Denise Carla
No Brasil, ao
contrário do que ocorreu em outros países, o carnaval se
caracterizou acima de tudo como uma manifestação do delírio
coletivo, do desabafo popular e do humor ingênuo das multidões que
saíam às ruas para cantar suas alegrias, como se observou durante
anos nos blocos dos “sujos” e nos grupos de mascarados.
Tempos
depois, no entanto, o carnaval brasileiro perdeu, em parte, esse
cunho popular e adquiriu um sentido grupal, aristocrático e
clubístico, com bailes suntuosos e reservados apenas às classes
sociais economicamente mais favorecidas.
Hoje em dia, o carnaval é
um conjunto de festividades populares que ocorrem em diversos países
e regiões católicas nos dias que antecedem o início da Quaresma.
Embora centrado no disfarce, na música, na dança e em gestuais
específicos, a folia apresenta características distintas nas
cidades em que se popularizou.
O termo carnaval é de origem incerta,
embora seja encontrado já no latim medieval, como “carnem levare”
ou “carnelevarium”, palavra dos séculos 11 e 12, que significava
a véspera da quarta-feira de cinzas, isto é, a hora em que começava
a abstinência da carne durante os quarenta dias nos quais, no
passado, os católicos eram proibidos pela igreja de comer carne.
Os dias exatos do
início e fim da estação carnavalesca variam de acordo com as
tradições nacionais e locais, e têm-se alterado ao longo do tempo.
Assim, em Munique e na Baviera (Alemanha), ela começa na festa da
Epifania, seis de janeiro (dia dos Reis Magos), enquanto em Colônia
e na Renânia, também na Alemanha, o carnaval começa às 11h11min
do dia 11 de novembro (undécimo mês do ano).
Na França, a
celebração se restringe à terça-feira gorda e à mi-carême,
quinta-feira da terceira semana da Quaresma.
Nos Estados Unidos,
festeja-se o carnaval principalmente de seis de janeiro à
terça-feira gorda (“mardi-gras” em francês, idioma dos
primeiros colonizadores de Nova Orleans, na Louisiana), enquanto na
Espanha a quarta-feira de cinzas se inclui no período momesco, como
lembrança de uma fase em que esse dia não fazia parte da Quaresma.
No Brasil, até a década de 1940, sobretudo no Rio de Janeiro, as
festas pré-carnavalescas se iniciavam em outubro, na comemoração
de Nossa Senhora da Penha, crescia durante a passagem de ano e
atingia o auge nos quatro dias anteriores às Cinzas – sábado,
domingo, segunda e terça-feira gorda.
Hoje em dia, tanto no Recife
(PE) quanto em Salvador (BA), o carnaval inclui a quarta-feira de
Cinzas e dias subsequentes, chegando, por vezes, a incluir até o
sábado de Aleluia.
Hoje, nem um
décimo do povo participa ativamente do carnaval, ao contrário do
que ocorria em sua época de ouro, período que compreende o fim do
século 19 até a década de 1950.
Entretanto, o carnaval brasileiro
ainda é considerado um dos melhores do mundo, seja pelos turistas
estrangeiros, seja por boa parte dos brasileiros, principalmente pelo
público jovem que não alcançou a glória do carnaval
verdadeiramente popular.
Como declarou Luís da Câmara Cascudo,
etnólogo, musicólogo e folclorista, “o carnaval de hoje é de
desfile, carnaval assistido, paga-se para ver. O carnaval, digamos,
de 1922, era compartilhado, dançado, pulado, gritado, catucado.
Agora não é mais assim, é para ser visto”.
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