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terça-feira, outubro 21, 2008

Kanye West volta mais pop e menos rap


Lígia Nogueira, do G1, em São Paulo

Nem parece um disco de rap: "808s & heartbreak", álbum ainda inédito do norte-americano Kanye West, tem mais instrumentos tocados no lugar dos samples, melodias e vocais cantados, repletos de vocoders. As faixas têm uma atmosfera melancólica, as batidas estão mais secas e tribais. As novas músicas foram mostradas pelo artista pessoalmente a um grupo de jornalistas na tarde desta segunda (20) em um hotel em São Paulo, onde acaba de chegar como atração principal do Tim Festival. Ele apresenta a turnê "Glow in the dark" nesta quarta (22) na capital paulista e sexta (24) no Rio de Janeiro.

Usando óculos escuros e um agasalho de moletom com a estampa de um colorido sorvete de casquinha, o rapper chegou todo simpático, pedindo desculpas pela demora. "Não imaginei que pegaríamos tanto trânsito", argumentou, plugando seu aparelho celular no equipamento de som, enquanto pedia que não tirassem fotos suas. Mas a experiência não seria completa se as luzes ficassem acesas - depois de alguns testes, foi no escuro e em alto volume que ele apresentou suas mais frescas criações.

Para surpresa de quem esperava um MC arrogante, Kanye não só havia sugerido a audição, segundo disse à reportagem a assessoria de imprensa da gravadora Universal, mas também abriu seu coração: "Qual dessas músicas vocês acham que deve abrir o disco?", perguntou. "Viemos discutindo sobre isso no avião." "Nunca faço muitas músicas para escolher as melhores, prefiro trabalhar dez ou doze faixas mais detalhadamente", contou.

E por falar em coração, imagem que ilustra a capa do primeiro single do quarto trabalho do rapper e produtor, "Love lockdown", a primeira impressão indica que Kanye West está mais sentimental. O segundo single, aliás, ganhou o título de "Heartless", e não foi difícil identificar outras letras que falassem sobre sentimentos.

Kanye não revelou os nomes de outras faixas, e acrescentou que "ainda serão feitos pequenos ajustes nas canções". Mas, tendo em vista as 11 músicas que compõem o trabalho do produtor, é possível notar diferenças significativas em relação aos álbuns anteriores – "Graduation" (2007), "Late registration" (2005) e "The college dropout" (2004).

A principal delas é que Kanye, mais do que nunca, assume seu lado cantor em detrimento da faceta de MC. Se os efeitos de vocoders estão ainda mais evidentes, são proporcionais à presença dos sintetizadores e de um certo clima oitentista que permeia as músicas, cortesia de uma bateria eletrônica Roland TR-808 utilizada na maior parte do processo.

O resultado é uma abordagem mais pop que ainda conserva o flerte com o rock e a música eletrônica dos discos anteriores. O lado orgânico fica por conta de pianos e violinos que podem ser percebidos aqui e ali, entre efeitos espaciais e outros ruídos. Mas não espere a malícia de uma "Gold digger". A viagem de Kanye, desta vez, soa introspectiva e até triste.

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