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segunda-feira, agosto 10, 2009

ABZ da Guitarra Elétrica em 10 Lições – Take 3


O Blues Elétrico – Coube ao bluesman T-Bone Walker - Aaron Thibeaux Walker (1910-1975) - o pioneirismo na utilização da guitarra elétrica, quando por volta de 1935 começou a testar alguns modelos primitivos, criando um estilo que remetia diretamente ao modo de tocar, usando uma corda em vez de um acorde, de Blind Lemon Jefferson (de quem T-Bone havia sido guia nas ruas de Dallas, quando criança), mas que se tornou precursor de técnicas como a utilização do sustain da guitarra elétrica enquanto efeito e do vibrato produzido por uma leve variação do dedo que pressiona a corda, que influenciaram toda uma geração subseqüente de guitarristas de blues, além de encontrarem eco até nos riffs que viriam a ser detonados por Chuck Berry.

Mas foi só depois da Segunda Guerra Mundial que um contingente cada vez maior de negros do Sul dos EUA migrou para os grandes centros urbanos, fazendo com que uma nova geração de bluesmen deixasse o delta do Mississippi e o Texas em direção às cidades grandes do norte, especialmente Chicago (Howlin’ Wolf, Muddy Waters, Elmore James) e Detroit (John Lee Hooker).

Estes músicos já haviam incorporado a guitarra elétrica ao seu estilo de blues, obtendo inovadoras combinações entre o instrumento e o vocal, além de terem acrescentado a cozinha (o acompanhamento, geralmente feito por baixo e bateria) à maioria de suas composições.

McKinley Morganfield - ou melhor, Muddy Waters - chegou a Chicago em 1943, três anos depois de ter sido descoberto em sua cidade natal - Rolling Fork - no Mississippi, pelos pesquisadores de música folclórica Alan Lomax e John Work.


No fim dos anos 40, ele já havia alcançado sucesso com suas gravações e formado sua própria banda, a partir daí tornando-se um dos bluesmen mais influentes no rock, tanto pela levada pesada e rítmica que imprimia aos seus blues como por sua maneira marota de cantar.



Já Howlin’ Wolf (1910-1976) e Elmore James (1918-1963) foram para Chicago no início dos anos 50. O primeiro - cujo nome verdadeiro era Chester Arthur Burnett - havia estudado com Charley Patton e tocava nas ruas do Mississippi desde os dez anos de idade, adotando a guitarra elétrica no fim da década de 40, quando foi para Memphis e formou sua primeira banda. O outro já havia tocado com o legendário Robert Johnson, e seu estilo na técnica de slide guitar (executada com o uso do bottleneck) foi de influência incisiva na transposição desta linguagem para o rock feita por inúmeros guitarristas. Posteriormente, iriam surgir outros estilistas da escola de Chicago, como Buddy Guy e Otis Rush.

Outra legenda do blues que se fixou em Detroit em 1943 foi John Lee Hooker. Nascido em 1917, em Clarksdale, Mississippi, ele aprendeu a tocar guitarra com seu padrasto Willian Moore, com quem se apresentava. Viajando pelos EUA durante a década de 30, ele desenvolveu um estilo extremamente pessoal de ritmo na guitarra em seus blues compostos em um acorde, além de se acompanhar também batendo os pés sobre uma tábua.


Apesar de logo ter se tornado uma sensação do circuito de blues de Detroit, Hooker só começou a gravar no fim dos anos 40, continuando a lançar discos durante a década seguinte - freqüentemente sob pseudônimos como Birmingham Sam, Boogie Man, Delta John, John Lee Cooker, entre outros - para se consagrar tanto nos EUA como na Europa a partir dos anos 60, através de excursões e gravações, sozinho ou junto a várias bandas de rock.

Além de Chicago e Detroit, outra cidade na qual havia um efervescente cenário de blues era Memphis, no Tennessee. Foi lá que surgiu B.B. King, outro grande estilista do blues elétrico. Ridley B. King nasceu em Indianola, Mississippi, em 1925, e tocava nas esquinas de sua cidade natal na adolescência. Em 1949, chegou a Memphis com o intuito de se profissionalizar como músico, indo morar com seu primo, o também bluesman Bukka White.


Após um rápido período como disc-jóquei numa rádio local - na qual adquiriu o apelido de B.B., forma reduzida de Blues Boy -, King alcança o sucesso já com uma de suas primeiras gravações, dando início a uma incansável carreira que celebrizou sua técnica refinada de vibrato e “puxadas” nas cordas de Lucille - o apelido carinhoso de sua Gibson semi-acústica - e que introduziu no blues uma suavidade de timbre que reportava diretamente ao universo do jazz.

A guitarra de B.B. King poderia se situar em um ponto de tangência entre a esfera do blues elétrico e uma outra muito mais abrangente em termos de música negra, que havia surgido no pós-guerra.

A Geléia Geral do R&B – Sob o título genérico de rhythm’n’blues, foram então englobados os mais diversos tipos de manifestações musicais de raízes negras, como big bands de swing, combos de jazz, intérpretes de blues e grupos vocais, que, com o mercado criado pela proliferação de gravadoras independentes no fim dos anos 40, encontrou espaço para sua expansão, evoluindo tanto no sentido de modernização de suas origens afro (soul) como na sua assimilação por músicos brancos (rock’n’roll).


Foi neste amplo aspecto sonoro que se situaram guitarristas ligados ao jazz (Tiny Grimes, Oscar Moore, Barney Kessel) e ao blues (Guitar Slim, Albert King, Freddie King), com um destaque maior a seus instrumentos. Mas mesmo nos arranjos que privilegiavam os vocais e/ou metais, a guitarra estava freqüentemente presente nas mãos de sessionmen - músicos de estúdio - como Jimmy Lewis, Billy Mure, George Barns e Wesley Jackson, entre outros.

Neste contexto foi que o instrumento tornou-se uma eminência parda essencial no rhythm’n’blues durante os anos 50, possibilitando o aparecimento de guitarristas que também eram produtores e às vezes até compositores das canções gravadas - como era o caso de Ike Turner (também saxofonista, que fez sucesso com sua mulher Tina na década seguinte) e de Steve Cropper (co-autor de várias músicas de Otis Redding e Wilson Pickett, entre outros) - e no final dos anos 60 revelaria verdadeiros artífices da guitarra-ritmo, como Cornell Dupree e Bobby Womack.

Porém, onde a guitarra passou a ser considerada mais do que um instrumento musical - um complemento mítico para extravasar toda a rebeldia reprimida pelas normas sociais - foi no rock’n’roll. E, nos meados dos anos 50, começaram a despontar os primeiros astros deste movimento, que tomando como base o blues e o rhythm’n’blues somados ao country branco abriram outras perspectivas para a guitarra elétrica.


A Veia Negra de Berry & Diddley – Chuck Berry - com seus riffs tocados em duas cordas e rápidas mudanças de acordes em sua Gibson ES-355 - foi talvez o mais influente destes novos estilistas da guitarra.

Suas canções transformaram-se em clássicos do rock’n’roll e, aliadas a sua postura cênica (com o famoso duckwalk) e ao seu modo de vida marginal (repleto de problemas com a justiça e prisões), fizeram do seu nome um dos ícones desta corrente musical.

Seu rumo ao estrelato iniciou-se em 1955, quando saiu de St. Louis para Chicago, onde através de Muddy Waters foi apresentado a Leonard Chess - um dos proprietários da gravadora Chess -, que ficou impressionado com a energia das canções de Berry. Já suas primeiras gravações logo tornaram-se hits, numa carreira vertiginosa bruscamente interrompida, em 1959, por uma acusação de sedução de uma menor.

Depois de um primeiro julgamento anulado, foi considerado culpado no segundo, permanecendo na prisão até 1964, ironicamente a época que os Beatles e os Stones prestavam tributo a Berry gravando versões de suas canções. Mas pouco depois de lançá-lo, Leonard Chess contrataria um outro guitarrista que se tornaria antológico (e que chegou até a participar de várias gravações de Berry): Bo Diddley.

Nascido Ellas Bates McDaniels, em McComb, Mississippi, mudou-se ainda criança com a família para Chicago, onde começou a aprender violino. Logo o trocou pela guitarra e pelo boxe (onde ganhou o apelido de bo diddley, uma guitarra africana de uma corda).


Foi a primeira destas paixões que prevaleceu e Diddley desenvolveu em sua Gretsch de corpo retangular um estilo que explorava todas as gamas rítmicas que o instrumento podia oferecer, consolidando-se em uma batida seca e sincopada que tornou-se marca registrada de suas composições. Assim ele criou, durante a segunda metade dos anos 50, uma avassaladora coleção de canções que mereceram incontáveis versões, através de três décadas de rock.

E a exemplo de Berry, deixou uma inestimável contribuição sonora na linguagem daquela música eminentemente negra, mas que já começava a ser assimilada pelos músicos brancos também...

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