Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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terça-feira, outubro 28, 2008
Editoras relançam a poesia e o pensamento de Ana C.
Roberta Pennafort (AE)
Depois da morte de Ana Cristina Cesar, há 25 anos, sua poesia e seus pensamentos vêm sendo relançados pelas editoras Ática e Aeroplano, em parceria com o Instituto Moreira Salles (IMS), detentor de seu acervo. É uma forma de fazer com que a poeta, que é considerada ícone da chamada poesia marginal dos anos 70, chegue às novas gerações de leitores, diz o poeta Armando Freitas Filho, seu amigo e admirador.
Hoje, ele e outros que conviveram com ela se reúnem no IMS do Rio para lembrar sua obra e sua (breve) vida (Ana C. se suicidou em 29 de outubro de 1983, quatro meses depois de completar 31 anos, jogando-se pela janela do apartamento dos pais). Para as 19h30, está programada uma conversa em torno da poeta, entre Freitas Filho, Clara Alvim e Viviana Bosi. Clara, professora dela no curso de Letras na PUC do Rio, foi quem a "descobriu", no início da década de 70; Viviana é professora do Departamento de Teoria Literária da Faculdade de Letras da USP e organizou "Antigos e soltos", livro que será lançado na ocasião.
A publicação, bem alentada, reproduz, em fac-símile, quase todo o conteúdo da chamada "pasta rosa" de Ana C., encontrada por sua família alguns anos após sua morte, dentro de uma mala de roupas. São textos que ela guardou por muitos anos, sem destiná-los à publicação, e que dizem muito sobre sua personalidade - estão divididos em sete categorias, entre elas, "prontos mas rejeitados", "inacabados", "primeiras versões" e "o livro".
Vão desde redações que escreveu na época de escola, com elogios da professora, a textos de pouco antes do suicídio, passando por anotações em guardanapos e papeizinhos, lembretes para si mesma, manuscritos diversos, poemas reescritos duas ou três vezes, frases soltas - algumas, arrepiantes, como esta: "Estaria eu à beira de me acometer no infinito?"
Todo o material, em parte, textos bem acabados (além de muitos rabiscos), foi catalogado por Manoela Daudt de Oliveira. Freitas Filho, que já organizou os livros póstumos de Ana C. "Inéditos e dispersos" (1985) - cujo conteúdo foi extraído também de papéis deixados por ela, mas que estavam fora da pasta - "Escritos da Inglaterra" (1988), "Escritos no Rio" (1993) e "Correspondência incompleta" (1999), este com Heloisa Buarque de Hollanda (a propósito, a primeira a publicar apoeta, incluída por ela na antologia 26 "Poetas hoje", de 1976), considerou que era hora de deixar a obra à luz de "um novo olhar".
"Achei importante que uma geração mais nova entrasse em contato com esse material vivo e inédito de Ana", diz Freitas Filho, que a conheceu em 73, por intermédio de Clara e Heloisa, se tornou seu amigo íntimo e foi a última pessoa a falar com ela antes de sua "morte espetacularmente trágica" - um assunto sobre o qual ele não se sente à vontade para falar. O acervo com os originais da autora de "A teus pés", que tem Freitas Filho como curador, foi doado ao IMS por sua família. É, hoje, o mais consultado do centro cultural do Rio, segundo Liliana Giusti Serra, coordenadora das bibliotecas do instituto. O que mostra que, passados 25 anos de seu desaparecimento, ela segue despertando paixões. A maior parte dos que procuram é estudante.
"O modo como ela lida com a escrita leva em conta quem está lendo. Parece que ela está falando com você, então instiga o leitor", aponta Freitas Filho. "É como se ela estivesse entreabrindo a porta para a gente. Por outro lado, isso não é nunca explicitado; é preciso fazer um esforço interpretativo", diz Viviana, que, durante suas aulas sobre poesia dos anos 60 e 70, percebe entre seus alunos um interesse todo especial por Ana C. "A poesia dela tem humor, mistério, imagens originais."
A homenagem vai deixar de lado as circunstâncias da morte da poeta. "Quando começaram a aparecer estudos sobre Ana C., a morbidez do acontecimento biográfico era muito presente. Hoje, as pessoas que não viveram a época dela estão mais isentas disso. Já eu não posso nunca dizer que estou isento, porque a morte dela faz parte da minha vida", diz Freitas Filho, engajado na divulgação da obra da amiga.
Ana C. nasceu em 1952 e morou no Rio, em Niterói e no exterior. Ficou conhecida pela poesia confessional, tendo sido projetada por "A teus pés", lançado em 82. Além de escrever seus poemas, atuou como tradutora (verteu para o português Sylvia Plath e Emily Dickinson), publicou em jornais e trabalhou na televisão.
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