Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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sexta-feira, fevereiro 10, 2012
Recordando o inesquecível Wilson Fernandes
O DJ Simas Careca Selvagem e o empresário Wilson Fernandes durante o meu cinquentenário, em 2006
Quando conheci o Wilson Fernandes, em 1967, ele dividia uma banca de verduras na feira com um sócio, Jones Alves Rodrigues (aka “Nego”), e já era o crioulo mais estiloso do bairro.
Ele foi o primeiro sujeito da turma a usar os fantásticos macacões coloridos da Levi’s (vermelho-ferrugem, fundo branco com listrinhas azuis, rosa-choque, amarelo-limão) numa época em que o máximo da rebeldia era usar os macacões Lee de cor azul ou preta.
Rindo o tempo todo, conversando pelos cotovelos e prestativo a vida inteira, o Simona foi uma das personalidades que mais marcou a minha adolescência.
Seu jeito bonachão, sua humildade contagiante, seu caráter sem jaça e seu vistoso futebol (era um ponta-de-lança de respeito) são uma das melhores lembranças que tenho daquela época.
No começo de 1971, o Riba convenceu o feirante Clóvis Rodrigues a me contratar, junto com o Paulo César Dó, para auxiliá-lo nas vendas de sua banca de verduras, nas tardes de sábado.
A concorrência da molecada mais nova havia inviabilizado nosso negócio, meu e do Mário Adolfo, de vender gibis na feira, de forma que ambos estávamos “desempregados”.
Nessa época, Wilson Fernandes havia encerrado sua parceria com Nego, que agora tinha sua própria banca, e estava trabalhando com seu irmão caçula Kebler Luiz.
Casamento de Wilson Fernandes e Arlete, com os padrinhos do noivo, F. Cavalcante e Julia, e os padrinhos da noiva, José Teixeira e Luzia de Castro Neves
Aí, um dia, ele chamou eu e Mário Adolfo para ajudá-lo na banca.
Como eu já tinha uma pequena experiência na banca do seu Clóvis, me transformei em vendedor.
O Mário Adolfo ficou com a tarefa de marqueteiro.
Ele desenhava cartazes coloridos ressaltando as vantagens das verduras de nossa banca e ficava na frente da banca, como uma espécie de menestrel, improvisando versos e convidando os fregueses a visitarem o nosso mocó.
A estratégia deu certo.
As outras bancas ficavam às moscas, enquanto a nossa colocava gente pelo ladrão.
Aniversário de primeiro ano da Kelly Cristina, a caçula da família. A filha mais velha do casal, a fofucha Robelle, é essa gracinha de cara enfezada no centro da foto
Hoje pode soar meio romântico e engraçado, mas na época não era.
O trabalho, diga-se de passagem, era uma pedreira.
A gente se apresentava no campo de batalha por volta das 9h da manhã e ajudava a montar a banca, descarregar as verduras e legumes, colocar os preços (com giz) nas tabuletas de compensado.
Depois, ia pegar água para “aguar” as verduras.
A gente ia almoçar em casa e, por volta das 13h, voltava à feira para efetivamente pegar no batente.
O grosso da venda ocorria entre 15 e 19h.
Era preciso ter muita agilidade mental para atender um freguês e segurar no papo outros três, que poderiam ir muito bem comprar as verduras em outra banca.
Nesse aspecto, a verborragia do Mário Adolfo era fundamental.
Estava na cara que, mais cedo ou mais tarde, ele ia se transformar em compositor.
Na hora do pega-pra-capar, o próprio Mário Adolfo atendia algum freguês, mas depois me pedia para fazer a conta sob o argumento calhorda de que não era bom de matemática.
Por volta das 10h da noite, já quase transformados em zumbis, a gente ajudava a desmontar o circo e colocar as poucas verduras restantes dentro de uma Kombi do Simona.
Além do bom cachê que a gente recebia, ainda levávamos pra casa um puta sortimento de verduras e legumes.
Trabalhamos dois anos na feira.
Foi um duro, mas interessante, aprendizado.
Em 1973, eu comecei a trabalhar na Sharp e o Mário Adolfo, na Federação das Indústrias.
O Wilson Fernandes ficou triste em perder dois excelentes funcionários, mas apoiou nossa decisão com uma frase que a mim soou como uma espécie de vaticínio:
– Vão lá, meus irmãos, vão lá e que Deus lhes abençoe porque a Cachoeirinha ainda vai ouvir falar muito de vocês dois, Simão Pessoa e Mário Adolfo!
Nesses anos todos, temos feito o possível para não decepcionar o saudoso Simona.
Noblesse oblige.
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