Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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quinta-feira, julho 09, 2009
Barrados no baile ou a vitória da estupidez, da mediocridade, da ignorância, da pequenez, da insensatez, da desfaçatez, whatever
Recebo este e-mail indignado do competente William Nazaré, atual presidente da Associação dos Pesquisadores do Inpa (ASPI), que desde já tem a minha solidariedade irrestrita. A esculhambação rouberiana, dessa vez, passou dos limites. Um nojo, simplesmente, um nojo!
Sintam o drama:
A partir da próxima segunda-feira, Manaus será, por uma semana, a capital da Ciência e da Cultura do Brasil. Isto porque estará sendo realizada no campus da Ufam a 61ª. Reunião Anual da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC), evento que reunirá cerca de 15 mil pessoas diariamente e dezenas de sociedades científicas do Brasil e Exterior.
A SBPC é uma entidade sexagenária e conhecida por ser “uma sociedade com princípios” e dela podem participar cientistas, técnicos, profissionais, amigos da ciência, estudantes, pessoas dos mais diversos interesses, mas que acreditam na importância da ciência. A entidade publica a revista “Ciência e Cultura”, a mais antiga revista científica do Brasil. Durante a ditadura militar, as reuniões da SBPC foram palco privilegiado para classes, entidades e pessoas que não podiam se manifestar livremente.
Há dois anos, na SBPC de Belém, o Governador do Amazonas, Eduardo Braga, convidou a SBPC a se reunir em Manaus. A SBPC aceitou o convite e colocou como tema desta reunião “Amazônia – Ciência e Cultura”, refletindo a importância da atividade cultural que é o segmento da economia que mais cresce em todo o Mundo, bem como dado o fato de que a Amazônia e seus 25 milhões de habitantes sempre são vistos na mídia associados ao desmatamento, queimadas, garimpo, prostituição infantil e pobreza.
Dentro das reuniões anuais da SBPC existem diversos fóruns e atividades dentre as quais se destaca a SBPC Cultural que tem o objetivo de mostrar a cultura do Estado anfitrião. Pois bem, este ano, na reunião de Manaus, quando o tema é justamente “Amazônia – Ciência e Cultura”, a SBPC Cultural foi simplesmente cancelada.
Por que a SBPC Cultural foi cancelada?
Desde janeiro os dirigentes do Movimento Cultural Uakti (da Associação dos Pesquisadores do INPA - ASPI), tomaram conhecimento de que a reunião da SBPC este ano seria realizada em Manaus, com o tema “Amazônia – Ciência e Cultura”. Vislumbraram aí uma ótima oportunidade para que os artistas do Amazonas (e da Amazônia) pudessem apresentar seus trabalhos a um público altamente qualificado (formadores da opinião pública).
A ASPI não é leiga no assunto: há 20 anos mantém um movimento cultural denominado Projeto Cultural Uakti (que reúnem no mesmo palco diversas artes: música, poesia, artes plásticas, cênicas, dança, artesanato, expressões afro-brasileiras, entre outras) que tem o objetivo de unir Ciência e Cultura.
Desde 2006, a ASPI mantém o “Projeto Memória da Ciência e da Cultura na Amazônia”, que já produziu oito documentários em vídeo e reuniu um dos maiores acervos fotográficos de artistas e cientistas da Amazônia.
Assim, com a colaboração de professores da Ufam e de muitas cabeças e mãos de artistas, produtores e profissionais ligados à cultura, a ASPI, como contribuição ao enriquecimento do evento, elaborou uma grade de programação digna de receber os visitantes e a própria população do Amazonas.
Alguns dirigentes da SBPC se apaixonaram pela programação e inclusive ofereceram passagens aéreas para trazer um representante de cada Estado da Amazônia para interpretarem canções de suas terras (foram convidados e aceitaram participar do evento: Sebastião Tapajós, Nilson Chaves, Sérgio Souto, Zé Miguel, Eliakin Rufino. Só faltou convidar o Bado, de Rondônia). A direção geral seria do premiado diretor de teatro e cinema, Darci Figueiredo (SP).
O que norteou a programação proposta foi: 1) Mostrar a diversidade e a riqueza da produção cultural dos artistas amazonenses; 2) Propiciar uma reflexão sobre a situação dos artistas da Amazônia e de seus ofícios. Essa programação, que reúne mais de 500 artistas, chegou a constar na página da SBPC na Internet e 10 mil folderes estavam sendo impressos para constar nas pastas distribuídas aos participantes do evento.
Era a “Semana de Cultura da Amazônia” que pretendia reunir diariamente alguns dos melhores músicos instrumentistas (inclusive indígenas); dança contemporânea; música popular (shows “Encontro das Águas e dos Poetas” e “Os rios da minha Aldeia”); performances teatrais; teatro de bonecos; apresentação de corais; expressões afro-brasileiras (capoeira, Tambor de Crioula, côco, afoxé, samba-de-roda); resgates culturais (música de beiradão, carimbó); mostra de toadas dos bois de Parintins; sambas-de-enredo (o INPA e a UFAM já foram temas das escolas de samba. Homenagem à Banda da Bica); uma mostra dos melhores grupos do 43º. Festival Folclórico do Amazonas (quadrilha, cangaço, ciranda, boi-bumbá de Manaus, dança internacional palestina); coletiva de artes plásticas, exposição de fotografias (“Os trabalhadores da Amazônia”); mostra de filmes e documentários; homenagem e releitura da obra do compositor Chico da Silva (o pandeirista lá de cima, no traço inconfundivel do Elvis).
Além disso, 10 performances diárias seriam apresentadas nos intervalos do almoço nas cinco faculdades onde estão concentrados os eventos da SBPC, mostrando a arte e os instrumentos musicais indígenas, grupos instrumentais, performances de teatro e expressões afro-brasileiras.
Mas aí entrou a politicagem, a vaidade, as intrigas, a sabotagem e o desprezo pelos artistas locais e tudo foi por terra. Nem vale a pena relatar quem deixou de fazer o que, pois muitas das autoridades públicas envolvidas nem merecem ser citadas.
O certo é que o governo do Amazonas se omitiu, permitindo que a oportunidade fosse perdida, deixando a arte e a cultura local, mais uma vez, do lado de fora de uma das mais importantes reuniões da América Latina realizada aqui na nossa casa.
Nesse momento, os responsáveis pela exclusão dos artistas da programação da SBPC Cultural estão contatando os artistas de Manaus para que trabalhem de graça aviltando a profissão. Dizem que eles poderão ganhar seus “cachês” vendendo seus CDs.
Por que então não convidam grandes estrelas como Gilberto Gil para virem cantar de graça e ganharem apenas com a venda eventual de seus CDs? Os artistas precisam se valorizar. Artista também come, fica doente, paga conta de luz.
Lançamento do Fórum de Cultura da Amazônia
Diante dessas circunstâncias, a ASPI e o Movimento Cultural Uakti estão convidando todos os artistas, produtores e promotores da cultura e a mídia amazonense a comparecerem para o lançamento do Fórum Permanente de Debates da Cultura da Amazônia (Fórum Amazônia de Cultura) a se realizar amanhã, sexta-feira, a partir das 18h na sede da Associação dos Servidores do INPA – Assinpa (Rua da Lua, Conjunto Morada do Sol, aleixo).
Todas as entidades de classe, artistas, produtores e grupos ligados à cultura estão convidados. Os músicos Sérgio Souto (Acre), Nilson Chaves (o violonista aí de cima, do Pará), Zé Miguel (Amapá) e o poeta e músico Eliakin Rufino (Roraima) já estão confirmados.
Depois da criação do Fórum, haverá o show de lançamento do CD “Palco Brasil”, às 21h00, do radialista Sousa, um dos que mais prestigiam a música amazônica em Manaus.
No blog do Rogelio Casado você pode tecer considerações a respeito da cultura da Amazônia e do cancelamento da SBPC Cultural (http://rogeliocasado.blogspot.com/2009/07/amazonas-exclusao-cultural.hmtl)
Alguns dos artistas que ficaram do lado de fora da SBPC Cultural
É longa a lista dos artistas que vão deixar de mostrar seus ofícios na SBPC Cultural. Alguns ainda sequer tinham sido contactados devido à insegurança trazida pela falta de apoio do Governo Estadual, mas eles certamente iam fazer bonito.
Música Instrumental – Clélio Diniz, George Jucá, Cláudio Abrantes, Grupo B Quadro, Grupo Remanso; Grupo Instrumental indígena Dessana, Grupo Indígena Saterê; Maestro Adelson Santos; Maestro Élson Johnson.
Dança Contemporânea – Grupo de Dança do Amazonas (GEDAM), Cia de Dança Balé da Barra; Grupo Uaetê; Grupo Índios.com; Experimental Cia de Dança; Núcleo de Dança do IEA.
Show “Encontro das Águas e dos Poetas” – Show em três dias apresentando 27 canções com a temática água com letras de poetas da Amazônia. Poetas, compositores e intérpretes: Alcides Werk, Aníbal Beça, Élson Farias, Luiz Bacelar, Eliakin Rufino, Thiago de Melo, Liduína Moura, Celdo Braga, Chico da Silva, Natasha Andrade, Regina Melo, Arnaldo Garcez, Eliberto Barroncas, Armando de Paula, Torrinho, Antonio Pereira (o menestrel aí de cima), Célio Cruz, Gonzaga Blantez, Roberto Dibo, Mário Jackson, Candinho e Inês, Décio Marques, Lucilene Castro, Fátima Silva, Márcia Siqueira, Salomão Rossy, Cristina Oliveira, Lucinha Cabral, Maca, Jr. Rodrigues, Zezinho Cardoso, Ketlen Nascimento, Serginho Queiroz, Zezinho Correia, Lúcio Bahia, Jorge Edu, Vitor França, Shirley Sol, Jeol, China, Ítalo Gimenez, Stanley, Dino, Gilson, La Bamba, Jadão, Gaúcho, Valdez, Léo Pimentel, Mariozinho, Jr. Do Sax.
Show “Os rios da Minha Aldeia” – Nilson Chaves, Sebastião Tapajós, Sérgio Souto, Bado, Zé Miguel, Eliakin Rufino, Neuber Uchoa, Aroma, Zeca Preto.
Boi de Parintins – David Assayag, Arlindo Jr. (mais banda e dançarinos)
Samba de Enredo – Bateria Jovem da Vitória Régia (mais puxadores e abre-alas)
Teatro/Bonecos – TESC, Nonato Tavares, Coia, Adrine Feitosa, Delson Mota, Denis Sales, Paulo Mamulengo
Expresões Afro-Brasileiras/Reggae e Rock – Mestre Castro (Mestre Nacional de Cultura - Tambor de Crioula); Grupo Pela Margem, Grupo do Caroço, Grupo Cileno e Banda, Grupo Escada sem Degrau, Grupo Casulo, Movimento Muiraquitã, Jonh Jack Mesclado, Essence, Banda Basic.
Danças Folclóricas – Cinco grupos ficaram de fora.
Homenagem a Chico da Silva – Cinco intérpretes e uma banda base deixarão de trabalhar na SBPC Cultural.
Resgates Culturais – Cinco músicos trabalhavam no resgate da música de beiradão que faria uma releitura das obras de Teixeira de Manaus, Cheiro-Verde, Chico Caju e Pinduca.
Mostra de Corais – Três corais trabalhavam obras do Maestro Waldemar Henrique.
Artes Plásticas – 20 artistas plásticos novos e consagrados iriam expor suas telas.
Exposição de Fotografias – Duas exposições “Os trabalhadores da Amazônia” e “Biodiversidade dos arredores de Manaus”.
Agora, respondam sinceramente: é ou não é de dar nojo?
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