Reza
a lenda que nos anos 1980, quando os formatos VHS e Betamax
disputavam a hegemonia do vídeo doméstico, foi o apoio da indústria
da pornografia que determinou a vitória do primeiro.
Vinte
anos mais tarde, em 2013, estimava-se que os sites pornô eram mais
acessados do que Netflix, Amazon e Twitter. Juntos.
A
nova safra de capacetes de realidade virtual, como o Oculus Rift do
Facebook, ainda está em processo de desenvolvimento, mas já tem
gente pensando em aplicações de sexo virtual imersivo nesses
universos ficcionais altamente verossímeis. Coisa que, aliás, o
cinema com sua mania de prever o futuro meio que já sinalizou no
passado recente em filmes como O Demolidor.
A
verdade, embasada por esses e outros dados, é que a gente gosta de
uma putaria virtual.
Sexo
e tecnologia sempre andaram juntos. Na verdade, é possível estender
essa máxima: sexo e todo o resto sempre andaram juntos. Tudo que
facilita, viabiliza ou aponta para uma oportunidade de ir para a cama
com outra pessoa captura a nossa atenção. Mais que isso, muitas
vezes, torna-se o norte das nossas ações.
Aldous
Huxley, autor de clássicos como Admirável Mundo Novo, disse que “um
intelectual é alguém que encontrou algo mais interessante que o
sexo.” Essa nossa obsessão, tão bem sintetizada por Huxley, é
compreensível. Afinal, sexo é bom demais.
É
fascinante como sexo e tecnologia percorrem caminhos improváveis,
tal qual um casal apaixonado e cheio de tesão, a fim de se
encontrarem. Fascinante e um pouco intrigante, dado que a tecnologia,
com suas telas azuis e (esperamos) assépticas seja quase sempre
vista como uma interface fria, o oposto do calor aconchegante que uma
transa proporciona. O que explica o sucesso dessa dupla à primeira
vista improvável?
O
prazer mediado por telinhas
Apesar
dessa aparente contradição, a tecnologia serve muito bem e em
diversas frentes ao sexo. Com uma ajudinha da imaginação, mesmo a
mais básica delas, a menos rica em feedback sensorial, funciona.
Tomemos como exemplo o sexting.
O
termo “sexting” foi cunhado em 2005 por um jornal australiano e é
uma combinação das palavras “sex” e “texting”, esse último,
numa tradução livre, sendo algo como mandar mensagens de texto via
SMS, pelo celular. Já deu para sacar do que se trata, certo?
Em
vez de avisar o seu colega que você irá se atrasar para a reunião,
ou mandar uma mensagem à sua mãe dizendo que a viagem foi tranquila
e você chegou bem, as pessoas passaram a dizer sacanagens umas às
outras porque... bem, por que não?
Posteriormente,
com o MMS e a chegada dos smartphones e seus inúmeros apps de
bate-papo com suporte a fotos, vídeos e mensagens de áudio, o
sexting se modernizou, virou multimidiático.
Você
provavelmente já se emocionou lendo um texto na tela do computador,
ou vendo um filme na TV. Talvez já tenha desabado em lágrimas e
sorrisos com a imagem chuviscada de um projeto de pessoinha numa
máquina de ultrassom. As telas, ou o que aparecem nelas, mexem com a
gente. Por que excitar-se com um celular na mão seria diferente?
Praticar
sexting exige imaginação, uma pitada de coragem e confiança
irrestrita no parceiro, mas apesar desses poréns é uma coisa
natural. Para Jenna Wortham, é natural e generalizado. Em um belo
ensaio na revista digital Matter, ela sentenciou: todo mundo manda
sexting.
No
projeto, Jenna pediu a voluntários, conhecidos ou não, que
enviassem fotos deles mesmos nus e contassem suas histórias de
sexting. As motivações, como se pode ler nos 16 relatos
selecionados, variam. Mas é notável, em vários deles, a
preocupação com a exposição, com possíveis vazamentos, com as
consequências de se desarmar e se expor tanto a outra pessoa
acarretam.
Casos
de revenge porn, vazamentos em grupos no WhatsApp e invasões com a
finalidade de encontrar e divulgar imagens íntimas são comuns. Mais
do que imaginamos.
Para
cada Scarlett Johansson que tem sua privacidade exposta, existe um
punhado de mulheres anônimas que “caem na rede”, que são
violadas de uma maneira vil, sem chance de defesa, muitas vezes sem
sequer saber de onde veio o ataque.
Em
boa parte dos casos, a origem desses vazamentos anônimos é o
sexting. Não encare isso como um grande sinal de proibido, como sua
tia conservadora que sempre joga a culpa na vítima quando casos do
tipo aparecem no jornal. Entenda como um alerta gentil de alguém que
vê com naturalidade a exteriorização do prazer, mas que está
ciente dos riscos potenciais.
Queremos,
com este texto, dar dicas objetivas para você curtir essa
experiência íntima mediada por smartphones. É possível, é o que
faremos, mas seria irresponsável não avisá-lo de antemão que não
existe tecnologia 100% segura.
Nada,
do ponto de vista técnico, garante que suas fotos íntimas estarão
a salvo de olhos que você não quer que as vejam. Esteja sempre
ciente disso. Certo? Ok, vamos em frente.
Preparando
o terreno para o sexting seguro
A
traição do seu companheiro de sexting não é o único vetor para
vazamentos, nem deve ser a única fonte de preocupações. Na real,
terceiros são mais perigosos. Eles podem estar à espreita, apenas
aguardando uma brecha ou criando iscas para fisgar os menos
precavidos.
Contra
eles, existem dois cuidados, não concomitantes, mas que podem
(devem!) ser usados em conjunto: conectar-se a redes seguras e usar
apps com criptografia. Dizendo assim parecem coisas altamente
complexas, mas na prática é bem provável que você as use e nem
saiba.
Uma
rede segura é uma protegida por senha e de procedência conhecida –
dica do Google.
Um
ponto de acesso Wi-Fi pode ser configurado de diversas maneiras, com
ou sem senha e, se com, usando protocolos diversos como WEP (fraco) e
WPA2 (recomendado).
Redes
particulares, essa que você talvez use em casa, saem na frente por
barrar, a princípio, a entrada de estranhos e ser algo certo,
conhecido.
Usar
uma rede pública aberta (sem senha) é arriscado já na conexão:
nada garante que ela não seja uma falsa, criada para atrair vítimas.
E mesmo que não seja o caso, a presença de mais pessoas na mesma
rede em que você navega é um perigo em potencial.
Pode
ser que nada aconteça; pode ser, porém, que alguém esteja
interceptando toda a comunicação não segura (sem criptografia) na
esperança de conseguir algo valioso. É por isso que todo
especialista de segurança desaconselha o uso delas para atividades
delicadas, como transações bancárias e, sim, o sexting. (Caso seja
entendido pode apelar para uma VPN, mas isso está além do que a
maioria está disposta a lidar.)
A
criptografia anula as consequências de uma eventual interceptação
de dados. Caso dados criptografados caiam em mãos erradas, o dono
delas teria um punhado de bits desordenados e sem sentido.
Transmitir
dados criptografados significa que apenas as duas pontas da conversa
conseguem decifrar a mensagem. Qualquer um que interfira terá um
trabalho enorme para ter acesso ao conteúdo desses dados. Às vezes,
tão grande que não compensa o esforço.
A
Electronic Frontier Foundation tem uma tabela bem bacana sobre a
segurança e privacidade de um punhado de apps e serviços de troca
de mensagens – provavelmente mais do que os que você conhece.
É
curioso notar, por essa lista, como os mais seguros são os menos
populares (e mais complexos) e como alguns que vendem a ideia da
privacidade não são lá tão seguros. Vide o Snapchat.
Os
melhores apps para sexting
Eu
adoro o conceito do Snapchat. Acho que ele funciona para bem mais do
que sexting, embora essa finalidade seja inegavelmente um dos seus
pontos fortes – tanto que já virou negócio nos EUA e uma dor de
cabeça para os donos do serviço, que precisam lidar com
adolescentes mandando fotos deles mesmos peladões.
É
fácil entender por que o Snapchat ganhou essa fama de app para
sexting: em tese, ele anula o salvamento da foto e as consequências
que essa característica do digital libera, que são a cópia
infinita da original e a facilidade em compartilhá-la.
Segundo
a tabela da EFF, o Snapchat criptografa as fotos e mensagens quando
elas estão em trânsito e teve o código auditado recentemente, mas
o conteúdo em si não é criptografado e, pior, apps de terceiros
podem ser usados.
O
maior problema do Snapchat, entretanto, é de percepção. A
premissa, de fotos e vídeos que só podem ser vistos apenas uma vez,
pode dar uma falsa sensação de segurança.
Falsa
porque nada impede o “print”, nem o uso de ferramentas que
salvam, na surdina e sem alertas ao remetente, as fotos e vídeos
feitos pelo app. Foi essa permissividade que viabilizou aquele
vazamento de imagens no final do ano passado.
Ok,
Snapchat é legal, mas tem lá suas falhas. Se você quer segurança
absoluta, qual app usar, então? Algumas boas alternativas esbarram
no grande dilema da segurança digital, que é equilibrar segurança
e comodidade.
Esses
dois conceitos costumam ser conflitantes, como se estivessem em uma
gangorra. Fazer com que eles fiquem nivelados é um dos grandes
desafios modernos.
Não
à toa, soluções reconhecidamente seguras, como TextSecure e o PGP
(para e-mail) alienam usuários que não sabem ou não querem lidar
com camadas extras de complexidade.
Minha
indicação, e um dos apps que melhor lidam com essa questão, é o
Telegram. Atenção: é o Telegram no modo de chat secreto, que torna
a comunicação segura à custa da comodidade (olha aí!) de
conversar por vários dispositivos ao mesmo tempo.
Para
ativar esse modo, que “corta” a nuvem do papo e coloca os dois
interlocutores em contato direto, sem intermediários e por apenas um
dispositivo, toque no botão de nova mensagem e selecione “Novo
Chat Secreto”.
Telegram
Usando
o Telegram no modo chat secreto, ele ganha criptografia de ponta a
ponta. E mais: se uma conversa é apagada em um dos celulares usado
no papo, ela some no outro.
Além
disso, o Telegram também passa a lidar com mensagens que expiram
depois de um tempo, da mesma forma que o Snapchat. E vale para texto,
fotos, vídeos e arquivos.
Todos
os ingredientes para ter um papo mais quente com a segurança que
algo assim demanda estão aqui, relativamente acessíveis e fáceis
de serem usados.
Outra
boa solução é o iMessage, da Apple, combinado com o FaceTime para
vídeo chamadas e ligações. Ambos também são criptografado de
ponta a ponta e, no caso do iMessage, conta com fotos e vídeos que
expiram (ainda que não haja muita flexibilidade em relação a
prazos).
O
FaceTime é bastante simples de usar, com dois toques se começa uma
chamada por vídeo. O problema? Ambos precisam ter um iPhone ou iPad,
já que esses apps só funcionam nos dispositivos da Apple.
Existe
ainda uma terceira opção, essa feita especialmente para conversas
sigilosas (por texto e voz). É o app CoverMe, com versões para
iPhone e Android.
Todas
as funções que o modo chat secreto do Telegram oferece estão
disponíveis aqui, e mais: chamadas privadas, atendimento dependente
de senha e uma espécie de cofre digital, que protege suas fotos e
outros arquivos salvos no próprio aparelho.
E
ele cobre mensagens de texto (SMS) comuns, o que é interessante se
você é do tipo old school. Tem fetiche pra tudo nesse mundo, né?
Cuidados
extras
Caitlin
Dewey, do Washington Post, nos lembra de outra possível brecha do
sexting: a rastreabilidade da foto.
É
que mesmo que seu rosto não apareça (eis aí outra boa dica!),
provavelmente alguma outra informação pessoal ficará vinculada à
imagem, como o número do telefone ou o perfil de rede social usado
para o envio.
Não
é só o que aparece na foto que pode ser identificado. O arquivo
digital dela carrega informações reveladoras. São os dados EXIF,
meta dados que toda fotografia carrega consigo.
Eles
registram num pedaço da foto coisas como data e hora da foto, marca
e modelo do smartphone usado e, dependendo da configuração do
aparelho, até a localização exata onde a foto foi tirada.
Na
maioria dos apps modernos, como Snapchat e WhatsApp, as imagens
trocadas perdem esses dados. Elas são redimensionadas, “salvas
novamente” (ou nem isso, no caso do Snapchat), ações que criam
uma nova foto limpa, sem resquícios da original.
De
outro modo, porém, é bom atentar para esses detalhe e não dar
margem ao azar. No computador, o próprio sistema (Windows ou OS X)
exibe os dados EXIF nos respectivos gerenciadores de arquivos e links
para apagá-los.
No
smartphone, que é o local que nos importa, apps como TrashExif (iOS)
e EZ UnEXIF Free (Android) fazem o serviço. Você pode se antecipar
e mexer nas configurações de ambos os sistemas a fim de que eles
não salvem informações comprometedoras. Aqui ensina como fazer.
Todas
essas dicas são válidas e ajudam a blindá-lo contra possíveis
situações chatas – para dizer o mínimo. O principal, e tão
importante que vale repetir o alerta, é estar ciente do
interlocutor, da pessoa com quem você compartilha tamanha
intimidade.
O
amor incondicional de hoje pode virar frustração e raiva em um
momento futuro, e esses sentimentos, serem canalizados em ações
baixas, como o revenge porn. Nenhuma vítima disso esperava que fosse
acontecer, o que nos dá uma dimensão de como somos pessoas
imprevisíveis.
Eu
sei que duvidar do parceiro pode dar aquela broxada, então a
confiança é, além de importante no contexto racional da coisa, um
ingrediente indispensável para ter prazer no sexting. Ela é a
famosa união do útil ao agradável.
Dizem
que há algo de afrodisíaco no risco, mas não se deixe levar
totalmente por essa ideia. Mande nudes, troque sacanagens por texto,
curta com seu parceiro quando vocês não estiverem fisicamente
juntos, mas se a preservação da sua privacidade e intimidade é
algo importante para você, não faça isso com qualquer um.
Não
existe tecnologia capaz de vencer a vontade de fazer o mal do ser
humano.
Um comentário:
Jesus Cristo Esta Voltando!!!
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