Luiz
Antonio Solda
Ana
Viciada
em naftalina. Quando descobri, ela havia enchido todas as minhas
gavetas com aquelas bolinhas ridículas. Fui ao cinema com Ana três
vezes e em todas elas o filme estava fora de foco, o lanterninha nos
retirou do recinto e roubaram nosso pacote de pipocas.
Nosso
romance terminou quando ela se entregou para um vendedor das Casas
Pernambucanas. Atormentada pela traição, Ana fugiu para Alagoas
três meses depois. Minha paixão por Ana durou até ela tentar
vender minha coleção de figurinhas carimbadas para o dono da
bomboniére do cinema. Ana foi a única capaz de pagar as contas do
hospital quando nossas brigas descambavam para a pancadaria e ela
descia a lenha pra valer.
Beatriz.
Beatriz
conquistou meu coração e meu colesterol quando amarrou os cadarços
do meu sapato no rabo de gato da nossa família, um felino infeliz
que acabou se suicidando num sábado chuvoso, depois de passar
semanas internado numa clínica veterinária da cidade.
Nossos
encontros, a maioria escondidos, se davam sempre na curva do rio,
debaixo do pé de eucalipto, quando ambos torcíamos para que o jipe
do prefeito não surgisse na estradinha lamacenta e nos desse um
flagrante inevitável.
Num
desses encontros Beatriz disse que desconfiava do meu amor, que eu
não demonstrava uma ponta sequer de paixão, mas eu fiz que não
ouvi, peguei minhas roupas e fui embora, sem olhar para trás,
tornando as coisas mais difíceis ainda.
Assim,
Beatriz passou pela minha vida, balançando o meu coreto e devorando
todos os sanduíches de nossos piqueniques.
Clara.
A
única dificuldade do nosso namoro foi uma irmã gêmea de Clara,
Abigail, com a mesma cara, a mesma persistência e a mesma pinta na
coxa esquerda. Quando eu pensava que estava com Clara, estava com
Abigail, e vice-versa. Durante todo o tempo eu ficava tentando
descobrir com quem estava saindo e nem podia prestar atenção no
filme.
Acabei
descobrindo que Clara era a voz fanhosa por acaso, ao ser esmurrado
violentamente pelo amante de Abigail, um alemão parrudo, com um
trinta-e-oito deste tamanho. Desiludido, pedi mais um conhaque e me
apaixonei por Diana.
Diana.
Conheci
Diana na Churrascaria do Julião, ao ser atingido por um cupim mal
assado, arremessado por um bêbado atrevido. Diana foi quem segurou o
bêbado, pagou a conta e me tornou um vegetariano incontido. Hoje
passo ao largo quando ouço falar em bife a cavalo.
Tudo
o que restou do nosso romance foi uma samambaia mal cuidada que
enfeita a sala de costura de titia.
Gilda.
Era
a única disponível na festa, estava alucinada e não sabia dançar.
Mas o sábado foi magnífico e se não fosse um tango mal acabado o
fim de semana teria sido perfeito.
Hortênsia.
Ela
se recusou a dizer seu nome durante semanas e foi nesse período que
gastei todas as minhas economias em pescarias insossas e pacotes de
algodão doce, sem falar nos pés-de-moleque. Uma paixão passageira,
mas gratificante.
Lúcia.
Apaixonou-se
subitamente pelo Caubi Peixoto, arrumou as malas e viajou para Minas,
levando parte da minha vida e o dinheiro do aluguel da quitinete.
Maria.
Argentina.
Maria Ornitorrinco sumiu quando voltei com os ingressos para o
teatro. Quem souber do seu paradeiro é favor avisar que a peça
estava ótima.
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