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segunda-feira, agosto 08, 2011

A festa de George Clinton no Brasil


Por Nina Emerich

No último dia 22 de julho, sexta-feira, um dos maiores nomes da música norte-americana, a mente louca responsável pelas bandas de funk dos anos 70 Parliament e Funkadelic, George Clinton comemorava 70 anos em palco brasileiro com direito a convidados, bolo e até... vela.

Sua apresentação fechava o primeiro dia do festival Black Na Cena, que aconteceu na Arena Anhembi entre os dias 22 e 24 de julho.

Pontualmente às 2h30 da madrugada, o rapper Thaíde anunciava que dali em diante não sabia mais o que poderia acontecer, pois estava prestes a subir no palco uma das maiores lendas da música negra.

Thaíde fez o público cantar parabéns para o tio Clinton antes de ele entrar em cena.

Para a surpresa de todos, antes dos 26 integrantes da banda que acompanha George Clinton iniciarem seu funk, Flavor Flav e Chuck D, da banda de rap Public Enemy, que se apresentaria no dia seguinte, aparecem no palco saudando São Paulo e pedindo para a plateia fazer barulho para o que viria a seguir.

Iniciando a apresentação com o hit Cosmic Stop, do Funkadelic, e em seguida Flash Light, do Parliament, contando com o apoio de três backing vocals, três guitarristas, os rappers Flavor Flav e Sativa Clinton (neta de George) e uma numerosa trupe, tio Clinton conduziu o funk como se gosta até as 4h da manhã.

Quando sua neta entrou no palco cantando um rap sobre maconha, George começou a olhar para o pessoal da primeira fila do show com cara de quem também queria unzinho para comemorar seu aniversário e eis que um rapaz da plateia finalmente lhe oferece um beise.

Para delírio de quem presenciava aquilo tudo, George pega seu presente, acende e traga, mas logo tira de seu bolso um baseado bem maior, enrolado num blunt.

Outra surpresa da noite foi o veterano do hip-hop no Brasil Nelson Triunfo, que acompanhado de outros dançarinos deu um show a parte na frente do palco, chamando a atenção de George Clinton e Flavor Flav, que pararam de cantar para prestigiá-lo.

Como se não faltassem momentos surreais nessa apresentação, um bolo de aniversário foi oferecido pela produção a George Clinton ainda no palco, do qual o cantor pegou um pedaço com as próprias mãos, lambuzando toda sua cara e a de Flavor Flav com a cobertura branca de chantilly.

Até a própria equipe da banda veio fotografar a cena com seus celulares.

E foi assim, com encontros inesperados e clima de festa entre amigos que o primeiro dia do festival Black Na Cena terminou, mostrando que apesar de sua idade, George Clinton ainda comanda uma boa noite de funk como ninguém.

Festival Black Na Cena


Sandra de Sá, Naughty by Nature e Thaíde foram algumas das atrações do festival

Considerado o primeiro evento da América Latina dedicado à influência da cultura afro na música, o Black Na Cena Music Festival rolou na Arena Anhembi, no penúltimo final de semana do mês passado.

O festival reuniu nomes do hip hop, rap, reggae, R&B, rock, samba rock, soul e v-funk, para uma celebração conjunta da música mais dançante do planeta.

Entre as atrações, o fundador do Parliament-Funkadelic, George Clinton, que comemorou seu aniversário de 70 anos no palco, assim como Public Enemy, Redman (em sua primeira visita ao Brasil), Method Man, Lee "Scratch" Perry e Naughty by Nature.

Além de atrações nacionais como Seu Jorge, Sandra de Sá, O Baile do Simonal, Marcelo Yuka, Jorge Ben Jor, Racionais MC's, Xis, Thaíde e Olodum com participação especial de Carlinhos Brown.

No total, foram 21 atrações.

Só o palco pesava 45 toneladas.

Foram utilizadas 30 toneladas de som (o equivalente a 140 mil Watts de potência), 120 mil Watts de luz e 3400 KVAs energia (nos geradores).

Na segurança estavam disponibilizadas 1500 pessoas, entre brigada de incêndio, policia Militar, Civil e Metropolitana.

Confira a programação do evento:

Sexta-feira (22 de julho, das 17h às 5h)

20h00 - Farufyno
21h30 - Tony Tornado
22h30 - O Baile do Simonal
23h30 - Sandra de Sá
01h00 - Seu Jorge
02h30 - George Clinton

Sábado (23 de julho, das 12h às 5h)

16h00 - Xis, Marcelo Mira e Rincon Sapiência
17h30 - Lee "Scratch" Perry, Mad Professor e Roto Roots
19h00 - Marcelo Yuka
20h30 - Public Enemy
22h00 - Banda Black Rio com Criolo, Negra Li e Slim Rimografia
23h30 - Pato Banton
01h00 - Jorge Ben Jor
02h30 - Olodum e Carlinhos Brown

Domingo (24 de julho, das 11h às 22h)

14h00 - Russo, Bocage e Banda Soul3
15h00 - Sandrão RZO
16h00 - Thaíde e Funk Como Le Gusta
17h00 - Naughty by Nature
18h00 - Racionais MCs
19h00 - Method Man
20h00 - Redman

Destaques


Como era de se esperar (a começar pela sua vestimenta), o show de Lee "Scratch" Perry foi marcado pela irreverência.

A verdade é que provavelmente pouca gente presente na Arena Anhembi conseguiu compreender o que Lee cantava, mas pouco importa, pois a música do jamaicano é muito mais fácil de sentir quando interpretada em sua simplicidade.

"Crazy Baldheads" foi uma das primeiras a animar a plateia, que começava a encher o evento.

Entre uma canção e outra, Perry gesticulava e declarava a todo momento seu amor ao público presente.

"Eu amo vocês, vocês me amam também?", dizia o jamaicano.

Apoiado por Mad Professor (que se isentou de subir ao palco, mas teve sua presença notada na remixagem da voz de Perry em alguns momentos) e o grupo Roto Roots, Perry cantou suas canções mais emblemáticas.

Produtor no passado, Perry foi, em parte, o responsável pela ascensão de Bob Marley e Peter Tosh, entre outros.

Trajado de maneira curiosa, com um boné cheio de broches, a barba pintada de um vermelho chocante e, para complementar o visual, um traje de coronel com ombreiras douradas, Perry de longe remetia a Falcão, popular cantor brega.

Se sentindo muito a vontade no palco, Perry chegou a assoar o nariz, pedir ao público que pulasse e mexesse a cabeça, para "botar um sorriso no rosto e mandar para longe os espíritos ruins", como disse ele mesmo.

"Punky Reggae Party" foi o ápice e, infelizmente para os que foram cativados pelo jamaicano, o fim de seu show.


Xis abriu os trabalhos do segundo dia do Black na Cena, convocando para dançar e cantar o público ainda raso que se aglomerava na Arena Anhembi.

Com seus característicos óculos escuros e reverenciando "todas as quebradas" de São Paulo, o rapper fez um show irretocável com a participação de dois nomes importantes do cenário black nacional.

Pouco antes de chamar ao palco seu primeiro convidado, Xis animou o público com a canção que serviu para alavancar seu nome, "Us Mano e As Mina".

Logo após, foi chamado Rincon Sapiência, que lançou seu primeiro disco de inéditas, Promotrampo Volume 1, em 2009.

"Elegância", primeiro single do álbum, foi a escolhida para iniciar a participação do músico no show, ao lado de Xis.

Pouco após, "De Esquina" fez o público cantar junto, antes da entrada de Marcelo Mira.

O músico, famoso por suas participações em composições de nomes como Wanessa, se juntou a Xis para uma releitura de "Deixa Isso Pra Lá", de Jair Rodrigues.

"Passos Pela Rua", talvez a música mais conhecida de Mira, foi a canção mais cantada do repertório de sua participação.

Antes de fechar o show com "Chapa o Coco", Xis cantou "Até Parece que foi Sonho", de Tim Maia.

O cantor dedicou a canção a Amy Winehouse, concluindo que "temos que tomar cuidado".


O Public Enemy, atração mais aguardada, subiu ao palco às 20h30.

A entrada de Chuck D foi como uma bomba para o público: "Brasil, vocês estão preparados?", gritou o rapper, que em questão de segundos tinha a plateia a seus pés, como um grupo de soldados aguardando ordens de seu coronel.

O frio, que já rondara o evento no dia anterior e no fim de tarde do sábado, se tornou um dos desafios a serem vencidos por quem avistava ao longe a vestimenta amarela de Chuck D.

Mas a atmosfera, que já havia sido aquecida pelos shows anteriores, se transformou em puro fogo quando as pessoas se aglomeraram perto da grade que separava o Public Enemy de seus ansiosos fãs.

"Ponham seus punhos no ar", pedia repetidamente o MC, que logo em seguida ganhou a companhia de Flavor Flav, o lado mais descontraído da dupla de rappers principais do Public Enemy.


Esbanjando simpatia, Flavor Flav surgiu com seu característico relógio gigante pendurado no pescoço e um divertido moletom vermelho.

"Bring the Noise" levou o público ao êxtase.

"Aí Brasil, caralho!", gritou Flav em alto e bom português. "Eu quero agradecer por todos os anos que vocês apoiaram o Public Enemy. Sem vocês não existiria o Public Enemy."

Disparando seu clássico "Yeah Boy!" a todo momento, Flavor Flav se prova ser o animador das multidões: enquanto Chuck D é o lado responsável pela ideologia do grupo e pela seriedade, Flavor é quem descontrai.

Mas não era só a dupla de MC's que conseguia transformar o show do Public Enemy em uma experiência audiovisual para se lembrar por muito tempo.

O guitarrista Khari Wynn muitas vezes toma as rédeas das canções, interpretando jams de hard rock mesclado com o blues, e tocando o riff de "Back in Black", do AC/DC, em certo momento, como sustentação das rimas de Chuck D e Flavor Flav.

Em outra parte da noite, o DJ Lord, responsável pelas pick-ups do grupo, mostrou sua habilidade ao desconstruir "Smells Like Teen Spirit", do Nirvana.

Se aproximando do fim da apresentação, após "Don't Believe the Hype", Flav rumou para as baterias e Chuck D convocou o rapper Thaíde a subir ao palco.


Ele, parecendo despreparado para a surpresa, começou a versar de improviso sobre uma base de percussão tocada por Flavor.

O rapper paulistano rimou sobre diversas coisas, e arriscou uma versão crua de "Apresento Meu Amigo", uma de suas marcas registradas.

Para finalizar, a canção que marcou a ascensão do grupo e sua luta pelas causas públicas e sociais.

"Fight the Power" teve seu refrão entoado em coro na Arena Anhembi, tornando a noite uma das mais épicas para o público brasileiro fã de hip-hop.

Logo após o show, Chuck D falou brevemente sobre a morte da cantora Amy Winehouse, comentando o fato de que "ela tinha um enorme talento, mas queria que isso [sua morte prematura] acontecesse, pelo jeito que vivia. O Public Enemy sempre teve compromisso com sua música, isso é no que um artista sempre deve se apoiar".

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