Conheci o advogado Juzeuter Ferro, o “Ferrinho”, no final
dos anos 60, quando ambos ainda adolescentes e com o rosto coberto de espinhas
estudávamos no Colégio Batista Ida Nelson, em Adrianópolis.
Ferrinho morava em um sítio verdejante repleto de árvores
frutíferas, cuja antiga trilha de acesso deu origem à Av. Paraíba.
Minha família também possuía um sítio nas imediações da Av.
Paraíba, de forma que nossos pais (meus e dele) eram amigos há várias décadas e
costumavam frequentar os respectivos sítios para tomar café feito em fogão à
lenha e jogar conversa fora.
Ferrinho mora no mesmo lugar até hoje.
Em fevereiro de 1984, quando a Chapa Puxirum assumiu o
controle do Sindicato dos Metalúrgicos, levei Ferrinho para trabalhar lá como
advogado trabalhista e ele permaneceu na entidade até a minha renúncia do cargo
de vice-presidente do sindicato, em dezembro de 1985.
Ainda hoje nos vemos de vez em quando e posso afirmar que Ferrinho
é uma das pessoas mais íntegras, corajosas e honestas que já conheci ao longo
da vida.
Tenho muito orgulho de ser seu amigo.
No início dos anos 90, chegou a Manaus um baiano de Feira de
Santana chamado Renê Terra Nova, que foi ser pastor da Igreja Batista Memorial,
localizada na rua São Luiz, em Adrianópolis, nas imediações da antiga sede do
Nacional.
Ferrinho era da terceira geração de frequentadores da
igreja.
O pastor Renê Terra Nova tinha uma conversa bonita sobre
riqueza e prosperidade:
– O reino da prosperidade é um reino diferente. Nesse reino,
não é qualquer pessoa que entra. No reino do rico ou do pobre, qualquer pessoa
entra por uma questão casual, de trabalho, essas coisas. Mas no reino da
prosperidade, só entra quem cumpre princípios – advertia o pastor. “A herança
humana é uma dádiva humana, fruto de trabalho. Mas a prosperidade é uma resposta
divina. Todas as pessoas que entram em prosperidade nunca decrescem, sempre são
acrescentadas. As pessoas que entram em prosperidade cumprem o princípio de
Mateus 6:33: ‘Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a Sua Justiça, e
todas as outras coisas vos serão acrescentadas.’ Prosperidade financeira, meus
irmãos, é um favor divino!”
O lengalenga todo, na verdade, não passava de dissimulação
filosófica de um nefelibata ganancioso: o pastor estava interessado mesmo era
na multiplicação do dízimo para aumentar o capital financeiro da igreja, capital
esse que ele próprio administrava.
A grana do dízimo, entretanto, não aumentava na velocidade
desejada pelo pastor.
Os fiéis contribuíam apenas com o suficiente para a
manutenção da igreja.
Há quase 100 anos que era assim.
Uns seis meses depois, durante um sermão, Terra Nova avisou
que havia tido uma revelação divina:
– O Senhor Deus me apareceu em sonho e me disse para fechar
essa igreja e abrir uma igreja maior, que agregue uma quantidade maior de
fiéis, porque precisamos crescer cada vez mais e instituir o reino da prosperidade
em uma Nova Jerusalém...
– O seeeenhor não vai feeeeechar essa igreeeeja nem pelo
caralhoooooo, pastor! – reagiu Ferrinho, que costuma escandir as vogais de
algumas palavras para dar mais ênfase nas suas vociferações. “Essa igreja já
foi frequentaaaada pelos meus avôs e pelos meus pais. Hoje, está sendo
frequentaaada por mim e pelos meus filhos. Amanhã, eu quero que ela seja
frequentaaada pelos meus netos e pelos meus bisnetos. Essa é uma igreja batista
seeeeecular, que tem como foco as pessoooooas mais humildes, portanto, não admiiiiito
que o senhor queira destruiiiiir esse patrimônio histórico do povo de Deeeeeus
por conta de sua fixação argentáááária!”
A maioria dos fiéis concordou com Ferrinho.
Puto da vida, o baiano abandonou a Igreja Batista Memorial, reuniu
meia dúzia de financistas interessados em ficar “podres de ricos”, alugou as
instalações do antigo Cinema Dois, na Av. Joaquim Nabuco, no centro da cidade,
intitulou-se Apóstolo e fundou a Primeira Igreja Batista da Restauração em
Manaus (PIBREM), voltada exclusivamente para as classes sociais de maior poder
aquisitivo.
Assim que começaram a ficar “podres de ricos” (com os cada
vez mais abundantes dízimos dos incautos, é bom frisar), os próprios
financistas que bancaram o empreendimento começaram a espalhar as boas novas.
Na verdade, o que Renê Terra Nova fez foi dar uma nova
roupagem para uma antiga prática da igreja católica, que deu origem ao cisma
protestante: a venda de indulgências.
Assim, qualquer milionário com dor de consciência poderia
dar para a igreja uma contribuição financeira do tamanho dos seus pecados que
seria “restaurado”, isto é, seria abençoado e estaria apto a entrar no reino de
Deus – sem passar pelo constrangimento de ver primeiro um camelo passando pelo
buraco de uma agulha...
Em pouco tempo, a Igreja da Restauração se transformou na
igreja preferencial dos novos ricos e hoje ostenta um luxuoso templo de
proporções gigantescas na área nobre da Ponta Negra.
Um dos poucos milagres da igreja foi transformar Renê Terra
Nova de um remediado pastor em um dos homens mais ricos do país, com dezenas de
igrejas espalhadas pelo Brasil e pelo exterior.
Há três anos, Ferrinho foi descontar um cheque em uma das
agências Itaú.
Era por volta das 14h de uma sexta-feira, um dia quente,
abafado, daqueles dias manauaras tipicamente de calor senegalês, com os
cronômetros marcando 42ºC à sombra – se existisse sombra.
Ao perceber a imensa fila única dentro do banco, Ferrinho
soltou seu vozeirão de barítono:
– Meus amigos, vocês me perdoem, por favor, mas eu vou fuuuuurar
a fila porque preciso trocar esse cheeeeque imediatamente para tomar uma Braaaahma
estupidamente gelaaaada!
Enquanto se dirigia diretamente ao caixa, Ferrinho ia se
explicando para os presentes:
– Tem muita gente que fura a fila mentindo que precisa ir ao
médico, que deixou crianças sozinhas em casa, que precisa tirar o pai da
forca... Eu, não! Eu falo a verdaaaade! Eu preciso de dinheiro para tomar uma Braaahma
estupidamente gelaaaada porque esse calor está de laaaascar...
Como ninguém fez qualquer objeção, Ferrinho trocou o cheque
na boca do caixa, na maior cara dura.
Quando se dirigia para a porta de saída, ainda conferindo as
merrecas, foi interpelado por um sujeito que aguardava na fila.
Era o pastor Renê Terra Nova.
– Irmão Juzeuter, eu percebi que o senhor está muito aflito,
muito inquieto, muito agitado! – anunciou o pastor. “Apareça lá na minha igreja, que nós estamos dando bençãos e operando milagres...”
Juzeuter parou diante do pastor e, enquanto guardava as
merrecas no bolso do paletó, soltou mais uma vez seu vozeirão de barítono:
– Pastooooor Renê Terra Nooooova: se o Deeeeus da sua igreja
for melhooooor do que o Deeeeus da minha igreeeeeja, eu então prefiro ficaaaaar
com o Diaaaabo!...
As pessoas dentro do banco caíram na gargalhada.
O pastor Renê Terra Nova não sabia onde enfiar a cara.
Com a certeza do dever cumprido, Juzeuter Ferro deixou a
agência do Itaú e foi se aboletar no Bar do Caldeira para saborear sua Braaaahma
gelada.
Moral da história: Ferrinho, que continua frequentando a
Igreja Batista Memorial, está fazendo campanha para Artur Neto.
O pastor Renê Terra Nova e sua Igreja da Restauração fazem
campanha para a louraça belzebu.
Adivinhem de que lado Deus está...
6 comentários:
Que texto interessante....Há anos aqui e nem sequer um comentário. Acabei de te livrar do seu seu fracasso como cronista, agora tem um que leu esta merda que você escreveu. E o miserável do velho pobre, bêbado e cachaceiro ficou com a igreja, ganhou uma cirrose, mas continuou crente de uma religião tosca. Enquanto o Pastor cresceu, prosperou e nem se lembra mais desse pobre miserável! Quem tem uma igreja como a dele nem faz questão da presença de um cara que só tem dinheiro pra uma cerveja. Fala sério!!!
so não gostei do final tanto faz arthur ou vanessa os dois são da parte do capeta até rimou haha..mas esse pastor picareta quer dizer rene so engana mesmos os idiotas e burros aff !!
Aos Evangélicos de plantão:
Dízimo não é dinheiro.
Jesus não instituiu cobrança de Dízimos ou ofertas.
Deus é dono de todo ouro e prata.
Deus não precisa do seu dinheiro.
Ele quer o seu louvor e adoração.
Só Jesus salva.
E ele não é católico ou evangélico.
Ele é Senhor daquele que os servem.
SE VOCÊ FOSSE JESUS O QUE FARIA?
Deus não precisa do nosso dinheiro,mas a obra dele aqui na Terra sim..Penso que se roubam dinheiro acredito sem sombra de dúvidas na justiça divina
porque esses anonimos nao falam seus nomes medo do que?
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