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segunda-feira, agosto 10, 2009

ABZ da Guitarra Elétrica em 10 Lições – Take 7


Zappa, Psicodelismo & Country Rock – Outro nome a ser destacado nos EUA durante os anos 60 seria o do guitarrista/ compositor/ arranjador Francis Vincent Zappa Jr., nascido em Baltimore, Maryland, em 1940. De descendência greco-italiana, Frank Zappa logo mudou-se com a família para Lancaster, uma pequena cidade no deserto de Mojave, na Califórnia. Foi lá que começou a se dedicar à guitarra, entre outros instrumentos.

Suas influências musicais formavam um espectro extremamente amplo, que ia desde canções tradicionais até compositores clássicos modernos, como Edgard Varèse (o seu predileto) e Igor Stravinsky, passando pelo rock’n’roll e os grupos doo wop dos anos 50. Logo formou um grupo chamado The Blackouts, que contava também com os vocais, a gaita e o saxofone de Don Van Vliet, a quem Zappa apelidou de Captain Beefheart.

Aqui é necessário abrir um parêntese para localizar este músico, que com sua caótica fusão de blues, jazz de vanguarda e música clássica contemporânea teve grande repercussão no rock dos anos 70 e 80, influenciando o trabalho de grupos como o Pere Ubu, Contortions, PIL e World Domination Enterprises, entre outros.

Em 1959, Beefheart e Zappa (que abandonara um curso de teoria musical depois de freqüentá-lo por apenas seis meses) seguiram para a cidade de Cucamonga, na Califórnia, onde formaram uma banda chamada The Soots e fizeram um filme (que permaneceu inacabado), Captain Beefheart Meets the Grunt People, entre outras atividades durante os cinco anos que passaram por lá.

Depois Zappa seguiu para Los Angeles e Beefheart voltou para Lancaster, onde fez a sua Magic Band, que em sua formação original contava com os guitarristas Alex St. Claire Snuffy e Ry Cooder (que também se tornou um virtuose em sua técnica sincopada de tocar slide guitar, banjo e mandolim e que teria participação incisiva em trabalhos dos Stones e Little Feat, entre outros, além de se lançar em renomada carreira solo durante os anos 70).

Posteriormente, também fariam parte da Magic Band guitarristas como Jeff Cotton e Eliot Ingber (após sair do Mothers of Invention, de Zappa), sob os pseudônimos de Antennae Jimmy Semens e Winged Eel Fingerling, respectivamente. Beefheart voltaria a gravar com Zappa somente em 1975, no LP Bongo Fury.

De seu lado, em Los Angeles Frank Zappa se juntou aos Soul Giants, grupo formado por Ray Collins nos vocais, Roy Estrada no baixo, Jimmy Carl Black na bateria e Dave Coronada no sax, logo substituído pela segunda guitarra de Eliot Ingber. Logo o grupo seria rebatizado como Mothers, que foi se tornando conhecido no circuito underground por sua musicalidade anárquica e humor corrosivo.


O nome Mothers foi acrescido de of Invention quando assinaram contrato com o selo Verve, por remeter diretamente ao termo pornográfico motherfucker. No início de 1966, eles lançam Freak Out, o primeiro álbum duplo da história do rock. Um trabalho conceitual, repleto de colagens sonoras e diálogos entre as faixas, onde os Mothers demoliam não só as instituições tradicionais da vida americana como também o próprio desbunde hippie emergente.

Esta linha satírica acompanharia os Mothers - e em especial a personalidade de Zappa - durante toda a carreira de seu band leader, não só como instrumentista, mas também como arranjador, enveredando pelos mais diversos estilos, além de produtor (Trout Mask Replica, de Captain Beefheart and The Magic Band, Pretties for You e Easy Action, de Alice Cooper, e Good Singin’ Good Playn’, do Grand Funk Railroad, entre outros, além de ter produzi do em 1981 um concerto de seu mestre Edgard Varèse, em Nova York) e proprietário de selos (Straight, Bizarre e depois Barking Pumpkin).

Seus álbuns nunca seguiram um esquema predeterminado, transitando entre a música orquestral e a paródia deslavada (Lumpy Gravy e We’re Only in it For the Money, ambos de 1967), entre o rock dos anos 50 e os arranjos complexos (Cruisin’ with Ruben and the Jets, de 1968, e Weasels Ripped My Flesh e Burnt Weeny Sandwich, ambos de 1970), num ecletismo musical que se consolidaria durante a década seguinte - a partir de seu disco solo Hot Rats (1970), numa linha próxima ao jazz rock, mas que não abdicava da sátira em momento algum.

Mas foi em seu lado musical - a outra face do anárquico gozador - que Zappa sempre fez questão de estar em constante renovação, fazendo dos Mothers of Invention (do qual alterou o nome para Grandmothers durante os anos 80) um celeiro de grandes músicos e revelando o aperfeiçoamento de sua incrível perícia como instrumentista: rápido e preciso nos solos, de uma imensa criatividade no uso de efeitos e pedais, dono de um perfeito senso rítmico.

Apesar de todas essas qualidades enquanto guitarrista, o bom e velho Frank, num típico arroubo zappiano, abandonou a guitarra nos últimos tempos, passando a se dedicar à programação e ao desenvolvimento de orquestrações com samplers. O velho e bom Frank - contrariando o título de um de seus álbuns de 1981 - não calou a boca e não tocou sua guitarra.

Mas, nos desvarios da Califórnia psicodélica, novas perspectivas se abriam para a sonoridade da guitarra dentro dos grupos que se alinhavam ao flower power, a começar dos dois principais: o Grateful Dead e o Jefferson Airplane, ambos formados na alucinada San Francisco em 1965. No primeiro tínhamos os longos e lisérgicos solos de Jerry Garcia, embalando as viagens das crianças com flores no cabelo; no outro, o duo de guitarras formado por Jorma Kaukonen e Paul Kantner, que se servia abundantemente da distorção e outros efeitos para criar as mágicas atmosferas que faziam as delícias dos hippies da Frisco psicodélica.



Esses dois grupos também perseveraram durante a década seguinte, com o Dead seguindo por um rumo mais próximo ao country rock paralelamente à carreira solo de Garcia e o Airplane renascendo sob o nome de Jefferson Starship, com a permanência de Paul Kantner (pois Kaukonem saiu para integrar o Hot Tuna) e a revelação de outro grande guitarrista: o inglês (apesar do nome) Craig Chaquico.

Mas os ecos do tipo de tratamento dado às guitarras por esses grupos nos anos dourados do flower power não tardaram a se refletir no outro lado do Atlântico, gerando a cena underground da Swinging London, tão lisérgica e efervescente quanto a da Califórnia. Porém lá mesmo, na cidade de Los Angeles, logo surgiam também novos representantes do som psicodélico na guitarra, com Brian McLean e John Echols, do Love, e Randy California e Jay Ferguson, do Spirit.

O meio musical de Los Angeles também já tinha reunido dois grupos que tiveram um papel essencial no desenvolvimento do chamado country rock: o Byrds e o Bufallo Springfield.



O Byrds - formado em 1964 - apresentava as guitarras de Roger McGuinn (que tornou célebre a sua Rickenbacker de doze cordas) e David Crosby, em harmonias trabalhadas que fundiam a energia do rock com as melodias da música country. Já o Bufallo Springfield - criado dois anos depois - apresentava uma massa sonora ainda mais poderosa, conduzida por três guitarras: a de Richie Furay, a do canadense Neil Young e a do texano Stephen Stills.

Os dois últimos, junto a Crosby, dos Byrds, e o inglês Graham Nash fariam posteriormente o Crosby, Stills, Nash & Young, um dos maiores baluartes do country rock, que tinha como princípio um alto grau de elaboração musical tanto instrumental quanto vocal.

Nos anos 70, o quarteto partiu para as carreiras-solo, com freqüente colaboração mútua nesses trabalhos, que valorizaram o estilo plangente de Young e as linhas complexas de vocal/ instrumental dos discos de Crosby e Stills. Por outro lado, os riffs simples e diretos de John Fogerty fizeram do Creedence Clearwater Revival uma das bandas mais bem-sucedidas nessa vertente.

Em uma linha mais ligada ao blues despontaram em L.A. guitarristas como Robbie Krieger, dos Doors, e o duo formado por Henry Vestine e Alan Wilson (que morreu de overdose em 1970) no Canned Heat.


A guitarra de Krieger possui um approach mais sintético e delicado do blues (talvez por soar limpa, junto aos teclados de Ray Manzarek) e freqüentemente extrapolava este estilo musical para se aventurar em um campo mais experimental (um bom exemplo disso é seu trabalho climático na canção “The End”, que encerra o primeiro álbum do grupo).

Já Vestine e Wilson desenvolviam um tipo de música mais próximo das raízes do blues elétrico, com notória influência dos bluesmen das escolas de Chicago e Detroit (o grupo chegou até a gravar um álbum duplo junto a John Lee Hooker – Hooker’n’Heat –, em 1970, onde o legendário Boogie Man se apresentava solo e acompanhado do grupo de Alan Wilson, que logo depois viria a falecer).

Mas o blues também estava presente em San Francisco, com um tempero muito especial. Lá surgia a Santana Blues Band, nascida no distrito latino da cidade sob a batuta do guitarrista mexicano Carlos Santana. O grupo causou grande impacto já nas primeiras apresentações, com sua combinação de blues e rock com a música latina, embasada por uma potente cozinha percussiva.


Em 1968 se apresentavam pela primeira vez no Fillmore West, apenas como Santana, com um sucesso arrasador. A dose seria repetida no ano seguinte no festival de Woodstock, onde foram uma das atrações mais aclamadas com apoteótica “Soul Sacrifice”. Em seguida o grupo gravou seu LP de estréia, de estrondosa repercussão (foi por duas vezes disco de platina).

Mas seu estilo exuberante, aliado à excepcional seção rítmica, foi aos poucos se aproximando do jazz rock durante anos 70, época em que Santana mergulhou numa fase de profundo misticismo e adotou a filosofia do guru Sry Chinmoy, por influência de John “Mahavishnu” McLaughlin (chegando até a acrescentar o epíteto de “Devapid” ao seu nome).

Foi quando gravaram um disco juntos - Love, Devotion, Surrender (1973) -, com Santana tocando em um estilo que se aproximava bem mais do de McLaughlin do que de suas antigas raízes latinas. Gradativamente, ele foi retomando aos ritmos dançantes no fim dos anos 70, mas sem a energia vital de sua fase inicial. Entretanto, o alvorecer dos mesmos anos 70 nos reservariam mais um sem-número de surpresas.

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