional Brasileiro.

Com Abelardo fiz ainda, já no palco, o espetáculo Sampa-Rio-Samba, que era exatamente essa ponte aérea. Ficamos nove meses em cartaz ao lado de Rosemary e de grande elenco. Depois fizemos também Spot Light com Miele, Ângela Maria e Lucinha Lins. Estranha mistura, não é mesmo? Mas deu certo. Grande Abelardo.

Mais recentemente fui contratado para inaugurar uma casa chamada Café Cancun. Deveria fazer o show ao lado de Pedrinho Mattar, o mais conhecido pianista da noite de São Paulo. Mas não fomos avisados de que teríamos que disputar a atenção dos clientes com alegres e divertidas garotas da Paulicéia. Naturalmente elas tinham atributos bem mais atraentes que nossas piadas e canções, pois eu trabalhava de pé, ao microfone, Pedrinho sentado ao piano e as garotas nas mais variadas posições.

Lembro de muitas histórias de Pedrinho. Duas são particularmente elegantes. Ambas aconteceram na Baiuca, restaurante-bar que durante muitos anos foi a casa mais elegante de São Paulo.

Na primeira delas, Carmem Mayrink Veiga, então ainda Carmem Terezinha Solbiati, adentrou o bar com uma pantera negra na coleira. Carmem usava um daqueles colares maravilhosos e a outra pantera, a negra, uma coleira de pedras, espero que falsas. Carmem sentou-se elegantemente, como sempre, e a pantera ficou embaixo do piano do Pedrinho. Deve ter adorado o repertório, já que Pedrinho está entre nós até hoje.

Numa outra noite, já madrugada, apenas um cliente no bar, Pedrinho ia encerrar os trabalhos quando, para sua surpresa e emoção, entra Vivian Leigh, acompanhada por um inglês de capa de livro, ou seja, chapéu coco, bengala, colete, bigodes com as pontas reviradas etc.

Pedrinho tinha aquela lembrança dela levando o fora de Clark Gable no fim do filme famoso e atacou imediatamente o tema do filme. Mas o tal último cliente já estava para lá de Marrakesh e também de Londres. De maneira que ignorou completamente o inglês, sentou-se ao lado da estrela, botou a mão no ombro e mandou um cordial e íntimo:

– Fala, Vivian Leigh.

Em face das reclamações do acompanhante, cobriu Vivian de elogios e propostas e cobriu o inglês de porrada. Com a intervenção do leão-de-chácara, os garçons tentaram controlar a pancadaria, enquanto nossa estrela tirou os sapatos e saiu correndo pela chuva, descalça, de madrugada, pela praça Roosevelt, em São Paulo. Nunca mais se soube dela. O vento levou.

Poeira de Estrelas – Histórias de Boemia, Humor e Música (35)


Por Luiz Carlos Miele

“Atenção, passageiros da ponte aérea com destino ao Rio de Janeiro.” Eu sou paulista, mas, por conta das produções de O fino da bossa e do Show em Simonal, tive que ficar mais em São Paulo que no Rio de Janeiro, pois os programas eram semanais.

Durante muito tempo, os artistas que ficavam em hotel em São Paulo se hospedavam no Normandie, no início da avenida Ipiranga. Não era um hotel de cinco estrelas, muito embora hospedasse dezenas delas. Os hotéis de luxo e demais mordomias aconteceram na geração que veio imediatamente a seguir. Muitos artistas participaram dessa mutação, como Caetano, Gil, Gal etc.

Elis morava num quarto-e-sala pertinho do hotel, cheio de bonecas, as que cabiam no pequeno apartamento. E já era líder do programa mais famoso de música brasileira. Os artistas brasileiros ainda não conheciam as listas que determinavam as dezenas de itens que hoje provêm os camarins.

As listas foram copiadas dos contratos dos artistas americanos e fizeram o maior sucesso. Eu participei da geração anterior e, no início do culto dos superstars, ficava muito surpreso ao me deparar com aqueles pedidos.

Hoje apenas me divirto, mas lembro como eram os pedidos para os camarins de Tom Jobim, Elizete Cardoso ou Dorival Caymmi, por exemplo: algumas doses de uísque, café, biscoito cream-cracker, água, um cinzeiro.

Relação do camarim de qualquer estrela atual (Pop-Sertaneja-Pagodeira-do Samba ou do Axé): duas garrafas de uísque (Black Label ou Old Rarety), três garrafas de vinho Maison de la Frescure-Safra 1996 tinto (resfriado), três garrafas de vinho branco no balde de gelo (já abertos), oito toalhas (quatro brancas e quatro pretas), sabonetes (um Dove e um Soapex-medicinal), papel higiênico (menos o Neve), uma garrafa térmica com café sem açúcar, uma garrafa térmica com café previamente adoçado, uma garrafa térmica com chá (aliás duas, sem açúcar e adoçado), uma TV em cores (com canais de TV a cabo), três linhas telefônicas (uma delas bloqueada, não podendo receber ligações), uma mesa de massagens (só a mesa, o personal massage é “personal”), duas garrafas de champagne Don Perignon (fechadas), biscoitos (integrais), frutas (da estação), salgados e frios (relação à parte, sujeita a alteração dependendo de uma ou mais apresentações). E, caso se trate de uma dupla, a produção providenciará duas listas diferentes.

De qualquer maneira, a ponte aérea me transportou de uma geração para outra. Ida e volta. Logo que cheguei ao Rio, depois de uma temporada difícil no Catete e em Laranjeiras, fui finalmente levado a Ipanema e ao bar Jangadeiro. Foi como se eu houvesse entrado num filme em que todos os figurantes eram famosos.

Nas mesas, como quaisquer mortais, estavam Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Luiz Bonfá, Rubem Braga, Glauber Rocha, Tonia Carreiro, Cesar Thedin, Marcos Vaconcelos, Jaguar, Ziraldo, Sergio Ricardo, Ronaldo Bôscoli, Albino Pinheiro, Sergio Bernardes, Caio Mourão e talvez mais umas dez ou quinze pessoas que não tinham saído (ainda) em fotos na primeira página dos jornais.

Isso foi numa terça-feira, pensei que era aniversário de alguém, mas a moça que tinha me levado garantiu que era toda tarde assim. E a noite mais ainda, é lógico. Fiquei fascinado com essa democrática aproximação com a “inteligência” carioca. Em São Paulo, você não encontrava o equivalente cultural paulista tão disponível no bar da esquina.

Como eu tinha vindo para a TV Continental, que não tinha uma grade completa de programação, passei a produzir um programa chamado Documentários de Arte. A cada semana levava alguém dessa “turma do bar”. Isso fez com que eu fosse imediatamente “adotado” por aqueles que eram os meus ídolos.

Marcos Vasconcelos, que citei no início, foi o mais importante deles. Excelente arquiteto, desenhista de humor do primeiro time, eventual compositor – escreveu para João Gilberto e Elis a letra de Samba da pergunta (“Ela agora, mora só no firmamento ou então no pensamento”) e, com seu parceiro Pingarilho, compôs ainda Samba de Rei e outras músicas – escritor de fino e raro humor (publicou Brasil, a marca da Zorra), era uma das figuras mais queridas e respeitadas pelos seus pares. Mas, de maneira estranha, foi o único deles cujo talento não ultrapassou os limites de Ipanema e do Rio de Janeiro.

Marcos ficava honestamente preocupado com minha ansiedade em tentar realizar o meu show, ou produzir em espetáculo de teatro ou dirigir um grande programa de televisão ou tentar o cinema, sem, na verdade, conseguir naquela época nenhum resultado. Sua tentativa de fazer com que eu me decidisse e me dedicasse efetivamente a uma dessas atividades se traduziu numa crônica que ele publicou no Caderno B, depois de me avisar pela manhã, pelo telefone:

“Olha aí, ô Miele, compra o Jornal do Brasil e presta atenção no recado”.

A crônica tinha o seguinte título, “A D’Ugo Miele – Um Bicho Tem Sete Cabeças” e contava a história de um empresário que procurava o dono do circo:

– O senhor é o dono do circo? Pois eu tenho uma atração especial.

– Todo dia me oferecem uma atração especial. Qual é a sua?

– Eu tenho um bicho que tem sete cabeças.

– Sei. E daí?

– Como, e daí? É um bicho com sete cabeças. Todas vivas.

– OK, tudo bem. Mas o seu bicho anda no arame?

– Não. Já disse, meu bicho é espetacular porque tem sete cabeças.

– Isso eu já entendi. Mas seu bicho é um palhaço, diverte as crianças, salta no trapézio, doma os leões?

– Não, não faz nada disso, mas tem sete cabeças. Isso não faz dele uma atração especial?

– Não. E não me interessa. Seu bicho tem muito talento, mas não tem aptidão.

Ainda sob o impacto do texto do Marcos, recebi um convite surpreendente do Paulo Cesar Sarraceni para ser diretor de produção do filme Porto das Caixas, que se tornou um dos marcos do Cinema Novo. Sarra tinha voltado da Europa premiadíssimo com seu documentário Arraial do Cabo, que havia realizado junto com Mario Carneiro, que seria também o diretor de fotografia de Porto das Caixas. Quando respondi que nunca havia feito cinema, além de algumas dublagens, o Sarra respondeu: “É isso que eu quero. Gente nova, com vontade de fazer.”

E foi com esse tesão, e talento é claro, que com pouquíssimas e precárias condições, ele realizou esse e outros filmes muito importantes.

Certa vez, recebi no Rio de Janeiro um diretor americano do qual não lembro o nome. Fui o cicerone para aqueles programas tipo ensaio da Mangueira. O americano havia dirigido Tai Pan e Pássaros feridos e havia sido diretor da segunda parte de Funny girl.

Mostrei o filme da Sarra para ele, que gostou muito, ficou impressionado com o material (nenhum) que o Mario Carneiro havia utilizado para algumas cenas de interiores. Perguntou quanto o filme havia custado e, quando eu disse, ele contou que com aquela verba, que era a verba total do filme, havia rodado uma cena de exatamente quatro minutos com a Barbra Streisand e o Omar Shariff.

“Atenção, passageiros da ponte aérea com destino ao Rio de Janeiro. Informando que, a partir dessa página, as histórias de Luiz Carlos Miele não obedecerão a nenhuma ordem cronológica.”

Pois bem, depois dessa aventura junto à turma do Cinema Novo, veio afinal o encontro com Ronaldo Bôscoli e o Beco das Garrafas, o que narrei em outro momento do livro. Lembro de alguns detalhes do apartamento na rua Otaviano Hudson.

Houve um tempo em que Ronaldo abrigava, além de Chico Feitosa, um rapaz chamado Luiz Carlos Dragão, pois soltava fogo pelas ventas, e este locutor que vos fala. Chico era um dos titulares da cama de casal. Mas não havia nada entre eles. Eram apenas bons parceiros. Como na canção famosa, É fim de noite, que deu ao Chico um dos mais charmosos e boêmios apelidos do Rio de Janeiro, “Chico Fim de Noite”. Charmoso e mentiroso, pois ele dormia antes da meia-noite, só ganhou o apelido por causa da canção.

Só havia a tal cama de casal. E um sofá. Acredito que foi nesse sofá que João Gilberto dormiu durante algum tempo. Usava o sofá e também algumas peças de roupa do Ronaldo. A suéter da foto da capa do seu primeiro disco era do Ronaldo. Tem também a história dele cantando O pato para Ronaldo, às quatro da manhã, que o Ruy Castro conta em seu livro Chega de saudade. Para mim, sobrou a história do sofá.

Quem chegasse mais cedo, eu ou Dragão, dormia na estrutura do sofá. O retardatário, nas três almofadas do mesmo, que a gente colocava no chão. Agora, tentem dormir em três almofadas. Cada parte do corpo fica numa delas, de maneira que, durante a noite, a bunda vai para um lado, a cabeça para outro e as pernas para uma terceira posição. Assim que a Debora Colker experimentar, teremos uma nova e maravilhosa coreografia.

O mais excitante do quarto-e-sala era o fato de que o banheiro ficava dentro do quarto do Ronaldo. Quer dizer, quando ele tinha alguma cliente no lugar do Chico, que, providencialmente, havia sido expulso para a casa dos pais, pintava o problema da ocupação do banheiro, por mim e pelo Dragão. Mas Ronaldo adorava a molecagem de embaraçar a namorada daquela noite:

– Ô Miele, pode passar para o banheiro que ela não vai reparar. Lembra dela, não lembra? Você conheceu lá no show do Tito Madi.

Era muito divertido e também muito embaraçoso. Ainda mais porque o único cobertor era todo queimado de ferro que usávamos para passar nossas camisas e que, invariavelmente, esquecíamos ligado. Ficava todo esburacado, de modo que se tornava difícil para a moça cobrir todas as partes. Muitas futuras capas de revistas encararam aquele cobertor.

Um pouquinho depois dessa fase… bem, a aeromoça já avisou que a cronologia dançou, não foi? Houve época do Jovem Flu. Eu, Ronaldo, Nelsinho Motta, Carvana, João Albuquerque, Leonam, Paulo Cesar de Oliveira e Otavio Afonseca frequentávamos o bar das cadeiras sociais do Maracanã, vendo inclusive o jogo. Otavinho já se foi, seu falso mau humor faz uma falta danada. Ele casou com Anna Maria Tornaghi, viramos compadres e amigos para sempre.

Num dos meus aniversários, Anna preparou em sua casa uma verdadeira festa de arromba para mim. Eu levei o conjunto que fazia o show, liderado pelo Aécio Flávio. A lista de convidados da Anna Maria foi a mais divertida que eu já vi. Artistas, a turma da sociedade, jogadores de futebol, modelos, maus exemplos, tinha de tudo, como convém a uma festa bem produzida. É claro que surgem “diálogos impossíveis”, como o de Nélson Cavaquinho e o ministro Severo Gomes.

– Nélson Cavaquinho, meu querido. Eu sou um grande fã de suas músicas e de seu talento. E me preocupo com a batalha de vocês. Sei como é difícil e sacrificada a vida do artista em nosso país.

– Pois olha, doutor Severo, o senhor vai me desculpar, mas eu já acho que, no Brasil, ser ministro é que é foda.

Ninguém sabe organizar uma festa como a Anna Maria. No Brasil, ou lá fora. E ninguém sabe como ela estar em vários lugares ao mesmo tempo. Uma vez, em Nova York, um brasileiro deslumbrado começou a pegar no pé dela, que não aguentou e sugeriu:

– Meu amigo, não chateia. Vai ver se eu tô na esquina.

O chato foi, ela estava na esquina.

Mas é campeã. Lá em Nova York, ela me ofereceu outra festa de aniversário.

– Obrigado Anna. Mas nós estamos em agosto, meu aniversário foi em maio.

– Mas aqui ninguém sabe, Miele. Pode convidar umas vinte pessoas para jantar, que eu garanto uma boca-livre.

A tal boca-livre foi simplesmente no Plaza, que eu já achava caro para um jantar, eu e Anita, quanto mais para vinte convidados.

– Miele, não esquenta, dá cem dólares para o maître e deixa comigo.

Quem tem amigos como Anna Maria não morre pagão. E janta no Plaza.

De NY pego de volta uma ponte para o Rio e caio nos braços de Cesar Thedin. Um abraço ao mestre com carinho. Cesar namorou algumas das mulheres mais interessantes do Brasil. Casar, achou que só casou com Tonia Carreiro. Segundo ela, melhor amante e pior marido do Brasil.

Viveu grandes romances, um deles com Leila Diniz. Ela, maravilhosa, fazia no Rio um show cujo título era Tem Banana na Banda, no Teatro Aurimar Rocha. Depois de um dos espetáculos, lá pela meia-noite, pegou o seu fusquinha e foi sozinha, guiando até Cabo Frio, só para dormir com o César.

Naquele tempo, a estrada era péssima e foi uma aventura para chegar até lá, ainda mais para quem tinha que voltar no dia seguinte para o show. Chegou finalmente e, graças a Deus, encontrou o Cesar dormindo sozinho. A chegada dela foi uma festa, é claro. Emocionado com o rali que ela havia feito, ele não quis ficar por baixo, já que daqui a pouco iria ficar por cima.

A casa era na beira do canal de Cabo Frio, Cesar mergulhou às quatro da manhã, pescou uma lagosta com o arpão, preparou e  serviu com champagne etc. Foi o filme, ou não foi? As opiniões da turma se dividiram.

– Que mulher, heim. Guiar daqui até Cabro Frio de madrugada. Só a Leila mesmo.

– Tá certo – comentavam as outras garotas, invejosas. – Mas, e ele? Mergulhar àquela hora e preparar a lagosta…

Tempos depois, Cesar me confessou:

– Rapaz, a história da lagosta deu tanto ibope que eu passei a manter um viveiro embaixo d’água com três ou quatro de plantão. Cada mergulho, um flash.

Amigos, amigos. Negócios à parte? Nem sempre. Já trabalhei mais que uma vez com Ricardo Amaral e, mais do que amigo, eu virei seu fã. Chegamos a pensar em escrever um livro juntos, mas se eu consegui reunir algumas histórias, calculem o Ricardo.

Fiz vários shows na pioneira Sucata, no Hippopotamus, no Metropolitan. Certa ocasião, ele me chamou a Paris, pois estava estudando a possibilidade de abrir no Rio o Crazy Horse e eu iria dirigir os shows. Fui sozinho, era trabalho, Anita ficou no Rio. Quando cheguei, o prestígio do Ricardo e do seu Clube 78 podia ser medido por uma foto do Regine, até então rainha da noite parisiense. Na foto, ela estava muito abatida, a cabeça entre as mãos e os pés dentro de dois baldes de gelo. E a legenda era a seguinte:

– Regine está desolada, Monsieur Amaral chegou a Paris.

A despeito de todas as notas que comentavam o sucesso de Ricardo por lá, fiquei boquiaberto com a verdade, “ao vivo”. A mesa dele (no La cage d’or) ficava cercada como uma espécie de tenda até ele chegar no clube. Então, com seu tradicional “alô, alô”, ele ia recebendo Liza Minelli, Soraya, Pierre Cardin, Andy Warhol e Luiz Carlos Miele. Como, além de tudo, ele colocou uma Mercedes com motorista à minha disposição, no segundo dia, lembrei que o pecado mora ao lado e, antes que batesse a meia-noite e eu virasse abóbora, liguei correndo para Anita:

– Meu bem, vem logo que eu estou morrendo de saudade.

Gisela já estava lá, é claro. Ave, Gisela. Tão generosa, amada, mas amada pra valer. Gisela adora seus amigos, suas obras sociais etc. Antes da abertura do Metropolitan, Ricardo me avisou:

– Miele, capricha na produção da missa, que dona Gisela mandou benzer a casa.

Peter Gasper, cenógrafo e iluminador, premiado, fez uma cruz linda de acrílico, efeitos especiais, fumaça etc… e a missa foi no palco, ainda em fase de acabamento. Acho que, empolgado com a cenografia, o padre, depois de uma emocionante pregação, agradeceu a Deus e a outros seus superiores, como o empresário Ricardo Amaral, que criava ali mais um campo de trabalho para várias pessoas e agradeceu também a Fiat, à companhia de cigarros Souza e ao uísque JB. Amém.

Mestre também na arte de fazer amigos, outra grande figura da noite é Flavio Ramos. Uma de suas mais famosas foi o Au Bon Gourmet, onde se realizou o memorável encontro de Tom, Vinicius, João Gilberto e Os Cariocas.

– Tom, e se você fizesse agora uma canção para celebrar a nossa união?

– Olha, ô Joãozinho, eu não poderia sem Vinicius para fazer a poesia.

– Para essa canção se realizar só com o João para cantar.

– Ah, mas quem sou eu, eu sou mais vocês.

– Que tal se nós cantássemos os três?

– Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça…

Flavio realizou outros shows memoráveis e tinha também a boate Jirau. Da madrugada, perto da hora de fechar, avisava aos poucos retardatários:

– Daqui para frente é todo mundo meu convidado, mas, em compensação, só vou colocar as músicas que eu quiser.

O que representava um grande lucro para os fregueses, pois ele possui uma das maiores discotecas de música americana que eu conheço. Sócio durante algum tempo de um restaurante em Los Angeles, foi íntimo do Sinatra, Sammy Davies e outros cantores sertanejos.

Uma noite apareceu lá no Beco, com Jimmy Van Hoisen, letrista do Sinatra e proprietário de um clube chamado Vila Capri, em Los Angeles. Queria levar a Bossa Nova para lá e foi ver e comprar o show de Simonal, Marly Tavares e Bossa 3. Mas, segundo ele, só havia um problema:

– É o seguinte: eu tenho um sócio muito chato, que vai querer empurrar a esposa dele para participar do show. Tem que dar um jeito dela dançar um inúmero.

O sócio era um cantor-canastrão chamado Tony Martin e a esposa, Cyd Charisse, dona das pernas mais talentosas e bonitas de toda a história do cinema americano, que dividiu musicais com Fred Astaire e Gene Kelly. É claro que prometi a ele que ia tentar quebrar esse galho, mas o show não saiu. Parece que a Cyd Charisse estava disponível, mas o Bossa 3 tinha compromissos em Teresina e não deu para conciliar.

Será que essa história aconteceu assim? Bem que eu avisei no começo do livro que, com o passar do tempo, a gente vai colocando um champignon em cada história, a cada vez que conta. Na segunda edição dessas memórias, provavelmente já vou estar dançando e transando com Cyd Charisse.

Numa noite especial, a Jirau promoveu o lançamento de um compacto com Irene Singery. A música era These boots are make for walking, que havia sido gravada anteriormente por Nancy Sinatra, filha do homem. Foi um grande sucesso, mas as cópias que vieram ao Brasil se esgotaram e naquele tempo era difícil a reposição. João Araújo, presidente da Som Livre, tinha ouvido Irene cantar em uma festa e convidou-a para gravar. Foi no coquetel de lançamento que eu a conheci. Ela se apresentou:

– Você que é Miele da dupla Miele & Bôscoli? Pois vocês têm que me contratar imediatamente. Eu canto, danço. Sei que sou bonita e gostosa, divina e maravilhosa.

E era mesmo. Impressionado com aquele charme e descontração, falei dela para o Ronaldo e no dia seguinte fomos procurá-la para fazer um show ao lado do Lennie Dale, que era a grande sensação da noite carioca.

Ela concordou:

– Está bem, eu faço o show, mas quero ganhar a mesma coisa que ele.

– Mas o Lennie é uma estrela. Você vai começar agora.

– Pode ser. Mas quem vai lotar a casa sou eu. Todo o Rio de Janeiro elegante vai querer me ver.

E foi assim mesmo. Todo mundo queria ver a condessa descalça. Descalça, mas com os pés no chão. Irene fez vários programas de televisão, gravou um disco nos Estados Unidos com produção do Aloysio de Oliveira e arranjos do Oscar Neves.

Depois, casou e mudou. Mudou para a ilha da Piedade, que ela transformou pessoalmente num centro de lazer maravilhoso. Tanto que foi durante algum tempo a Ilha de Caras. Quando a Irene achou que a ilha estava ficando com mais cara da revista, em vez de “ilha da Irene”, acabou com a festa. Quer dizer, com “aquela festa”, pois onde Irena estiver, ali é a festa.

Ela me convidou para fazer com ela a festa do cinquentenário do Country Clube, onde é figura queridíssima, e me abriu a porta da frente da sociedade carioca, na qual fiz amizades maravilhosas.

Poeira de Estrelas – Histórias de Boemia, Humor e Música (final)


Por Luiz Carlos Miele

Na verdade, o que eu gostaria mesmo era terminar essas lembranças com uma grande festa. Em que os convidados fossem todos aqueles que fizeram essa Poeira de estrelas. Os que ainda estão conosco e aqueles que já foram para o infinito. Que já viraram estrelas, como no texto de Elis: “Agora, eu sou uma estrela.” É isso aí. Estão todos convidados.

Vejam só em que festa de arromba de repente eu fui parar. Roberto e Erasmo, que raramente são vistos juntos em qualquer outra festa, vieram prestigiar a minha. Estão compondo juntos novamente, para felicidade geral da nação. Eu mudei um pouco a letra da Festa de Arromba:

Vejam quem chegou de repente
Erasmo Carlos em seu novo carrão
Roberto tira um sarro guiando um caminhão
Levando na boléia a Fafá e a Wanderléa
Eu também tô nessa, nessa festa não vou só
Pego uma carona com Chitãozinho e Xororó.
Eh, eh, que onda que festa de arromba.

Os convidados continuam a chegar. Elis passa às gargalhadas, cantando que “tá cada vez mais down no high-society”. Várias biografias da Elis ignoraram sua fase “Miele & Bôscoli”. Achavam que era politicamente incorreto uma cantora do porte da Elis ficar dançando e sapateando comigo, fazendo graça, cantar vestida de Carlitos etc. Eu adorei. E como Gonzaguinha, que está tomando uma batida de limão ali no bar, fico com a pureza do sorriso das crianças, e com a manchete do Jornal do Brasil, no dia seguinte da estréia do show com Elis: “Elis deu o salto.”

Fagner chegou que eu já vi
Tá dançando com a Rita Lee
Até Lulu Santos faz parte da patota
Saiu o Ed Wilson, mas entrou o Ed Motta
Marina diz que a festa só acaba de manhã
Emílio Santiago vai cantar com Djavan
Eh, eh, que onda, que festa de arromba

E atenção, a Adeg informa: entra Roberto Menescal na festa e na minha vida. Vem com ele, é claro, Wanda Sá. Durante um show dos dois, eu comecei a fazer umas graças da platéia, até que eles me chamaram para o palco. Ficamos improvisando durante uns 40 minutos, até que o dono da casa nos convidou para fazermos juntos o próximo show.

Fizemos Uma Mistura Fina. Depois, em face do estrondoso sucesso do CD que gravamos (minha mãe comprou o outro), fizemos novo show, Apenas Bons Amigos. Daí pra frente, Menescal me convenceu de que, além de contar piadas, eu podia também cantar. O que fez com que um crítico tenha dito para ele: “Ah, então foi você.”

A festa continua animadíssima. Minha irmã Eliana está muito emocionada com a presença de tantos artistas famosos, alguns deles seus ídolos. Ela é muito emotiva e chora facilmente quando encontra um deles. Principalmente os que já morreram. Silvio Caldas pergunta para Billy Eckstine porque é que ele não senta durante uma hora antes de começar o show:

– É para não amassar o vinco da calça do smoking.

Igual ao pessoal do Rappa, não é mesmo?

Paulinho da Viola cantava na piscina
Simone no terraço, Alcione no salão
Tim Maia não vem mesmo, eu quero meu ingresso
Acabaram de chegar os Paralamas do Sucesso

Num canto da sala, Tim Maia é entrevistado pelo Otávio Mesquita, que ele insiste em chamar de Amaury Jr. Só de sacanagem, é claro:

– Ô Amaury/Otávio, já sei que você vai me perguntar sobre o negócio de drogas. Seguinte: vou declarar aqui de uma vez por todas para seus milhões de telespectadores. Eu não bebo, não cheiro e não fumo. Só tenho um defeito na vida. Minto pra cacete.

Durante toda a carreira, Tim nunca faltou a um compromisso profissional comigo. Aproveito e convido ele para fazer um show numa convenção.

– Tudo bem, Mielão. O show é só comigo?

– Não, o cliente quer três artistas bem diferentes. Você, o João Gilberto e o Baden.

– Tá legal. Então, também não vou.

É festa, é festa, é festa, é festa. Até o sol raiar. Simone chega de braços com o Ivan Lins e o Paulinho Cesar Pinheiro, autores do seu novo sucesso. Vieram juntos com o Manoel Poladian, empresário competente e muito vivo, que veio ver de perto o conjunto que tem a Cris Delano e o filho do Menesca no grupo. É o Bossacucanova, que fez um tremendo sucesso na entrega do Grammy.

Quando o livro da festa for publicado, eles já devem estar também fazendo um grande sucesso no Brasil. Se não, azar do sucesso. Eles cantam os grandes sucessos da Bossa Nova, incrementados com uma batida atual, participação do DJ Marcelinho da Lua etc. Quer dizer que o meu sobrinho, Quico, adora. Meu sobrinho mesmo. Filho da minha irmã. Tem que explicar direto se não fica aquela coisa das bichas que apresentam seus garotões:

– Oi, querido (a). Conhece meu sobrinho?

– Claro que conheço. Ele foi meu sobrinho na semana passada.

E a zoeira continua. Que vai rolar a festa, canta Ivete Sangalo, junto com a Daniela Mercury, que eu apresentei no início da carreira, no programa Coquettel, que eu fazia no SBT e que o Jô anunciava assim:

– Não percam, a seguir: Coquetetas.

Grandes Jô Soares. Ele está numa roda formidável. Não dá pra saber quem está rindo de quem. Estão todos juntos lá: os maiores humoristas do mundo. Jô, Agildo, Chico Anísio, Cantinflas, Danny Kay, Jerry Lewis, Paulo Silvino, Oscarito & Grande Otelo, Fernandel, Totó, Tom Cavalcante e todo o elenco maravilhoso da Escolinha do Barulho da TV Record, do qual adorei ter participado. Como adorei ter participado da Praça da Alegria nos domingos antigos da Globo. Eu tinha um certo preconceito idiota quanto ao humor “popular”. Aprendi com o Ronaldo Golias que só existem dois tipos de humor no mundo: engraçado e sem graça.

Falando nisso, Dercy Gonçalves aproveita para mandar tudo pra puta que pariu, principalmente a idade.

Lembro que, para a Praça da Alegria, foi o Boni que insistiu para que eu fosse escalado. O diretor de humorismo da Globo era o Lucio Mauro, que estranhou:

– Mas Boni, Miele não tem nada a ver com aqueles humoristas. O Miele está sempre de smoking nas boates, imitando aqueles musicais da Metro.

Mas Boni bateu o pé e eu fiquei durante um ano, sentado no banco da praça, onde está hoje Carlos Alberto de Nóbrega, com a maior autoridade. Que lhe foi legada por seu pai, o grande Manoel de Nóbrega, de quem eu fui assistente de estúdio, no começo da carreira. As voltas que o mundo deu, até chegar nessa festa. Aproveito para dar um abraço no Lucio Mauro e vamos rindo dessa história e de nossas próprias piadas, pois dela é que os humoristas gostam mais.

De repente, vou ficando com muita saudade dos programas dos quais falei.

Aliás, vou ficando com saudade de qualquer programa, pois estou fora da televisão há algum tempo. É difícil me acostumar com isso, pois estive na TV desde a inauguração da primeira emissora: a PRF3-TV Tupi de São Paulo. Não faz mal. Daqui a pouco alguma outra emissora convence o Boni a voltar, e a TV brasileira volta a ser uma das melhores do mundo. Acho que o Boni é insubstituível. Para mim, ele deixou a Globo num fim de semana e na segunda-feira toda a televisão brasileira piorou.

Enquanto isso, ele está batendo um papo com o Astor Piazzola, como ele, um transformador. No caso do Piazzola, do tango. Por conta de uma grande amizade, Carlos Valenzuela, advogado argentino, me mandou há muitos anos vinte LPs de Piazzola, por cuja música eu havia me apaixonado. Era o primeiro disco dele, chamava-se Tango em Hi-Fi. Os vinte LPs eram iguais e andei distribuindo para os músicos e compositores brasileiros que ainda não conheciam o novo tango. Vários deles, quando iam a Buenos Aires, comentavam isso com o próprio Piazzola e, assim, ficamos íntimos sem nos conhecermos.

Quando ele veio pela primeira vez ao Brasil, para tocar numa festa da embaixada da Argentina, descobriu meu telefone e pediu para que eu apresentasse o show, lembrando que eu devia explicar o que era o novo tango, temendo que os tradicionais convidados do embaixador fossem odiar as ousadas harmonias e andamentos que ele introduziu. Não deu outra. Somente quando ele tocou Uno é que a platéia aplaudiu com entusiasmo.

Depois do show, ele perguntou quanto me devia pela apresentação e eu respondi que não devia nada, é claro, que era uma honra e tal. Mas ele queria pagar de qualquer maneira e eu disse que ficaria já muito feliz se ele fosse assistir ao show que Miele & Bôscoli orgulhosamente apresentavam como sua primeira produção no Teatro Santa Rosa, Quem tem bossa vai à Rosa, com Simonal, Marly Tavares e o Bossa Três.

Ele não só foi, como levou o quinteto com os instrumentos e pediu para tocar no intervalo, como forma de, finalmente, me pagar. A platéia, fascinada com o suingue, o talento e a pilantragem do Simonal, quase me bateu, quando eu anunciei que antes do segundo ato ia apresentar o quinteto de tangos de um amigo argentino. Pois para tirar o homem do palco, depois do primeiro número, foi um sufoco, tal o sucesso.

O próprio Simonal foi para platéia e só reiniciou o show quase uma hora depois. Eles mesmos, Simonal e Piazzola, podem confirmar isso, pois estão ali, num canto da festa, conversando com o Luiz Carlos Vinhas sobre como o Rio de Janeiro era mais divertido. Mas vem chegando mais gente pra nossa festa.

O ministro Gil, que legal
Eu já tô a mil, pinta a Gal
E Milton Nascimento, legal prazer em vê-lo
Bethânia traz Caetano e o caracol dos seus cabelos
Chega mais um craque pra cantar com nossa banda
Chico “paratodos” de Buarque de Holanda
Eh, eh, que onda, que festa de arromba.

Como todas as mulheres da festa, Chiara, minha sobrinha, fica entusiasmada com a chegada do Chico. Ela é jornalista do bloco inteligente, portanto não vai pedir uma entrevista com ele durante a festa. A jornalista fica frustrada, mas a mulher vai fantasiando uma das letras maravilhosas:

“E, na solidão do armário embutido,
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o teu sapato ainda pisa no meu.”

Rita Lee, que não usa mais a saia justa, lembra que já arrombou a festa: “Ai, ai, meu Deus, o que foi que aconteceu, com a música popular brasileira?” Rita continua acontecendo. Cantando e compondo. E na sala ao lado, explica para Maria Rita por que nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda. Falando nisso, passa uma ótima, e eu mais o Rito Luiz vamos atrás dela. Pra ver a bunda passar.

Rito foi meu secretário-amigo-empresário durante mais de 20 anos. Quando ele se foi, prematuramente, fez muita falta, principalmente o amigo. Lembro de uma sacada genial dele. Quando chegamos em Macapá, no trajeto do aeroporto para o clube, ele me disse:

– Miele, não é por nada não, mas acho melhor você tirar aquelas frescuras sofisticadas do teu show, como a canção do Cole Porter e a Balada para um Louco. Inclusive, nem acho bom usar o smoking inglês, porque acho que seu show não vai dar pé por aqui.

– Mas não vai dar pé por quê, Rito?

– É que eu reparei que todos os hotéis são térreos.

Bem, nossa festa é numa casa maravilhosa. Nosso anfitrião é o Lula Freire e a gente lembra que, nos tempos do início da Bossa Nova, a turma da música ficava numa sala, enquanto na outra, seu pai, o senador Vitorino Freire, recebia sempre o presidente Juscelino. Conviviam todos muito bem. Eles não davam palpite nas nossas músicas e nós nunca interferimos nos destinos do país (a não ser, talvez, musicalmente). De qualquer maneira, Juscelino era o presidente bossa-nova, segundo Juca Chaves, que não era da Bossa Nova.

Vinicius chega na nossa rodinha pra confirmar essa história. Ele e Baden estavam sempre lá, sendo que o poetinha chegava a qualquer hora do dia ou da noite. Mesmo que não houvesse ninguém nem dono da casa, nem senhor ou presidente, a empregada servia um uisquinho e ficava ouvindo em primeira mão que a lua que no céu surgiu não foi a mesma que se viu brilhar nos olhos teus. Não conheci a empregada, não sei se era bonita, nem se foi inspiração para uma das frases mais surpreendentes que já ouvi do poeta:

– E então Mielinho, o cara estava com um tesão extraordinário, sabe? (risos) Um tesão insuportável, daquele tesão que a gente sentia pelas empregadas.

Vai ver que foi por isso que o Lula escreveu pra ele:

“Que seja na medida e nada mais
Feitinha pro Vinicius de Moraes.”

Minha outra irmã, Regina, vem avisar que o Eduardo Dusek não vai poder ir à gravação do meu DVD. Que pena. Não vai assistir ao número em que eu vou dançar com o Carlinhos de Jesus. Que peito, hein? Mas o Carlinhos vai fazer o número comigo só de farra. Só para mostrar que eu já me recuperei da fratura da rótula. Até quebrar, eu nem lembrava para que é que existia a rótula. Mas é incrível o que você NÃO pode fazer com a rótula fraturada.

Nesse período da cadeira de rodas-andador-muleta-bengala, Regina foi o meu anjo da guarda. Ela me lembra que, além do Carlinhos de Jesus, Simoninha, Menescal, Wanda e Guta Menezes, que toca pistom e gaita, a turma que participou do DVD, acabou de chegar. Essa foi uma maneira sutil como uma revoada de búfalos para lembrar a você, caro leitores, que, quando do fim dessa festa, o DVD também estará à venda. Assim, ao assisti-lo, você talvez possa dizer: “Gostei mais do livro.”

A turma toda já está indo embora, é quase de manhã. A festa acabou. E agora, José? Carlinhos Lyra avisa à rapaziada:

“Vamos, carioca, é hora da gente trabalhar.”

Vou apagando as luzes e na rua pego no bolso aquela garrafinha de metal para uísque, presente de uma fã. Quando tiro a tampinha, sai um gênio completamente de porre, cantando:

O show já terminou…

Mas o gênio está por fora. Meu show ainda vai continuar.

Sexo: como se comportam os fãs de cada vertente do Metal?


Por Guilherme Fogaça Silva

Como seria o sexo em algumas das principais vertentes do Metal? E como reagiriam cada um dos personagens vindos das mais diversas vertentes do metal?

Symphonic Metal: Chega na casa da menina como um príncipe, fazem sexo, e depois foge com a menina para um lugar onde os dois são felizes.

Thrash Metal: Chega na casa da menina, o pai dela abre a porta, espanca o pai dela, fazem sexo e depois ele vai embora.

Power Metal: Chega na casa da menina, conversa com os pais dela mostrando-se disposto a casar com a menina, os pais dela o liberam, no quarto ele só fala de si mesmo, dizendo que não há quem faça sexo como ele, o quão é bonito e bem dotado, ela se enche e manda ele embora.

Heavy Metal: Chega na casa da menina, derruba a porta, carrega ela para o quarto, fazem sexo, ele toma todas as cervejas e outras bebidas alcoólicas da casa, fazem mais sexo, depois ele foge pela janela enquanto ela dorme.

Folk Metal: Chega na casa da menina tocando flauta e saltitando como um elfo, vai com ela para o quarto, ela se masturba com a flauta enquanto ele toca uma melodia em uma harpa, ele vai embora sem fazer sexo.

Viking Metal: Chega na casa da menina, come toda a comida, faz sexo com a menina, chama os amigos, comem a menina, pilham a casa, queimam a casa e a menina e vão embora.

Death Metal: Chega na casa da menina, fazem sexo, mata ela e vai embora.

Black Metal: Espera o dia da menstruação da menina, vai até a casa dela, fazem sexo, logo após vai embora.

Doom Metal: Chega na casa da menina, o pai dela abre a porta, ela diz que não vai rolar sexo, deprimido ele vai embora.

Industrial Metal: Chega na casa da menina com um monte de acessórios de sex shop, deixa tudo com ela, depois ele vai pra casa jogar alguma coisa no seu computador.

Progressive Metal: Chega na casa da menina, mostra toda sua habilidade com seu pênis durante 3 horas, fazem sexo, a menina diz que foi a pior transa da vida dela, manda ele embora.

Gothic Metal: Espera dar meia noite, vai até a casa da menina, leva ela para um cemitério, fazem sexo, leva a menina para casa e vai embora.
New-Metal: Se acha o máximo, chega na casa da menina e diz que não é virgem, na hora H acaba arregando, e a menina da um pé na bunda dele.