Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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segunda-feira, agosto 10, 2009
ABZ da Guitarra Elétrica em 10 Lições – Take 4
Rock Around the Guitar – Os guitarristas de rockabilly, egressos do circuito de música country, criaram um estilo peculiar de tocar o rhythm’n’blues, adaptando-o a sua formação musical com uma batida rápida, acordes esparsos e solos e riffs econômicos.
Nesta tradição, um dos primeiros a se destacar foi Scotty Moore, presente na primeira gravação de Elvis Presley pela gravadora Sun, de Memphis. Por sua vivência no meio musical local, Moore empresariou-o durante seis meses, depois continuando na guitarra solo de sua banda durante os anos mais explosivos da carreira de Presley.
Mais tarde, a posição de Moore seria assumida por James Burton, um guitarrista que havia se projetado na banda de apoio de Ricky Nelson - o primeiro ídolo juvenil fabricado pela TV americana - por seus arranjos rockabilly para as canções pop de Nelson.
Também destacaram-se Cliff Gallup, o guitarrista solo dos Blue Caps de Gene “Be-Bop-A-Lula” Vincent e Roy Buchanan, cujo trabalho na Telecaster teve grande repercussão nos anos 70. Mas os mestres desta escola foram certamente Buddy Holly e Eddie Cochran.
Charles Hardin Holly aprendeu a tocar violino, piano e violão ainda na infância, em Lubbock, Texas. Aos dezesseis anos já tinha fama local como cantor de country e, influenciado por Elvis, decide também aderir àquele novo movimento musical.
Paralelamente a sua carreira solo, ele torna-se líder dos Crickets (que também contava com o guitarrista Niki Sullivan), onde empunhava a sua Fender Stratocaster (uma exceção entre a grande maioria dos guitarristas da época, com instrumentos semi-acústicos).
Sua técnica de mão direita - baseada em suas raízes country - constituía-se em tocar um nota grave com o polegar, enquanto se faz soar o acorde com os outros dedos, e teve enorme influência tanto nos EUA quanto na Inglaterra, por onde fez uma excursão consagradora em 1958.
Sua brilhante carreira teve um fim precoce um ano depois, com sua morte trágica num desastre de avião em North Dakota, no qual também foram vítimas os astros Richie Valens e J.P. Richardson (Big Bopper).
Eddie Cochran, que os acompanharia neste vôo, por sorte desistiu por mudanças de datas em sua agenda, mas, por um capricho do destino, também morreu tragicamente pouco mais de um ano depois, num acidente automobilístico a caminho do aeroporto de Londres, ao retornar de uma bem-sucedida excursão pela Europa que fez com Gene Vincent e o astro inglês Billy Fury.
Cochran tinha então 21 anos e, com suas canções antológicas (em grande parte co-assinadas pelo compositor Jerry Capehart) e suas vibrantes performances, estava no auge de sua criatividade artística. Além de exímio guitarrista, ele foi um dos primeiros peritos na utilização de overdub no estúdio (em músicas como “C’mon Everyboby” e “Summertime Blues”, ele fazia todos os vocais e partes de guitarra), e, como Holly, deixou com seu estilo uma herança preciosa.
No fim dos anos 50, mais dois outros guitarristas se destacariam: Link Wray e Duanne Eddy. Wray foi o pioneiro no uso do som distorcido de guitarra ao gravar uma música (“Rumble”, co-composta com o disc-jóquei Milt Grant), com o instrumento plugado em um amplificador cujo alto-falante ele havia perfurado em vários pontos com um lápis.
Wray também chegou a tocar com Ricky Nelson e o pianista Fats Domino e, em 1959, lançou um rockabilly instrumental (“Rawhide”) numa linha similiar à adotada pelo guitarrista nova-iorquino Duanne Eddy no ano anterior (com o hit instrumental “Rebel Rouser”).
Mas Eddy ia mais além, apresentando com sua Gretsch riffs em staccato que produziam um som estridente e metálico característico em suas frases musicais. O estilo de Eddy teve influência marcante no rock instrumental que viriam a praticar grupos como The Ventures e o londrino The Shadows.
Hank B. Marvin, o guitarrista solo dos Shadows, foi um dos primeiros mestres na utilização da alavanca de trêmulo criada por Bigsby, e o som que tirava de sua Fender Stratocaster foi fonte de inspiração para vários músicos ingleses. Além dele também havia Colin Green, o guitarrista da banda de Billy Fury.
Mas o estopim da bomba a explodir chegava com as excursões de astros como Buddy Holly, Eddie Cochrane, Gene Vincent, entre outros, e a incansável voracidade com que a juventude britânica se deliciava com os discos de bluesmen americanos, chegando a Chuck Berry e Bo Diddley. Estes fatores possibilitaram o aparecimento de uma excepcional safra de guitarristas, uma geração que deixou marcas definitivas na história do rock.
Beatles, Stones, Who & Cia. – Foi em uma das excursões que os Beatles fizeram à cidade alemã de Hamburgo durante 1960/61 - ainda com Pete Best na bateria - que John Lennon adquiriu a sua Rickenbacker 325 e logo após George Harrison comprou o modelo 360, de doze cordas (sua favorita, junto a uma Gretsch Chet Atkins). Foi com estes instrumentos que este duo de guitarristas iniciou a alquimia deste fenômeno da música pop.
Enquanto Lennon cuidava da quase totalidade das canções do grupo junto a Paul McCartney, Harrison apenas ocasionalmente tinha suas músicas tocadas pelos Beatles, dedicando-se à experimentação com instrumentos orientais (como a cítara em “Norwegian Wood” e “Within You Without You”, entre outras) e à slide guitar, na qual se tornou um grande estilista no decorrer de sua carreira solo.
A situação de Harrison nos Beatles era bem semelhante à de Brian Jones nos Rolling Stones. Mas Jones, além de não ter nenhum crédito no material composto pelo grupo (todo a cargo de Mick Jagger e Keith Richards), tinha constantes rusgas com Jagger, que sentia sua liderança natural ameaçada pelo carisma do guitarrista.
Isto causou a saída do Jones dos Stones, pouco antes de morrer afogado acidentalmente na piscina de sua casa, em 1969. Ficou seu legado nas gravações que fez com a banda, não só como guitarrista, mas também tocando flauta (“Ruby Tuesday”), dulcimer (“Lady Jane”) e cítara (“Paint It Black”, “19th Nervous Breakdown”).
Porém, foi Keith Richards quem melhor personificou a atitude musical dos Stones e o guitarrista de rock’n’roll por excelência, por sua conduta musical (e extramusical). Seus riffs - no início nitidamente influenciados pelos de Chuck Berry - foram-se tornando cada vez mais criativos, à medida que ele se revelava como um compositor extremamente versátil.
Enquanto guitarrista, sempre preferiu a Gibson (especialmente o modelo Les Paul) e a Fender Telecaster, e passou à posteridade como o introdutor do uso de distorção na guitarra, em 1965, com o famigerado riff de “(I Can’t Get No) Satisfaction”, apesar de John Lennon afirmar que já usara o efeito anteriormente (em “I Feel Fine”).
O fato é que riffs como este e tantos outros (“Street Fighting Man”, “Honky Tonk Women”, “Jumpin’ Jack Flash”, “Brown Sugar”, “Rocks Off”...) foram elementos essenciais para que os Stones conseguissem expandir a vida do grupo por mais de um quarto de século.
Durante este tempo, Richards também foi escudado pelo melodioso Mick Taylor (ex-Bluesbreakers) e depois pelo estilo básico de Ron Wood (ex-Faces) - os “membros oficiais” -, entre outros guitarristas, mas sempre preservou o seu toque “sujo”, que se tornou a assinatura musical dos Stones.
Se, por sua postura desleixada, Richards representava uma espécie de “anti-herói” por livre escolha, o título de primeiro “herói da guitarra” caberia ao narigudo e desengonçado Pete Townshend, que ao subir ao palco com os High Numbers - depois The Who - conseguia expressar toda a raiva e frustração da geração mod em performances arrasadoras com sua Gibson (Les Paul ou SG) e em composições como “My Generation”.
Mas nem só de estraçalhar guitarras e destruir aparelhagens foi construída a fama de Townshend: dono de uma técnica ímpar, ele combinava solos com bases pesadas simultaneamente, além de dar saltos incríveis durante a execução e tocar sua Gibson com movimentos giratórios do braço direito esticado, o que reunia impacto visual ao potente instrumental do Who.
Tudo isto sem falar dos seus experimentos com sintetizadores a partir da década de 70, da sutileza de seus arranjos e, principalmente, de suas memoráveis canções, que fizeram inclusive com que seu nome fosse um dos únicos da velha guarda do rock a ser mantido intacto pela iconoclastia punk.
Mas, no cenário musical inglês do início dos anos 60, surgiram também outros destacáveis guitarristas, como Dave Davies, dos Kinks, Hilton Valentine, dos Animais, e John McLaughlin (que se projetaria no jazz-rock da década seguinte), da Graham Bond Organization.
Porém, o grupo seminal para o desenvolvimento da guitarra elétrica neste período foi o Yardbirds: o denominador comum para três heróis da guitarra, então em início de carreira, que marcariam de maneira incisiva e por caminhos diversos o rock dos próximos vinte anos.
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