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quinta-feira, março 05, 2009

A enciclopédia que você pediu a Jah – Parte 6


KING JAMMY
Ele colocou a Jamaica no futuro. Dono de um dos sound systems mais populares da ilha, Jammy precisava de uma nova batida para acabar com seu concorrente – o Black Scorpio. Criou mais do que isso. Com um tecladinho Casio e um tecladista mediano – Tony Asher, que simplesmente transformou em notas as idéias do chefe –, ele inventou o dancehall, ritmo que domina a Jamaica. A música era “Under Mi Sleng Teng” e foi um dos grooves mais copiados pelos outros produtores da ilha naquele ano.

Assim como Coxsone Dodd nos anos 60 e King Tubby na década de 70, Jammy foi o grande produtor do dancehall. Não apenas por ser o pai da criança, mas também pelo fato de ter os melhores astros da ilha sob contrato. Entre os bambas que cantavam para King Jammy estavam o DJ Pinchers (autor de “Bandolero”, canção que o Skank venera até hoje), Chaka Demus (mais tarde parceiro do cantor Pinchers), Admiral Bailey (sucesso nos terreiros com “Punnany”) e Josey Wayles.

O sound system dessa fera da produção – que está na ativa até hoje – também viu surgir a maior estrela do reggae depois de Marley. Um DJ com voz de lixa e discurso sexista, que tentou em vão uma carreira como DJ Co-Pilot. O nome da fera? Shabba Ranks.

KING TUBBY
Osbourne Ruddock já tem lugar garantido na história por ter inventado o dub. Engenheiro de som de Duke Reid, ele criou este novo gênero musical ao aumentar a potência de baixo e bateria, esmagando os outros instrumentos na mixagem.

Mas King Tubby também se revelou um produtor de mão cheia, ao trabalhar com Augustus Pablo e a dupla Sly & Robbie. Seus trabalhos com dub entortam qualquer usuário de LSD, com baixo e vozes que parecem surgir do nada e uma caixa empapuçada de eco. King Tubby morreu em 1988 de um modo estúpido. Foi baleado por um meliante durante uma discussão de rua.

KONG, Leslie
Jamaicano descendente de chineses, ele tinha todas as qualidades e defeitos que alguém pode ter na indústria fonográfica. Por um lado, lançou e bancou o início da carreira de gente como Jimmy Cliff, Bob Marley e Desmond Dekker. Por outro, trabalhava num esquema sujo de “your ass is mine” (“você me pertence”): pagava uma merreca aos artistas que mantinha sob contrato.

Kong era um simples dono de restaurante até ser convencido por Cliff a lançar um single, “Hurricanne Hattie” (1962). Pouco depois Kong acolheu o então soldador Bob Marley e com ele gravou, pela bagatela de 15 dólares, “Judge Not”.

Em agosto de 1971, quando Bob e seus Wailers já estava trabalhando com Lee Perry, Kong soltou uma coletânea sem pedir autorização. Bunny Wailer foi tirar satisfações com o produtor e, depois de uma acirrada discussão, esbravejou: “Você não vai ter muito tempo de vida para aproveitar nosso dinheiro.”

No dia seguinte, Leslie Kong apareceu morto. A causa mortis era um problema no coração, mas ninguém tira da cabeça dos jamaicanos que o chinês foi para o vinagre graças a uma mandinga do místico Bunny.

KELLY, Pat
Outro rei das radiolas do Maranhão, Pat está identificado com o período do rock steady. Cantou nos Techniques – substituindo Slim Smith – e estourou a canção “I Don’t Care” para o então mecenas Duke Reid.

LEVY, Barrington
Surgido em meio à febre do dancehall, na segunda metade dos anos 80, este jamaicano se destaca por seu estilo original, que mistura cânticos de devoção rastafari com vocalises yodel (aqueles do tiroleite). Barrington é responsável por um dos grandes clássicos do cancioneiro enfumaçado, “Under Mi Sensi”.

O selo americano MCA o contratou em 1994: no mesmo ano saiu Barrington, discão cheio de convidados especiais (entre eles Vernon Reid, do Living Colour) e regravações de singles jamaicanos. A experiência não deu certo – ele está de volta aos selos independentes –, mas o cantor ainda é capaz de causar comoção nos shows que faz na Jamaica.

LODGE, J.C.
Cantora jamaicana, gravou seu primeiro álbum sob a coordenação de Gussie Clarke. O sucesso valeu contrato com o selo americano Tommy Boy, especializado em rap, por onde relançou “Telephone Love” (um reggae tele-sexo que tocou nas noites reggae de São Paulo no começo dos anos 90) e alcançou os primeiros lugares da parada dance americana. Dona de grandes recursos vocais, J.C. varia entre o dancehall e a música romântica, gravando covers bem interessantes (uma delas é “It’s Too Late”, de Carole King). Quem quiser tirar a prova dos nove, basta conferir Love For All Seasons (1996) que junta romantismo e refinamento sob a produção do maestro do dub Mad Professor.

LUCIANO
Ao lado de Garnet Silk (precocemente falecido num incêndio), é um dos grandes expoentes do revival rastafari que domina a Jamaica atualmente. Debutou em 1992 com uma cover de “Ebony And Evory” (de Paul McCartney) e chamou a atenção do veterano cantor Freddie McGregor, que o contratou para seu selo Big Ship Records.

Na época, ainda usava o nome artístico de “Luciana” (por esquisitice mesmo, sem conotações andróginas – impensáveis na machista Jamaica). Sob a batuta de McGregor e dos técnicos do Music Works, de Gussie Clarke (em especial Fatis Burrel), lançou “Shake It Up Tonight”, primeira posição na parada de reggae da Inglaterra.

O acontecimento atiçou os executivos da Island, que o contrataram em 1995. No mesmo ano, soltou Where There Is Life, pedrada rasta produzida por Burrel. O próprio Luciano, porém, quase põe tudo a perder quando, no meio de uma apresentação para a imprensa mundial, anuncia que vai dar um tempo na carreira. A tal paradinha não aconteceu: dois anos depois, ele atacou com Messenger, que traz uma novidade: a faixa “Life”, definida pelo próprio Luciano como “um cruzamento entre samba e salsa.”

LEE, Byron
Baixista e dono de dos Dragonnaires, uma das bandas mais quentes da ilha – que acompanhou até Jimmy Cliff – Byron fez tudo tudo: ska, rock steady, reggae. Atualmente centra forças no calipso e outros ritmos calientes.


MAD PROFESSOR
Neil Fraser é um nome cada vez mais estranho para este produtor nascido na Guiana inglesa e criado na Inglaterra, onde se tornou um dos grandes nomes do dub. O apelido vem dos tempos de escola. “Meus amigos me chamavam de Professor Maluco porque eu preferia ficar brincando num estúdio de gravação a jogar bola”, revela.

A nerdice compensou: Mad estreou no começo dos anos 80, com o álbum Dub Me Crazy, cheio de barulhos espaciais, cortes abruptos de melodia e outras invencionices. Antecipou o cenário drum’n’bass ao lançar “The Heart Of The Jungle” (de 1984) e criou o selo Ariwa, que projetou os talentos Macka B. e Pato Banton.

Também ciscou no terreiro do Massive Attack, a última palavra em dance contemporânea, sendo responsável pelas entortadas dub da banda no álbum No Protection e no single "Risingson".

MAJEK FASHEK
Os africanos o consideram não apenas um dos melhores performers da terrinha, mas um artista visionário e excelente “fazedor de chuvas”. Ele nasceu na Nigéria e se iniciou no mundo artístico tocando kpangolo, uma música tradicional africana cuja sonoridade é bem próxima do reggae.

Fashek, porém, costuma dizer que optou pelo chacundum jamaicano após um sonho místico. E mesmo falando de Jah em suas letras, ele não se considera um adepto da filosofia rastafari. Prefere se autodenominar um “prisioneiro da consciência.”

Ex-integrante da banda Jah Stix, Fashek se lançou como artista-solo em 1988. Foi nessa época que cresceram os boatos de que era “fazedor de chuva”: todos os locais que Fashek tocava eram “visitados” por autênticos pé-d’água. Sua versão para “Redemption Song”, de Bob Marley, e a canção “Send Down The Rain” são os destaques de seu repertório.

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