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sexta-feira, maio 15, 2015

As mulheres na hora da verdade


No clima de manifestações que tomaram o país nos últimos anos, mulheres de várias idades bem que poderiam sair às ruas para protestar. Motivos não faltam. Afinal, quando o assunto é o direito legítimo de “chegar lá”, os mitos e tabus que permeiam a sociedade atrapalham, até os dias de hoje, a realização feminina entre quatro paredes. “Posso me masturbar?”, “Posso gemer?”, “E se não conseguir gozar?”, “Onde fica o Ponto G?”.

As muitas dúvidas sobre orgasmo, libido e formas de excitação somam-se a questões emocionais, culturais, profissionais e biológicas, povoando com muitas caraminholas o imaginário sexual feminino. Se ela tem facilidade de dialogar com o parceiro, às vezes empaca na inconstância comportamental, influenciada por seus hormônios. Se é bem informada e conversa sobre o assunto, às vezes o medo de ousar a impede de liberar suas fantasias mais íntimas.

Dona de um corpo cujo prazer é multifatorial e tão complexo quanto o painel de controle de um Boeing, a mulher também não foi muito privilegiada pela questão histórica. Estudos sobre o prazer feminino só passaram a ganhar visibilidade depois dos anos 60. Impulsionadas pela entrada da mulher no mercado de trabalho, liberação sexual e uso da pílula anticoncepcional, as revistas voltadas a esse público passaram a desmistificar o assunto. Até lá, tudo o que se esperava das mulheres no casamento era que “fossem boas mães e boas donas de casa”.

Não se previa o orgasmo para elas, mas as novas gerações de homens estão pensando um pouco mais nisso. Ainda bem. Com as mudanças do mundo contemporâneo, os casais tiveram que se adaptar. Ao ganhar seu dinheiro e comandar a própria vida, a mulher passou a cobrar do parceiro maior participação no jogo erótico. Superando essa fase em que deviam apenas servir, cada vez mais, passaram a exigir o “direito de chegar lá”. Nem todas sabem, porém, que é preciso aprender o caminho até o cume da montanha.

Por melhor que seja o desempenho do macho, a mulher precisa entender que é ela – e não ele – a grande responsável por seu prazer, na medida em que se permitir e se tornar disposta a aprender como o orgasmo acontece. Ou seja: quanto mais falar o que gosta e o que considera bom, maiores são as chances de satisfação.

Isso explica o fato de por que, no ano passado, salas de cinema mundo afora ficaram lotadas de leitoras eufóricas para ver o sedutor sádico Christian Grey, da obra “Cinquenta Tons de Cinza”. Isso mesmo: a trilogia de E.L. James, que levou ao delírio o público feminino com as perversões do magnata que sofrera abuso sexual na infância e tornara-se um dominador, acabou virando filme. Cenário de toda sorte de tortura e jogos de sedução entre Grey e Anastásia, o quarto vermelho deixou muitas expectadoras assanhadas diante da tela.


O pudor que muitas mulheres têm para revelar seus desejos mostra que a muralha histórica erguida entre a excitação e os bons costumes permanece. O fenômeno “Grey” revela uma tentativa de se livrar desses fantasmas morais. Sedentas por histórias picantes, as amantes contemporâneas querem, mais do que ler e ver, viver essas cenas. Sacanagem, sim, mas é a sutileza que leva ao delírio Em parte, o fascínio pelas artimanhas de Grey se explica pelo fato de que o sexo começa antes e termina depois da cama.

Segundo a sexóloga Florence Coelho Marques, são as sutilezas que as levam ao delírio. “Mulher gosta de sacanagem, mas é exigente. Querem ser observadas, degustadas, instigadas”, conjectura. As lições aprendidas em filmes pornôs, que ensinam a repetir um mesmo movimento o mais rápido possível, segundo Florence, devem ser esquecidas. Mitos como procurar o ponto G também podem ser riscados do manual erótico. 

O ponto principal é a mente. Por isso, é importante investir em tudo o que precede a penetração: massagem nos pés, beijinho no cangote, língua passeando pelo corpo, safadezas ao pé do ouvido, mordidinhas no pescoço, beijo na boca. Todas essas peças que, soltas, parecem brincadeira de adolescente, são o combustível do tesão, justamente porque ativam pontos na imaginação feminina.

Como saber se ela chegou lá? – Se em um momento de grande excitação a mulher percebe pequenas contrações rítmicas e involuntárias na entrada da vagina, seguindo-se uma sensação de relaxamento, possivelmente houve um orgasmo.

Por que é mais demorado para a mulher do que para o homem? – Diferenças em relação à resposta sexual. A mulher tem a pélvis mais larga e precisa de maior fluxo sanguíneo para estar pronta para a relação. Por isso, para elas, as preliminares são fundamentais!

Quantos tipos de orgasmos diferentes existem? – O orgasmo sempre será clitoridiano. Pode ser desencadeado pela penetração vaginal ou anal. Mas ponto G, orgasmo vaginal, são mitos. Não existem.

Como escolher um vibrador? – Existe uma gama enorme de modelos, formas, etc. Os “da moda” são os Rabbits, que prometem maravilhas. Podem ser usados pela mulher sozinha ou com seu parceiro. Na prática, como o orgasmo vem sempre do clitóris, tanto faz se o vibrador é em forma de pênis avantajado, ou se vibra dentro da vagina em multivelocidades. O que importa é que haja um estímulo prazeroso no clitóris, e para isso basta ser um vibrador discreto, de forma oval, por exemplo.


Há remédios que podem diminuir a libido? – Muitas medicações podem diminuir a libido. Eu diria que a maioria delas! Excetuando-se os analgésicos e os antibióticos, todas as demais medicações, com o uso crônico, podem ter alguma interferência. Para amenizar essa questão é imprescindível uma avaliação com um especialista (terapeuta sexual ou sexólogo), que poderá identificar se há associação de alguma medicação ou não. Muitas vezes culpamos doenças e medicações quando, na verdade, a relação não está bem: há depressão, crise financeira, doença em familiares ou outros fatores contribuindo para a redução do desejo sexual.

A idade influencia na libido? – Após os 40 anos, começa a haver uma redução fisiológica, natural, nos níveis de testosterona circulante das mulheres. Após a menopausa esta redução se acentua. Naquelas submetidas à retirada dos ovários a situação é ainda mais preocupante. Os baixos níveis de testosterona podem se relacionar a um menor desejo, impulso e fantasias sexuais. Com a proximidade da menopausa, muitas mulheres passam a apresentar redução dos níveis de estrogênio circulantes, fato associado à menor lubrificação vaginal (atrofia genital), causando desconforto ao coito.

A libido pode ser estimulada? Como? – Sempre pode e deve ser estimulada. Leituras, filmes, lingeries, performances, perfumes, jantares, viagens, agrados (flores, presentes, surpresas, mensagens, e-mails). Cada casal pode usar da criatividade para inovar, namorar, driblar a rotina. Costumamos promover mudanças em nossas vidas quando nos separamos: algumas pessoas cortam o cabelo, mudam o penteado, renovam o guarda-roupa, começam a frequentar academia, redecoram a casa... Por que não podemos fazer isso durante e para manter uma relação?

Muitas mulheres acham que se liberar na cama e deixar claro suas fantasias pode parecer vulgar. Isso é machismo da cabeça feminina? – De certa forma, sim. As mulheres aprenderam essas questões equivocadas ao longo de décadas, com nossos antepassados. Por isso “se permitir” é tão difícil. Com mais intimidade, a comunicação do casal tende a melhorar.

Por que o sexo anal é tabu? – Por que ainda existem os mitos de que é um local sujo, proibido, alusão à relação homossexual masculina, constrangimento em aceitar que pode ter prazer desta forma, em se permitir. Dê a bunda com prazer e o prazer vai surgir. Simples assim.

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