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segunda-feira, agosto 10, 2009

ABZ da Guitarra Elétrica em 10 Lições – Take 1


Os primeiros ancestrais do violão, e depois da guitarra elétrica, datam de mais de três milênios e sua evolução através dos tempos manteve o mesmo princípio básico de execução - cordas percutidas sobre uma caixa de ressonância e esticadas por cravelhas (chaves para regular a tensão das cordas) na extremidade de um braço de madeira, no qual as notas eram definidas pela pressão dos dedos entre os trastes (pequenas tiras metálicas dispostas em sentido transversal ao braço).

Com registros nas culturas persa, egípcia e greco-romana, os antecessores do instrumento foram introduzidos na Espanha pelos árabes e depois difundidos sob diversas formas por toda a Europa Ocidental durante a Idade Média, praticamente assumindo seus contornos definitivos por volta do século 16.

Mais de dois séculos se passaram até a guitarra acústica, ou violão, ser acrescida com a sexta corda, o Mi (bordão) - pois até então só possuía cinco (Mi, Si, Sol, Ré, Lá) -, e seu uso ser disseminado também pelas Américas.

Porém, foi a partir da segunda metade do século 19 que o violão se consolidou enquanto instrumento: por um lado, tornando-se respeitável com a técnica de execução criada pelo músico espanhol Francisco Tárrega, que possibilitou virtuoses tanto no violão clássico (Fernando Sor, Miguel Llobet, Andrés Segovia) quanto na guitarra flamenca (Paco el de Lucena, Javier Molina, Ramón Montoya), por outro, popularizando-se cada vez mais devido a sua eficiência e praticidade, além da expansão da produção de uma vasta gama de tipos do instrumento.

Por volta de 1920, o violão já era extremamente popular nos EUA, especialmente entre os músicos negros que tocavam o blues e as bandas e combos de jazz, onde desempenhava um papel eminentemente rítmico.

O problema para estes instrumentistas era como fazer-se ouvir, fosse cantando e tocando sozinho frente a uma turba barulhenta num bar, fosse acompanhando com sua tímida sonoridade grupos nos quais invariavelmente predominavam os metais.

A rudimentar amplificação por microfones existente na época não conseguia melhorar esta situação. Foi então que um violonista texano chamado George D. Beauchamp começou a ter idéias sobre como fazer seu instrumento soar mais alto.


Primeiro adaptou a corneta de um fonógrafo ao tampo de seu violão, com resultados satisfatórios, e em seguida concebeu um modelo com um diafragma de alto-falante colocado dentro da caixa de ressonância, assim amplificando as vibrações mecânicas das cordas do instrumento.

A invenção de Beauchamp foi um sucesso e logo ele começou a pensar em amplificar a própria freqüência de vibrações das cordas. Foi então que, a partir de um sem-número de experiências, chegou à criação do captador magnético.

Basicamente constituído de um ímã enrolado por finos fios de cobre, o captador tem o seu campo magnético alterado pelas vibrações das cordas do instrumento, o que induz uma corrente elétrica na bobina de cobre. Este sinal, após passar pelos potenciômetros (que servem para acentuar ou diminuir o volume e as freqüências graves e agudas do sinal), chega finalmente ao amplificador.

Porém, o protótipo desenvolvido por Beauchamp diferia muito dos captadores conhecidos atualmente, sendo composto por dois grandes magnetos em forma de ferradura, circundando os pólos magnéticos envoltos por uma bobina de cobre. Seria este o captador da primeira guitarra elétrica fabricada pela Ro-Pat-In Corporation, ligada à Electro Strings Instruments, empresa fundada em Los Angeles pelo irrequieto Beauchamp e seu sócio, Adolph Rickenbacker, em 1931.


A “Frigideira” de Rickenbacker – Era uma guitarra havaiana (sem os trastes na escala, na qual a nota é obtida ao se deslizar um cilindro metálico sobre as cordas, em vez de pressioná-las contra o braço), com um corpo redondo e sólido de alumínio, e logo foi apelidada de “frigideira” (frying pan) pelo seu formato esquisito.

Além dela, Rickenbacker e Beauchamp lançaram também uma linha de violões elétricos (Spanish) equipados com captador. Apesar de ambos os instrumentos terem conseguido apenas vendas modestas, eles foram o ponto de partida de uma tecnologia que revolucionaria o meio musical nos próximos cinqüenta anos.


Mas a grande consagração da empresa do nome Rickenbacker - com os Beatles empunhando seus instrumentos nos anos 60 - não chegou a ser compartilhada por nenhum de seus fundadores, pois Beauchamp abandonaria a companhia em 1940 e treze anos depois Adolph a venderia para F.C. Hall, proprietário de uma fábrica de equipamentos para rádio e TV.

Gibson ES-150 – Logo depois que a “frigideira” e o Spanish foram lançados no mercado, uma outra empresa - a Rowe-De Armond Company - começou a produzir captadores em escala industrial, colocando-os à disposição tanto dos fabricantes de instrumentos quanto dos próprios músicos, que os adquiriam como peças avulsas para adaptá-los aos violões.


Foi em 1935 que a Gibson lançou seu modelo ES-150, uma guitarra que tinha praticamente a mesma concepção das que são produzidas atualmente. Além de seu formato inovador para a época, possuía um potente captador acoplado ao tampo por intermédio de parafusos e molas, o que permitia regular a sua distância em relação às cordas.

Este modelo fez com que a guitarra saísse de seu papel de mera acompanhante nas bandas com metais e se aventurasse em vôos solo. É aí que entra em cena a carreira meteórica e genial de um guitarrista que, pelo modo revolucionário com que tocava a sua Gibson ES-150, tornou mais tarde o captador do instrumento conhecido como “Charlie Christian pick-up”

A Influência de Charlie Christian – O primeiro músico a se utilizar da guitarra elétrica foi Eddie Durham - integrante da orquestra de Jimmie Lunceford e ocasionalmente da de Count Basie -, mas coube a Christian forjar uma nova linguagem para o instrumento e colocar um solista no mesmo patamar dos metais.


Nascido no Texas em 1919, ele cresceu em Oklahoma, onde depois de aprender a tocar sax tenor começou a se dedicar à guitarra. Em 1939 foi descoberto pelo produtor John Hammond, que o levou para tocar com o clarinetista Benny Goodman.

E foi no cenário do jazz de Nova York que Christian começou a fascinar tanto o público como os músicos locais, pela sua técnica de solar em legato, em conduções melódicas nas quais as notas musicais estavam tão estritamente ligadas que aproximavam o som da guitarra ao dos instrumentos de sopro e de violino.

Charlie também foi o primeiro a romper os limites das harmonias básicas, enveredando-se no campo das dissonâncias dos acordes intermediários, sem falar de sua criatividade e originalidade, até então inéditas. Mas não foi só junto ao sexteto e à orquestra de Goodman que Christian comprovou seu talento excepcional.

Ele também era figura constante nas legendárias jams do clube Minton’s - junto a músicos do porte de Charlie Parker, Dizzy Gillepsie e Thelonious Monk -, as quais foram o ponto de partida para o bebop, movimento que não chegou a ver florescer devido a sua morte em 1941 - aos 22 anos - por tuberculose. Porém, o curto período em que Christian abriu novos horizontes para a guitarra elétrica valeu por uma eternidade.

Django, Um Capítulo à Parte – Na galeria dos grandes nomes do jazz, com certeza o guitarrista belga Django Reinhardt tem reservado um lugar de honra. Filho de ciganos - a exemplo dos negros dos EUA, uma minoria segregada -, ele passou grande parte da vida vagando pela Europa com sua família.


E foi na melancolia das melodias ciganas que Django foi buscar inspiração para criar um estilo único, que combinava leveza e habilidade em suas composições. Isto o tornou a grande sensação no jazz europeu durante os anos 30.

Na década seguinte, Django eletrificaria seu instrumento e formaria o Hot Club de Frace-Quintet, composto de três guitarras, violino e contrabaixo. E se consagraria também nos EUA, quando em 1946 - a convite de Duke Ellington - fez uma grande excursão por todo o país. Sete anos depois, quando faleceu, Django já era reconhecido como um dos maiores talentos da guitarra, um estilista admirável do jazz.

Um comentário:

weslley disse...

Essa história sobre os primórdios da guitarra vai me render boas con-versas com os amigos,cara valeu mesmo