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quarta-feira, setembro 18, 2013

A morte de Notorious B. I. G.


Verdadeira baleia de 150 quilos, o rapper Christopher George Latore Wallace, também conhecido como Biggie Smalls, Big Poppa e Frank White, mas muito mais conhecido pelo apelido The Notorious B.I.G. (Business Instead of Game), nasceu em Bed-Stuy, Brooklyn, New York, no dia 21 de maio de 1972.

Seu pai abandonou a família quando ele tinha dois anos e desde então ficou sob os cuidados de sua mãe.

Com a idade de 12 anos já traficava drogas em Bedford-Stuyvesant.

Em 1989, ele foi preso e sentenciado a cinco anos.

Em 1990, foi solto e preso novamente por violação da sua condicional.

Um ano depois, foi preso na Carolina do Norte por venda de cocaína.

Ele passou nove meses atrás das grades até que foi solto sob fiança.

Quando abandonou sua vida criminosa, acabou por virar um rapper. Lançou o criticamente aclamado álbum “Ready To Die”, em 1994, e se converteu na principal figura do rap da Costa Leste dos EUA, que começava a rivalizar com o rap da Costa Oeste, então liderado pelo rapper Tupac Shakur.

Velhos parceiros, Notorious B.I.G. e Tupac tentavam no começo realizar o que parecia impossível: uma união fraterna entre os rappers da Costa Leste e da Costa Oeste, mas quando Tupac sofreu um atentado dentro da gravadora de Notorious, em 1994, as coisas mudaram de figura e este passou a ver Notorious como um inimigo declarado.

Em agosto de 1995, o grupo de Christopher Wallace, Junior M.A.F.I.A. (“Junior Masters At Finding Intelligent Attitudes”), composto por seus amigos de infância, lançou seu primeiro álbum intitulado “Conspiracy”.

O grupo incluía rappers como Lil’ Kim e Lil Cease, que depois passaram a ter uma carreira-solo de relativo sucesso.

O disco foi ouro e seus singles, “Player’s Anthem” e “Get Money”, ambos com Wallace, foram ouro e platina.

Wallace continuou a trabalhar com artistas de R&B, colaborando com grupos da gravadora Bad Boy, como 112 (em “Only You”) e Total (em “Can’t You See”), com ambas as músicas atingindo o top 20 da Billboard Hot 100.

Até o final daquele ano, Wallace foi o artista solo do sexo masculino e o rapper que mais vendeu discos nas paradas de pop e R&B.

Em julho de 1995, ele já havia aparecido na capa da revista The Source, com o título “O Rei de Nova York Domina Tudo”.

No The Source Awards, ele obteve os prêmios de Melhor Artista Estreante (Individual), Letrista do Ano, Performista ao Vivo do Ano e Álbum de Estréia do Ano. No Billboard Awards, ele foi considerado o Artista de Rap do Ano.


Os manos Notorious B.I.G. e Puff Daddy

Ou seja, o rapper tinha milhões de discos vendidos, colecionou algumas posições no primeiro lugar da parada americana e era uma das maiores e mais milionárias estrelas do rap.

Isso tudo, no entanto, não impediu que ele tombasse esburacado de tiros como milhares de seus irmãos pobres dos guetos negros.

O fato, ocorrido seis meses depois do assassinato de Tupac Shakur, escancarou de forma chocante o estágio de violência e desilusão do rap americano.

Afinal, os dois eram mega-astros do show business americano, filhos pródigos da indústria musical, popstars consagrados mundialmente e acabaram morrendo em situações que lembram as batalhas de traficantes de morro do Rio de Janeiro.

O paralelo é adequado não só nesse aspecto.

Assim como no morro carioca, o gueto americano é um lugar onde valentia fala mais alto, problemas são resolvidos à bala, exibicionismo material é sinal de progresso, a malandragem sempre compensa e a ausência de perspectiva dita uma ética de vida que diz: “Viva o máximo hoje porque você pode não ter amanhã”.

Nesse contexto, o gangsta rap surgiu para desafiar a ordem estabelecida e ser porta-voz do lado mais barra pesada do hip hop, dos sujeitos que estão enfiados até o pescoço na delinquência, no tráfico de drogas e na contravenção.

Graças às suas letras violentas, machistas e niilistas, o gangsta rap virou o estilo dominante do gênero nos anos 90.

Não só nas vendagens, como no noticiário, já que discos de gangsta são foco de histeria moral conservadora (como no caso de “Cop Killer”, de Ice-T).

O gangsta é a expressão musical de uma geração do gueto, para a qual ter esperança é um luxo e em que morte e exclusão são as únicas certezas.

O caso do já citado Notorious B.I.G. é exemplar. Seu primeiro disco chamou-se “Ready To Die” (“Pronto pra morrer”).

O segundo – e já póstumo –, cujo nome havia sido decidido antes da morte propriamente dita do rapper, foi ironicamente intitulado de “Life After Death”, ou seja, vida depois da morte.

Não se tem notícia na indústria da música de outro gênero em que produzir um disco seja uma atividade tão fúnebre.

Na capa de “Life After Death”, Notorious B.I.G. aparece ao lado de seu rabecão. Ele tinha 24 anos quando tombou, em março de 97, assassinado a bala, em Los Angeles, para onde viajou a fim de participar de uma festa de premiação da música negra.

Morreu duas semanas antes do lançamento oficial de seu álbum duplo. Estava em território inimigo.

Los Angeles é cidade-sede da temida gravadora Death Row (“Corredor da Morte”), o império renegado do Oeste e rival da gravadora Bad Boy, de Nova York, por onde gravava Biggie.

Se tudo foi um mal-entendido que tomou proporções assustadoras ou uma jogada de marketing suicida, a verdade é que o álbum “Life After Death”, de Notorious B.I.G., provocou filas ao chegar às lojas e o single “Hipnotize” (em que Biggie e Puff Daddy se comparam aos detetives Starsky e Hutch) ficou algumas boas semanas como n.° 1 da Billboard.

O CD é um daqueles típicos discos de gangsta rap.

Capa forte (Notorious ao lado de um carro funerário), beats repetitivos, samples da autêntica black music e letras que exprimem o melhor do chauvinismo e da violência gratuita.

A voz melodiosa do charmeiro R. Kelly embala as baixarias de “Fucking You Tonight” e a gatinha boca suja Lil’ Kim desanca o rapper em “Another”.

O trabalho contou com a participação de produtores de primeira, como RZA (Wu-Tang Clan) e DJ Premier (Gang Starr) e rappers convidados (Run-DMC).

Tem algumas mensagens pacifistas, mas abre com “Somebody’s Gotta Die” (“Alguém tem que morrer”) – “Se sou eu, você vai também.” Coisa fina.

Apesar da baixaria, o momento mais significativo do álbum é “Going Back To Cali”.

Não se trata da música homônima de LL Cool J, mas de um apelo à paz entre Califórnia e Nova York.

Poucos dias antes da faixa ser conhecida pelo público, Biggie era crivado de balas em Los Angeles.


A invocada galera dos Crips, uma das gangues mais poderosas de Los Angeles

Na sexta-feira, 6 de setembro de 2002, o jornal O Estadão publicou uma matéria intitulada “Jornal culpa rapper Notorius B.I.G pela morte de Tupac Shakur”, que transcrevemos abaixo:

Como estava prometido, o jornal Los Angeles Times publicou hoje as conclusões de uma investigação própria sobre o assassinato do rapper Tupac Shakur, cuja morte faz seis anos amanhã.

Segundo a publicação, um dos envolvidos na morte é o rapper Notorius B.I.G., que foi assassinado no ano seguinte, em Los Angeles, em outro crime sem solução.

O rapper, cujo nome verdadeiro era Christopher Wallace, teria encomendado a morte do rival, dando a própria arma para o crime e pago US$ 1 milhão para seus comparsas.

Quem puxou o gatilho foi Orlando Anderson, que fazia parte da gangue Crips, de Los Angeles.

O assassino, que nunca foi considerado seriamente pela polícia como um suspeito, foi morto em outro tiroteio sem relação com o caso.

A reportagem de duas partes é baseada em uma investigação de mais de um ano do repórter Chuck Philips, ganhador do Prêmio Pulitzer.

Shakur e Wallace tinham começado havia pelo menos um ano uma rivalidade que dividiu a comunidade do rap entre a Costa Oeste (Shakur) e a Costa Leste (Wallace e seu protegido, Puff Daddy).

Shakur foi morto quando estava em um comboio de carros de luxo na Strip, a avenida principal da Las Vegas, poucas horas depois que ele e seu grupo teriam espancado Anderson no lobby do hotel MGM Grand na saída de uma luta de Mike Tyson.

O espancamento era uma retaliação por um episódio anterior em que Anderson e sua gangue roubaram um dos seguranças de Shakur, que era da gangue rival Bloods.

Depois de apanhar, Anderson organizou rapidamente um encontro no Treasure Island Hotel e planejou o assassinato de Shakur, segundo o jornal.

Wallace teria sido envolvido no plano depois que os Crips resolveram ganhar dinheiro com o crime.

Ele concordou em dar US$ 1 milhão para ter a satisfação de que o assassinato seria cometida com sua arma, uma pistola Glock de calibre .40.

Horas depois, Shakur foi morto com quatro balas disparadas de um Cadillac.

Ele estava em um BMW dirigido pelo magnata do rap Marion “Suge” Knight.

Ninguém viu quem atirou. O rapper morreu seis dias depois.

De acordo com o jornal, Wallace teria pago uma primeira parcela de US$ 50 mil como recompensa já na semana seguinte.

Em março de 1997, Notorius B.I.G. foi assassinado em seu carro em Los Angeles, onde estava para participar do Soul Train Music Awards.

Anderson foi morto em maio de 1998.

Três outros membros da gangue que participaram com Anderson do assassinato de Shakur ainda estão vivos, moram em Los Angeles e nunca foram questionados pela polícia, segundo o Los Angeles Times.

A segunda parte da reportagem vai ser publicada amanhã.


No dia 27 de março de 2008, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma matéria intitulada “LA Times pede desculpas por reportagem com informações falsas”, que transcrevemos abaixo:

O jornal americano The Los Angeles Times veiculou um anúncio de desculpas por ter usado documentos que aparentemente foram plantados em uma história que associava o rapper Sean “Diddy” Combs a um ataque ao rapper Tupac Shakur em 1994.

“Nós pedimos desculpas a nossos leitores e aos citados nos documentos e na reportagem”, escreveu o editor Russ Stanton, sobre uma história publicada na noite de quarta-feira no site do jornal.

Combs negou que tivesse qualquer envolvimento em um roubo e tiroteio contra Shakur em um estúdio de Nova York.

Ele e outros citados pela reportagem alegaram que foram difamados pelo jornal.

O rapper, que diversas vezes trocou de nome, também é conhecido como “Diddy”, “P. Diddy”, “Puffy Combs” e fez sucesso como “Puff Daddy”.

O site The Smoking Gun, que levantou a hipótese de que a história fosse falsa, informou que os documentos pareciam forjados porque foram datilografados em vez de impressos e havia seções não tipicamente encontradas em tais papéis, dentre outros problemas.

As desculpas do LA Times ocorreram após o The Smoking Gun colocar em dúvida a veracidade dos documentos.

O site é especializado em notícias feitas a partir de documentos legais e ordenamentos judiciais.

O LA Times informou na reportagem de 17 de março que a história foi baseada em registros do FBI (polícia federal americana), entrevistas com pessoas na cena do tiroteio de 1994 e informações de um informante do FBI.

Nenhuma das fontes foi nomeada pelo autor.

O tiroteio foi parte de um conflito entre rappers da Costa Leste e a da Oeste dos EUA.

A disputa culminou na morte de Shakur e de Notorious B.I.G.

Shakur saiu vivo do tiroteio mencionado na reportagem do “LA Times”, mas acabou assassinado em 1996 em um tiroteio em Las Vegas.

NOTA DO EDITOR DO MOCÓ

Foi esse pedido de desculpas do LA Times que motivou Chuck Philips a fazer o desabafo publicado no Village Voice no ano passado, que tive a cara de pau de traduzir e publicar hoje.

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