Na verdade, a tecnologia – tendo como mentores e expoentes o sexo masculino, considerado o “sexo forte” – acabou determinando escalas de valores socialmente complexas, em que se embute a lucrativa “Cultura da Virilidade”, que vai de bad boys a body-builders.
Macho men, seus acessórios e adereços são gerados e adorados em escala industrial.
Vivam os ricardões hiperdotados!
Por que não combinar música, sexo e porrada em bailes do lumpenpunk?
O machão é um troglodita de terno e gravata, Átila, o huno do mercado financeiro, Zapata, o guerrilheiro do Movimento dos Sem-Terra, Jimmy Hoffa, o gângster da Força Sindical, Wyatt Earp, o xerife da Fiesp.
Fruem sexo exclusivamente com pênis e testículos.
Homens maduros se expõem em talk-shows, representando clubes de machões, com estatutos, registros em cartório, camisetas e carteiras de sócio.
Acreditam que uma juvenil manifestação de preconceito pode lhes dar a fama pífia – 15 minutos, no máximo – à qual se referiu Andy Warhol.
Para se filiar a tais clubecos, o pretendente precisa, inclusive, dar fé pública da centimetragem peniana.
Assim, o membro pequeno no corpo de um homem de personalidade satélite desse way of life pode assumir contornos de tragédia, levando muitas vezes à impotência.
Acontece nas melhores famílias.
Pessoas desse tipo, infelizmente, não podem requerer seu noviciado na AMOAL.
O machão diplomado na escola de prepotência sexual não sabe ou não quer saber, até porque consideraria ponderação herética, que pênis avantajados podem causar muito mais problemas que propriamente prazeres.
De acordo com o estudo da UFGRS já citado, um pênis de 18 a 20 centímetros é considerado descomunal.
“Para a mulher é insuportável”, opina Herbert Gauss. “Dá uma sensação terrível de empalamento. Machuca, dificulta e até anula o prazer. Nesses casos, ao contrário do que parece, a relação anal é mais propícia. O reto, muito longo, assimila melhor o pênis grande. Basta que a mulher tenha uma razoável técnica de relaxamento do ânus, que não é difícil.”
O que demonstra outro axioma da AMOAL: quem gosta de pau grande é viado, mulher gosta de dinheiro.
A grande dotação peniana – se preferirem, a “Síndrome do Big One” – tem referências curiosas e hilariantes, até mesmo na literatura brasileira.
Ivan Ângelo, em seu livro de contos “A Casa de Vidro”, escreveu num deles, “O Verdadeiro Filho-da-Puta”: “Bem, sem mentira nenhuma: mole, batia aqui pra baixo um pouquinho da coxa (...). Mas bem, você precisava ver quando endureceu, olha, tá vendo, é isso aqui ó, do seu cotovelo até o punho (...). O homem é até triste, vai ter é de casar com uma que não conhece cacete, aí ela pensa que é assim mesmo e agüenta, porque mulher nenhuma vai ter coragem, e ele vai ter de andar depressa, falei pra ele, que aquilo quando chega nos 50 não levanta mais, fica só assim meio bobo, não dá pra entrar.”
Os homens que correm como fanáticos atrás de panacéias nos consultórios de Herbert Gauss e Líster de Lima Salgueiro são normalmente solteiros, com idade variando de 25 e 35 anos.
A maioria é de profissionais liberais, financeiramente estáveis, até porque uma cirurgia de alongamento peniano podia chegar a 10 mil reais, incluindo pós-operatório, antes que a resolução do CFM as tornasse experimentais.
Nos consultórios, só conversas e troca de informações.
Mas há exceções: o caso dos micropênis, de aproximadamente 5 centímetros ou até menos, são redirecionados para endocrinologistas.
A anomalia é geralmente causada por baixa de testosterona, hormônio masculino que pode ser reposto.
Nesses casos, com tratamento o pênis tende a crescer até três centímetros, qualquer que seja a idade do paciente.
No caminho oposto, eventuais superdotados que, tendo problemas com isso, queiram reduzir suas dimensões deparam com um muro intransponível.
Pelo menos no estágio atual da cirurgia plástica, isso é impossível.
Há ainda sutis alarmes falsos que levam o homem desinformado a pensar que é pouco dotado.
Herbert Gauss lembra o excesso de gordura na região pélvica, que embute o pênis em descanso, dando-lhe uma dimensão de fato pequena, às vezes mínima.
Mas ele enfatiza que “a verdade se restabelece durante a ereção”.
Existem ainda homens com preponderância de cromossomos femininos.
Essa anomalia determina o físico ginecóide, com formatos assemelhados aos de mulher.
A possibilidade de que biótipos ginecóides tenham pênis abaixo da média é significativa, por se tratar de uma disfunção hormonal.
Outro embuste que lembra Pinóquio e seu nariz – criado pela adoração ao fitness – são as ginásticas penianas, secundadas por parafernálias de gadgets e cosméticos, ditos estimulantes e/ou afrodisíacos.
“Se pênis fosse músculo, ainda vá lá!”, zomba Gauss. “Mas é um corpo cavernoso, vascularizado, irrigável por sangue. Não pode ganhar massa muscular. Queria que me explicassem como é malhar com o pênis”, ri. “Já pensou, pênis fazendo abdominal?”
No fundo, se malhação resolvesse, masturbação e speed de penetração seriam vedetes das academias de atletas sexuais.
A partir da constituição de pênis como corpo cavernoso, homens bem-dotados têm muito mais a perder ao longo do tempo que os médios e pouco dotados.
“O pênis muito grande se esclerosa mais rápido em função, por exemplo, do diabetes ou de doenças vasculares”, diz Gauss. “Também conheço gente que, mesmo sadia, aos 30 e poucos anos já começa a ter problemas. A ereção nunca é total.”
Líster Salgueiro lembra outro fator: “Quanto maior o tamanho do pênis, menor a elasticidade. Na ereção, o pênis considerado normal cresce muito mais que o grande”.
Aqui, cabe ainda a anedota de irretocável lógica médica: a história do homem que carregava um pênis gigante – de 25 centímetros, igual àquele que o bilionário Onassis dizia ter – e que o fazia desmaiar ao ter ereções.
Então vem a explicação do especialista: “Para irrigar tudo isso, meu caro, você gasta metade do sangue circulante. E quando o sangue sai da cabeça, você desmaia. É o que chamamos de hipovolemia.”
Piadas à parte, o Kinsey Institute, nos Estados Unidos, registrou o caso de um pênis de inacreditáveis 48 centímetros.
Talvez, pelo excessivo decoro, o recorde não foi parar nas páginas do livro Guinness.
Nesse caso, entra-se no dantesco terreno das imperfeições que bem serviriam ao “Acredite Se Quiser”, mix eletrônico do inusitado senhor Ripley, uma espécie de caçador de histórias enigmáticas, coincidências impossíveis e aberrações físicas.
O falecido professor-doutor Walter Edgard Maffei, brasileiro e um dos três mais famosos patologistas do mundo, com mais de 150 mil autópsias realizadas, cita num de seus livros de Patologia Clínica um caso sem precedentes de macrogenitossomia (órgão genital exagerado) que transforma em realidade cruel a anedota da hipovolemia.
O homem, cujo nome e tamanho do pênis o Dr. Maffei omitiu por questões éticas, ficava tonto e não raro desmaiava ao ter ereções.
Para conseguir ereção e mantê-la, o homem normal necessita de até 120 mililitros de sangue, mais de 1 décimo de litro.
O homem identificado por Maffei demandava quase 1 litro.
Considerando-se que metade do volume sanguíneo que leva à ereção já está no corpo do pênis, ela acontece com a metade restante.
Mesmo assim, canalizar meio litro de sangue para os vasos penianos é uma façanha impossível sem efeito colateral de hipovolemia.
O pênis cujo tamanho incensa tantas fantasias acabou levando ao suicídio o homem do “caso Maffei”.
A ignorância de muitos homens, sobretudo em relação ao seu próprio órgão sexual, faz mandíbulas despencarem de espanto.
Não são todos que sabem que há dois condicionamentos decisivos em termos de dotação peniana: um é genético, o outro, racial.
Por exemplo: orientais são em geral menos dotados em relação a caucasianos, que, por sua vez, são em geral menos dotados em relação a africanos.
Trata-se de estatísticas universais.
Quanto ao aspecto genético, da mesma forma que há famílias de pessoas altas ou baixas, há também pouco dotados e bem-dotados, características determinadas por genes, que, por enquanto, não têm guichês de reclamações.
“A massa genital se transforma em testículo e começa a produzir testosterona na sétima semana de vida do feto”, diz o Dr. Líster.
“Depois, gera-se ainda a dihidrotestosterona, que entra na formação da próstata, vesícula seminal etc. É a ação conjugada desses dois hormônios que forma o aparelho genital”, continua.
“Fora do útero, o organismo masculino volta a produzir testosterona entre 9 e 13 anos de idade, faixa que corresponde à puberdade. O tamanho do pênis é determinado nessas duas ocasiões”, complementa.
Num futuro bem próximo, de exploração e controle sobre mutações genéticas, talvez os pais possam escolher sexo e tamanho do órgão sexual para filhos homens.
Por enquanto, o controle está com a mãe natureza.
A sistemática preocupação masculina com a dotação do pênis também é sinal de – diria Freud – psicopatologias do cotidiano.
“O homem insatisfeito sexualmente tende a transferir seu problema para algo físico, palpável”, afirma o professor Goldberg. “Porque está insatisfeito, subjetiva que seu pênis é pequeno, e aí não importa o tamanho que tenha, ele vai continuar se sentindo um excluído sexual.”
Esse mesmo homem não está nem um pouco preocupado com a opinião da mulher ou parceiras.
Não conhece, ou faz questão de ignorar, frases antológicas como a da sexóloga e ex-prefeita petista Marta Suplicy: “Não importa o tamanho da varinha, mas a mágica que ela faz”.
A Marta mais polêmica do Brasil parece ter apanhado a moral da história de alguma fábula dos Irmãos Grimm, para transformá-la numa metáfora de que “tamanho não é documento”.
E um séquito enorme de mulheres sensatas segue o mesmo princípio.
Outra grande ilusão, disseminada por sexólogos de formação questionável, é a de que o antológico Ponto G só pode ser alcançado por superdotados, uma vez que se localiza em algum lugar de difícil acesso nos abismos da mulher.
Mais mistificação.
“O Ponto G é qualquer ponto gerador de máxima excitação”, garante Herbert Gauss. “Pode ser o clitóris, o mamilo, a orelha, o calcanhar ou um CD de jazz... Não tem nada a ver com o tamanho do pênis ou com a localização de um ponto específico no corpo da mulher.”
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