Fotos
de arquivo mostram cartunistas da equipe da revista 'Charlie Hebdo'
mortos no ataque. Da esquerda para a direita: Georges Wolinski (em
2006), Jean Cabut - o Cabu (em 2012), Stephane Charbonnier - o Charb
(em 2012) e Tignous (em 2008) (Foto: Bertrand Guay, François
Guillot, Guillaume Baptiste/AFP)
O
cartunista francês Georges Wolinski, conhecido por seu trabalho de
forte teor erótico e político, considerado um dos símbolos de maio
de 68, está entre os mortos no ataque contra o escritório da
revista satírica "Charlie Hebdo", em Paris, nesta
quarta-feira (7). Ele tinha 80 anos.
Além
de Wolinski, outros três cartunistas estão entre as vítimas: o
editor da publicação, Stephane Charbonnier, o "Charb";
Jean Cabut, o "Cabu"; e Tignous.
"Wolinski
influenciou todo mundo que vocês conhecem: Ziraldo, Jaguar, Nani,
Henfil, Fortuna... O cara era uma ESCOLA. Que dia tenebroso!",
escreveu o cartunista brasileiro André Dahmer em seu perfil no
Twitter.
Ao
G1, Dahmer comentou por e-mail: "É uma perda irreparável.
Assassinaram o maior cartunista em atividade no mundo. Um homem que
influenciou três gerações de desenhistas".
Já
Arnaldo Branco completou: "Wolinski era meu favorito – até
por aproximação, por conta do seu desenho tosco (opcional, no caso
do francês, que na verdade desenhava muito bem). É difícil até
comentar, dada a imbecilidade da morte desse grande mestre – que
causa é essa que precisa retaliar um cartum?".
Quem
era Wolinski
Nascido
na Tunísia em 1934, Georges Wolinski se mudou com a família para a
França em 1946.
Começou
a publicar suas tiras nos anos 1960, em trabalhos satíricos que
envolviam política e sexualidade.
Durante
o maio de 1968 francês – série de manifestações e protestos
estudantis por reformas na educação que logo teve adesão de
trabalhadores e resultou em uma greve geral –, Wolinski foi
confundador da revista "L'Enragé".
Na
década seguinte, passou a fazer parte de jornal comunista
"L'Humanité". Outros veículos com os quais colaborou
foram "Liberácion", "Paris-Match" e "L'Écho
des Savanes", além de "Charlie-Hebdo".
Uma
das personagens mais marcantes de Wolinski foi a polêmica Paulette,
criada junto do artista Georges Pichard (1920-2003) também o início
dos anos 1970. Ela foi uma espécie de musa dos quadrinhos da época
e apareceu pela primeira vez nas páginas da revista de humor
"Charlie Mensuel" .
Em
seu perfil no Facebook, o cartunista brasileiro Rafael Campos Rocha
lembrou o lado "libertário" do francês: "WOLINSKI
foi acusado de falocrata, masculi e todas essas merdas, porque era um
LIBERTÁRIO. quem matou foi mais um desses patrulheiros filhos da
p**a, para o qual a causa (seja religiosa, política ou de gênero)
não serve para LIBERTAR, mas sim para COIBIR, CASTRAR e DESTRUIR,
além de, é claro, de manter a sociedade de exploração, que vocês,
moralistas de merda, precisam para continuar transformando a vida dos
outros em um inferno".
Quem
era Charb
Stephane
Charbonnier, o Charb, era o editor da "Charlie Hebdo" e
tinha 47 anos. Sempre defendeu a posição da revista de publicar os
desenho do profeta Maomé (segundo o islamismo, essas representações
gráficas são consideradas blasfêmia).
Em
2012, ele afirmou à agência de notícias Associated Press que
"Maomé não era sagrado para ele". Charb disse na mesma
entrevista que vivia "sob a lei francesa. Não sob a lei do
Corão".
Quem
era Cabu
Jean
Cabut, conhecido como Cabu, tinha 76 anos e era o cartunista por trás
da capa de 2006 da "Charlie Hebdo" que mostrava o profeta
Maomé. Aquela edição veio na esteira das ameaças contra um jornal
dinamarquês que publicou desenhos de Maomé.
Ele
era um cartunista veterano de vários jornais franceses. De acordo
com o britânico "The Independent", ele poderia ser o
profissional de charge mais bem pago do mundo.
Quem
era Tignous
Bernard
Verlhac, conhecido como Tignous, nasceu em 1957 e colaborava com as
revistas "Charlie Hebdo", "Marianne" e "Fluide
glacial".
Seu
último trabalho é de 2011 e tinha o título de "Cinco anos de
Sarkozy", sobre o período de Nicolas Sarkozy na presidência da
França.
O
ataque
Pelo
menos 12 pessoas morreram no tiroteio em Paris nesta quarta. Entre os
mortos estão dois policiais e 10 funcionários da revista, segundo a
France Presse. A agência Reuters, citando a polícia, diz que outras
dez pessoas ficaram feridas, cinco em estado crítico.
Segundo
o jornal britânico “The Guardian”, Rocco Contento, porta-voz do
sindicato dos policiais local, disse aos jornalistas que três
suspeitos fugiram em um carro dirigido por um quarto homem. O veículo
seguiu no sentido de Port de Pantin, onde o veículo foi abandonado e
os suspeitos roubaram um segundo carro, no qual continuaram fugindo.
O
número de suspeitos envolvidos no crime ainda é incerto e não foi
confirmado pela polícia. Eles ainda são procurados e são
perigosos, segundo as autoridades.
Michel
Houellebecq
A
sede da "Charlie Hedbo" foi alvo de um ataque a bomba em
novembro de 2011 após colocar uma imagem satírica do profeta Maomé
em sua capa.
Coincidência
ou não, a "Charlie Hebdo" fez a divulgação em sua edição
desta quarta-feira do novo romance do controvertido escritor Michel
Houellebecq, um dos mais famosos autores franceses no exterior.
A
obra de ficção política fala de uma França islamizada em 2022,
depois da eleição de um presidente da República muçulmano. "As
previsões do mago Houellebecq: em 2015, perco meus dentes... Em
2022, faço o Ramadã!", ironiza a publicação junto a uma
charge de Houellebecq.
A
revista de humor tem sido ameaçada desde que publicou charges do
profeta Maomé em 2006.
Em
novembro de 2011, a sede da publicação foi destruída por um ataque
criminoso, já definido como atentado pelo governo na época.
Em
2013, um homem de 24 anos foi condenado à prisão com sursis por ter
pedido na internet que o diretor da revista fosse decapitado por
causa da publicação das caricaturas do profeta muçulmano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário