Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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terça-feira, março 02, 2010
Coletivo Difusão Cultural coloca a boca no trombone
O Grito Manaus foi um evento de artes integradas realizado pelo Coletivo Difusão (que tem no meu brother Marcos Tubarão um de seus pilares) em duas etapas com caráter de manifestação cultural. A primeira etapa do grito foi realizada no dia 16 e a segunda dia 20 de fevereiro.
No dia 16 foi realizado o lançamento do Fora do Eixo Manaus em parceria com o Coletivo Cuia, no espaço cultural da livraria valer. Com entrada franca e a participação de aproximadamente 50 pessoas, a primeira etapa também contou com uma mesa redonda formada por produtores, músicos e articuladores para discutirem a importância dos coletivos na produção cultural independente. A programação ainda contou com a apresentação da banda Playmobils e a performance do DJ Marcos Tubarão.
Dia 20 foi realizada a segunda etapa do Grito embaixo do viaduto da Constantino Nery de forma gratuita, 10 bandas, interferências poéticas, cênicas e visuais, performances e exibições de vídeoartes, videoclipes de bandas locais, videodanças e documentários locais feitos sobre música fizeram parte da programação naquele dia. As primeiras exposições do Laboratório de moda do Difusão foram feitas, bem como a nossa primeira transmissão ao vivo de um evento pela rádio web.
O Grito Manaus no dia 20 foi produzido pelo Coletivo Difusão em parceria com a Baruk Produções e com a mobilização da classe artística da cidade em caráter de manifestação cultural. O evento não teve apoio de nenhuma secretaria de cultura ou empresa privada, e reuniu mais de 2 mil pessoas em um espaço público em ócio.
Nosso objetivo em produzir o Grito Manaus com caráter de manifestação/interferência urbana foi feito para promover a identidade cultural da cidade de Manaus, a valorização de espaços públicos e fomentar a formação de público e a produção artística independente da cidade e da região, já que duas bandas (uma de Belém e outra de Boa Vista) participaram do Grito.
Desde 2006 realizamos eventos/interferências urbanas na cidade. E especialmente embaixo do viaduto da Constantino Nery já realizamos outros quatro eventos/interferências lá. Tais eventos em caráter de manifestação são respaldados pela Constituição Federal que nos garante promover essas ações na cidade.
O parágrafo IX do artigo 5º da constituição diz que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. E segundo o parágrafo XVI do mesmo artigo, “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”.
Bom, a Constituição foi citada neste relato para dizer que infelizmente a Polícia Militar do Amazonas se colocou acima da constituição e interrompeu de forma autoritária nosso Grito. À 1h a polícia chegou ao local desligando o som, subindo no palco, sem conversar com os organizadores e só não agrediram os músicos porque impedimos, mas até spray de pimenta foi jogado na direção dos que tentavam registrar o momento.
A ‘interferência policial’ feita por várias viaturas foi realizada 30 minutos depois que protestamos contra as secretarias de cultura do Município de Manaus e do Estado do Amazonas.
Em conversação com a PM eles pediam uma autorização para estarmos ali, então explicamos tudo. Que estávamos respaldados pela Constituição. Que não precisávamos de autorização. Que precisávamos apenas informar os órgãos. E acrescentamos ainda que o Grito fora amplamente divulgado nos principais veículos de comunicação da cidade, com matérias em jornais e rádios e inserções da vinheta do grito na Globo local, que abre espaço para publicitar gratuitamente eventos de promoção cultural sem fins lucrativos.
E a resposta do sargento da PM foi de que o que estávamos fazendo não era uma manifestação cultural. Segundo o PM, uma manifestação só é feita por secretarias ou órgão do governo. Ele também disse que as mais de 2 mil pessoas presentes no evento não representavam a sociedade, porque eram todos iguais e portanto o que estávamos fazendo não era uma manifestação cultural. Como assim?
Nós conseguimos reunir seguimentos artísticos diferentes para um público mais do que diversificado. E o policial de forma preconceituosa falou que as pessoas que lá estavam eram nada! Sem contar que no evento não teve uma única confusão, o que foi reconhecido pelo PM, que afirmou ter passado pelo local várias vezes durante a noite sem ter visualizado qualquer tumulto.
É, mas os PMs não pararam por ai, disseram que a cultura não era algo tão bom quanto acreditamos, porque segundo o sargento, “a cultura fez com que a população não gostasse da polícia”.
Chegamos a argumentar que a paralisação do evento poderia gerar um tumulto generalizado e então o policial nos ameaçou afirmando que tumulto não era problema, porque ele poderia aumentar ainda mais o efetivo de policiais e parar na porrada qualquer problema.
Nós poderíamos continuar o evento, porque estávamos no nosso direito, mas eles estavam dispostos a insistir em calar o Grito. Preocupados com a segurança de todos, já que isso poderia gerar sim um tumulto, insistimos em um acordo para que pelo menos a banda Iekuana de Boa Vista (que viajou por conta própria mais de 12h para estar lá) tocasse. Então, o acordo acabou sendo feito para que o evento fosse encerrado faltando ainda a apresentação de outras quatro bandas.
Os PMs alegaram que o evento deveria ser paralisado, porque moradores da área fizeram reclamações de barulho. Nós realizamos interferências culturais naquele mesmo local outras quatro vezes em três anos. Nunca houve qualquer reclamação, mesmo com o fato de alguns dos eventos terem acabado às 6h.
O mais curioso é que existem poucos moradores próximo do viaduto. Um deles chegou a ir com o PM para falar que já havíamos realizado outros eventos lá e que os moradores não se sentiam incomodados. Sem contar com o fato do viaduto ficar em frente a uma casa de shows que realiza periodicamente eventos que chegam a fechar a rua e que nunca são paralisados.
Enfim, nenhum argumento funcionou e a intransigência prevaleceu.
Estamos enviando esse email para relatar tais fatos que repudiamos por completo.
E para enfrentar de frente e de forma inteligente o que aconteceu vamos realizar a continuação do Grito Manaus no mesmo lugar e em data que ainda será definida com a participação das atrações que foram impedidas pela polícia de se apresentarem.
Mas agora iremos nos munir de outros artifícios jurídicos para fazermos valer nosso direito de nos manifestarmos artístico/politicamente sem que a polícia possa desta vez nos ‘barrar’.
Nessa mesma esteira pretendemos ampliar essa discussão para causarmos uma reflexão e esclarecimento sobre a importância das manifestações artísticas na cidade. Por isso vamos organizar um fórum sobre a ocupação de espaços públicos por movimentos artísticos. Desse fórum, que ainda terá sua data e local de realização definidos, deve ser feito um documento para contribuir com um assunto ainda pouco debatido. Pretendemos compartilhar esse documento com todos do Circuito Fora do Eixo e com simpatizantes do Coletivo Difusão para que as discussões sejam ampliadas ao máximo.
Também estamos produzindo um documentário sobre o Grito Manaus que terá essas questões aqui relatadas abordadas em seu conteúdo
Coletivo Difusão
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