Roberta,
Rui Machado, Sandra, Bob Carlos, Elisa, Rita, João Bosco Chamma e Mazé Chaves
José Alberto Tostes, de Santana (AP)
A frase desse artigo foi dita pelo colega, amigo e arquiteto
e urbanista manauara, João Bosco Chama, por ocasião do II ARQAMAZÔNIA realizado
na cidade de Manaus, no período de 14 a 16 de setembro. A referência dessa
citação deve-se a uma longa conversa sobre as questões referentes ao centro
histórico da cidade de Manaus.
As reflexões sobre a citação de Chama, nos leva a crer que a
desvalorização das áreas centrais na grande maioria das cidades brasileiras,
está diretamente relacionada à cultura contemporânea, não se caminha mais com a
frequência de antes pela cidade. Vive-se a pressa do dia-a-dia, de um cotidiano
dominado pela autoridade do automóvel, então, a pressa é adversa ao sentimento
de vivenciar a cidade.
Gradualmente com o passar das décadas e os anos, os centros
históricos vem perdendo a sua representação mais efetiva com a cidade. Um dos
motivos é a mudança gradual de uma área, que antes tinha um caráter
eminentemente residencial para um sentido institucional e comercial, ou seja,
as áreas históricas passaram a ter 12 horas de intensidade e outras 12 horas de
silêncio profundo. E o que significa esse fato? Representa a perda gradativa de
valores, simbologias e de pertencimento com a história do lugar.
Se avaliarmos mais detalhadamente vamos perceber que as
maiores representações históricas que vinculam a formação e a gêneses das
cidades, está no centro histórico, todavia, o processo de transformação da
paisagem da cidade apresenta o preço do desapego com aquilo que é considerado
antigo, portanto, está enraizado na cultura brasileira, “o que é antigo é
velho, o que é velho não serve mais”, tal afirmação e crítica, evidencia que temos enormes dificuldades para
entender a relação entre o “velho e o novo” entre o “antigo e o contemporâneo
ou atual”. Não conseguimos de forma efetiva construir uma relação entre os
distintos tempos que envolvem a história da cidade.
Como estudioso, pesquisador, arquiteto e urbanista
participei de uma infinidade de eventos ao longo dos anos, um dos fatores que
mais me chama atenção, é como está consolidado em nossa cultura o sentimento da
negatividade. A quase totalidade das apresentações em eventos evidencia uma
cultura negativa, induz indiretamente a juventude, a crer firmemente que não há
esperança, tudo é “terra arrasada”. Tal afirmação corrobora para acreditarmos
que o amanhã, é impossível, e o passado não existe daí a relação conflituosa
sobre a relação com o antigo.
Em diversos países do mundo, principalmente na Europa onde
há um legado expressivo da cultura sobre o antigo, tem ocorrido ações e
estratégias de incluir o antigo no âmbito de um contexto atual, aliado com as
tecnologias, redes sociais e outros níveis de inserção que auxiliam a
sociedade, possibilita aos turistas compreenderem que, o antigo é parte da
história do lugar, e mesmo com todo o processo evolutivo do tempo presente,
esse antigo, gera emprego e renda, contribui para disseminar a cultura de um
povo e acima tudo, permite conectar a relação entre passado, presente e futuro.
Um dos exemplos é o próprio Rio Janeiro, a construção do
Museu do Amanhã, obra arrojada e de linguagem universal contribuiu para
redimensionar uma área que estava decrepita e abandonada pelo poder público e
pela própria população, independente de qualquer crítica, que é salutar, houve
uma mudança na paisagem. Quando os governos e a própria população abandona a
sua história, tais ambientes de grande valor perdem a significação, o que dá
vida ao lugar são pessoas, dinamizam e transformam os espaços.
Uma das maiores expressões da cidade de Manaus é o Teatro
Amazonas, não há uma só pessoa que chegue a cidade que não tenha o interesse em
conhecer o Teatro, portanto, um símbolo do lugar e da expressividade de uma
época, mas quando parte dos visitantes e dos próprios moradores se deparam com
o entorno, percebem fragilidades do poder público e da própria sociedade.
É comum a presença de drogaditos, bêbados, guardadores de
carros e o mercado de sexo. O cenário se trabalhado através de projetos sociais
poderia haver maior inclusão desses usuários segregados. Não se deve tratar os
excluídos, aumentando a indiferença, mas dar o trato devido com dignidade. Os
projetos de arquitetura, urbanismo e paisagismo são eficazes, somente se
alcançarem os níveis de integração social, de nada adiante pensar na morfologia
e no caráter estético, se o maior sentido que dá vida não for bem equacionado.
Os problemas do centro histórico da cidade de Manaus não são
exclusivos dessa cidade, existe em quase a totalidade das cidades brasileiras,
porém, evidencia a forma como a sociedade atual se relaciona com lugar, com
indiferença, pois o único contato
cotidiano é através das janelas dos veículos, criando um “abismo”,
fortalecendo ainda mais a segregação das ruas, dos becos e principalmente dos
espaços públicos, aliás, tais espaços tem sido os que mais se modificaram no
ambiente urbano brasileiro, pois do lugar do encontro, das relações entre
pessoas e grupos sociais, transformou-se no ambiente que esconde o medo dos
transgressores urbanos.
A vida nos centros históricos no Brasil não é fácil, o antídoto,
é o diálogo institucional, pois essas áreas concentram o que há de melhor e de
pior de acordo com a população, mas, para que seja um lugar com qualidade de
vida para os cidadãos locais e para os turistas é preciso inverter a lógica em
nosso País, “o que é antigo é velho, o que velho não serve mais”.
As boas práticas e experiências de tantos lugares devem
servir como fonte inspiradora para que a sociedade não abandone o seu DNA
urbano, o lócus de formação de sua história, e acima tudo, compreenda que todos
nós começamos de um ponto de partida. E como diz Carlo Levi: “O futuro tem um
coração antigo”.
NOTA: Como estudioso, pesquisador, arquiteto e urbanista
participei de uma infinidade de eventos ao longo dos anos e um dos fatores que
mais me chama atenção é como está consolidado em nossa cultura o sentimento da
negatividade. A quase totalidade das apresentações em eventos evidencia uma
cultura negativa, induz indiretamente a juventude, a crer firmemente que não há
esperança, tudo é “terra arrasada”. Tal afirmação corrobora para acreditarmos
que o amanhã é impossível e o passado não existe, daí a relação conflituosa
sobre a relação com o antigo.
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