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terça-feira, março 03, 2015

Você não é o Highlander, portanto coma alcoólico é para todos


Lombinha, as 30 doses de vodca e uma trajetória interrompida pelo álcool

Denise Molinaro

Bota um pack de Heineken na minha frente que você vai ver o que eu faço... Embora seja mulher e comporte apenas 1,66m tenho alguma força etílica. Mas também tenho que trabalhar no dia seguinte, senão ninguém paga minhas contas, e aí tudo muda - eu bebo, eu gosto de beber, mas preciso acordar intacta para minhas atividades cotidianas porque não nasci na família Hilton.

Agora, se seu amigo macho falar isso, vem o temor da opressão. Acho idiota como negar uma dose numa roda de homens é afastar-se anos luz da virilidade.

Falando em virilidade, só pra te lembrar: quem enxuga as garrafas tem grandes chances de broxar. Mas, rebobinando...

Todo mundo bebe, porém, somente quando alguém revela essa causa morte que a gente abre o olho para tal realidade. “morreu num acidente de carro voltado bêbado da balada”. Fatalidade? Não: suicídio - e, quiçá assassinato se alguém que não tiver nada com esse porre for atingido pelo carro do bêbado irresponsável. Quem pega o carro fora de si sabe o risco que corre, vamos combinar.

Não recebi com choque a notícia de que o jovem de 28 anos Humberto Moura Fonseca, vulgo Lombinha, morreu após a ingestão de 30 doses de vodca. Aqui: teria sido suicídio?

Valendo-se que todos estavam numa festa OPEN BAR de faculdade posso dizer que foi imbecilidade mesmo.

Opa, péra, não vem você xingar o cara, porque se teu amigo te apertar na happy hour porque você precisa ir embora cedo pra reunião de amanhã aposto que você volta pra mesa e faz o clone do Zeca Pagodinho que não canta pagode e não mora em Xerém, mas que não nega uma birita porque afinal "quem não guenta bebe leite".

Tá, por favor...

Eu não estou nessas linhas querendo pregar o caminho da moral, mas vamos nos atentar para a realidade dos fatos: quem bebe 30 copos de vodca, se não tava rezando pouco e tiver um anjo da guarda 24 horas ganhando em dólar no mundo espiritual vai, no mínimo, conhecer o gelado de um leito de hospital com picadas de glicose na veia. (com a sorte de quem tem plano de saúde, sic sic)
O interessante é como a bebida está diretamente ligada a coragem e a diversão: quem bebe muito é forte, é treta, é resistente. Dá-se ao porre um valor muito maior do que ele tem. Quem bebe até cair tem meritocracia.

Tem uma expressão que eu acho bem curiosa: "você bebe igual macho", porque afinal, beber é coisa de homem.

O que aconteceu com essa cara foi uma morte de brincadeira. Ele colocou em prática aquele ditado que corre solto nos bares: "beber como se não houvesse amanhã". E não houve porque bebida é tão droga quanto cocaína, tão pesada quanto comprimidos alucinógenos feitos em laboratório com o único objetivo de tirar a pessoa do controle da situação.

Talvez essa seja a palavra que tenha faltado na festa universitária: controle. Festas open bar são convites à morte alcoólica. Ninguém vai a esse tipo de evento para intervalar um copo d'água a cada destilado que desce rasgando a garganta.

Interessante é o que acontece depois - um mal estar punitivo da sociedade que julga o acontecido como comportamento desviante.

Sabemos o quanto um porre de cair na calçada é normal entre nossos amigos, mesmo todo mundo tendo ciência que álcool não é milk-shake de ovomaltine, mas como seria se você dissesse aos seus bróders que decidiu parar de beber? Talvez muitos deles vão espalhar que você virou viado. Ou que sua namorada não te deixa mais exercer suas vontades.

Eu vi o vídeo do Lombinha ingerindo a segunda dezena de doses de vodca e o coro dos amigos era: au au au o lombinha é animal.

Da gênese desse episódio eu diria: sim, animais não raciocinam. 

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