Pesquisar este blog

terça-feira, outubro 28, 2008

Os macacos do Ártico precisam descongelar


Zeca Miranda

Lembra de "Cinema Paradiso"? Quem gostou do filme, possivelmente, já teve o sonho de ser, pelo menos por um dia, projecionista como o personagem do velho carrancudo da história. Graças à internet, esse sonho pode se tornar possível. É mais ou menos esta a idéia do site MovieMobz: tornar cada um num programador. Trata-se de uma comunidade virtual que dispõe de mais de uma centena de títulos, onde o internauta escolhe o que deseja assistir e mobiliza os amigos.

Caso reúna um grande número de pessoas, é só escolher a sala de cinema mais perto de casa. O site possui convênio com 159 salas, em 18 cidades do Brasil. Já se você não viu "Cinema Paradiso", aconselho a se cadastrar no site e tentar mobilizar os amigos para uma sessão dessa obra obrigatória para apreciadores da sétima arte.

Foi numa dessas sessões mobilizadas que o Cine Odeon recebeu 500 jovens para a exibição "Arctic Monkeys at the Apollo", no último dia 14. A próxima exibição acontecerá simultaneamente hoje, às 21h, nos cinemas de São Paulo, Porto Alegre, Florianópolis, Vitória, Brasília, Belém, Natal, Campinas, Jundiaí, Santos, São Vicente, Taubaté, Fortaleza, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia, Belo Horizonte, Recife e novamente no Rio (Cinemark Downtown, sala 4), além de salas de exibição na Alemanha, Holanda e Japão.

O filme-concerto é o registro do último show da turnê do segundo disco da banda, "Favourite worst nightmare", na famosa casa de Manchester, na Inglaterra. A turnê é a mesma que passou pelo Brasil durante o TIM Festival do ano passado. Por meio desse registro é possível perceber que não foi um infortúnio do público brasileiro a apresentação fria e distante da banda na sua passagem pelo País. Para quem conferiu os shows aqui, o filme é a captação perfeita do que foi visto, ou seja do que eles são no palco.

Mesmo com todos os hits presentes ("I bet you look good on the dance floor", "When the sun goes down", "Fluorescent adolescent'", "A certain romance" - a melhor da banda) e os músicos sendo diretos no palco - sem grandes efeitos - falta alguma coisa para o quarteto liderado pelo talentoso vocalista e guitarrista Alex Turner empolgar. As guitarras basicamente distorcidas e as batidas aceleradas não são suficientes.

Nesse sentido, dois fatores chamaram atenção. A primeira foi que durante a sessão do Odeon, alguns fãs mais fervorosos até tentavam embalar junto com a banda, porém logo arrefeciam - parte disso também é por causa do som ruim da sala. A segundo é em relação ao próprio filme. Em nenhum momento, o diretor Richard Ayoade coloca uma câmera na platéia, tampouco insere trechos da audiência, que só aparece de fundo em alguns takes da banda. Isso dá uma sensação ainda mais gélida à apresentação dos garotos ingleses.

Eles até tentam transpor alguma energia durante o show, tocando com força e emendando as músicas sem muita conversa com o público. Por[em, nem assim conseguem arrancar. A impressão que passa é de que o Arctic Monkeys tem um carro potente na mão, mas não consegue completar a corrida. Talvez agora, que eles estão sendo produzidos por Josh Homme, líder do Queens of Stone Age, o cara que melhor soube traduzir o rock para o século XXI, não consigam imprimir o vigor que falta ao seu som.

Já o registro como filme em si - além do problema já citado da falta do público - não passa de uma captura competente e bem feita de um show. Richard Ayoade não procura inovar em nenhum momento - bem como o som da banda. No máximo, ele insere cenas íntimas da banda fora do palco, capturadas em super 8 pelos próprio integrantes. Na última canção, "If were there, beware", Richard sobrepõe algumas imagens numa rotação mais lenta, para depois voltar à velocidade normal proporcionando um (re)encontro de som e imagem.

"Arctic Monkeys at the Apollo" continuará deixando os fãs da banda, geralmente jovens, alucinados. Já o resto do público permanecerá se perguntando se os macacos do ártico valem a pena.

Nenhum comentário: