Denise
Carla
O
uso de fantasias e máscaras teve, em todo o Brasil, mais de setenta
anos de sucesso, indo de 1870 até o início do decênio de 1950.
Começou a declinar depois de 1930, quando encareceram os materiais
para confeccionar as fantasias (fazendas e ornamentos), sapatilhas,
botinas, quepes, boinas, bonés etc.
As roupas de disfarce, ou as
fantasias que embelezaram rapazes e moças, foram aos poucos sendo
reduzidas ao traje mais sumário possível, em nome da liberdade de
movimentos e da fuga à insolação do período mais quente do ano.
Aí foram desaparecendo os disfarces mais famosos do tempo do Império e
início da República, como a caveira, o velho, o burro (com orelhões
e tudo), o doutor, o morcego, diabinho e diabão, o pai João, a
morte, o príncipe, o mandarim, o rajá e o marajá.
E também as
fantasias clássicas da Commedia dell’Arte italiana, como dominó,
pierrô, arlequim e colombina – de largo emprego entre foliões e
que já não tinham razão de ser, depois que a polícia proibiu o
uso de máscaras nos salões e nas ruas.
Aliás,
desde 1685 as máscaras ora eram proibidas, ora liberadas.
E a
proibição era séria, bastando dizer que as penas, já no século
17, eram rigorosíssimas: um proclama do governador Duarte Teixeira
Chaves mandava que negros e mulatos mascarados fossem chicoteados em
praça pública, e brancos mascarados fossem degredados para a
Colônia do Sacramento.
Mas, na década de 1930, muitas daquelas
fantasias ainda eram utilizadas, inclusive com máscaras. Entre elas
estavam as de apache, gigolô, gigolete, malandro (camiseta de
listras horizontais, calça branca, chapéu de palhinha, lenço
vermelho no pescoço), dama antiga, espanhola, camponesa, palhaço,
tirolesa, havaiana e baiana.
Aos poucos, os homens foram preferindo a
calça branca e a camisa-esporte, até chegar à bermuda e ao torso
nu, mas isso só depois da década de 1950.
As mulheres passaram às
fantasias mais leves, abusando das transparências, atingindo,
depois, o maiô de duas peças e alguns colares de enfeite, e logo
depois adotaram o biquíni, o busto descoberto (“top less”) e por
aí afora.
O
carnaval europeu começou, na rua, com desfiles de disfarces e carros
alegóricos, e, em ambiente fechado, com bailes, fantasias e
máscaras.
O carnaval carioca, certamente o primeiro do Brasil,
surgiu em 1641, promovido pelo governador Salvador Correia de Sá e
Benevides em homenagem ao rei dom João IV, restaurador do trono de
Portugal.
A festa durou uma semana, do domingo de Páscoa em diante,
com desfile de rua, combates, corridas, blocos de sujos e mascarados.
Outro carnaval importante foi o de 1786, que coincidiu com as festas
para comemorar o casamento de dom João com a princesa Carlota
Joaquina.
Mas o primeiríssimo baile de máscaras ocorreu em 22 de
janeiro de 1840, no Hotel Itália, no Largo do Rocio, no mesmo local
em que se ergueria depois o teatro e depois cinema São José, na
Praça Tiradentes, no Rio.
A entrada custava dois mil-réis, com
direito à ceia.
A moda dos bailes carnavalescos em casas de
espetáculos só se generalizou, no entanto, na década de 1870.
Aderiram à moda o Teatro Pedro II, o Teatro Santana, e aí até os
estabelecimentos populares entraram na dança, como o Skating Rink, o
Clube Guanabara, o Clube do Rio Comprido, a Societé Française de
Gymnastique, e em teatros que se alinhavam ao lado dos bailes
públicos, mas em área social selecionada.
O
carnaval se alastra: surgem “arrastões” em casas de família,
bailes ao ar livre, bailes infantis e pré-carnavalescos, bailes em
circos, matinês dançantes.
Muitos bailes ganharam fama nacional e
até internacional, realizados em grandes clubes, hotéis ou teatros:
em 1908, houve o primeiro dos bailes do High-Life, que chegaram ao
fim nos anos 40.
Em 1918, iniciou-se a tradição do baile dos
Artistas, no Teatro Fênix.
Em 1932, o primeiro grande baile
oficializado, o do Teatro Municipal, abriu caminho para muitos
outros.
E logo vieram os do Hotel Glória, Palácio Teatro,
Copacabana Palace, Palace Hotel, Cassino da Urca, Cassino Atlântico,
Cassino Copacabana, Quitandinha (em Petrópolis) e Automóvel Clube
do Brasil.
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