Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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segunda-feira, agosto 10, 2009
ABZ da Guitarra Elétrica em 10 Lições – Take 2
As técnicas de execução introduzidas por Reinhardt e principalmente por Charlie Christian exploravam a fundo a potencialidade do novo instrumento, tornando-se fonte de inspiração de vários músicos.
Entre os seguidores do estilo de Christian estava o guitarrista Les Paul (Lester Polfus), que além de tocar também pesquisava novos meios de amplificar o som de seu instrumento desde 1934. Sete anos depois, a partir do mesmo princípio usado por Thomas Edison para fazer um violino elétrico, Les Paul daria um novo passo na evolução da guitarra.
Les Paul e a Guitarra Maciça – Fabricado na Epiphone, o primeiro protótipo de guitarra maciça tratava-se de um bloco sólido de madeira com dois captadores de bobinas simples montado na parte interna de um violão. Esta invenção de Les Paul logo levou as outras empresas a criarem seus próprios modelos de guitarra maciça, após a Segunda Guerra Mundial, ampliando bastante o mercado para estes instrumentos.
Mas as pesquisas de Les Paul não se restringiram apenas à guitarra, pois em 1945 construiu seu primeiro estúdio de gravação em Los Angeles - tornando-se pioneiro em novas técnicas, como o overdub (gravação de um som sobre outro) e eco eletrônico, além de ter criado o gravador de oito canais.
A partir de 1952, ele associou-se à Gibson e lançou o modelo de guitarra que leva o seu nome, para quatro anos mais tarde aperfeiçoá-lo com o captador humbucking (com dois conjuntos de bobinas e ímãs), que acentuavam a suavidade do timbre do instrumento ao mesmo tempo que reduziam sensivelmente a interferência de ruídos nos sinais que chegavam ao amplificador. De lá para cá, a Gibson Les Paul faria a fama de inúmeros heróis da guitarra.
A Contribuição de Leo Fender – Mas, desde 1954, outro instrumento viria a se rivalizar com a Gibson Les Paul na preferência de diversos músicos: a guitarra Fender Stratocaster. Em vez dos dois captadores humbucking da primeira, a Stratocaster possuía três simples - agudos, médios e graves -, que podiam ser selecionados individualmente por uma chave, o que lhe proporcionava um som mais estridente e de maior ataque.
Por outro lado, a Les Paul tinha uma escala mais larga e um sustain maior - devido aos captadores duplos e ao braço fixo (colado ao corpo), que possibilitava uma maior vibração das notas, ao contrário da Stratocaster, com o braço preso ao corpo por parafusos. Assim sendo, cada uma delas conseguiu afirmar-se no meio musical por suas características específicas.
E, a exemplo de Les Paul, os experimentos em eletrificação de instrumentos do californiano Leo Fender - o criador da Stratocaster - vinham de longa data. Desde o tempo em que era apenas um técnico de rádio e inventou um captador menor e mais potente do que os usados na época, adaptando-o a uma guitarra semelhante à havaiana, só que com trastes ao longo do braço.
Foi como iniciou sua companhia, que em 1948 - com quatro anos de atividades - já produzia em massa a guitarra maciça Fender Broadcaster (com dois captadores, um para agudos e outro para graves), que logo tornou-se muito procurada entre os músicos country e jazzistas.
Dois anos depois, o nome do instrumento foi mudado para Fender Telecaster, mantendo praticamente as mesmas características durante mais de 30 anos e sendo ainda largamente utilizada hoje em dia.
A Alavanca de Bigsby – Para conceber sua Broadcaster, Leo Fender foi buscar inspiração em uma guitarra maciça feita um ano antes por Paul A. Bigsby, que todavia ficou mais conhecido pela invenção da alavanca de trêmulo que leva o seu nome.
Foi em 1939 que este ex-corredor de motocicleta começou a fabricar suas alavancas na cidade de Downey, na Califórnia. O funcionamento do conjunto era simples: com uma alavanca ligada a uma ou mais molas era possível ao músico regular a tensão das cordas, produzindo vibrações sutis que acentuavam a percepção do ouvinte da nota soada, conseguindo assim um som similar ao obtido ao se variar ligeiramente a posição do dedo que pressiona uma nota no braço sem trastes de um instrumento como o violino ou o celo.
Foi o primeiro efeito a ser incorporado à guitarra e, em 1950, a Gibson já se apressava para introduzir o artefato como parte integrante de alguns de seus modelos, estratégia logo seguida pela Gretsch. Mais tarde, um conjunto mais elaborado seria outro importante recurso à disposição dos usuários da Stratocaster que Leo Fender lançou.
Porém, paralelamente a todo este aprimoramento técnico, também se desenvolvia uma nova relação entre os violonistas/ guitarristas e seus instrumentos com o advento da eletrificação por captadores.
Esta mudança de postura teve conseqüências em todas as correntes musicais vigentes na época, mas influiu de maneira incisiva no blues, a pedra fundamental do rhythm’n’blues e do rock’n’roll, que instaurariam uma nova percepção musical durante os anos 50. Mas, para entender melhor este fenômeno, é melhor voltarmos novamente às raízes.
Os Pioneiros – Muito mais do que uma simples estrutura musical composta de estrofes de doze compassos e três acordes, o blues primitivo já catalisava em suas origens os componentes revolucionários que se cristalizariam com o surgimento do rock’n’roll, convertendo-se em sua mais importante pedra fundamental.
Seu nascimento remonta aos tempos de escravidão no Sul dos EUA, quando os negros trazidos da África para trabalhar nas plantações de algodão - que não tinham quase nenhuma identificação com a cultura branca vigente - começaram a criar seu próprio meio de expressão, tanto no trabalho - com as worksongs e os field hollers, que serviam de meio de comunicação e organização entre eles - como no lazer, com músicas de dança para os raros momentos de entretenimento.
Com o fim da Guerra da Secessão e do trabalho escravo, esta vertente musical coletiva tornou-se individual, reflexo da nova condição social que o negro adquiriu com sua libertação, que pouco aliviou a discriminação que sofria.
Esta nova conjuntura favoreceu o aparecimento de vários cantores/ instrumentistas, que faziam shows nas esquinas, feiras, festas e medicine shows (caravanas constituídas de atrações circenses e musicais) por minguados trocados.
A partir desta forma de apresentação foi gerado um novo estilo musical - baseado numa chamada vocal, a qual correspondia uma resposta do instrumento (geralmente o violão) - e surgiram os primeiros bluesmen.
Levando uma vida essencialmente itinerante, estes músicos logo extrapolaram os limites regionais, expandindo o seu campo de ação à medida que a sonoridade rústica do blues rural ia sendo assimilada por um número cada vez maior de trabalhadores negros que migravam para as grandes cidades, fazendo dos race records - discos gravados por e para negros - um dos mais profícuos filões da recém-criada indústria fonográfica.
Estes pioneiros provinham na maior parte de algumas cidades do Texas e principalmente do delta do Mississippi. Das plagas texanas surgiram nomes como Blind Lemon Jefferson, Leadbelly (que, apesar de ter nascido em Louisiana, foi criado no Texas) e, pouco depois, Lightnin’ Hopkins.
Lemon Jefferson (1897-1930) era cego de nascença e ainda adolescente era figura conhecida nas ruas de Dallas, junto a seu inseparável violão, tanto por sua técnica instrumental baseada em arpejos como por sua voz tonitruante. Mais tarde, ele seria o mentor de um intempestivo rapaz de 18 anos que o acompanhava em suas incursões musicais com um violão de doze cordas.
Este moço chamava-se Huddie Ledbetter (1889-1949), ou Leadbelly - um apelido que ganhou na prisão, onde passou grande parte de sua vida, por crimes diversos -, ou ainda o “rei do violão de doze cordas” - um epíteto que poderia muito bem dividir com seu contemporâneo Blind Willie McTell, outro mestre no instrumento.
Já Sam “Lightning” Hopkins (1912-1982) iniciou-se nos rudimentos do violão com seu irmão Joel, também um bluesman, e tendo como influência principal o violonista Lonnie Johnson (1889-1970) - um músico de New Orleans, de técnica perfeita na combinação de harmonias e solos -, e criou um estilo pessoal, baseado em versos irregulares nas chamadas/respostas entre a voz e o violão.
Por volta de 1920, também acompanhou Blind Lemon Jefferson nas ruas do Texas, onde, durante mais de duas décadas, ganhou a vida se apresentando em botecos, só realizando sua primeira gravação em 1946, tendo sido obrigado a voltar a tocar nas esquinas de Houston para sobreviver durante a década seguinte, para ser “redescoberto” pelo revival de blues e folk do início dos anos 60, apresentando-se em vários eventos e festivais até sofrer um acidente automobilístico, que o obrigou a usar um aparelho corretivo no pescoço, em 1970, reduzindo seu trabalho a aparições esporádicas.
Já a corrente do blues do delta do Mississippi tinha como origem as melhores condições de vida oferecidas pelas plantações desta fértil região, atraindo grande número de trabalhadores, inclusive músicos.
Em 1912, já tocavam por lá Charley Patton e Willie Brown, dois dos principais precursores do estilo do blues do delta, de frases musicais marcantes nas cordas graves do violão se intercalando com riffs agudos, que se contrapunham às frases vocais.
Nesta linha logo despontou também Big Bill Broonzy (1883-1958), que foi um dos primeiros bluesmen a ir para Chicago (por volta de 1920) e a conseguir dar um tom mais urbano ao blues. E ainda havia Walter “Furry” Lewis (1893-1981), um dos pioneiros no uso do bottleneck - cilindro de metal ou de vidro que o músico desliza sobre as cordas do instrumento - e criador de um estilo peculiar de talking blues (onde os versos são quase falados).
Apesar de nascido em Greenwood, Mississippi, ele foi criado em Memphis, onde ainda adolescente já tocava nas ruas. Aos 20 anos perdeu uma perna em um acidente ferroviário e em 1927 seguiu para Chicago, onde realizou algumas gravações, mas depois da Grande Depressão passou a ganhar a vida como gari, só voltando a gravar no fim dos anos 50, quando finalmente começou a ter seu talento reconhecido.
Porém, todos os elementos particulares de todos estes bluesmen do delta pareciam estar sintetizados na música de Robert Johnson (1911-1938), cuja influência foi capital tanto no blues como no rock. Com a vida envolta numa aura de mistério (dizia-se que ele firmara um pacto com Satã), Johnson errava de cidade em cidade com seu violão como companheiro, além do bourbon e das mulheres.
E foi provavelmente envenenado por um marido ciumento que ele acabou morrendo, dois anos depois de ter feito a sua única sessão de gravação (em 1936). Mas o som do seu violão forjou a base da linguagem do blues na guitarra elétrica.
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