Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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sexta-feira, dezembro 18, 2009
A arte de acabar com o fígado
No início da tarde desta última quarta-feira, eu, Aureo Petita e Sici Pirangy estávamos no Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) fazendo uma pesquisa em jornais antigos, quando tocou o celular do Sici.
Do outro lado da linha, alguém deu a boa nova: a Jéssica, essa moleca de 17 anos aí de cima e filha caçula do Sici, havia acabado de passar no concorrido vestibular pra Direito da Ufam.
Sici pirou o cabeção. Queria porque queria encerrar a pesquisa no mesmo instante e encher a cara de cerveja para comemorar a novidade. Foi um custo convencê-lo a permanecer no IGHA pelo menos até a chuva passar (estava caindo um temporal diluviano na cidade).
Por volta das 16h, resolvemos picar a mula. De táxi, saímos do IGHA em direção ao condomínio Sausalito, ali pras bandas do Parque Dez, onde mora o Sici. Por conta do engarrafamento e da enchente nas ruas, esse simples deslocamento consumiu uma hora, contada em relógio.
Fico imaginando o que vai acontecer em Manaus, daqui a quatro anos, por conta da Copa do Mundo. O Detran já divulgou que a frota de carros da cidade (hoje estimada em 450 mil veículos) vai, simplesmente, dobrar.
Bom, mas assim que a gente chegou ao Sausalito, o Sici assumiu o volante do seu próprio carro, foi a um boteco, comprou uma grade de cerveja e nos levou imediatamente para a casa do Kim (filho mais velho do Sici, finalista de Direito e casado com a Aline), que mora a uns três quarteirões da casa do Sici.
Fernanda (a filha mais velha do Sici, estudante de Medicina), Erivelton (namorado da Fernanda, também estudante de Medicina), Jéssica (a grande homenageada da festa) e Cid (roqueiro de raiz, finalista de Direito e namorado da Jéssica) já nos aguardavam com uma certa impaciência.
As irmãs Fernanda e Jéssica
Na casa do Kim, reencontrei a Ruth, uma das três irmãs do Sici, casada com meu velho brother Ceará, o melhor mecânico de aeronaves do planeta. Foi uma festa.
Eu não via a sacana há uns dez anos. Ela não bebia há uns três. Resolveu quebrar o jejum e me acompanhar nas antarcticas (o resto da turma foi de skol). Haja reminiscências pra contar e fofocas pra atualizar.
Lá pelas tantas, Kim, Fernanda e Jéssica resolveram continuar a comemoração da festa na casa da dona Fernanda, avó dos moleques (a mãe deles, a queridíssima Soraya, estava participando de uma festa no Inpa, onde trabalha como pesquisadora).
O velho Simão, Sici Pirangy e eu durante uma biritagem no Solarium
Sici nos intimou (eu e Áureo) a continuar a cachaçada na casa de sua atual companheira, a super gente fina Sueda. Nos mudamos pra lá. Foi uma farra. Saí de lá por volta de meia-noite, completamente bêbado, basicamente porque já estava morrendo de vergonha da fome canina do Áureo Petita.
Ele simplesmente detonou uns quarenta quibes, duas tortas de frango, metade de uma lasanha e meia dúzia de empanados de carne feitos na hora pela Sueda. Desconfio que o ex-craque do fabuloso “Murrinhas do Egito” cria uma tênia king size nos intestinos.
Como o meu figueiredo só agüenta uma única esbórnia dessas por semana, eu estava em casa me recuperando da presepada quando recebi um e-mail do poeta Zemaria Pinto: a última sessão do Chá do Armando iria rolar nessa quinta-feira e eles exigiam a minha presença.
Contei a novidade pro Engels, com quem não bebia há uns seis meses, e pro Simas, meu fiel escudeiro. Combinamos prestigiar o evento. Na verdade, eu pretendia ir lá, na última sessão do ano, apenas pra jogar conversa fora e rever os amigos.
Quando cheguei ao pedaço (o novo reservado do Bar do Pina Chope, ali na Joaquim Nabuco, em frente ao SINE), por volta das 20h, o anfitrião Armando Menezes já quebrou minha resistência ao anunciar triunfalmente:
– Meu caro Simão, quebrando uma tradição do nosso chazinho, em que não se serve uísque com menos de doze anos de idade, eu trouxe uma garrafa de Red Label exclusivamente pra você!
E me empurrou uma garrafa ainda intacta.
O poeta Aníso Melo e o escritor Armando Menezes
Duas garrafas de Johnnie Walker Black Label já estavam sendo degustadas avidamente pela moçada. Seria uma desfaçatez, de minha parte, recusar tão belo presente. Convoquei o Simas para me ajudar na empreitada e começamos a detonar a garrafa.
Estava presente no fuzuê uma nata bem representativa dos intelectuais nativos: Armando Menezes, Almir Diniz, Aníso Mello, Luiz Bacellar, Antonio Diniz, Zemaria Pinto, Sergio Pereira, Tito Espada, Aguinaldo Figueiredo, Tenório Telles, Inácio Benayas, Perón Diniz, Edilúcio Castro (que filmou a esbórnia), Antonio Bejard, Roberto Mendonça, Evaldo Ferreira, Nato Neto, Engels Medeiros, Simas Pessoa e mais uma caralhada de escritores, poetas, artistas plásticos, etc.
Os poetas Zemaria Pinto e Inácio Benayas
Resolvi explorar o figueiredo até às últimas conseqüências. Por volta das 22h, Simas foi lá com o português Francisco Guimarães, dono do pedaço, e voltou com uma nova garrafa de Red Label (não vou falar quanto ele cobrou, senão a cidade inteira vai começar a freqüentar o pardieiro – e odeio multidão! Digamos, que foi um preço justo.).
O escritor Armando Menezes e a esfuziante Nina, companheira de Anisio Melo há mais de 20 anos
E haja bolinhos de bacalhau, batatinhas fritas, bolas de sardinha, empanados de queijo, caldo verde, caldinho de feijão, tremoços, pastéis, punhetinhas e mais uma infinidade de petiscos portugueses.
Quase por volta de uma hora da manhã (apesar de ser um boteco de alta categoria, o Pina Chope só funciona até meia-noite), pagamos a conta e resolvemos nos mandar.
Eu e o romancista e revisor Tito Espada, um dos homeboys mais legais do pedaço
Eu queria continuar a farra no Snoopy, ali na Praça 14. O Engels queria ir pro Chefão, ali no centro. Fui voto vencido.
Bar Chefão: muito bonitinho, pero ordinário
Na entrada do bar Chefão, uma garotinha simpática exigia os nomes pra cada comanda. Engels se apresentou: “Simão Pessoa”.
Na minha vez, também, não fugi do script: “Engels Medeiros”. Se desse alguma merda, o jogo já estava empatado.
Como o Simas ainda estava atrás de vaga pra estacionar o carro, avisei pra mocinha:
– Faça uma comanda no nome de “Simas Pessoa”, um careca que está chegando daqui a pouco. Como ele é meio aloprado, eu vou levar a comanda dele comigo.
Assim que entrei no pedaço, já fiquei visivelmente incomodado com a quantidade de mauricinhos e patricinhas se divertindo ruidosamente no lugar.
Uma banda estava tocando alguma coisa que, com boa vontade, chamaríamos de música. Salvo engano, estavam assassinando ao vivo a célebre “Frevo Mulher”, do Zé Ramalho.
Engels nos levou para a parte traseira do boteco, uma espécie de quintal a céu aberto.
Mal sentamos à mesa, um maître e um garçom, ambos educadíssimos, se aproximaram e perguntaram se a gente queria alguma coisa.
Engels pediu um balde de cerveja Heineken. Eu perguntei se havia uísque Red Label.
O garçom foi lá dentro e depois de uns dez minutos retornou à mesa.
Sim, havia uísque Johnnie Walker Red Label. Cada dose custava R$ 12. A garrafa inteira dava pra fazer por R$ 200. Dispensei, marrelógico. Com essa grana dava pra comprar quatro garrafas de Red na Top Internacional.
Freqüentador de botequim desde os 15 anos, fiz uma nova e decisiva pergunta pro garçom, pra sentir o clima:
– Vocês tem cigarro Charm normal, sem ser de carteira tipo box?...
O garçom foi lá dentro e depois de uns dez minutos retornou à mesa. Não, não tinha Charm, mas tinha Carlton faixa azul (cigarro de gente que têm medo de morrer de câncer no pulmão, mas não consegue largar o vício). Dispensei, marrelógico.
Qualquer boteco que não venda cigarro Charm (do tipo normal, sem a viadagem chamada “carteira box”) é uma aberração da natureza. Não chego nem perto.
Mas, de repente, eu estava ali, no olho do furacão. Sem que o Engels percebesse, convoquei discretamente o Simas pra puxar o carro. A gente tinha detonado duas garrafas de Red e agora ia beber cerveja Heineken? Nem pelo caralho.
Pra minha sorte, apareceram, subitamente, Lucio Carril e Everaldo Fernandes, que se sentaram conosco (o boteco estava lotado). Expliquei rapidamente a situação. Eu e Simas íamos beber uísque no Snoopy. Se quisessem, eles que se encontrassem com a gente depois.
Simas e Lorena tirando onda do resto da galera
Visivelmente contrariado, Engels queria porque queria pagar os R$ 200 pela garrafa de uísque, somente para que eu continuasse no boteco. É um puro. Ou um otário. Ou as duas coisas ao mesmo tempo agora.
Sem ligar para os seus protestos, peguei nossas duas comandas na mesa, entreguei pro moleque que fica no caixa (provavelmente um dos donos), recebi a autorização pra deixar o covil e, na saída, ele gritou pra um segurança me segurar. Supostamente, eu estava devendo um balde de cervejas Heineken.
É que na pressa, eu trouxera a comanda que estava em meu nome, mas que tinha sido apresentada ao garçom pelo Engels, que iria continua com a comanda em meu nome. Coisa de bêbados.
O Simas já quis partir pra briga:
– Escuta aqui, ô viadinho! A gente não bebeu porra nenhuma nesse teu bar de merda. A gente vai pagar o que?...
A muito custo (o Simas agora é faixa-preta em muay thai e anda pedindo a Deus uma oportunidade para mostrar serviço), consegui convencê-lo a me esperar dentro do carro enquanto eu desatava o nó.
Perdi mais uns dez minutos naquela bosta. Enquanto esperava o segurança ir lá com o Engels trocar a comanda dele pela minha, conversei com o moleque sobre o porque de estar indo embora.
– O teu bar é muito legal, muito bem transado, cheio de gente bonita, alto astral, funcionários atenciosos... Mas, porra, meu brother, eu só teria condições de pagar 12 paus por uma dose de uísque oito anos se fosse ladrão... Minto!... Só se eu fosse chefão do crime organizado em Manaus...
Ele riu amarelo, mas não passou recibo.
Depois que o nó foi desatado, me juntei ao Simas e fomos embora.
O nome do bar é bem sintomático: Chefão.
Pode não ser um bar de mafiosos, mas com certeza os donos da casa estão muito bem centrados no público-alvo que querem atingir.
Infelizmente, eu não faço parte da turma. Acontece.
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2 comentários:
Devidamente anotado.
Conheço o Sici, gente da melhor qualidade. Amigo de primeira hora, bom de papo, bom de copo, enfim, um companheirão. Lamento que esteja atravessando maus momentos por conta de um mau-carater que atende pelo nome de Major José Julio Cezar Correia, oriundo da velha Paulicéia, e, quue aportou aqui já levando vantagem em tudo. Foi Secretario de Defesa Civil na adminstração do Sarafá, deu o maior rombo, responde por peculato e improbidade administrativa. Encurtando, levou um pé na bunda e foi parar no Sausalito, onde como Sindico, eleito por fraude, persegue os moradores, anda de arma em punho tipo "teje preso" ameaça, agride, ofende etcetera e tal. E o cabra permanece impune. Procure saber do Sici quem é o crápula....
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