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quinta-feira, março 05, 2009

A enciclopédia que você pediu a Jah – Parte 5


HIGGS, Joe
Se o mundo do reggae tem um injustiçado, ele atende pelo nome de Joe Higgs. Cantor carismático, gente boa e compositor de mão cheia, ele hoje não tem nem 10% da fama que seus pupilos, os Wailers, alcançaram. Os brasileiros que o digam: Higgs passou incógnito por aqui anos atrás e só descolou algumas apresentações no Circo Voador (Rio) e em Curitiba.

Esse canário raro iniciou sua carreira ainda no início dos anos 60. Foi a época da dupla Higgs & Wilson (de Delroy Wilson) que brindava o público com R&B e um arremedo de reggae. A parceria durou até 1964 e depois o cantor foi trabalhar para Coxsone Dodd como professor de canto dos artistas. Higgs ensinou um tal de Bob Marley a usar melhor sua voz de tenor e sugeriu que o então The Wailers se chamasse Bob Marley & The Wailers – para desespero de Peter Tosh.

Ele é também o verdadeiro autor de “Stepping Razor” – surrupiada calhordamente por Tosh no álbum Equal Rights – e compôs uma obra magistral com os Wailers: o álbum Blackman Know Yourself, de 1990.

O seu compacto de 1983, “So It Go”, que chamou a atenção para a precarieadde dos pobres que não tem nenhum protetor nas altas esferas, causou problemas políticos a Higgs com o partido governista da Jamaica obrigando-o a partir para Los Angeles, onde ele viveu no auto-exílio até a morte, em dezembro de 1992, depois de vários meses lutando contra um câncer.

HOLT, John
Assim como Bob Andy, Holt fez parte dos Paragons, um dos grandes grupos vocais da Jamaica. É autor de “The Tide Is High”, canção que o grupo americano Blondie regravou em 1981. Solo, John Holt fez Police In An Helicopter, um dos álbum básicos do reggae, além de ter emplacado hits do quilate de “Wild Fire” – ao lado de Dennis Brown –, “How Could I Leave” e “Ali Baba”.

HARRIOT, Derrick
Em trabalhos solo ou ao lado dos Jiving Juniors, este cantor teve seu período de fama nos anos 60 – mais precisamente no terreno do rock steady. Atualmente ele é dono de uma das lojas de discos mais populares de Kingston.

HUDSON, Keith
Produtor, um dos papas esquecidos do dub. Seu álbum Pick A Dub é uma das bíblias do gênero.

I-TAL
Vital, essencial, fundamental, em patois.

I-THREES
Uma seleção vocal feminina de presença, treinada por ninguém menos que Bob Marley. O rei as convocou ao ver seus dois parceiros (Peter Tosh e Bunny Wailer) debandarem antes das gravações de Natty Dread (1974). As I-Threes são Marcia Griffiths (ex-senhora Bob Andy, considerada a grande dama do canto jamaicano), Judy Mowatt e a patroa Rita Marley, que dava seus trinados numa banda chamada Soulettes. O trio participou de diversos álbuns do rei do reggae e de vez em quando se aventura em turnês e discos, sempre emocionando os admiradores de um belo canto feminino. Recentemente, lançaram um CD só de canções do velho Bob – acreditem, é uma maravilha.

INNER CIRCLE
Kingston, capital da Jamaica, é repleta de tenement yards, terrenos baldios onde os rastas, ortodoxos ou não, se reúnem para fumar um e trocar idéias. Foi num deles que surgiu o Inner Circle, banda crucial do reggae dos anos 70.

Sua formação inclui músicos nobres: os irmãos Roger e Ian Lewis (guitarra e baixo, respectivamente) trabalharam no Studio One e tocaram até na clássica versão de “Cherry Oh Baby”, de Eric Donaldson (regravada depois pelos Rolling Stones). O tecladista Bernard “Touter” Harvey ainda usava calças curtas quando participou do fenomenal disco Live!, de Bob Marley. E o vocalista... Jacob Miller era um monstro. Convertia qualquer servo da Babilônia com sua versão de “Soul Rebel” e tinha nítidas influências de soul music.

A formação clássica do Inner Circle gravou discos como Reggae Thing (lindo!). Em 1980, pouco depois de ter passado quase despercebido pelo Brasil (veio junto com Marley), Miller morreu num desastre de carro e o grupo deu uma parada de seis anos. Voltou acrescido do vocalista Calton Coffie e do baterista Lancelot Hall. O retorno às paradas se deu em 1992, com a balançada “Sweat (A La La La Long)” e no ano seguinte eles fariam uma das (muitas) turnês pelo Brasil.

Em 1995, Coffie foi substituído pelo cantor Kris Bentley. E a paixão do Inner pelos brasileiros continua a toda, com parcerias com Cidade Negra e Akundum.

IRIE
Legal, em patois. Alegria, diversão.

ISAACS, Gregory
Na Jamaica, ele é o equivalente a Roberto Carlos. Cantor de voz mansa e jeitão suave, ele tem o poder de conquistar a mulherada apenas com os "ahn" que derrama entre um verso e outro. A carreira de Isaacs estava definida já na infância. Ele era uma espécie de cantor-prodígio, arrebentando em qualquer show de calouros que aparecesse. Os hits começaram ainda em 1973, quando também lançou o selo African Museum. Vieram “All I Have Is Love”, “Love Is Overdue” e outros mela-calcinhas do canto gregoriano.

Nesse período áureo, engatou parcerias com Sly & Robbie (Soon Forward), trabalhou com o produtor africano Wally Badarou (Night Nurse) e foi um dos astros da gravadora inglesa Virgin. O vício em drogas pesadas (especialmente crack), porém, quase colocou tudo a perder. O Cool Ruler – um de seus vários apelidos – experimentou um período de ostracismo na década de 80 e só foi resgatado por Gussie Clarke, que produziu Rumours (1988).

Gregory ainda está na ativa, mas não provoca o mesmo frisson – hoje esta tarefa está a cargo de DJs mais jovens e abusados. Seus shows rolam num esquema Tim Maia de performance: ele murmura a frase inicial da canção e deixa a galera cuidar do resto. Aliás, em 1991, Mr. Isaacs foi em cana no Maranhão ao tentar fugir sem dar todos shows previstos em contrato e pagos antecipadamente.

ISRAEL VIBRATION
Grupo vocal formado no início dos anos 80, o Israel Vibration tem pelo menos uma curiosidade: seus três integrantes são paralíticos, vítimas de poliomelite. Eles se apresentam ao lado da Roots Radics Band (liderada pelo excepcional baixista Flabba Holt) e suas harmonizações têm “propriedades medicinais”. Embalaram a fisioterapia do percussionista Alvin “Seeco” Patterson – o homem que apresentou a filosofia rasta a Marley – quando ele se recuperava de um derrame cerebral.

I-ROY
DJ e discípulo de U-Roy, ele ficou famoso nos anos 70 ao trocar bravatas com Prince Jazzbo.

JAH
Deus, para os rastas. Ele surge na figura de Hailé Selassié, imperador da Etiópia e tirano de marca maior. Selassié se dizia descendente do rei hebreu Salomão – que “pulou a cerca” com a Rainha de Sabá. O etíope governou o país com mão de ferro até 1975, quando foi deposto e exilado em seu próprio palácio – onde veio a falecer no mesmo ano.

JAMMIN’
Curtindo, se divertindo adoidado, em patois.

JOHNSON, Linton Kwesi
Nascido em 1952, na Jamaica, radicado em Londres e formado em sociologia, ele é o mestre da poesia dub. Respeitado como intelectual e poeta, Linton grava discos (ou livros falados) que são uma verdadeira aula de cultura negra. Seus discos mais famosos são os do final da década de 70 e começo dos anos 80, inspirados nos escritos do erudito negro americano W.E.B. Du Bois.

Linton Johnson compõe “com uma linha de baixo já na cabeça”, e, como bom jornalista (que ele também é), apresenta fatos sobre discriminação racial com sua carismática voz sepulcral. Sempre acompanhado pela Dub Band – cujo destaque é o soberbo baixista Dennis Bovell, que trabalhou no disco de estréia d’O Rappa.

Linton tem laços estreitos com o Brasil. Ele visitou o país em 1994, numa festa do Olodum – o Pelourinho só não foi abaixo por milagre, e também participou de “Navegar Impreciso”, faixa do álbum Severino, dos Paralamas do Sucesso.

JUNIOR GONG
Rebento desgarrado de Bob Marley, fruto da união do rei do reggae com Cindy Breakspeare. Damien – seu nome verdadeiro - iniciou sua carreira no duo Shepherds, uma versão fumacenta de Sandy e Júnior. Hoje Junior Gong usa a verborragia de DJ para mendar mensagens com influências rastafari.

JAH SHAKA
DJ, engenheiro de som, músico... Tem colaborações com do Aswad e emplacou nos terreiros dub o CD Dub Symphony (uma obra-prima).

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