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segunda-feira, março 08, 2010

Dia Internacional das Mulheres: o avanço das mulheres muçulmanas na Universidade do Cairo


Formandos da Classe de 1959 - ausência absoluta de mulheres de véu


Formandos da Classe de 1978 - duas ou três mulheres de véu


Formandos da Classe de 1995 - as mulheres de véu empatam o jogo


Formandos da Classe de 2004 - as mulheres de véu viram o jogo

"O véu dignifica a mulher", diz brasileira muçulmana


Para as muçulmanas, o hijab faz que elas sejam conhecidas pelo espírito e não pela aparência

Brasileira e muçulmana, Magda Aref Abdul Latif, formada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo e membro do Centro de Estudos e Divulgação do Islã, acredita que o Ocidente tem uma visão distorcida sobre a mulher muçulmana.

"O Ocidente sempre vê a mulher islâmica como inferior e submissa, mas o Islã sempre foi uma religião que inovou no direito das mulheres", afirma.

Apesar de ser de família muçulmana, ela diz que se tornou religiosa por interesse próprio a partir dos 14 anos, quando começou a ter aulas de islamismo com um sheik. Magda é casada há seis anos com um muçulmano e tem uma filha de três meses.

Ela conversou com Gente Online sobre as mulheres muçulmanas e a visão que o Ocidente tem da religião.

O que você acha do tema islamismo ser abordado numa novela brasileira?

Nós temos uma vantagem muito grande que é o fato da nossa religião, que foi sempre tão pouco conhecida ou mal conhecida e mal entendida, entrar em todas as casas do brasileiro. Mas a desvantagem é que, como qualquer novela, ela é fantasiosa, tem coisas que não correspondem à realidade.

Quais são esses erros?

Por exemplo, quando o tio dá um tapa na cara da menina. Eu acho que uma pessoa religiosa jamais teria uma atitude como aquela. Quando falam da mulher, perguntam se ela é 'prometida'. E não é assim que acontecem os casamentos. Eu conheci meu marido aos 14 anos e nós nos apaixonamos. Eu fiquei noiva os 16 e casei aos 18.


Por debaixo dos véus e das roupas longas que cobrem todo o corpo as muçulmanas soltam a voz

Como é a vida da mulher muçulmana?

Não existe a mulher muçulmana. Existem as mulheres muçulmanas. Isso depende de vários fatores como condição social e país de origem. A mulher muçulmana reza cinco vezes por dia, mas não são todas que cumprem, como em qualquer mandamento religioso. No Brasil, nós usamos o véu num país onde quase não se conhece. Praticamos as orações, fazemos jejum no mês de Ramadã. As meninas trabalham, estudam, outras são donas de casa, tem de tudo.

Você acha que existe igualdade entre homens e mulheres no islamismo?

Isso é um assunto muito discutido. Porque a mulher muçulmana é vista pelo Ocidente como uma mulher que tem menos direitos, inferiorizada, submissa. Até pela própria veste se associa isso. Para o Ocidente o fato da mulher usar o véu é sempre associado à submissão e ignorância. Já para a mulher muçulmana o véu é entendido como algo que a dignifica, dá valor, que impõe respeito. É uma idéia diametralmente oposta à que o Ocidente faz do véu e da própria mulher. Quanto aos direitos e deveres, o Alcorão é bem claro quando diz que a mulher tem direitos sobre o marido e o marido sobre a mulher. O Islã foi uma religião que inovou nos direitos da mulher em coisas que a Europa só conseguiu há pouco tempo. A mulher no Ocidente não votava. A muçulmana tem esse direito desde o surgimento do Islã. A mulher tem o direito ao divórcio e à herança, o que é bem mais recente na Europa.


A comunidade muçulmana cresce também em São Paulo entre os descendentes de árabes e pessoas oriundas de outras religiões

Como a mulher islâmica é tratada por sua família?

Para o muçulmano é obrigação do homem sustentar a mulher e os filhos. Isso é um dever dele. Se a mulher quiser trabalhar fora, esse dinheiro é dela.

As muçulmanas podem se produzir, pintando as unhas ou usando maquiagem, por exemplo?

Está no Alcorão que toda mulher muçulmana deveria se cobrir com seus véus porque é mais conveniente para que não sejam molestadas. Isso tem uma finalidade. O significado do véu é esconder das vistas do homem tudo aquilo que desperta o desejo. Toda a sensualidade, toda a beleza, a mulher esconde isso dos homens e restringe isso ao seu marido e ao ambiente familiar. Na presença dos pais, avós, tios, sogros, a mulher pode se produzir da maneira que quiser, pode se maquiar, fazer o cabelo e se vestir da maneira que quiser. O objetivo é não despertar o desejo de outros homens.


O islam é a religião que mais cresce no mundo. Por isso é cada vez mais comum a presença de mulheres com vestes muçulmanas, inclusive no Brasil, em grandes cidades como o Rio de Janeiro

O que você acha do domínio da milícia Talibã no Afeganistão e da vida das mulheres nesse regime?

Olha, sobre o Afeganistão, a gente não sabe o que realmente acontece lá. Mas, se for assim como está sendo divulgado na mídia, o que eu tenho a dizer é que a realidade daquele país passa muito longe do que é o Islã. O Islã não prega nada daquilo, que a mulher seja proibida de trabalhar ou de estudar. O Islã sempre incentivou a busca do conhecimento. O profeta Mohamed diz que a busca do conhecimento é uma obrigação tanto para o muçulmano como para a muçulmana.

O que você acha do cinema iraniano?

Eu gosto muito. Eu acho que são filmes que convidam o expectador a refletir sobre o mundo muçulmano. Mas ele não convida só os muçulmanos. São questões que perpassam a realidade do mundo todo, como a situação da mulher.

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