Ontem à noite, já quase indo embora do mocó, minha
flor-de-lis me abraça, no estilo face-to-face, e manda um papo reto:
– Ah, amor, faz mesmo quanto tempo que nós estamos juntos nesse
estica-e-puxa?...
– Sei lá, minha filha. Sempre fui muito ruim de guardar datas.
Só lembro que quando te conheci você tinha 20 anos... – devolvi, com aquela
cara de canalha que só um autêntico canalha é capaz de emular.
Ela respirou fundo:
– Seis anos?!... Tudo isso?!... Afeeeeee...
Eu podia ter dito:
– Pois é,
meu amor, mas você continua do mesmo jeito que te conheci, parece a mesma
garotinha de sempre, cada vez mais linda... yes, vamos encontrar o pote de ouro
no fim do arco-íris, is this love, is this love, is this love, is this love,
that I'm feeling?, you are the sunshine of my life, that's why I'll always be
around, you are the apple of my eye, forever you'll stay in my heart…
Mas me limitei a um burocrático:
– É... Você está ficando velha...
Ela afrouxou o abraço, começou a rir e, para desespero dos
vizinhos, o riso inicial virou uma gargalhada estrepitosa, de assustar
cachorros na rua.
– Porra, meu amor, mas você é muito palhaço! – avisou,
recobrando o fôlego. – Deve ser por isso que te gosto tanto!
Aí, entrou no táxi “e foi embora deixando um travo de Jack
Daniel’s sem gelo na minha garganta, enquanto eu procurava um velho disco de
vinil do Cartola escondido na velha petisqueira de todas as minhas ternuras
imemoriais” – eu poderia arrematar esse texto se fosse o poeta Diego Moraes querendo catar meninas indefesas via Facebook.
Mas não sou ele – que sempre considerei um querido irmão
mais novo – e nem tenho mais idade para esses parangolés afetivo-sexuais que
eram recorrentes nos meus verdes negros anos.
Seis anos com minha flor-de-lis... Pois é, carniça, ainda parece que foi
ontem. Fazer o que?... So sorry, periferia!
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