Denise
Carla
Em
1935, o Cordão dos Laranjas construiu um salão, em forma de navio,
que “atracou” na Esplanada do Castelo, e ali se realizariam
alguns dos mais alegres bailes de três ou quatro carnavais.
Enquanto
o Teatro Municipal iniciava concursos de fantasias de luxo (a
princípio só femininas, e, depois dos anos 50, também masculinas),
os bailes que atraíam multidões eram os do Botafogo, Fluminense,
Flamengo, Vasco da Gama e América.
Bem familiares em suas primeiras
versões, reunindo a sociedade abastada em trajes de gala, foram-se
tornando cada vez menos bailes de fantasia.
Já não se conseguia
dançar, apenas pular, e à casaca e ao smoking juntavam-se o
traje-esporte e o mulherio semidespido.
E existiam os bailes
gremiais, como o das Atrizes, o Vermelho e Preto, o dos Pierrôs etc.
Nos
bailes, as danças variavam de polca, lundu e tanguinho a sambas,
marchinhas, frevos, jongos e cateretês, com todos os participantes
cantando, pulando e “fazendo cordão”.
Já nos banhos de mar à
fantasia, porém, os foliões cantavam a plenos pulmões as músicas
de sua preferência e também aquelas que eram divulgadas por discos
e nos coretos municipais animados por bandas de música.
Os banhos de
mar à fantasia criaram hábito no intervalo entre a Primeira e a
Segunda Guerra Mundial.
Os blocos e foliões trajavam fantasias de
papel crepom e, após desfilarem nas praias, caíam na água,
tingindo-a por horas, pois as fantasias de papel desbotavam
fortemente.
Havia, é claro, outro traje de banho, normal, sob
aqueles trajes carnavalescos efêmeros.
A
serpentina, aquela fita colorida de papel que é arremessada sobre os
brincantes, tem origem francesa e chegou ao Brasil em 1892.
No mesmo
ano, também chegou o confete, de origem espanhola.
Já o
lança-perfume era uma bisnaga de vidro ou metal que continha éter
perfumado, também de origem francesa, mas só chegou ao Brasil em
1903.
Utilizados inicialmente nos bailes de carnaval de salão, o
confete, a serpentina e o lança-perfume contribuíram enormemente
para o êxito dos corsos que deram vida ao carnaval de rua.
E, neste
novo tipo de entretenimento, as batalhas de confete constituíam o
momento culminante.
A moda do corso, iniciada timidamente logo após
a chegada dos primeiros automóveis, atingiria seus momentos de
glória entre 1928 e a década de 1940.
O corso consistia de uma
passeata carnavalesca de carros de passeio conversíveis, de capota
arriada, enfeitados de panos coloridos e bandeirolas, conduzindo
famílias ou grupos de foliões que se sentavam não só nos
assentos, mas também sobre a capota arriada, sobretudo as moças
fantasiadas de saias bem curtas, cantando ou jogando serpentinas e
confetes nos pedestres, que se amontoavam nas beiras das calçadas
para vê-las passar.
Essa
gente motorizada brincava também com os ocupantes dos carros
vizinhos e, por vezes, com os veículos rodando lentamente, emendavam
o cortejo atirando montes de confete e milhares de metros de
serpentina que enlaçavam os carros e se acumulavam no asfalto das
avenidas a cada noite.
O lança-perfume também era usado em
profusão, enquanto a confraternização com os pedestres se ampliava
não só pelos jatos de lança-perfume – o que abria caminho para
conhecimentos mais íntimos, namoricos e paqueras – como também de
caronas momentâneas na disputa de músicas entoadas por uns e por
outros.
Cada cidade possuía seu local de corso. O do Rio de Janeiro
ocorria, principalmente, na Avenida Rio Branco (antiga Avenida
Central), mas a certa altura, em vários carnavais, o corso se
prolongava à Avenida Beira-Mar, atingindo o Flamengo e Botafogo até
o Pavilhão Mourisco, no final da praia.
Quase
consequência do corso, que desapareceu com o advento das limusines e
carros fechados, as batalhas de confete ocorriam em locais
determinados que possuíssem torcidas de bairro organizadas ou blocos
suficientemente fortes para desenvolver a disputa – uma competição
de canto, dança na rua e corso (nem sempre).
Nas semanas ou meses
que antecediam o tríduo de Momo, essas torcidas ou blocos
organizavam as festas em que se gastavam quilos de confete e
serpentina, litros de lança-perfume, e em que se dava a disputa
entre as músicas preferidas de cada agremiação.
Tais batalhas se
prolongavam, às vezes, até o amanhecer, algumas superando a
empolgação dos dias de carnaval “legítimo”, porque ali se
exibiam os blocos, os ranchos e os foliões avulsos.
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