Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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domingo, junho 07, 2009
Amigos são para sempre. Se não são é porque não eram.
Na semana passada, via e-mail, recebi o seguinte recado do jornalista Raul Christiano Sanchez, de Santos (SP), esse simpático cidadão aí de cima:
Caro Simão,
Uma viagem pelo google e encontrei o seu comentário. Como vc ignorava o meu paradeiro, receba este sinal de vida! abs. Raul.
Após eu ter respondido o e-mail, ele mandou outro recado:
Simão,
Foi uma alegria enorme “reencontrá-lo”, mesmo que virtualmente. Rafael continua em Santos. Picaré não existe mais, ficou na nossa lembrança. O único resistente daquela época é o poeta Valdir Alvarenga, que edita uma revista chamada “Mirante”, que em tese sucedeu o Grupo Picaré. Mande também o seu endereço que vou enviar meus últimos livros. abs. Raul.
Pausa para os comerciais.
Descobri o endereço do grupo Picaré, de Santos, que tinha como pontas de lança os poetas Raul Christiano Sanchez e Rafael Marques Ferreira, por intermédio da coluna “Notícias do Poetariado”, publicada pelo poeta Ulisses Tavares no saudoso jornal LeiaLivros, e começamos a trocar correspondência.
Em 1981, os grupos Picaré e Sanguinovo (de São Paulo), em companhia de mais uma porrada de poetas (Touchê, Nano, Ulisses Tavares, Aristides Klafke, Álvaro Cardoso, Réca Poletti, etc) fizeram uma passeata literária pelas ruas de Santos, que culminou com um recital coletivo na porta do Parque Balneário Center, na Praia do Gonzaga.
No ano seguinte, Raul Christiano publicou o livro “A produção independente na literatura (catálogo para o movimento)”, que se tornou a minha bíblia. Além de alguns textos teóricos, Raul listava uma centena de endereços de poetas, grupos poéticos e editoras alternativas. Comecei a trocar livros com a maioria deles.
Quando descobria um novo poeta que não estava listado, eu acrescentava nome e endereço no livro do Raul, escrito de próprio punho. E também marcava com um círculo os poetas que mais me agradavam, que seriam transformados em interlocutores preferenciais.
Em poucos anos, a minha coleção de livros da “geração marginal” já passava de 3 mil exemplares. E quase a custo zero: bastava ter paciência para postar livretos pelo correio, coisa que eu fazia todo santo sábado com uma disciplina de monge trapista.
O diabo é que a cada mudança de casa – por conta de separações conjugais ou novos envolvimentos amorosos –, uma parte dos livros ficava pelo meio do caminho. E as mudanças foram muitas...
Dos poetas de São Paulo, eu só conheci pessoalmente a Marise Pacheco, do grupo Sanguinovo, durante uma bebedeira homérica no Arte Espaço Pombal, dos brothers Alberto Penkauska e Luiz Vitali, com direito a recitais poéticos e cigarros do índio (que fumei, mas não traguei). Ela tinha vindo a Manaus para lançar seu clássico livro “Cutuca, meu bem, cutuca”. O ano? Acho que 1984.
De qualquer forma, foi um imenso prazer voltar a ter contato com o Raul Christiano, mesmo que virtualmente. Como no final de julho eu devo estar no congresso da Força Sindical, em Praia Grande, ali pertinho de Santos, é bem possível que eu dê uma esticada até lá, para lhe dar um abraço.
Curtam um dos textos dele publicado na bíblia já citada antes. E aproveitem também para conhecer seu excelente blog.
A teoria na práxis é outra
Raul Christiano Sanchez
Estamos nos aproximando da metade do segundo ano da década de oitenta, e a produção independente nas artes mostra novos sentidos.
Passados os momentos de desespero, numa outra fase da consciência cultural brasileira, outros instantes de penúria nos impelem à busca de caminhos alternativos.
Torna-se, então, imprescindível ressaltar a influência do regime político, de 1964 em diante, nos destinos da criação artística de nosso país, cujos reflexos transbordaram após o Tropicalismo.
Dando um salto na própria história, notamos que os anos setenta, por exemplo, foram os pontos básicos do desvio artístico para outras paragens.
Começamos a observar o rechaçamento do convencionalismo, do institucionalizado, e daquilo “que pode e que não pode”.
Uma das conseqüências dessa reação foi o aumento desmedido da produção, sem que os artistas se voltassem para uma análise qualitativa dessa obra.
Todos esses fatores deixaram claro que alguma coisa estava acontecendo neste país. Por outro lado, a proliferação dos espaços alternativos, pelos artistas vulneráveis aos rótulos de “geração disso, geração daquilo”, foi uma realidade.
Para alguns, modismo. Diríamos, “boom”. Enfim, a arte não estagnara. Um outro pique tomava conta dos passos dessas artistas, estimulando-os a um compromisso com a arte, libertos de qualquer outra função.
Editores e gravadores deixaram de ser os sustentáculos para a veiculação da criatividade brasileira.
Adiantamo-nos um pouco nestes anos oitenta. Estamos vivendo uma outra fase: a filtração da quantidade excessiva do produto. O afunilamento desse boom. Desses partos imediatos.
Com isso, o marginal, independente, underground, alternativo, ou coisa que o valha, denota que, na práxis, a criação quebrou os rigores e escancarou-se.
Nessa prática de fugir aos esquemas considerados comuns de se aumentar o circuito de difusão da criatividade tupiniquim, poetas, contistas e músicos deixaram e estão deixando suas impressões – em suporte de papel ou de acetato – rodopiando livros e discos nessa feira de mil ofertas.
A badalada passeata literária pelas ruas de Santos
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