Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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terça-feira, junho 01, 2010
Monga, a Mulher Gorila
Ciganos 4Ever: Marlon, Petroba, Luluca, Sadok, Afonso, Ricardão, Edlúcio, Antídio e Sici Pirangy
Setembro de 1972. Uma atração circense estava tirando o sono dos adolescentes da Cachoeirinha. Intitulada “Monga, a mulher gorila”, o quadro apavorante estava sendo exibido em uma pequena barraca, montada na avenida Eduardo Ribeiro, nas proximidades do cine Odeon.
Uma tarde, eu e Luluca criamos coragem e fomos conferir a presepada. Havia filas diante da barraca, onde um homem de paletó xadrez berrante gritava, procurando atrair os curiosos. Ao seu lado, uma bonita morena, de coxas grossas, lábios vermelhos, cabelos longos e negros, clichê da sensualidade. Um tesão.
Por que será que o medo atrai tanto? Pagamos, nos enfiamos na fila e nos preparamos mentalmente para sofrer um choque. A Monga era o maior sucesso da época. Ela antecipou os filmes de horror de Jason, do Freddie Kruegger, do Brian de Palma, da longa série de dráculas e vampiros que povoaram o cinema no começo dos anos oitenta.
Ao entrarmos, escuridão total. Uma luz débil, amarelada, mostrava a morena sensual da entrada, fazendo pose de inocente e desamparada. Súbito, a luz tremia, piscava, ouviam-se trovões. Música de órgão, música agressiva, a luz caía outra vez, uma grade surgia com estrondo, fechava o palco.
Nesse momento, tudo se tornava nebuloso, imagens indistintas. Como se estivesse passando um filme desfocado. Algo semelhante a uma penugem cobria o corpo da linda morena que, nessa altura, imitava com a boca e os olhos, esgares de pavor.
Um arrepio corria a plateia, composta por velhos, crianças, colegiais, casais ou garotões metidos a macho como nós dois. Era também um modo de se tirar uma “casquinha” (gíria da época). Ficávamos por perto de alguma menina, na hora agá elas se agarravam no primeiro macho que estivesse à mão.
A penugem sobre a morena aumentava. Nessa altura, não se enxergava quase nada porque a luz era bastante baixa. Um estrondo, relâmpagos, luz total e eis, por trás das grades, a temível Monga, a mulher gorila.
Ao contrário da dócil morena, Monga era a fúria em pessoa. Agarrava-se às grades, pulava, rugia, mugia, estrebuchava, dava saltos acrobáticos. As pessoas riam nervosamente.
Até que, de repente, a Monga arrebentava as grades e avançava em cima do público. Boa parte da plateia saía correndo pela porta de saída. O sujeito de paletó xadrez berrante fingia um nervosismo calculado:
– Calma, meu gorila!... Calma, meu gorila!...
Depois de mais um acesso de fúria, Monga se recolhia lentamente de volta ao palco. O sujeito de paletó xadrez berrante trancava a grade.
A iluminação baixava, a penugem começava a desaparecer e, de repente, em meio a trovões e relâmpagos, eis a morena de volta.
Ela abria a grade e, sendo segura pela mão do sujeito de paletó xadrez berrante, se dirigia até a plateia onde agradecia os aplausos. O espetáculo estava acabado.
Assistimos ao mesmo show umas quatro vezes seguidas. A gente saía e ficava se perguntando como o truque era feito. Diziam que eram espelhos, mas como? Nunca conseguimos descobrir de que modo a transformação se dava.
Mas não vamos ser pentelhos! Tem maior chato do que aquele que descobre o truque do mágico? A mágica não está aí: não descobrir o truque, a jogada, o lance de dados? Ser ludibriado e se divertir, porque houve prazer, se desfrutou e foi bom demais?...
Anos mais tarde, já presidente do GRES Andanças de Ciganos, Luluca costumava encerrar os previsíveis bate-boca entre os diretores de ala durante a avaliação do desfile da escola recitando um mantra inesquecível:
– Calma, meu gorila!... Calma, meu gorila!...
Quem tivesse assistido ao espetáculo da Monga, obviamente, se esbaldava de rir. O bem-humorado Luluca morreu precocemente nos anos 90, vítima de infarto.
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Um comentário:
Ora, ora, ora!!!
Eis que encontro o amigo a fazer o espetacular blog das aventurs da Cachoeirinha!! Que maravilha!!
Caro Irmão Simão, sou o Junior da Tetê, do Zezé, lá da antiga rua Valpés (ou seria Walpés??) atualmente Castelo Branco, que foi teu vizinho quando éramos pequenos, lembra? Sou o irmão do Carlinhos, o Vaca (agora descansando junto com TeTê e Zezé, lá em cima)
Vendo a foto acima, a saudade me bateu e fico pensando nos amigos que ainda estão aí em Manaus: voce, o Antidio, O Manel, o o velho Marcileudo do boteco da Zeza...
Pois bem, estimado amigo, quero estampar meu sincero orgulho em saber que voce está na luta, tê-lo como o amigo de sempre e ler seu blog. Estou vivendo atualmente em Salvador, Bahia (há mais de 2 anos), mas agora, muito perto de Manaus, graças a voce. Forte abraço do Barrote!
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