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segunda-feira, agosto 10, 2009

ABZ da Guitarra Elétrica em 10 Lições – Take 10


Novos Velhos Caminhos – A alvorada dos anos 80 fez a guitarra se deslocar em duas direções diametralmente opostas. Se por um lado existiam aqueles que queriam romper a tradição harmônica e os limites do instrumento a qualquer custo, por outro havia uma tendência em se valorizar o som limpo e calcado em melodias instrumentais envolventes.

A principal característica desta linha foi seu enfoque atualizado das guitarras do psicodelismo e do country rock dos anos 60, tendo surgido alguns instrumentistas que, a partir dessa retomada, desenvolveram um estilo extremamente pessoal.

É o caso de Johnny Marr (foto), o ex-Smiths que ao abandonar o conjunto foi prontamente requisitado por Bryan Ferry, Keith Richards, Pretenders e Talking Heads, entre outros. Esse prestígio todo foi o resultado de um trabalho delicado de cordas e timbres de guitarra, que praticamente definiu o som dos Smiths como um dos paradigmas musicais dos anos 80.

Outros destaques deste estilo foram o enciclopédico guitarrista Peter Buck (ele sabe de cor a cifragem de um sem-número de standards de rock), que ao lado do cantor Michael Stipe foi uma das molas mestras na ascendente carreira do REM, além de Chris Staney e Peter Holsapple, dos DB’s.

Numa linha ligada mais diretamente ao psicodelismo, Will Sargeant (Echo & the Bunnymen), Bill Duffy (Cult), Lawrence e Maurice Deebank (Felt) e os irmãos Jim e William Reid (Jesus and Mary Chain).

Nem o próprio Prince, o multiinstrumentista aclamado como gênio, conseguiu se livrar inteiramente dos grilhões do passado, posando de Hendrix em plena década de 80, no filme/ disco Purple Rain. Mesmo assim, o garoto prodígio de Minneapolis mostrou que, ao lado de Nile Rodgers (Chic) foi um dos expoentes da guitarra funk dos últimos anos.

E, curiosamente, foi no terreno do blues - onde a tradição importa bem mais do que a busca de novidades - que os anos 80 revelaram seus guitarristas menos inspirados: os apenas medianos Robert Cray e Steve Ray Vaughan.

Mas, se tomarmos o blues enquanto estado de espírito, poderemos constatar uma profundidade inaudita no som dos Bad Seeds de Nick Cave, através dos arranjos descosturados das guitarras de Blixa Bargeld (também do grupo industrial alemão Einstürzende Neubaten) e de Mick Harvey. O mesmo Harvey que - ao lado de Rowland Howard e também de Nick Cave - fez do grupo australiano Birthday Party uma verdadeira usina de ruídos e distorção, a partir de 1980.


O Metal Contra-Ataca – E eis que, quando todos já o julgavam morto e enterrado, o heavy metal ressurgiu das cinzas na década de 80 para levantar o moral dos headbangers. Entre os precursores deste “renascimento” estavam os guitarristas Angus Young (AC/DC), Steve Vai (Zappa, e depois na banda de David Lee Roth) e principalmente Eddie Van Halen (foto), que entre suas inúmeras peripécias no instrumento incluía a técnica do hammer on, solar percutindo as notas com os dedos no braço do instrumento.

Mas o guitarrista mais consagrado desse novo metal ficou sendo o sueco Ingwie Malmsteen. Fanático por música clássica, jazz, rock e, claro, por Hendrix, Beck e outros poucos guitarristas, aos 17 anos Malmsteen montou um grupo chamado Rising Force. Ele enviou uma demo para a revista americana Guitar Player e foi convidado para ir aos EUA por Mike Varney (dono da Schrapnel, gravadora independente especializada em metal), chegando a Los Angeles em 1982.

Em apenas dois anos sua reputação cresceu um bocado e ele já havia participado do Steeler e do Alcatraz quando decidiu remontar sua banda sueca, com os irmãos Jens e Anders Johansson, teclados e bateria, respectivamente. Daí nasceu o Ingwie Malmsteen’s Rising Force, que com quatro LPs gravados deixou patente a incrível perícia e velocidade dos solos desse guitarrista, que, aos 22 anos, já influenciara até mesmo uma “novíssima” geração de metaleiros: guitarristas como Kirk Hammett e James Hetfield (Metallica), Paul Gilbert (Racer X), David T. Chastain (CJSS) e Tony Macalpine.


Outros Sons – No começo dos anos 80 houve diversas tentativas de retirar a guitarra de seu contexto usual. Adrian Belew conseguiu um efeito similar ao de uma alavanca, entortando o braço de sua Stratocaster, além de fazê-la falar como um elefante. O jazzista Stanley Jordan (foto) definiu um estilo peculiar, tocando a guitarra com as duas mãos percutindo as cordas, como se ela fosse um piano. Já Vini Reilly tornou-se um mestre em elaborar tramas musicais de fina tessitura com sua Gibson Les Paul, as quais executava fazendo as partes do baixo simultaneamente com os solos na guitarra.

Porém, foi no estilo No Wave - surgido em Nova York no fim da década de 60 - que a guitarra libertou-se de qualquer preceito harmônico, seguindo uma linha atonal, de puro ruído. Instrumentistas como o pernambucano/ nova-iorquino Arto Lindsay e Fred Firth desenvolveram um estilo de tocar guitarra como se ela fosse um instrumento percussivo, quase sem espaço para as harmonias.

Já Gleen Branca tentou dar um novo enfoque ao som sinfônico, escrevendo peças para uma orquestra de guitarras. Essas experimentações afinal propiciaram o aparecimento de guitarristas adeptos fervorosos do ruído e da dissonância, como Lee Ranaldo, do Sonic Youth, e Keith Dobson, do World Domination Enterprises, entre outros.

E ao nos depararmos com a alta tecnologia, que através da guitarra sintetizada, do inigualável MIDI, dos novos softwares disponíveis no mercado e do ubíquo sampler de terceira geração que passou a reinventar a “frigideira” de Rickenbacker, só nos resta constatar que essa estrada de seis cordas não tem fim. Forever young. Forever rock. Oh, yeaaahhh!

Alguns termos técnicos

Chorus – Pedal que produz um ligeiro vibrato, com o alongamento da nota ou acorde soado.

Delay – Pedal que duplica o sinal, provocando uma defasagem de milésimos de segundo entre os dois sinais obtidos, criando um efeito de eco muito sutil.

Distorcedor – Pedal composto por um gerador que transforma o sinal emitido pelo instrumento, saturando-o antes que seja amplificado. Também é encontrado em modelos mais sofisticados, como booster, driver etc., mas seguindo o mesmo princípio.

Doubler – Pedal que duplica o sinal do instrumento, transmitindo o sinal original por um dos canais e o outro alterado por um segundo. Cria a impressão de dois instrumentos diferentes tocando simultaneamente.

Echo Chamber – Caixa acústica que produz eco por um sistema de alto-falantes rotativos. O mesmo efeito pode ser obtido por meio de dispositivos eletrônicos.

Equalizador – Equipamento utilizado para regular a tonalidade do instrumento, trabalhando nas três faixas de freqüência (altas, médias e baixas), o que torna possível uma mudança total no timbre do instrumento.

Feedback – Efeito pelo qual o próprio sinal amplificado pelo alto-falante faz vibrar as cordas do instrumento, que por sua vez realimentam o sinal amplificado, e assim por diante.

Flanger – Pedal que produz um efeito de eco com um retardamento de milésimos de segundo, criando um efeito semelhante ao do phaser, porém com timbres mais sofisticados.

Fuzz – Tipo específico de distorção caracterizado pelo timbre difuso e ataque potente.

Guitarra Sintetizada – Instrumento equipado com três captadores: dois comuns para alimentar o amplificador e um ligado ao sintetizador, cujo uso é controlado através de chave seletiva. Possui outros acessórios como uma alavanca para a transposição de escalas.

MIDI – Sistema composto por um captador que emite feixes de luz infravermelha através das cordas do instrumento, captando as vibrações e convertendo-as em sinais que viajam a velocidade da luz até um outro aparelho, que pode controlar computadores, sintetizadores e outros instrumentos eletrônicos.

Pedal de Volume – Pedal utilizado para criar efeitos de sustain de notas ou acordes e acentuar o sinal para outros pedais.

Phaser – Pedal que produz um efeito de eco rotativo pela mudança de fase.

Pré-Amplificador – Equipamento ligado entre a saída do instrumento e a entrada do amplificador, reforçando o sinal para o uso eventual de pedais.

Reverber – Equipamento constante em grande parte dos amplificadores. Produz a reverberação da nota ou acorde soado.

Sustain – Efeito pelo qual a nota ou o acorde soa por um tempo prolongado.

Vibrato – O mesmo que tremolo. Equipamento que produz uma pequena vibração no som do instrumento, acentuando a percepção da nota ou acorde soado. Pode ser obtido através da alavanca da guitarra, de dispositivo acoplado ao amplificador ou mesmo pela variação da pressão do dedo sobre a corda.

Wah-Wah – Pedal que acentua as freqüências médias do instrumento, permitindo controlar com os pés a mudança de tonalidade ao pressioná-lo (do grave para o agudo e vice-versa).

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