Mauro Pereira
Ao longo desses mais de dez anos, o PT nos proporcionou a
oportunidade ímpar de testemunharmos a introdução de sua renovada visão
democrática, tese defendida desde a Fundação e que acelerou seu desembarque na
presidência da República. Com o objetivo alcançado, durante esse tempo todo
quis nos impor a democracia dele, parida no solo árido da egolatria e
consubstanciada no desmesurado apego ao poder.
Candidato a latifundiário da política nacional, seu governo
exercita um perverso e seletivo modelo de defesa dos direitos humanos,
indignando-se apenas quando os direitos ultrajados dos humanos ocorrem em
hostes inimigas. Quando os excessos acontecem nos seus quintais ou nos de seus
aliados, dentro ou fora do Brasil, dá às costas aos direitos e não consegue
definir como humanas as pessoas que padecem sob a violência de governos
autoritários e ferozes.
Buscando a qualquer custo uma cadeira no Conselho de
Segurança da ONU, jamais demonstrou o menor vestígio de pudor ao bajular
ditaduras cruéis e andar de braços dados com governos corruptos e autoritários.
Perfeitamente à vontade, visitou os porões da inconsequência ao tramar a
suspensão do Paraguai dos quadros do Mercosul para substituí-lo pela Venezuela,
parceira de desmandos e desvarios.
Na visão vesga de seu ministro das Relações Exteriores, a
Venezuela é só um tipo diferente de democracia. Ele precisa saber que para os
brasileiros de bem, qualquer tipo de democracia diferente é a versão mais
ordinária de ditaduras iguais, exercido apenas por democratas de fachada e
aplaudido somente por lacaios disponíveis.
Coerente com o seu ideário, sempre defendeu com veemência a
pureza democrática de Fidel Castro, um dos mais truculentos ditadores da
história recente da América Latina, e patrocinou uma das páginas mais
desprezíveis da política internacional ao qualificar de bandido comum o
ativista Orlando Zapata Tamayo, que morreu em decorrência da greve de fome em
protesto contra a tirania da família Castro. Mostrou a dimensão de sua
cumplicidade ao calar-se sobre a investida descaradamente absolutista de
Cristina Kirchner contra a imprensa e o Judiciário argentinos.
Definitivamente, a prudência manda que jamais subestimemos a
capacidade de acanalhar-se do PT. Com os olhos voltados para as eleições do
próximo ano, decidido a reeleger Dilma Rousseff e eleger o governador de São
Paulo, mergulhou de vez nas águas revoltas da irresponsabilidade. Preocupado
com o resultado das urnas, demorou mais de uma década para se dar conta da
excepcional incompetência de seus gestores incumbidos de oferecer um serviço de
saúde digno.
Maquiavélico, fez o que sabe fazer de melhor: terceirizou
seu fracasso escolhendo os médicos brasileiros como os vilões da vez,
responsabilizando-os pela ruína de sua política de saúde pública representada
na espera angustiante dos pacientes por exames laboratoriais que degrada, no
calvário das filas nos hospitais que avilta e na perda de 41 mil leitos do SUS
nos últimos oito anos, que revolta.
A indigência moral se concretiza nesse asqueroso convênio
compactuado com o governo cubano para a importação de 4 mil médicos. É bom
esclarecer que nada tenho contra a vinda desses profissionais. Seria até mesmo
um fato corriqueiro se eles viessem por decisão pessoal e soberana, se
submetessem às leis do país que escolheram para fixar residência e, depois de
aqui instalados, gozassem da prerrogativa da igualdade e da plenitude das
liberdades individuais garantidas pela Constituição.
No entanto, a legitimidade se definha ao guardar na sua
concepção o apelo eleitoreiro, trazer no seu viés a desconfiança da doutrinação
ideológica e tratar seres humanos como mercadoria de propriedade do estado.
Eu estaria agredindo o princípio da honestidade se não
considerasse a hipótese de que esses profissionais se apresentaram
voluntariamente para a missão em terras brasileiras. Mas a presunção do fulgor
ideológico se desmantela no sequestro de suas famílias que permanecerão reféns
do governo cubano como moeda de troca de sua lealdade e a garantia de que a
propalada devoção a Fidel Castro não vire fumaça no primeiro voo para Miami.
Desgraçadamente, a ditadura castrista usa essa mão de obra
como fonte de divisas. Sua commodity mais valorizada é gente. Seus produtos de
importação mais bem cotados no mercado internacional são pessoas. Sem o menor
trauma de consciência as oferece a quem estiver disposto a comprá-las. O PT
estava. E foi às compras.
Por mais que se queira, é praticamente impossível para o
cidadão que tem um mínimo de autonomia intelectual permanecer insensível à
incompetência testada e comprovada do governo federal e à vocação para o
desonesto ─ escancarada na memorável decisão da maioria dos ministros do STF no
julgamento do mensalão.
Raro é o bem feito que persevere na administração do PT.
Pouco é o que não se corrompa no contato com o petismo. Torna-se difícil até
mesmo recorrer à máxima da excepcionalidade.
Veja-se a denúncia mais recente envolvendo o deputado
federal paulista Vicente Cândido, que teria oferecido propina a agentes da
Anatel para resolver a dívida de 10 bilhões de reais da Oi, resultante de
multas aplicadas pela agência.
A obsessão pela hegemonia é da natureza do PT e está gravada
em alto-relevo no seu DNA. Só acreditam na sua castidade os crédulos, os
cúmplices e os oportunistas. Ninguém além deles.
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