Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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sexta-feira, fevereiro 24, 2012
Caramuri, a bola da Copa
O projeto “Caramuri – a bola da Copa” continua dando muitos panos pra manga.
Ontem, no finalzinho da tarde, eu, Mestre Pinheiro, Edu do Banjo, Duduzinho do Samba e Beto Mafra fomos convocados pela TV Amazonas (leia-se rede Globo) para uma entrevista com o repórter Rafael e uma apresentação ao vivo da marchinha de sustentação da campanha.
O local escolhido para a lambança foi o imponente Salão dos Espelhos do Atlético Rio Negro Clube, ainda ricamente ornamentado por conta do último baile de carnaval.
Adolescente, tentei inutilmente furar o esquema de segurança do clube barriga-preta para entrar no carnaval sem pagar e nunca consegui.
Dessa vez, entrei pela porta da frente e fui recebido pelo presidente do clube.
Te mete!
A matéria deve ir ao ar no Globo Esportes desse sábado, se não chover.
Durante a entrevista, o Rafael me perguntou se eu já conhecia a fruta caramuri.
Ilustrei minha resposta com um resumo desse causo político abaixo, que teve como testemunha ocular o advogado Sergio Litaiff.
Junho de 1986.
Candidato a deputado federal, Carrel Benevides, que era vereador em Manaus, resolve garimpar votos no município de Parintins e embarca para lá, com uma comitiva de peso: Luiz Carlos Brandão, Messody Sabbá, Sérgio Litaiff e o ex-prefeito de Presidente Figueiredo, jornalista Mário Jorge.
A missão da comitiva era conquistar o apoio de uma matriarca do clã dos Assayag, a superbacana Pérola Assayag, na época responsável em Parintins pelo escritório da Taba (Transportes Aéreos da Bacia Amazônica).
Ao atingir o espaço aéreo da ilha de Tupinambarana, o pequeno bimotor que levava a comitiva do vereador começa a fazer uma série de voos rasantes, o que incluía descidas em parafusos, voos cegos e arremates de ponta-cabeça.
Os insulares, claro, ganham as ruas, não apenas para apreciar as acrobacias aéreas, mas, principalmente, para torcer secretamente por um erro do piloto, o que faria o bimotor se esborrachar no chão.
É voz corrente na ilha dos bumbás que o verdadeiro parintinense detesta pavulagem, principalmente durante o período eleitoral.
Depois de 15 minutos de acrobacias nos céus de Parintins, finalmente o bimotor pousa na pista do aeroporto local, sob os aplausos de milhares de pessoas.
Feliz da vida, o vereador Carrel Benevides desce do avião acenando para os milhares de eleitores em potencial, que acorreram ao local em busca do piloto-suicida.
Depois de distribuir autógrafos, como se fosse um cantor de rock, Carrel sobe na traseira de uma picape e inicia uma apoteótica carreata pelas ruas da cidade.
Sérgio Litaiff, Mário Jorge e Luiz Carlos Brandão, também aboletados na traseira da picape, providenciam uma queima de morteiros digna de uma milícia taleban.
Depois de azucrinarem a população com o estampido de dez mil tiros de morteiros naquela pachorrenta manhã de domingo, a comitiva para na frente da casa de dona Pérola Assayag.
Sem saber do que se tratava, ela, hospitaleira como sempre, pede pra turma entrar e serve limonada, refrigerante, cafezinho, bolo de milho, pudim de leite e tapioquinhas no coco.
Quando Carrel se apresenta e discorre sobre suas reais intenções, dona Pérola é de uma sinceridade genuinamente parintintim.
Limpando as mãos no avental imaculadamente branco, ela mira o vereador nos olhos e dispara um exocet de médio alcance:
– O senhor é caramuri!
Carrel Benevides entende “caramuru” e fica todo pimpão.
Caramuru, como todo mundo sabe, foi o apelido que os tupinambás da Bahia puseram no português Diogo Álvares – náufrago que teria atingido as costas baianas em 1510 – depois de ele ter dado uns tiros de bacamarte pra cima para assustar os nativos e que significa “filho do trovão”.
Os dez mil tiros de morteiros haviam servido para alguma coisa.
Com o ego mais inflado do que nunca, o vereador resolve mostrar que foi um bom aluno de História do Brasil:
– Obrigado pela comparação elogiosa, dona Pérola, mas o nome correto não é caramuri, é caramuru...
Aí foi a vez de dona Pérola chutar o pau da barraca:
– Não, meu filho, o nome certo é caramuri. Esse é o nome de uma frutinha que só dá aqui de quatro em quatro anos, igualzinho a um bocado de políticos...
O papo mixou na mesma hora.
Dez minutos depois, Carrel abandonava a ilha, sem fogos de morteiros ou aplausos apoteóticos, mas bastante injuriado com a história do caramuri.
Mesmo assim se elegeu deputado federal constituinte, atropelando na reta final um candidato-anta chamado Antar.
Mas isso é uma outra história.
NOTA DO EDITOR DO MOCÓ
Neste sábado, a partir das 18h, a marchinha Caramuri vai disputar a grande final do concurso de marchinhas do Manaus Plaza (ex-TVLândia Mall). Apareçam por lá para nos dar uma força.
Mas isso é outra história.
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