De
repente, em pleno desfile, a bateria da Mocidade Independente quase
emudece. Apenas uma caixa repica, mantendo o ritmo, enquanto a escola
continua cantando e desfilando majestosa.
Nascia
a “paradinha” de Mestre André, que também revolucionou o
carnaval carioca.
Entre
os fundadores da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre
Miguel, consta o nome de José Pereira da Silva, o que, dito assim,
sem mais aquela, não terá maior significado, nem no subúrbio que
abriga a hoje famosa Escola verde e branca.
Mas,
em qualquer botequim onde se fale de samba, em todo o Rio de Janeiro,
nas pesquisas dos historiadores do assunto, na memória dos sambistas
e no imaginário das novas gerações,
Mestre André ocupa o lugar
reservado a uns poucos predestinados, aos quais o samba deve boa
parcela do prestígio que agora desfruta.
E
Mestre André não era outro que o quase anônimo José Pereira da
Silva.
Organizando,
dirigindo, ensaiando e, principalmente, liderando a bateria da
Mocidade, Mestre André – mestre, por suas funções frente aos
batuqueiros, e André, não se sabe bem porque – transmitiu-lhe
características tão próprias que, em muitos desfiles, mesmo sendo
sua escola a última a desfilar, milhares de pessoas esperavam,
apenas para desfrutar o sabor de ver e ouvir a bateria, que jamais
recebeu nota menor que 10.
Os
historiadores Amaury Jório e Hiram Araujo contam como nasceu a
“paradinha” da Mocidade, em seu primeiro desfile no Grupo 1, no
Carnaval de 1959: “Na Avenida Rio Branco (que Mestre André) criou
a parada quase total, deixando somente a caixa de guerra repicando. O
povo que assistia ao desfile, calorosamente, aplaudiu, gritando
‘olé’”.
Em
anos posteriores, a Mocidade, além da caixa de guerra, fazia soar
separados ora a cuíca, ora os tamborins ou os reco-recos.
Até
o final da vida, Mestre André comandou a Bateria Nota 10, que mesmo
sem ele mantém o mesmo nível.
Quando
no bairro de Padre Miguel, no Rio de Janeiro, nasceu o Independente
Futebol Clube, em 1952, seus fundadores não Imaginavam que estavam
criando o núcleo de uma das maiores escolas de samba da cidade.
O
time ia bem, ganhava a maioria de seus jogos, tornava-se popular, mas
com o passar do tempo e as rodas de samba que se armavam, depois das
partidas de futebol, a rapaziada achou que já era hora de
transformá-lo em escola de samba.
Foi
assim que, três anos após a fundação do clube, a 10 de novembro
de 1955, com as mesmas cores verde e branco do time de futebol,
nasceu o Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de
Padre Miguel.
A
comunidade de Padre Miguel uniu-se em volta da nova escola, que teve
entre os pioneiros nomes como os de Sílvio Trindade, Renato Ferreira
da Silva, Djalma Ferreira da Silva, Joaquim e Jorge Lopes, Garibaldi
Faria Lima, Altamiro V. Menezes (o Cambalhota), Itamar de Oliveira,
Sebastião (Tião) Marinho, Alfredo Briggs, Pavão, Saco, Mário
Perini, Nonô, Noel, Helena e José Pereira da Silva, que o samba
batizou como Mestre André, o mais famoso mestre de bateria da
história de todas as escolas de samba.
Esses
nomes – e outros mais – são reverenciados hoje como os que
possibilitaram os primeiros passos da Mocidade Independente, no
caminho que a tornaria uma das grandes representantes do samba
carioca.
A
escola fez seu desfile inaugural, de forma não-oficial e limitado ao
bairro, mas o bem desenvolvido enredo “Navio Negreiro” levou-a ao
primeiro lugar.
Em
1957, já desfilando na Praça Onze, a Mocidade Independente, com o
enredo “Baile das Rosas”, obtém a quinta colocação.
Thatiana
Pagung, rainha de bateria da Mocidade Independente
A
figura de Mestre André, como um regente erudito, usando a batuta, em
vez de apito, encantando com seus breques, as famosas “paradinhas”
e inesperadas mudanças de andamento, ia se tornando conhecida.
Sua
competência ganhava elogios e a bateria passava a ser atração
complementar dos desfiles, como no carnaval de 1958, no desfile da
Praça Onze, quando a Mocidade venceu e ganhou a promoção para o
Grupo 1.
Em
seu primeiro desfile no grupo das grandes, a Padre Miguel conquistou
o quinto lugar com o enredo “Os Três Vultos Que Ficaram Na
História”, conseguindo os prêmios de melhor mestre-sala e
porta-bandeira e como era esperado – melhor diretor de bateria.
1959
foi o ano em que o carnaval conheceu a marca registrada da bateria da
Mocidade, os famosos breques.
Durante
alguns anos, a Mocidade viveu das performances de sua bateria,
mantendo-se no grupo intermediário das escolas do Grupo 1, ou Grupo
Especial, como veio a ser chamado algum tempo depois.
Situava-se
entre o quinto e o oitavo lugares, até dar a arrancada que a
elevaria para o nível das primeiras colocadas.
Roberto
Dinamite e o vascaíno Andrezinho, ex-vocalista do grupo Molejo,
coordenador da bateria da Mocidade e filho do lendário Mestre André
Mas
antes houve uma dura injustiça, cometida no carnaval de 1970.
O
cenógrafo Arlindo Rodrigues, famosos pelo trabalho desenvolvido na
Acadêmicos do Salgueiro, foi convidado pela Padre Miguel.
De
reconhecido bom gosto, preparou um carnaval belíssimo para o enredo
“Festa do Divino”, e a Mocidade foi para o desfile com a garra, a
disposição e o temperamento das grandes escolas de samba.
Harmonia,
alegoria e fantasias, em perfeito acordo com o excelente samba,
faziam a arquibancada gritar o tradicional “já ganhou” e o clima
de vitória se instalar na escola, mas, surpreendentemente, o julgador
de fantasias atribuiu nota 4 ao quesito, justo para o qual todos
esperavam 10.
Com
isso, a Mocidade perdeu o título, pois classificou-se em quinto
lugar, quatro pontos abaixo da Acadêmicos do Salgueiro, a campeã.
Como
a popularidade aumentava a cada ano, a Escola ia atraindo muitas
figuras de renome.
Uma
delas foi a cantora Elza Soares, que “puxou” o samba da Mocidade
várias vezes nos desfiles.
Autêntica componente, jamais cobrou
cachê por suas participações.
Por
outro lado, o patrono Castor de Andrade sempre contribuiu
financeiramente para a montagem dos Carnavais.
As
vitórias se iniciariam em 1990, com o enredo “Vira, Virou” e, em
1991, com “Chuê, Chuá, As Águas Vão Rolar”.
De
lá para cá, até computadores a Mocidade usa nos desfiles, para
melhorar a performance do enredo.
A
bateria continua perfeita, seguindo a filosofia inovadora de Mestre
André, por conta de seu filho Andrezinho.
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