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segunda-feira, dezembro 01, 2008

O pensamento muito vivo do rei da pop art








Antonio Gonçalves Filho (AE)

SÃO PAULO - O livro já começa com uma conversa telefônica maluca entre Andy Warhol (1928-1987) e uma enigmática pessoa simplesmente chamada de B., a quem pede conselhos e faz confidências do tipo "minha grande ambição é comandar um show de televisão". B. responde que é uma ambição chinfrim, que o rei da pop art (ou "rainha") deveria pensar alto, algo assim como ser presidente dos EUA e receber seus convidados cada dia com uma peruca diferente.

Ia ser igualzinho como na Factory, estúdio de Warhol, mas "tudo à prova de bala", garante a voz do outro lado da linha - menção ao atentado de Valerie Solanas em 1968, que o feriu com um tiro. Quase seduzido pela idéia de ser presidente, Warhol prova que falava sério ao se definir como uma pessoa "profundamente superficial". Duvida? Então, o livro "A filosofia de Andy Warhol" (Editora Cobogó, tradução de José Rubens Siqueira, 272 págs., R$ 43) talvez desfaça suas dúvidas a respeito da principal figura do movimento de arte pop norte-americana, que teria completado 80 anos este ano, não fosse uma operação de vesícula há 21 anos.

O livro, best-seller no original, estranhamente só agora ganha a sua tradução brasileira. Publicado em 1975, seus verdadeiros autores são a secretária do pintor, Pat Hackett, e o ex-editor da revista "Interview" Bob Colacello, que depois escreveria horrores sobre Warhol no livro "Holy terror" (1990).

Bizarro

Colacello o define como "um fofoqueiro milionário, espertíssimo nos negócios, que fingia não estar nem aí com o que se passava ao redor". A secretária Pat Hackett, antes dele, publicou "Diários de Andy Warhol" (LP& M, 1989, 799 págs.). Neles, antecipou a observação de Colacello sobre a vocação mundana do ex-patrão. Nem precisava. Dois filmes produzidos por Andy Warhol e agora distribuídos em DVD pelo selo Magnus Opus - "A revolta das mulheres" (1971) e "Flesh for Frankenstein" (1973), ambos dirigidos por Paul Morrissey - comprovam seu gosto pelo bizarro e sua inclinação para o escândalo.

Andy Warhol já era um grande empresário quando o livro "A filosofia de Andy Warhol" foi publicado nos EUA, em 1975. Um ano antes, assinara um contrato com o editor Harcourt Brace Jovanovich para publicar este e mais outro título, uma biografia da atriz Paulette Goddard, "Her", que não concluiu.

Para se certificar de que seus aforismos filosóficos teriam boa acolhida junto à mídia, Warhol fez um tour por nove cidades americanas, seguido por uma temporada européia destinada a promover o livro na Itália, França e Inglaterra. Tudo para atestar que a obra, sim, era sua, e não de sua secretária Pat Hackett, do ex-editor da "Interview" ou da amiga Brigid Berlin, com a qual gravou a maior parte dos depoimentos do livro, uma mistura de memorialismo, fofocas e guia de auto-ajuda para corações desesperados.

Avareza e paranóia

Warhol, um deprimido, resistia à entropia fazendo do livro um compêndio de citações irônicas - e freqüentemente depreciativas - sobre o amor, sexo, trabalho, morte, fama e economia. O fato de envolver tanta gente em suas produções não era sinônimo de generosidade, mas de avareza. Colacello conta, em "Holy terror", que, ao concluir cada capítulo, entregava-o a Warhol, que imediatamente telefonava para Brigid Berlin (a B. do livro), gravando sua reação e enviando a fita para que a secretária Pat Hacklett a transcrevesse e desse o retoque final.

Assim, ninguém poderia reclamar direitos autorais. Paranóico, desconfiava de todos. Ele mesmo trata de explicar a origem de sua esquizofrenia logo no primeiro capítulo. No fim dos anos 1950, sentiu que atraía para si os problemas das pessoas que conhecia e procurou ajuda psiquiátrica. Tivera três colapsos nervosos quando criança e os ataques - conhecidos como "dança-de-são vito" - sempre começavam nas férias de verão, quando não tinha nada a fazer além de ouvir rádio e deitar na cama com sua boneca.

Manter-se ocupado foi a fórmula que encontrou para resistir à entropia, forjando sua estabilidade pessoal em cima de uma estratégia: a de provocar atrito entre seus colaboradores. O relato biográfico mostra que Warhol também se sentiu usado pelos outros desde os 18 anos, quando dividiu com 17 pessoas um apartamento de subsolo.

Nenhuma trocou confidências com ele. Só quando comprou seu primeiro aparelho de TV parou de se preocupar em manter relações próximas com outras pessoas. Dizia ter um caso com ela e só a traiu quando descobriu o gravador, mais confiável que as estrelas da subcultura pop que freqüentavam a Factory. "As pessoas têm muitos problemas com o amor, sempre procurando alguém para ser a Via Veneto delas".

Um comentário:

Unknown disse...

Olá Simão! sou Fernando, filho do seu amigo Chico Fera. fazendo uma pesquisa acabei encontrando esse teu blog. Vou começar a acompanha-lo todos os dias. Muito engraçada a foto daqueles quadro do cu. (rsrs) tenho certeza que meu pai não se aguentaria de tanto rir...

abraços.