Aluisio Braga, Pedro Valle e Jeferson Garrafa no Emporium Roma
Via e-mail, recebo do brother Jeferson Garrafa essas impressões bagaceiras sobre degustadores de vinho:
Grande Simão
Como tá meu irmão?
Negócio seguinte: 5ª passada liguei pros meus cunhados Lúcio (irmão da Heloísa) e o Neto (casado com minha irmã) pra tomarem um vinho comigo.
Cheguei, esperei e nada dos cabras. Com 40 minutos chegou o Neto, e, bem depois, ligou o Lúcio avisando que ia com a Mônica pra Belém "prum niver da família dela".
O que vc tem a ver com isso? Diretamente nada. Só que eu sempre lembro daquela nossa conversa:
- Garrafa, voces tomam vinho com aquela frescura de cheirar o vinho e girar a taça, é?...
- Porra, Simão, se não mexer e não cheirar não tem graça... (rsrsrsrsrs)
Aí, mandei essa historinha pro Lúcio e ele sugeriu enviar pra voce.
Abraço,
Seu "broder" Garrafa
2011, Fev, 5
O Zé Neto, que aparece na foto à direita, ao lado do Lucio Meirelles, foi meu colega de trampo na Sharp do Brasil, nos anos 70, e é sangue bom toda vida
A Dom Lucho: O amigo que não foi
Querido amigo Simão
Veja que situação
Chamei o Lúcio, cunhado,
Para um merlot arretado.
Marcamos às 8 em ponto,
Sem ter arrego ou desconto,
Num restaurante arrumado,
Charmoso e bem freqüentado.
No relógio, 9 horas.
Eu, no maior sufoco,
Pergunto: o que faço agora
Esperando esse cabôco?
Pedi então ao garçom
Me traga um vinho do bom;
Não quero muito gelado,
Nem caro demasiado.
Tomava eu o meu vinho
Servido com muito carinho
Eis que então, de repente,
Toca o fone renitente.
“Não estou eu a fugir
Mas hoje não posso ir
Num vôo vou pro Pará
Num tacacá me acabar
Na volta, cabôco, te vejo
E te trago uns ‘carangueijo’”.
Respondo, então: o que é isso?!
Siga pro seu compromisso,
Chegou o Neto atrasado
Aquele meu outro cunhado.
Na sua volta, é certeza,
Aqui nessa mesma mesa
Faremos um brinde sincero
- Pelo menos isso espero –
Um brinde à nossa amizade,
Forjada em real lealdade.
Vá depressa, volte breve,
A saudade não me é leve,
Tão astuta quanto ingrata,
Machuca, fere e maltrata.
Desculpe o verso precário,
Barato e até ordinário.
Não sou o amigo Pessoa
Que rima fácil e à toa.
Garrafa
Manaus, 3 de fevereiro de 2011
Eu, Jeferson e Lucio Meirelles durante uma reunião do CDF, na casa do Arnaldo Russo, se preparando para encher a moringa.
Por conta da má influência do Jeferson (ou terá sido do vinho merlot?), o Lucio já estava começando a usar meias sintéticas anti-varizes - o que é meio caminho andado para se transformar em metrossexual. Espero que ele tenha parado com essa frescura e retornado para o velho escocês nas pedras...
Aliás, esse negócio de segurar a taça de vinho pela haste (no uísque, a gente segura firme no meio do copo, como se estivesse apertando a bunda de uma quenga), girar a taça para acordar o bouquet (no uísque, o copo é simplesmente levado a boca como se fosse um peitinho cheirando a leite), colocar um pouco de vinho na boca, envolver a língua para sentir a textura, bochecar e só então engolir (no uísque, ele desce direto pro estômago como se fosse uma navalhada abrindo as tripas), não me parece um esporte de macho.
De qualquer forma, segue abaixo uma historinha a respeito dessa infâmia e que resume tudo o que penso a respeito de vinho - apesar de não ter nascido nas Alterosas.
Degustação de vinho do mineirim
- Hummm...
- Hummm...
- Eca!!!
- Eca?! Quem falou eca?
- Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim estranho?
- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas...
- Putaquepariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo?!
- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?
- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor!! Mas que isso aqui tá me cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso tá!
- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!
- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é?
- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então...
- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!
- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no...
- Mais num vai introduzi mais é nunca! Desafasta, coisa ruim!
- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...
- Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta...
- O senhor poderia começar com um Beaujolais!
- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana!
- Então, que tal um mais encorpado?
- Óia lá, ocê tá brincano com fogo...
- Ou, então, um suave fresco!
- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de meter um tapa na sua cara desavergonhada!
- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!
- Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, memo! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta...
- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?
- E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu?
- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?
- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de rôia!
- Mole e redondo, com bouquet forte?
- Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é treis! Num corre, não, fiodaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha fedorenta!...
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