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sexta-feira, agosto 28, 2009

Parece que foi ontem...


César Abu, Jaques Castro e esse vosso escriba

No último sábado, meu brother Jaques Castro completou 55 anos bem curtidos. No cardápio, uma suculenta feijoada brasileira preparada no capricho pela quituteira Ângela Castro. Pro pessoal da diretoria – todos apreciadores da gastronomia de caça –, ensopado de tatu canastra, veado-mateiro assado na folha de bananeira e queixada (“porco do mato”) ao molho de vodka, todos preparados pelo chef Nelson Beruri. Não deu pra quem quis.

Entre os velhos amigos que prestigiaram o evento estavam Marcão, Menandro, Eliana Feijó, Renan Freitas Pinto, Stones Machado, Dermilson Chagas, Mestre Pinheiro, César Abu, Gigio Bandeira, Laerte Aguiar, Zé Guedes, Mario Dantas, Áureo Petita, Simas Pessoa, Miltinho, Cachito, Paulo Sérgio, Elesbão, Jurandir e Toinho. A banda Raio da Silibrina garantiu o alto astral do fuzuê, com seu repertório calcado no mais legítimo forró pé de serra nordestino.

Lá pelas tantas, depois de sete garrafas de cachaça de cabeça (tira gosto preferencial: caju e careta!), cinco garrafas de Red Label e umas sete grades de cerveja, bateu uma nostalgia disgramada e o aniversariante começou a se lembrar do tempo em que éramos todos jovens.


Zé Guedes, Stones Machado, eu e Jaques Castro

Filho do saudoso comerciante Humberto Castro, um dos mais poderosos ticoons de Cruzeiro do Sul (AC), Jaques era um playboy das antigas, que adorava destruir carros do ano em “pegas” alucinados e se aproveitar das donzelas incautas da cidade. Seu pai resolveu dar-lhe um corretivo e o despachou para Manaus. Ele foi trabalhar comigo e Engels Medeiros no Controle de Qualidade da Sharp do Brasil.

O papel do Jaques era pilotar um carrinho hidráulico de mão e levar os produtos (chassis da Fiação, chassis da Revisão Elétrica, chassis da Calibragem e aparelhos do Acabamento) para a gente analisar em busca de possíveis defeitos de fabricação. Essa tarefa era feita a cada uma hora, das 7 da manhã às 17h.

Como a gente apenas indicava o aparelho que queria analisar e cabia ao Jaques a tarefa de recolhê-lo (às vezes, ele precisava retirar 60 chassis de um lote até encontrar o escolhido e depois recolocar os 59 chassis de volta no lugar), os chefes de setores começaram a desconfiar que o aloprado acreano estava danificando os produtos.

Com uma semana na empresa, Jaques Castro já era o cara mais odiado pela produção, das montadoras aos chefes de setores. Só não foi demitido porque a gente tinha a última palavra e ele, realmente, era um trabalhador incapaz de se queixar dos xingamentos sofridos e das tentativas de agressão (que não foram poucas). Pra conhecer detalhes dessa história, clique aqui.

Depois de alguns meses, Jaques fez amizade com o César Abu, responsável por pilotar a jurássica máquina de telex da empresa e gerenciar uma das máquinas de xérox do setor administrativo, e os dois acabaram dividindo um “apartamento” no bairro da Glória. Por sugestão deles, algum tempo depois também acabei me incorporando à “república”, que, aliás, já possuía dois outros inquilinos.

O “apartamento” não passava de um ridículo quarto-e-sala, localizado em cima do forno de uma padaria, na Rua do Matadouro, no bairro da Glória, o que garantia uma temperatura ambiente constante em torno dos 35 graus, mesmo em dias de dilúvio.

Além de nós três, moravam no pardieiro o Ruy Johnny Mathis, funcionário da FUA, e “seo” Manoel Vicente, um comerciante português de 70 anos. Como o português passava a noite administrando um boteco nas imediações da igreja da Glória, a gente só se encontrava nos finais de semana.


Sharp do Brasil: do lado esquerdo, a fábrica de televisores. Do lado direito, o almoxarifado e o setor administrativo

Estávamos em 1975. Na época, a Sharp do Brasil era a maior empresa de produtos eletroeletrônicos do Distrito Industrial, com cerca de 5 mil funcionários distribuídos em quatro plantas: fábrica de calculadoras, fábrica de aparelhos de som, fábrica de televisores e almoxarifado central, onde ficavam, também, os setores administrativos e os departamentos auxiliares de produção.

Dos 5 mil funcionários, 4.500 eram mulheres. Dos 500 machos, 400 eram operários. Os demais eram técnicos eletrônicos (uns 50), pessoal administrativo (uns 30) e chefias e gerentes (uns 20). Em termos de precedência hierárquica para abater lebres, nós, os técnicos eletrônicos, só estávamos abaixo das chefias e gerentes. Quer dizer, era que nem pescar em bilha.

O ritual era quase sempre o mesmo. Por volta das 4h da tarde da última sexta-feira do mês, o Chefe de CQ da Sharp do Brasil, o engenheiro egípcio Ali Ahmed, nos chamava em sua sala, nos entregava um envelope pardo e a gente assinava uma folha de pagamento. Dentro do envelope, em dinheiro vivo, os rendimentos mensais de cada um com a descrição detalhada de créditos e débitos.

No dia de pagamento, invariavelmente, nós três saíamos da fábrica diretamente para um supermercado da Casas do Óleo (o saudoso “CO”) e enchíamos três carrinhos de compras: o primeiro apenas com garrafas de destilados (uísque, gim, vodka, cachaça, pisco, rum, etc), o segundo, apenas com garrafas de fermentados (cerveja, catuaba, vinho Raposa, sidra, etc) e o último, apenas com latas (salsichas, almôndegas, sardinha, azeitona, etc). Era esse o nosso cardápio básico.

Por volta das 8h da noite, as fêmeas – nunca menos de seis e nunca repetidas – começavam a chegar ao apartamento. Birita vai, papo vem, César Abu atacava de DJ e as mais saidinhas começavam a dançar entre elas. Daí a pouco, um de nós entrava na roda. Mais meia hora de birita e o quarto se transformava em uma ruidosa muvuca.

Em virtude da temperatura ambiente, a gente normalmente ficava em casa sem camisa e trajando apenas aqueles imensos calções de futebol sem nada embaixo (cueca era coisa de viado!). Pra incrementar a “boate”, alguém começava a apagar e acender a única lâmpada do quarto. Os intervalos entre “claro” e “escuro” iam aumentando. De repente, sem nenhuma combinação prévia, a gente aproveitava um dos intervalos da escuridão para se livrar dos calções, mas continuávamos dançando.

Quando a luz era acesa de novo, havia duas situações: ou as meninas se assustavam com aquela aparição intempestiva dos “bráulios”, davam um grito horrorizado e saíam correndo pelas escadas (a gente morava no segundo andar) ou aproveitavam a deixa pra também se livrarem de suas roupas – o que quase sempre acontecia. E a noite estava apenas começando.


Simas, César, Jaques, Gigio e eu. Lá atrás, de camiseta preta, Laerte Aguiar jogando canastra.

Pra recordar aqueles tempos heróicos (parece que foi ontem), eis a música favorita do DJ César Abu, de preferência na voz da Thelma Houston:

Don’t leave me this way
(Não me deixe desse jeito)

I can’t survive, I can’t stay alive
(Eu não posso sobreviver, eu não posso continuar viva)

Without you love, oh baby
(Sem o seu amor, oh baby)

Don’t leave me this way
(Não me deixe desse jeito)

I can’t exist, I will surely miss
(Eu não posso existir, eu certamente vou sentir falta)

Your tender kiss
(Dos seus beijos suaves)

So don’t leave me this way
(Então não me deixe desse jeito)

Oh baby, my heart is full of love and desire for you
(Oh, baby, meu coração está cheio de amor e de desejo por você)

So come on down and do what you’ve got to do
(Então fique esperto e faça o que você tem que fazer)

You started this fire down in my soul
(Você começou esse incêndio em minha alma)

Now can’t you see it’s burning, out of control
(E agora você não pode ver que está pegando fogo, fora de controle...)

So come down and satisfy the need in me
(Então fique esperto e satisfaça essa minha necessidade)

Cos only your good loving can set me free
(Porque só o seu bom amor pode me libertar)

Don’t leave me this way
(Não me deixe assim)

I don’t understand how I’m at your command
(Eu não entendo como estou à sua disposição)

So baby please don’t leave me this way
(Então, baby, por favor, não me deixe assim)

Don’t leave me this way
(Não me deixe desse jeito)

Cos I can't exist
(Porque eu não posso existir)

I will surely miss
(Eu com certeza vou sentir falta)

Your tender kiss
(Dos seus beijos suaves)

So don’t leave me this way
(Então não me deixe desse jeito)

Oh baby, my heart is full of love and desire for you...
(Oh, baby, meu coração está cheio de amor e de desejo por você)

Don’t leave me this way
(Não me deixe assim)

I can’t survive, I can’t stay alive
(Eu não posso sobreviver, eu não posso continuar viva)

Without you love, oh baby
(sem o seu amor, oh baby)

Don’t leave me this way
(Não me deixe assim)

I can’t exist, I will surely miss
(Eu não posso existir, eu com certeza vou sentir falta)

Your tender kiss
(Dos seus beijos suaves)

So don’t leave me this way
(Então não me deixe assim)

Oh baby, my heart is full of love and desire for you...
(Oh, baby, meu coração está cheio de amor e de desejo por você)

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