Lombinha,
as 30 doses de vodca e uma trajetória interrompida pelo álcool
Denise
Molinaro
Bota
um pack de Heineken na minha frente que você vai ver o que eu
faço... Embora seja mulher e comporte apenas 1,66m tenho alguma
força etílica. Mas também tenho que trabalhar no dia seguinte,
senão ninguém paga minhas contas, e aí tudo muda - eu bebo, eu
gosto de beber, mas preciso acordar intacta para minhas atividades
cotidianas porque não nasci na família Hilton.
Agora,
se seu amigo macho falar isso, vem o temor da opressão. Acho idiota
como negar uma dose numa roda de homens é afastar-se anos luz da
virilidade.
Falando
em virilidade, só pra te lembrar: quem enxuga as garrafas tem
grandes chances de broxar. Mas, rebobinando...
Todo
mundo bebe, porém, somente quando alguém revela essa causa morte
que a gente abre o olho para tal realidade. “morreu num acidente de
carro voltado bêbado da balada”. Fatalidade? Não: suicídio - e,
quiçá assassinato se alguém que não tiver nada com esse porre for
atingido pelo carro do bêbado irresponsável. Quem pega o carro fora
de si sabe o risco que corre, vamos combinar.
Não
recebi com choque a notícia de que o jovem de 28 anos Humberto Moura
Fonseca, vulgo Lombinha, morreu após a ingestão de 30 doses de
vodca. Aqui: teria sido suicídio?
Valendo-se
que todos estavam numa festa OPEN BAR de faculdade posso dizer que
foi imbecilidade mesmo.
Opa,
péra, não vem você xingar o cara, porque se teu amigo te apertar
na happy hour porque você precisa ir embora cedo pra reunião de
amanhã aposto que você volta pra mesa e faz o clone do Zeca
Pagodinho que não canta pagode e não mora em Xerém, mas que não
nega uma birita porque afinal "quem não guenta bebe leite".
Tá,
por favor...
Eu
não estou nessas linhas querendo pregar o caminho da moral, mas
vamos nos atentar para a realidade dos fatos: quem bebe 30 copos de
vodca, se não tava rezando pouco e tiver um anjo da guarda 24 horas
ganhando em dólar no mundo espiritual vai, no mínimo, conhecer o
gelado de um leito de hospital com picadas de glicose na veia. (com a
sorte de quem tem plano de saúde, sic sic)
O
interessante é como a bebida está diretamente ligada a coragem e a
diversão: quem bebe muito é forte, é treta, é resistente. Dá-se
ao porre um valor muito maior do que ele tem. Quem bebe até cair tem
meritocracia.
Tem
uma expressão que eu acho bem curiosa: "você bebe igual
macho", porque afinal, beber é coisa de homem.
O
que aconteceu com essa cara foi uma morte de brincadeira. Ele colocou
em prática aquele ditado que corre solto nos bares: "beber como
se não houvesse amanhã". E não houve porque bebida é tão
droga quanto cocaína, tão pesada quanto comprimidos alucinógenos
feitos em laboratório com o único objetivo de tirar a pessoa do
controle da situação.
Talvez
essa seja a palavra que tenha faltado na festa universitária:
controle. Festas open bar são convites à morte alcoólica. Ninguém
vai a esse tipo de evento para intervalar um copo d'água a cada
destilado que desce rasgando a garganta.
Interessante
é o que acontece depois - um mal estar punitivo da sociedade que
julga o acontecido como comportamento desviante.
Sabemos
o quanto um porre de cair na calçada é normal entre nossos amigos,
mesmo todo mundo tendo ciência que álcool não é milk-shake de
ovomaltine, mas como seria se você dissesse aos seus bróders que
decidiu parar de beber? Talvez muitos deles vão espalhar que você
virou viado. Ou que sua namorada não te deixa mais exercer suas
vontades.
Eu
vi o vídeo do Lombinha ingerindo a segunda dezena de doses de vodca
e o coro dos amigos era: au au au o lombinha é animal.
Da
gênese desse episódio eu diria: sim, animais não raciocinam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário