Denise
Carla
Os
ranchos carnavalescos começaram a surgir na cidade do Rio de Janeiro
em fins do século 19. As datas variam: 1872, 1895 e 1896.
A
princípio, desenvolviam apresentações bem próximas das
características do folclore nordestino.
Com seus emblemas e
símbolos, formavam cortejos, cantando chulas ingênuas de origens
africanas, acompanhados por uma “orquestra” composta de violões,
violas, ganzás, pratos, castanholas e, às vezes, flautas.
Os
ranchos diferem das escolas de samba pela organização do desfile,
pelo instrumental semelhante ao de bandas de coreto e pela música
que, sempre inédita, constava de três peças: marcha-rancho,
alusiva ao enredo, de andamento arrastado e acentuada riqueza
melódica, a chamada marcha-de-passeio, de exaltação ao carnaval, e
um samba-rancho.
Em
sua fase áurea (1919-1939), os ranchos se apresentavam com fantasias
luxuosas e criativas, figuras de damas e cavaleiros, com esplendores
nas costas, pórticos e painéis com pinturas artísticas, além dos
seguintes elementos: abre-alas, comissão de frente, figurantes,
alegorias, mestre de manobra, mestre-sala (baliza) e
porta-estandarte.
Havia ainda as grandes sociedades, com seus carros
alegóricos repletos de mulheres bonitas, alegorias mitológicas,
históricas e cívicas.
Os carros de crítica política encerravam,
no fim da noite de terça-feira gorda, os disputados festejos.
Tais
agremiações se chamavam Tenentes do Diabo, Fenianos, Pierrôs da
Caverna, Clube dos Democráticos, Congresso dos Fenianos, Clube dos
Embaixadores e assim por diante.
A
grande concentração popular se fazia na Avenida Rio Branco, da
Cinelândia até a Rua do Ouvidor. A classe média alta preferia as
imediações do Jóquei Clube, entre a Avenida Almirante Barroso e a
Rua Araújo Porto Alegre.
Alguns levavam os próprios assentos,
cadeiras e banquinhos, mais tarde substituídos por palanques e
arquibancadas montados pela prefeitura.
A segunda-feira era célebre
não só pelo desfile de ranchos, que usavam fogos de artifícios
coloridos, mas também porque os frequentadores do baile do Municipal
eram observados pelo populacho, que ia admirar-lhes as fantasias.
A
Galeria Cruzeiro, hoje edifício Av. Central, era o ponto focal do
trecho entre a Rua São José e a Avenida Almirante Barroso, na época
a área de maior animação dos carnavalescos tradicionais, que
cantavam e dançavam ao som das músicas lançadas nos palcos dos
teatros de revista e nas emissoras de rádio.
Com
o desaparecimento gradual dos cordões, outros foliões, que não
haviam aderido aos ranchos carnavalescos, se juntaram a conjuntos
mais simples, não dramatizados, sem fantasias elaboradas e sem
alegorias, que ainda mantinham certo paralelismo com os famosos
cordões.
Eram os blocos carnavalescos, que logo se organizaram em
estruturas mais fechadas, formadas nas comunidades (“blocos de
samba”) e outras formas mais livres e populares (“blocos de
sujos” ou “de rua”) e logo cresceram em número e qualidade.
Os
primeiros foram predominantemente influenciados pela cultura negra e
se tornaram os “embriões” de renomadas escolas de samba do
carnaval carioca: o Vai Como Pode deu origem à Portela, o
Arengueiros à Mangueira, e o Prazer da Serrinha ao Império Serrano.
Os
“blocos de sujos” deram origem aos “blocos de clóvis”.
Segundo alguns especialistas da história do carnaval, o nome
“clóvis” é uma corruptela de “clown”, palavra que em inglês
significa “palhaço”.
Também conhecidos como bate-bola, os
clóvis se assemelham a antigos arlequins medievais, que usavam
bastões para agredir os desafetos e carregavam uma bexiga de porco
ou de boi cheia de urina para arremesar nos incautos.
Outros “blocos
de sujo”, como os de mascarados e de nega maluca, também se
transformaram em manifestações populares típicas do carnaval de
rua, onde o improviso e a desorganização dão um sabor especial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário