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quinta-feira, março 05, 2009

A enciclopédia que você pediu a Jah – Parte 7


MARLEY, Bob
Jamaicano, rasta, herbsman, semideus, gênio musical, excelente compositor, visionário, mulherengo, bom de cama e de briga, companheiro, vidente... Bob Marley é a própria razão do reggae ter se popularizado pelo mundo inteiro.

O gênio nasceu em 6 de fevereiro de 1945, em St. Ann (distrito de Nine Miles, interior da Jamaica), fruto de um fugaz romance entre a jamaicana Cedella Booker e o oficial inglês Norwall Marley. Foi criado pelos avós e aos seis anos de idade “recebeu” o dom da clarividência: por alguns trocados, lia mãos nas feiras da vizinhança. Nessa época ele aprendeu sua primeira canção, um lamento de feirantes para as mulheres que enrolavam muito na hora de comprar as frutas e legumes que iriam levar para casa.

Ainda adolescente, mudou-se para Trenchtown, favela de lata nos arredores de Kingston. Ali, entre guitarras imaginárias e com um pé na bandidagem, montou os Wailing Wailers (depois apenas Wailers). Eram Bob, seu meio-irmão Bunny Livingstone, Beverly Kelso, Junior Braithwaite e Peter Tosh. Os Wailers tiveram a mesma trajetória de vários grupos vocais da época: gravaram singles com Leslie Kong, passaram um tempo sob as bençãos de Coxsone Dodd no Studio One (nessa fase lançaram uma versão magistral de “And I Love Her”, dos Beatles), sem obter o devido reconhecimento.

Bob Marley foi morar com a mãe nos EUA (em Wilmington, Delaware), onde trabalhou como operário. Antes de embarcar, porém, casou-se com Rita Anderson, vocalista das Soulettes. O exílio americano durou sete meses.

De volta à Jamaica, Bob encontrou os amigos enfronhados na filosofia rastafari, que pregava a volta dos negros para a África e ensinava que o imperador etíope Hailé Selassié era a encarnação de Jesus Cristo. Os Wailers também tinham outra proposta sonora. Ao trabalhar com o produtor Lee Perry, descobriram o poder hipnótico do baixo e da bateria na figura dos irmãos Aston “Family Man” e Carlton Barret. De trio vocal que fazia ska e rock steady, os Wailers viraram um autêntico grupo de reggae.

A formação da época era: Bob Marley (guitarra, vocais), Peter Tosh (guitarra e vocais) e Bunny Wailer (percussão e vocais). O grupo então surrupiou a seção rítmica de Perry e, acrescido do tecladista Earl “Wire” Lindo, foi fazer história. Assinou contrato com o selo Island, de Chris Blackwell, e lançou Catch A Fire, marco na história da música jamaicana.

O ano de 1973 nem tinha acabado quando essa turma mandou Burnin’ para as lojas. À essa altura, o grupo havia sido rebatizado de Bob Marley & The Wailers. Ao ouvir Burnin’, Eric Clapton se encantou com “I Shot The Sheriff” e decidiu gravar a canção em 461 Ocean Boulevard. A música foi direto para o primeiro lugar na parada americana.

Peter Tosh e Bunny Wailer saíram antes das gravações de Natty Dread (1974). Marley então reformou a banda com as I-Threes, os guitarristas Earl “Chinna” Smith e Al Anderson, o percussionista Alvin “Seeco” Patterson e o tecladista Bernard “Touter” Harvey. Essa formação invadiu e conquistou o Rainbow Theatre, em Londres. O resultado repousa belo e lampeiro no álbum Live!, gravado no Lyceum Theatre.

Bob Marley passou a ser o primeiro (e até hoje único) superstar originário do Terceiro Mundo. Ganhou uma mansão na zona nobre de Kingston e capas das principais revistas do planeta. Em 1976, porém, sofreu um atentado em sua própria casa: pistoleiros de aluguel atingiram o cantor, o empresário Don Taylor e Rita Marley. Bob se mandou para a Inglaterra a tempo de abençoar o então nascente movimento punk. Lá, homenageou bandas como Sex Pistols e The Clash na canção “Punk Reggae Party”.

A banda que o acompanhava neste single, aliás, era composta por alguns de seus alunos mais aplicados: Stephen “Cat” Coore (guitarra, do Third World), Michael “Ibo” Cooper (teclados, também do Third) e Drummie Zeb (bateria, do Aswad). Foi nessa época que o guitarrista Junior Marvin entrou para os Wailers. Marvin tinha participado de alguns discos de Stevie Winwood pela Island e encheu os olhos de Chris Blackwell. Hoje é o guitarrista quem está à frente dos Wailers tocando o projeto de Marley.

A tão sonhada volta para a África se realizou em 1978. Bob tocou na festa de independência do Zimbábue, que havia recém se libertado do jugo inglês. Um episódio da época dá a exata dimensão dos valores do cantor. O príncipe Charles representou a realeza britânica na cerimônia. Ao saber que Bob estava num avião ao lado do seu, mandou um representante para conversar com o rei do reggae. “O príncipe da Inglaterra faz muita questão de conhecê-lo pessoalmente e pede para que o senhor vá até o avião dele.” A resposta veio de bate-pronto. “Eu sou Bob Marley. Se quiser me conhecer, ELE que venha até o meu avião.”

A África que Bob viu não o satisfez plenamente. Foi nessa época que ele se conscientizou de que Hailé Selassié era um ditador e que as nações africanas ainda sofriam com milenares guerras tribais. Dessa experiência nasceu Survival (1979), o álbum mais político do rei do reggae. Bob pede a união de todos os africanos (“Africa Unite”), reclama dos problemas do mundo (“So Much Trouble In The World”), homenageia o Zimbábue (“Zimbabwe”) e apela para a mobilização do homem africano (“Wake Up And Live”). O atentado sofrido em 1976 – e que era um tabu na vida do cantor – é exorcizado em “Ambush”.

Uprising (1980) foi gravado muito às pressas porque Marley não tinha muito tempo. Nele está um dos grandes clássicos do rei do reggae: a lindíssima, arrepiante “Redemption Song”. “Bad Card” é um recado malcriado ao ex-empresário Don Taylor e “Could You Be Loved” é considerada por muitos como uma precursora do dancehall.

Foi no Velho Mundo que ele sofreu o controverso acidente que lhe custou a vida. Acredite, se quiser: Bob feriu o pé enquanto jogava futebol. O machucado infeccionou e o médico sugeriu que o cantor amputasse o dedão – proposta recusada com base nas confusas crenças rasta. A infecção jamais sarou e, segundo alguns médicos, acabou gerando um tumor que depois originaria câncer cerebral, descoberto três anos depois.

Marley ainda tentou se curar através de quimioterapia, mas não obteve sucesso: morreu em 11 de maio de 1981, depois de ter espalhado pelo planeta inteiro a música jamaicana, o orgulho negro e os valores humanitários de sua poesia.

MARLEY, Julian
Um dos filhos bastardos do rei do reggae, Julian nasceu na Inglaterra. Sua mãe era uma modelo branca que se enrabichou com Bob em 1976. Julian fez seu debut artístico em 1991, durante o Reggae Sunsplash, cantando velhos sucessos de Bob pai. Na mesma época foi morar na Jamaica, onde divide o teto com Ziggy, Stephen, Sharon e Cedella. Em 1997, Julian lançou seu primeiro álbum solo.

MARLEY, Ziggy
O filho mais velho de Bob foi um dos poucos que não nasceu em berço de ouro. Em agosto de 1968, o rei do reggae ainda trampava duro para descolar alguns trocados. David (nome verdadeiro de Ziggy) nasceu sobre um monte de jornais.

Com a morte do pai, em 1981, Ziggy formou os Melody Makers ao lados dos irmãos Steven, Cedella e Sharon – esta, filha de Rita Marley com outro homem. O grupo gravou dois álbuns, mas decolou apenas em 1987, com Conscious Party. Vieram discos corretos como One Bright Day (1989) e ousados como Jahmekya (1991), mas que nunca deram a Ziggy o estrelato.

Pessoalmente, ele não lembra o espírito bom chapa do pai: arrogante, apesar dos bons trabalhos, nunca foi muito respeitado pelo público ortodoxo de reggae da Jamaica.

MCGREGOR, Freddie
Um dos grandes talentos vocais da Jamaica, Freddie iniciou suas atividades como cantor dos Claredonians. Tinha na época sete anos e era chamado de “pequeno Freddie”. Depois de passar uma temporada sob a supervisão de Coxsone Dodd, ele assumiu os vocais principais do Soul Syndicate nos anos 70 e depois trabalhou como produtor.

Freddie foi casado com Judy Mowatt, das I-Threes, e apadrinhou o vocalista Luciano. Dono de um registro vocal próximo aos do soulmen americanos, ele passou a década de 90 revisitando o cancioneiro jamaicano. Seus discos Sings Jamaican Classics Vols. 1, 2 e 3 são básicos em qualquer discoteca reggae.

MEDITATIONS, The
Eles são um dos grandes grupos vocais da Jamaica, ao lado de Wailing Souls e Mighty Diamonds. E um dos poucos a sobreviver à febre de música sacana (as famosas slack songs) que assolou Jamaica na segunda metade dos anos 80. Ansel Cridland, Danforth “Danny” Clarke e Winston Watson costumavam freqüentar os arredores de Kingston e aprenderam as mumunhas do canto de tanto assistir Bob Marley e os Heptones. A princípio a banda se chamava Ansell e The Meditations. Eles assinaram contrato com o músico Ossie Gilbertl depois de interpretarem “Sitting On The Sidewalk”. O ano era 1972.

Em 1976, já como Meditations, lançaram o álbum Message From The Meditations. Dois anos depois o grupo caiu nas graças profanas de Lee Perry e nas bençãos sagradas de Bob Marley – que havia escutado as canções do trio durante seu exílio na Europa. Eles gravaram “Rastaman Live Up” e “Blackman Redemption”. A colaboração com Marley ainda rendeu uma participação do trio no One Love Concert.

Os Meditations sofreram um pequeno racha em 1984, quando Danny e Winston foram morar nos EUA – e deixaram Ansell na Jamaica. A dupla se uniu ao cantor Linval Thompson e lançou No More Friends (título sugestivo).

A formação original se reagrupou em 1990 depois de insistentes pedidos de feras do reggae – entre elas, Jimmy Cliff, que declarou publicamente ser um dos maiores admiradores dos Meditations. A volta foi coroada com a coletânea Deeper Roots (1994) e o trio se encontra na ativa até hoje, brilhando em noites dedicadas a veteranos do chacundum.

MYAL
Uma forma de magia branca (para o bem).

MIGHTY DIAMONDS
Entre os alhos e bugalhos surgidos no reggae nos anos 70, o trio formado por Donald “Tabby” Shaw, Lloyd Ferguson e Fitzroy Simpson foi certamente bom fruto. Com vocais suaves, próximos da soul music americana, eles defenderam como poucos a causa rasta em canções como “Poor Marcus” e o hit “Right Time”. Contratados pela Virgin – que na metade dos anos 60 foi descobrir o que é que a Jamaica tinha –, eles impressionaram uma platéia de convidados: entraram no palco brandindo reluzentes machados.

Os Mighty Diamonds chegaram a gravar disco com produção do veterano de Nova Orleans Allen Touissant (Ice On Fire, de 1977), mas não estouraram nos EUA. Na Jamaica continuaram espalhando hits – entre eles, “Pass The Kutchie”, “passa o baseado” – e inspiração para bandas como The Itals e Israel Vibration. O grupo infanto-juvenil Musical Youth estourou no mundo todo em 1982 com uma versão sanitizada de “Pass The Kutchie”, “Pass The Dutchie”.

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