Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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terça-feira, janeiro 06, 2009
Literatura e negritude em imagens e sons
Duas mostras com diferentes abordagens marcam o início do ano para o circuito alternativo audiovisual de Fortaleza
por Fábio Freire
Atualmente o cinema é essencialmente narrativo e tem como um de seus pilares contar histórias. Mas ainda que essa característica domine a cinematografia mundial, a sétima arte não deixa de ser um campo fértil para a experimentação de linguagens ou a reflexão sobre determinadas temáticas, mesmo que para isso os filmes usem como sustentação tramas lineares com começo, meio e fim.
Se o público está acostumado a perceber o cinema como uma linguagem narrativa, o melhor a fazer é usar histórias e a conduta de personagens para experimentar a própria estrutura do cinema ou usá-lo como instrumento para levantar questões sobre assuntos sociais, culturais, políticos, ideológicos etc. O cinema faz isso como nenhuma outra forma de arte, atingindo um imenso público ao redor do mundo e superando as mais diversas barreiras: geográficas, culturais e linguísticas.
Temática negra
Duas diferentes mostras que têm início essa semana em Fortaleza vêem a sétima arte através dessas perspectivas. No Centro Cultural Banco do Nordeste, o cinema é utilizado como uma ferramenta para discutir a consciência negra. Três filmes serão exibidos durante todo o mês de janeiro, às terças-feiras, a partir de hoje, e apresentam aspectos diversos da temática negra, no formato ficção ou documentário.
Em “Xica da Silva”, o diretor Cacá Diegues usa suas lentes para lançar um olhar sob uma importante personagem da história brasileira, uma sensual escrava que modifica as estruturas da corte em meados de 1750 ao seduzir o governador e se tornar a “primeira dama” da próspera Diamantina, em plena época de exploração da mineração. Cinema com viés histórico. Seguindo linha semelhante, o documentário “Terras de Quilombo, Uma Dívida Histórica” procura desvendar a “ressemantização” do termo “quilombo” na literatura especializada através do estudo das comunidades negras rurais de Alcântara, no Maranhão.
O neoclássico “Cidade de Deus” foge de uma visão histórica e assume uma perspectiva de caráter mais sociológico para, através da trajetória de dois personagens, discutir as relações sociais dentro do contexto de uma favela, mais especificamente a Cidade de Deus, um dos bairros mais temidos e violentos do Rio de Janeiro. Três produções que, de algum modo, refletem sobre o papel do negro, seja na sociedade atual, seja no período da escravidão.
Dos livros para as telas
Sem uma ligação tão aparente entre os filmes que serão exibidos também durante o mês de janeiro, o Cineclube da Vila apresenta quatro produções bem distintas entre si, abordando assuntos diferentes, mas que têm em comum o fato de serem adaptações literárias. Na mostra “Literatura em Cinema”, que começa amanhã e prossegue todas as quartas-feiras do mês, o cinema pega emprestado não só a estrutura literária para construir sua própria linguagem, como também usa a literatura como importante fonte de inspiração.
Dessa forma, a inconfidência mineira, a experiência de um preso político na prisão, a revolução cubana e uma sociedade totalitária de uma ficção científica pulam das páginas de livros, célebres ou não, e ganham imagens em movimentos e sons nos filmes da mostra, que abre amanhã com o filme nacional “Os Inconfidentes”, contando com a presença do pesquisador em Literatura Brasileira e Estudos Culturais, Marcelo Magalhães Leitão, em debate após a exibição do longa. No filme de Joaquim Pedro de Andrade, diálogos montados a partir de recortes de Cecília Meireles e de poemas dos próprios protagonistas da insurreição, além de trechos dos Autos da Devassa da Inconfidência Mineira, servem como retrato da época.
Aproveitando os 50 anos da Revolução Cubana de 1959, “Memórias do Subdesenvolvimento”, de Tomás Gutiérrez Alea, apresenta um retrato lúcido e poético de Cuba no começo dos anos 1960, baseado no romance homônimo do escritor Edmundo Desnoes. Considerado um clássico do cinema latino-americano, o filme, que mistura recursos do documentário e da ficção, acompanha os rumos da revolução pelo olhar de um homem que aos 38 anos se vê subitamente sozinho em Havana, depois que a mulher e os pais resolvem migrar para os Estados Unidos.
Já “Memórias do Cárcere” é baseado em clássico homônimo da literatura brasileira. O filme de Nelson Pereira dos Santos segue os passos do escritor Graciliano Ramos, então diretor de instrução pública de Alagoas, durante o período em que foi preso pela polícia política de Getúlio Vargas e enviado, no porão de um navio, para o Rio de Janeiro. Sob a acusação de ter participado da Aliança Nacional Libertadora, a frente ampla de combate ao governo Vargas, passou onze meses na cadeia, parte deles na Colônia Correcional da Ilha Grande.
Encerrando a programação, a mostra “Literatura em Cinema” deixa de lado as tramas baseadas em histórias ou contextos reais e se inspira em um livro de ficção científica de Ray Bradbury. Referência no gênero, “Fahrenheit 451” mostra uma sociedade totalitária de um futuro não tão distante, onde bombeiros têm por função queimar todo tipo de material impresso, considerado como propagador da infelicidade.
PROGRAMAÇÃO
CONSCIÊNCIA NEGRA
Xica da Silva
(BRA, 1976), direção de Cacá Diegues
A extraordinária trajetória da sensual escrava negra em 1750 que seduz o governador, torna-se a ´primeira dama´ de Diamantina e vira a corte de pernas para o ar
Hoje - 10h30
Dia 13 - 12h55
Dia 20 - 18h15.
Terras de Quilombo, uma dívida histórica
(BRA, 2000), direção de Murilo Santos
Documentário sobre as comunidades negras rurais de Alcântara, no Maranhão, que discute a ´ressemantização´ do termo ´quilombo´ na literatura especializada
Hoje - 12h55
Dia 13 - 18h15
Dia 20 - 10h30.
Cidade de Deus
(BRA, 2002), direção de Fernando Meirelles
O crescimento do conjunto habitacional Cidade de Deus, entre o fim dos anos 1960 e começo dos 80, pelo olhar de dois jovens da comunidade. Indicado a vários Oscar, inclusive de melhor direção
Hoje - 17h45
Dia 13 - 10h30
Dia 20 - 12h45.
LITERATURA EM CINEMA
Os Inconfidentes
(BRA, 1972), direção de Joaquim Pedro de Andrade.
O filme relata os eventos que passaram a ser conhecidos historicamente como Inconfidência Mineira. José Wilker interpreta Tiradentes no filme
Amanhã (7) - 18h30.
Memórias do Subdesenvolvimento
(CUBA, 1968), direção de Tomás Gutiérrez Alea.
Retrato lúcido e poético de Cuba no começo dos anos 60. Alea oferece um olhar ao mesmo tempo carinhoso e crítico sobre os rumos da revolução cubana
Dia 14 - 18h30.
Memórias do Cárcere
(BRA, 1984), direção de Nelson Pereira dos Santos
Baseado no livro de Graciliano Ramos, que conta a experiência do próprio escritor quando este foi preso pela polícia política de Getúlio Vargas
Dia 21 - 18h30.
Fahrenheit 451
(FRA, 1966), direção de François Truffaut
Inspirado no livro de Ray Bradbury, o filme é uma ficção científica com linguagem bastante peculiar, mostrando uma sociedade totalitária de um futuro não muito distante
Dia 28 - 18h30.
Mais informações:
Imagem em movimento, série Consciência Negra, todas as terças-feiras de janeiro, no Centro Cultural Banco do Nordeste, Rua Floriano Peixoto, 941, Centro. Fone (85) 3464.3108. Grátis.
Cineclube da Vila, mostra Literatura em Cinema, todas as quartas-feiras de janeiro, sempre às 18h30, na Vila das Artes, Rua 24 de Maio, 1221, Centro. Fone: (85) 3252.1444. Grátis.
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