Eu e Cassianinho
durante um canavial no Sollarium
Novembro de 1983. Cheio da manguaça, Cassianinho Anunciação
estava brincando de sinuca no Bar do Aristides com alguns amigos, numa tarde de
sábado, quando surgiram três sujeitos desconhecidos e ficaram observando a brincadeira.
De repente, um deles cantou a pedra:
– Eu aposto no taco desse meu amigo aqui como ninguém aí
nessa mesa ganha dele...
Cassianinho não deixou barato:
– Então, manda ele pegar logo um taco, que vai ser eu contra
ele. Mas é aposta de mil cruzeiros, casada aqui na mão do meu compadre Nei
Parada Dura.
O sujeito mais corpulento dos três pegou um taco, passou giz
na ponta e entrou no jogo. Em menos de três horas, Cassianinho já havia embolsado
15 mil cruzeiros. Os sujeitos começaram a ficar nervosos. Lá pelas tantas,
quando Cassianinho se preparava para matar uma bola, seu braço esbarrou sem
querer em outra bola, que estava colada na mesa. Um dos sujeitos estrilou:
– Ah, é por isso que esse vigário está ganhando... Ele
descola as bolas da mesa com o braço... Assim, até eu...
Cassianinho ficou mordido. Jogou o taco em cima da mesa e
partiu pra cima do coiote:
– Eu dou porrada em vocês na sinuca e no braço também. Quer
ver, mete a cara!
O sujeito não se intimidou:
– Tu só tá falando isso por que está no meio da tua turma...
Quero ver essa tua marra num campo neutro...
Cassianinho se embocetou de vez:
– Meu irmão, eu dou porrada em vocês aqui, ali, acolá, onde vocês
se escolherem. Querem brigar comigo aonde?...
– Vamos lá pro Pontão das Lavadeiras, em Petrópolis... –
avisou o sujeito mais corpulento.
– Só se for agora! – concordou Cassianinho. – E eu faço
questão de pagar o táxi.
Os sujeitos fizeram sinal para um táxi que ia passando, o
táxi parou e os três embarcaram dentro do fusquinha. O mais corpulento foi no
banco do carona. Cassianinho, no banco traseiro, sentado entre os outros dois
sujeitos. Quando o táxi ia passando em frente ao Grupo Escolar Carvalho Leal,
caiu a ficha: porre pra caralho, ele, Cassianinho, estava indo brigar sabe-se
lá com quantos caras e num local completamente estranho. Que bobajada era
aquela?
Na mesma hora, ele deu um murro no queixo do sujeito que
estava à sua esquerda e uma cotovelada na boca do que estava à direita. Ouvindo
os urros dos comparsas, o sujeito que estava no banco do carona se virou pra
trás e meteu um contravapor no meio do olho esquerdo do Cassianinho, que lhe
deixou meio grogue. Assustado com aquela confusão, o taxista parou o carro, abriu as duas portas dianteiras e
começou a gritar pedindo ajuda.
Ainda meio grogue, Cassianinho deu uma joelhada nas costelas
do sujeito que estava à sua esquerda, deu um pisão no saco do que estava à
direita, voou em cima do sujeito que estava no banco do carona, deu-lhe uma
gravata e, como a porta estava aberta, os dois foram parar embolados no meio da
rua.
Um monte de gente que estava fazendo compras na Feira Livre
da Cachoeirinha correu para ver a presepada. Cassianinho havia encaixado um
mata leão no sujeito e estava prestes a mata-lo sufocado, quando a
turma-do-deixa-disso resolveu intervir. Os brigões foram separados. Os três
sujeitos meteram o pé na carreira em direção à Rua Codajás.
Cassianinho pagou a corrida de táxi, pediu desculpas ao taxista e voltou a pé para o Bar
do Aristides. Seu olho esquerdo quase não abria, ele estava suado, cansado e meio
estropiado, mas ainda assim foi recebido como um verdadeiro herói. Manguaça é
foda!
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