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terça-feira, agosto 02, 2011

A Síndrome do Big One (Parte 1)


Era uma vez um rapaz americano, mas muito incomum, que ficou conhecido no circuito pornô de Los Angeles como Long Dong Silver.

O New Dictionary of American Slang, editado por Robert L. Chapman, refere-se a “dong” como gíria de pênis, de origem desconhecida.

Long Dong Silver – algo como “Longo Pênis Prateado” – participou de alguns poucos ensaios em revistas e filmes pornôs e depois se eclipsou numa nuvem de mistério.

Nome parecido com heróis de rodeios – não fosse o dong, claro –, Silver se notabilizou por um brutal excesso de centímetros.

Numa de suas mais famosas poses era visto com um nó no pênis.

O mais patético nessa história de hiperdotação é que, tecnicamente, ele jamais conseguiria uma ereção que durasse a ponto de manter um arremedo de ato sexual.


O aparente handicap do ator pornô dá a medida exata de que sócios naturais do restrito clube super king size, embora venerados pela macholatria, têm problemas semelhantes ou muito mais sérios que os do clube dito short size.

O crioulo Long Dong Silver era uma infeliz aberração.

Esqueceram-se dele de forma tão meteórica quanto apareceu.

Tornou-se apenas um dos escandalosos – e tristes – recordes do folclore pornô dos Estados Unidos.

Não adianta espernear nem chorar inutilmente pelo leite derramado das 10 mil bronhas tocadas na adolescência: o comprimento médio do braúlio, no Brasil, eqüivale ao de uma esferográfica.

“Noventa por cento dos clientes que vêm ao meu consultório, pensando que são pouco dotados, têm pênis perfeitamente normais. O problema maior, nevrálgico, é a total falta de informações e conhecimentos abrangentes sobre o assunto.”


A afirmação – que irá aliviar muitos que se acham mal aquinhoados pela natureza – é do cirurgião paulistano Herbert Gauss.

Currículo, diga-se, dos mais respeitáveis: 80 mil pacientes atendidos até hoje, com 20 mil deles efetivamente operados no contexto amplo das diversas modalidades da cirurgia plástica.

Segundo o Dr. Gauss, de dois a cinco pacientes o procuram a cada semana, insatisfeitos com as dimensões do pênis.

São homens dispostos a apostar todas as fichas e até as próprias calças num milagre cirúrgico.

O médico, claro, não tira estatísticas da cartola ou da manga para fazer revelações mágicas.


Aqui, reporta-se a um minucioso estudo do urologista Claudio Telöken, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), já aceito em todo o Brasil, que estabeleceu por amostragem o tamanho médio do pênis do homem brasileiro.

O número encontrado foi 14 centímetros, com pequenas variações acima e abaixo.

É o comprimento equivalente a uma caneta esferográfica convencional.

Portanto, anatomicamente, quem estiver situado entre 12 e 16 centímetros com seu pênis ereto não tem nada a reclamar.

Até porque a profundidade média da vagina varia entre 12 e 14 centímetros, dos lábios ao colo do útero, e a parte mais sensível da mulher se concentra nos 4 cm iniciais da cavidade vaginal.

É nesse mísero espaço que ela sentirá seu pênis!


Fazer a medição masculina é muito simples: o pênis precisa estar ereto e basta uma régua comum para medi-lo, da base inferior, quando se encontra com a bolsa escrotal, até o extremo da glande.

Já o Dr. Líster de Lima Salgueiro, andrologista do Instituto do Homem, em São Paulo, vai um pouco além.

Subdivide o tamanho médio do pênis: normal pequeno e normal grande.

A subdivisão situa como normais os pênis entre 8 e 14 centímetros.

As famosas, e duvidosas, cirurgias de aumento do pênis não empolgam praticamente mais ninguém.

Herbert Gauss chega mesmo a ser enfático.

“É uma falácia. Atualmente, não existem cirurgias com resultados que permitam adoção sem restrições pela comunidade médica”, avisa.


Nos Estados Unidos, tais cirurgias e procedimentos, como injeções de gordura no corpo do pênis, foram todos abandonados.

No Brasil, o que ainda vinha sendo feito era desinserir o pênis do púbis, onde está fixado.

Mas o resultado, para Gauss, não traz vantagem nenhuma.

“Quando você desliga o pênis de sua área de fixação no púbis, ou tira o freio, como se diz, ele pode aumentar apenas de 0,5 a 1,5 centímetro. Mas acontece que o pênis desinserido em ereção aponta sempre para baixo, já que perdeu fixação. Não é um resultado interessante em termos estéticos. Nem funcionais. Um centímetro e meio a mais não gabarita uma cirurgia dessas, que também tem seus riscos. A região pubiana é cheia de vasos, nervos, tendões...”, diz o médico.

Com clientela formada basicamente por mulheres, Gauss, que muitas vezes se torna confidente por ser cirurgião, traz na bandeja outro alento aos mais pessimistas.

“Quase 90% das mulheres não dão a menor pelota para a dotação dos maridos ou dos parceiros”, afirma, com segurança.

“Para elas, o fundamental são o antes e o depois, não o tamanho do pênis ou a penetração em si. A mulher gosta de ser induzida ritualisticamente ao orgasmo”, explica.


Na opinião dele, a esse dado ainda deve ser acrescido um outro, igualmente significativo: mais de 50% das mulheres preferem orgasmo clitoriano ao gozo vaginal, por penetração.

E isso, todo grande mestre da AMOAL ligado ao Lado Negro da Força tem que saber de cor e salteado, para não eximir-se da importância do trabalho de língua.

Aspecto que não pode ser descartado – e muito menos esquecido – é a questão ética nas práticas cirúrgicas polêmicas em função de resultados pouco ou nada compensadores.

No Brasil, quem regulamenta a adoção ou não de procedimentos cirúrgicos é o Conselho Federal de Medicina (CFM).

Ao CFM estão submetidos os Conselhos Regionais (CRMs).

O Código de Ética médica diz que é vedado ao médico realizar experimentalmente qualquer tipo de terapêutica ainda não liberada para uso no país, sem a devida autorização dos órgãos competentes e sem que os pacientes sejam informados da situação e das possíveis conseqüências.


Por isso, a Resolução n.º 1.478 do CFM, jogou uma pá de cal no filão ainda explorado das plásticas penianas.

A resolução define como experimentais – não liberadas para prática generalizada – dois tipos de cirurgia: alongamento peniano para correção de disfunção sexual e neurotripsia para correção de ejaculação precoce.

Esta última consiste na redução da sensibilidade do pênis por meio de cauterização de alguns nervos.

Irene Abramovich, médica da Comissão Técnica de Cirurgia Plástica do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, define cirurgia experimental: “Esse tipo de cirurgia tem de estar ligado a alguma instituição de pesquisa ou ensino, ou a ambas. E não se pode cobrar por uma cirurgia dessas, justamente por ser experimental. A resolução veio a calhar porque o médico vai pensar duas vezes antes de tomar uma atitude antiética.”

Por isso, a cirurgia de desinserção do pênis do osso púbico, citada pelo Dr. Gauss, já está na mira da fiscalização do CFM.

O desrespeito a uma resolução do órgão, que praticamente tem força de lei sobre a atuação do médico, pode determinar várias punições: advertência confidencial, censura pública, suspensão e, por fim, cassação de registro para exercício da Medicina.


A medida atinge aquela parcela de cirurgiões plásticos que vinha fazendo a “vontade do freguês”, sabendo de antemão que os resultados seriam desprezíveis.

De fato, não é todo médico que aceita jogar no ralo de 8 a 10 mil reais de honorários em nome da ética.

A partir da Resolução n.º 1.478, diz o Dr. Líster Salgueiro, “o médico tem obrigação de informar ao Conselho competente que vai fazer a cirurgia, além de mencionar ao paciente, com detalhes, os prós e contras”.

Outro dado interessante: psicologicamente, tais cirurgias até podem funcionar como “placebo anatômico”, ou seja, induzir o paciente a uma reação positiva apenas porque se submeteu à operação.

Mas, na verdade, nunca houve prática cirúrgica consagradamente aceita que fosse capaz de fazer o pênis aumentar de tamanho.

Pelo menos no planeta Terra.


Estatísticas, diagnósticos, limitações científicas, protocolos éticos, nada parece refrear multidões de homens que se acham timidamente dotados e – mais espantoso ainda – injustamente traídos pela natureza.

Em jogo, sólidos dogmas e fortíssimas pressões culturais.

De saída, os pouco dotados encaram a própria nudez como vergonhosa.

Outros, na intimidade, se a mulher ri por qualquer motivo, não conseguem deixar de pensar que o riso será sempre uma alusão velada a seu tímido membro.

Para Jacob Pinheiro Goldberg, terapeuta e doutor em Psicologia, o pênis é a primeira e mais tenra distinção entre homem e mulher.

“Um menino, por exemplo, não sabe o que fazer com uma ereção”, diz Goldberg. “Isso cria uma situação de desconforto que pode acabar normalmente ou durar para o resto da vida. Muitos homens não sabem, nunca souberam o que fazer com o pênis.”


O raciocínio é figurativo – claro.

Daí, o homem pode se tornar patologicamente compulsivo em relação à atividade sexual – por exemplo, alimentando a fantasia de comer todas as mulheres do mundo sem ser filiado a AMOAL ou então sublimando amor, afeto e carinho unicamente no ato sexual.

Na associação óbvia e popularmente aceita entre virilidade e pênis avantajado está embutida, segundo o professor Goldberg, uma preocupante hostilidade contra a mulher.

O pênis assume caráter de contundência.

“Por isso é que o chamam de pau, cacete, vara, pistola, espada etc.”, comenta. “Vale o mesmo para a maioria dos verbos que definem a relação sexual: possuir, meter, penetrar, comer, enterrar, rasgar, furar, arrombar.”


O pressuposto passa a ser, então, emblemático: um homem que se acha pouco dotado não pode praticar com a mulher o ato de dominação que essa contundência sugere.

Daí a infelicidade e insaciedade dele.

Esse tipo de homem, na opinião de Goldberg, pode até ter pênis grande que jamais ficará satisfeito.

Diagnóstico: complexo de inferioridade.

E pode revelar-se como marido intransigente, pai austero, chefe autoritário, flamenguista roxo e toda a gama de personalidades doentias, rígidas ou sistemáticas associadas a esses termos chulos.

“Geralmente, a mãe desse tipo de homem foi castradora, poderosa e autoritária para ele quando criança”, afirma Goldberg. “O pai, ao contrário, foi omisso, ausente, indiferente. De alguma forma, e isso é uma longa história, ele cria a fantasia de que poderá ser engolido por uma vagina. Vai sempre ter aquela sensação desagradável de que seu pênis não preenche a vagina, fica solto no interior dela e pode nunca mais sair.”


Mitologias diversas, tanto de opulentas civilizações como de pequenas tribos, costumam ver sexualmente os deuses pela ótica dos extremos.

O pênis grande, até grotescamente exagerado, durante muitos séculos foi representativo de paternidade ampla e poligamia.

Deuses do panteão olímpico cansaram de se misturar às mulheres terrenas para gerar semideuses.

Já a ausência ou camuflagem do pênis na deidade – vista comumente em muitas obras de arte antigas – ilustra a sacralização da vida pela impotência.

Afinal, por que Deus, que opera por meio do verbo, precisaria de algo tão descartável e banal como um pênis para fazer valer sua legitimidade divina e seu poder criador?

Na virada do século, com Sigmund Freud e discípulos, o pênis ficou restrito ao aspecto orgânico.

Ao mesmo tempo, foi criada a simbologia do falo, transposta para a sociedade como regime: falocracia.


O poder é sinônimo dessa idéia, porque quem tem o poder pode foder todo mundo.

A partir daí, fantasias em torno da violência – sendo o pênis um instrumento que causa dor e sofrimento – massificaram muitas psicopatias de fundo sexual, como estupro, molestação de crianças, pedofilia, curra de empregadas domésticas etc.

O Dr. Gauss indaga o porquê de a maioria dos homens achar que o status do pênis grande está sempre ligado à conquista de mulheres famosas e ricas.

Um indivíduo que se ache pouco dotado, na opinião dele, tem 99% de chances de falhar estrondosamente se estiver na cama com qualquer celebridade, não importa o que aconteça.

A estrela em questão pode até adorar pênis pequenos.

“Que melhor ícone da idéia de poder do pênis que um foguete?”, pergunta o professor Goldberg. “É a representação tecnológica suprema do rompedor de hímens celestes.”

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