Campo de refugiados
sírios no Líbano: “as guerras e conflitos armados são uma incubadora perfeita
para a exploração de mulheres”
Um lado triste, sombrio e pouco abordado da questão dos
refugiados da guerra civil na Síria – 2 milhões de pessoas já deixaram o país
desde o início das hostilidades, em março de 2011, o que equivale a espantosos
10% da população total – é o que atinge as mulheres: centenas, milhares delas,
ao fugirem da guerra, estão caindo nas mãos de redes de prostituição e de
tráfico de ”escravas brancas” no vizinho Líbano.
O Líbano já abriga 700 mil refugiados sírios, dos quais se
estima que 75% sejam mulheres e crianças. Boa parte das mulheres que cai na
prostituição foi estuprada no curso da guerra.
O problema se agrava a cada dia, especialmente entre os
grupos mais marginalizados, informa a ONG libanesa em defesa de mulheres em
risco de violência sexual Dar Al-Amal.
“As guerras e conflitos armados são uma incubadora perfeita
para a exploração dessas mulheres”, diz a assistente social Hiba Abou Chacra.
“O perfil dos clientes, no caso da prostituição de luxo, aponta para libaneses
ricos, árabes endinheirados do Golfo e expatriados com posses que vivem no
Líbano. Os clientes mais pobres recorrem à prostituição de rua”.
Beirute, a capital, com 2 milhões de habitantes estimados e
intensa vida noturna, é o destino da maioria delas, mas nem de todas.
Dias atrás, jornais libaneses denunciaram a existência de um
prostíbulo que abrigaria nada menos que 500 refugiadas sírias em uma localidade
próxima à cidade litorânea de Sidon, a terceira maior do Líbano, ao sul da
capital. A prostituição, tecnicamente, é ilegal no país, mas “quase ninguém
fala desse assunto abertamente”, diz Mohammad Ghazal, ativista da ONG Première
Urgence.
A ONG oferece apoio psicológico a mulheres e, segundo ele,
“algumas refugiadas nos disseram que estão na prostituição porque precisam de
dinheiro, mas as demais se calam”. No caso desse suposto prostíbulo, as
autoridades não mexeram um dedo.
O que leva essas mulheres ao silêncio – não raro
adolescentes ou mesmo garotas de 9, 10 anos – é o temor da desonra social, algo
fortíssimo nos países árabes. Essa barreira tem impedido que mulheres, violadas
durante a guerra e, agora, em muitos casos, obrigadas a prostituir-se por
gangues deixem de relatar sua situação mesmo ao pessoal de apoio da ONU que
trabalha junto aos refugiados.
“São poucas as que dão um passo à frente”, confirmou ao
jornal El Mundo, de Madri, a porta-voz regional do Alto Comissariado da ONU
para Refugiados, Joelle Eid. “A maioria tem medo de falar pelo estigma
associado a ter sobrevivido à violência sexual e teme por sua segurança”.
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