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sexta-feira, junho 25, 2010

Lembrando o Boteco da Dona Zeza



Simas, Marcileudo Barros, Jeferson Chase e esse vosso escriba, na frente do famoso boteco

No cruzamento das ruas Barcelos e Castelo Branco, na alta Cachoeirinha, existe um boteco no formato meia-água, que já estava no local quando eu nasci e provavelmente vai continuar lá depois que eu morrer.

No meu tempo de criança ele se chamava “Boteco da Zeza”, apelido de dona Maria José, mãe do escritor Marcileudo Barros.

Depois, cada vez que um dos filhos de dona Zeza começava a gerenciar o boteco, ele passava a incorporar o apelido do sujeito: “Boteco do Mundico” (aka Raimundo Arnaldo), “Boteco do Kid Márcio” (aka Márcio Barros), “Boteco do Leudo Brasinha” (aka Marcileudo Barros) e, atualmente, “Boteco da Lió” (aka Eleonora Barros).

Desde que me conheço por gente, o boteco sempre vendeu cachaça, cervejas e refrigerantes. Só, somente só.

Nos anos 70, o boteco era ponto de encontro dos boêmios daquela parte do bairro. Os verdadeiros pés inchados começavam a chegar ao covil assim que ele abria as portas, por volta das 6h da manhã.

E haja Brandicana, Cocal, Correinha, Januária, Oncinha, Praianinha, Serra Grande, Tatuzinho, Pitu, Kokinho, Lobatinha, Chora Rita e Jurubeba Leão do Norte pra fazer frente à demanda, que o boteco era bem sortido.

Um dia, por volta das 9h da manhã, o Márcio entra no boteco – então, sob os cuidados do Marcileudo –, reclamando da vida. Trazia um pequeno embrulho na mão.

Supostamente, ele teria de ir ao Centro trocar um presente dado pra irmã Lió, que não gostara. Um dos pés inchados, de nome Ney, se interessou pela história.

– O que foi que você deu de presente pra sua irmã? – questionou.

– Um vidro de perfume Bond Street... – respondeu Márcio.

– E ela não gostou? – espantou-se o bebum, que era especialista em perfumaria francesa.

– Gostou não! – avisou Márcio. “Ela disse que prefere Lancaster...”.

– Ah, mas não dá pra comparar o Bond Street com o Lancaster. O Bond Street é muito melhor...

– Eu também acho, mas fazer o quê? –, explicou ele, sem esconder a decepção.

O bebum ficou em silêncio. Aí criou coragem:

– Escuta aqui, meu amigo. Já que você vai trocar o perfume na loja, será que não dava pra mim dar uma cheiradinha antes. Faz tempo que não sinto o cheiro de perfume Bond Street...

– Olha, eu vou desembrulhar o presente, mas você só pode dar uma cheiradinha rápida porque se gastar muito a balconista da loja vai desconfiar que o perfume já foi usado.

– Tudo bem! – assentiu o bebum.

Márcio abriu discretamente o presente e levou o invólucro ao nariz do bebum, que deu uma aspirada forte, daquelas de tomar prize de lança-perfumes.

Daí a pouco, ele mudou de cor e saiu do boteco colocando os bofes pra fora.

Rindo estrepitosamente, Márcio foi embora levando sua coleta de exames de fezes para entregar no Laboratório Costa Curta.

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