Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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segunda-feira, janeiro 30, 2012
Elvis não morreu... E nem o Led Zeppelin
Estamos no final dos anos 80.
Na base da brincadeira, combinem três elementos fundamentais do rock 70 – o heavy metal, o reggae e a transformação do rock em produto caretinha para trintões.
É a conexão Vegas-Jamaica-Olimpo – apropriadamente gestada no maior laboratório de malucos do planeta, a Califórnia.
O esquisito resultado da mistura em questão faz o seu primeiro show no dia 8 de janeiro de 1989 (data em que Elvis Presley, se estivesse vivo, celebraria seu 54º aniversário), em uma espelunca frequentada por freaks, cyberpunks e neo-hippies localizada nas quebradas de Pasadena, cidadezinha do Condado de Los Angeles onde surgiu a banda Van Halen.
Batizada de Dread Zeppelin, a banda é formada pelos guitarristas Jah Paul Jo (Joe Ramsey) e Carl Jah (Carl Haasis), pelo baixista Butt-Boy (Gary Putman), pelo percussionista e backing vocal Ed Zeppelin (Bryant Fernandez) e pelo baterista Fresh Cheese (Paul Masselli).
O líder da quadrilha é o cantor Tortelvis (Greg Tortell, ou simplesmente Tort, para suas inúmeras Priscillas), um gordo escroto que parece Elvis, dez minutos antes de morrer entupido de bolinhas: Tort diz que foi sequestrado na infância por extraterrestres, que o criaram à imagem e semelhança de Elvis.
Também diz que Elvis falou com ele do além e que tudo que faz tem a aprovação do Rei: “Estava eu em Memphis, dando uma banda, quando notei um cara de terno me seguindo. Era Elvis. Ele chegou em mim e disse: ‘Tortelvis, seu objetivo na vida é fazer covers do Led Zeppelin em ritmo de reggae’”.
A ideia faz mais sentido se você lembrar que o Led Zeppelin gravou um reggae, “D’Yer Maker” (foneticamente, “Jamaica”), no LP Houses Of The Holy.
Detalhes: na vida real, Elvis e Led chegaram a se cruzar.
O encontro aconteceu em Vegas, em 73.
O Led assistiu a um show do Rei, que disse: “Estou muito feliz de ter conosco esta noite uma dos maiores bandas de rock do mundo. Por favor, aplaudam o Led Zeppelin”.
Robert Plant está babando até hoje.
“Fui criado por extraterrestres e modelado na pessoa mais popular da Terra – Elvis Presley, naturalmente”, dizia Tort. “Mas o que eu gosto mesmo é de ver a cara das pessoas quando nos veem tocando pela primeira vez.”
Antes que algum ledmaníaco grite “heresia!”, é bom saber que Robert Plant se tornou fã do Dread Zeppelin, e Jimmy Page, depois de uma bronquinha inicial, também sacou que o negócio era uma homenagem.
Quem armou confusão foram os herdeiros de Elvis.
Queriam proibir os caras de se apresentar, gravar e tal, porque Tortelvis dizia no começo que era filho bastardo de Elvis.
Tort voltou atrás, disse que era só “filho espiritual”, e tudo bem.
Com toda essa palhaçada trash, o Dread Zeppelin pode parecer um grupo de uma piada só.
Não é, porque os caras são muito bons musicalmente.
Ao vivo, eles são um arraso: a temporada do Dread Zeppelin em Londres, em 1990, entupiu o Marquee, e o show deles foi um dos mais requisitados do circuito college americano.
E também mostrariam muita força no vinil, para alegria dos executivos da gravadora IRS, que os contrataram naquele mesmo ano.
Lançado em 1990, Un-Led-Ed, seu álbum de estreia, é um primor na praia, o disco que você precisa para seus dias de lassidão descerebrada ao sol.
É só Led, com algumas elvices: “Hound Dog” entra no meio de “Black Dog”, “Heartbreaker” casa com “Heartbreak Hotel”, e o clip de “Your Time Is Gonna Come” (do Led Zeppelin) você já deve ter visto no YouTube depois de ter rolado exaustivamente na MTV.
A cozinha é aquela preguiça jamaicana.
No mais, Tortelvis capricha nos graves melosos e o guitarrista Jah Paul enfia umas guitarras Jane’s Addiction de vez em quando.
“Moby Dick”, especialmente, ficou genial.
O resultado é alegria-alegria, música de festa para gente legal.
“Nós ouvíamos sobre como o Led Zeppelin não tinha senso de humor, de como eles não iriam levar isso numa boa e que, no mínimo, iam acabar nos processando. Agora estou totalmente surpreso com a forma como Plant reagiu a tudo”, disse Ed Zeppelin. “Falando nisso, Jimmy Page disse em entrevistas que o Zeppelin costumava ensaiar Starway To Heaven em ritmo de reggae, quer dizer, não estamos fazendo nada muito estranho.”
O vocalista Robert Plant elogiou o trabalho de estreia da banda, dizendo que algumas releituras ficaram até melhor do que os originais.
Lançado em 1991, o segundo álbum, 5,000,000 (alusão ao LP “5,000,000 Elvis Fans Can’t Be Wrong”), além dos covers de costume (“Jailhouse Rock” e “Stir Up”, entre eles), trouxe “Do The Claw”, a primeira música de autoria da banda.
Foi quando começou uma briga da moléstia entre os integrantes da banda.
Jah Paul Jo, Carl Jah e Butt-Boy queriam uma nova sonoridade.
Tortelvis, Ed Zeppelin e Fresh Cheese queriam continuar na viagem zeppeliana à la Bob Marley, mas perderam a parada e deixaram a banda no verão de 1992.
Diante das circunstâncias, Butt-Boy passou a se chamar Gary B.I.B.B. e assumiu os vocais na gravação do disco daquele ano, It’s Not Unusual, uma releitura da onda disco incluindo os hits “Disco Inferno”, “You Should Be Dancing”, “Night Fever” e “Dancin’ On The Killing Floor”.
O engenheiro de som da banda, Rasta Li-Moon, ex-colaborador de Davi Stewart, do Eurythmics, meteu uma programação eletrônica, via samplers, bateria eletrônica e teclados, que quase enlouqueceu o percussionista Spice e o novo baixista Tuna Melt (aka Jah Jah Gabor).
O disco contou, ainda, com colaboradores de peso como o guitarrista Randy Bachman, do BTO, Dr. Paradox, The Dreadettes (Laura Creamer, Sue Sheridan, Beatrice Ring e Shannon Eldridge), The B.I.B.B. Girls (Rachel Murray, Karen Blankfeld, Klink e Max) e Michael Jordanaires.
Resultado da estripulia: o álbum era tão diferente do som original da banda, que os executivos da gravadora IRS limaram imediatamente o Dread Zeppelin de seu cast.
No ano seguinte, Tortelvis e Ed Zeppelin foram chamados de volta para a gravação de Hot & Spicy Beanburger, um retorno ao passado glorioso das elvices banhadas em reggae zeppeliano, além de ser o primeiro álbum do selo Birdcage, do guitarrista Jah Paul Jo.
Promovido a baterista, Spice mostrou que também era muito bom segurando as baquetas.
Os destaques ficam para as versões de “Good Times Bad Times”, “Kashmir” e “All My Love”, mas a banda também gravou material próprio como “Ballad of Charlie Haj”, em homenagem ao novo baterista, e a música-título.
Após muitas idas e vindas (Butt-Boy foi o único que participou de todos os discos da banda), o Dread Zeppelin acabou de completar 22 anos de estrada e continua mais abusado do que nunca.
No Pirate Bay dá pra baixar 56 músicas da banda.
Da esquerda pra direita, no sentido do relógio: Jah Paul Jo, Ed Zeppelin, Carl Jah, Butt-Boy, Charlie Haj e Tortelvis
Discografia
Álbuns de estúdio
Un-Led-Ed (1990) – IRS Records
5,000,000 (com o sub-título Tortelvis Fans Can’t Be Wrong) (1991) – IRS Records
Rock’n Roll (1991) – Lançado apenas no Japão, pela JVC Records
It’s Not Unusual (1992) – IRS Records
Hot & Spicy Beanburger (1993) – Birdcage Records
The First No-Elvis (1994) – Birdcage Records
No Quarter Pounder (1995) – Birdcage Records
The Fun Sessions (1996) – Imago
Ruins (1996) – Birdcage Records
Spam Bake (1998)
De-jah Voodoo (2000) — relançado em 2004 como Re-Led-Ed
Presents (2002)
Chicken and Ribs (2004)
Bar Coda (2007)
Best of the IRS years (2009)
Soso (2011)
Álbuns ao vivo
Front Yard Bar*B*Que (1996)
The Song Remains Insane (1998) - 2 CDs lançados apenas na Austrália pele TWA Records
Haunted Houses O’ The Holy (1999)
Live – Live At Larry’s (2002)
Live – Hots On For Fresno (2003)
DVD
Live at The Cabooze in Minne-jah-polis (2003)
Jah-La-Palooza (2004)
Pure Inner-Tainment (2009)
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