No começo da década de 70, universitários americanos criaram
uma forma inusitada de protesto: correr sem roupa em locais públicos, por simples
brincadeira ou para chamar a atenção de um grande número de pessoas.
A prática ganhou o nome de “streaking”.
O streaker (praticante do streaking) normalmente se esconde
em algum lugar, tira a roupa e, quando ninguém está olhando, dispara a correr
pelas ruas feito um alucinado.
Historicamente, os primeiros streakers manauaras foram os
adolescentes Sici Pirangy e Arlindo Jorge, que resolveram protestar contra os
constantes “apagões” promovidos pela Companhia de Eletricidade de Manaus (CEM),
em junho de 1971.
Naquela época, os “apagões” da Cachoeirinha ocorriam
diariamente por volta das 20h, obrigando todos os moradores a saírem das
residências e ficarem diante das casas aguardando o retorno da energia.
O bairro ficava completamente no escuro.
Em uma determinada noite, se aproveitando da escuridão
reinante, Sici e Arlindo tiraram os calções (moleques de 14 anos não usavam
cueca), colocaram os mesmos embaixo de um pé de castanholeira existente em
frente à casa do Arlindo, localizada quase no canto da rua J. Carlos Antony, e
dispararam a correr pela avenida Carvalho Leal em direção à rua Parintins, nuzinhos
da silva.
No meio do quarteirão, entretanto, a energia voltou – e as ruas
se iluminaram como por encanto.
Morrendo de vergonha, Sici retornou do meio do caminho para
pegar seu calção de volta, sendo vaiado estrepitosamente pelos moradores postados
diante das casas.
Levou uma surra de criar bicho da dona Socorro Pirangy pra
aprender a nunca mais fazer sem-vergonhice no meio da rua.
Mais destemido do que seu parceiro, Arlindo Jorge resolveu
continuar em seu protesto solitário.
Sem parar de correr, dobrou à esquerda na rua Parintins, depois
dobrou à esquerda na rua Borba – onde teve que se safar de uma matilha de cães
vadios que confundiram seu (dele) bráulio com uma apetitosa salsicha da Anglo –,
finalmente dobrou à esquerda na rua J. Carlos Antony.
Os xingamentos que ele recebia por onde passava exibindo sua
nudez total eram dignos de rufiões do cais do porto.
Quando chegou à frente de sua residência descobriu,
espantado, que haviam escondido seu calção no olho da castanholeira.
Ele não contou conversa.
Apesar de estar quase a ponto de colocar os bofes pela boca,
Arlindo Jorge subiu na árvore, com uma agilidade de felino – e, evidentemente, exibindo
seu plissadinho para dezenas de moleques que aguardavam o desfecho da presepada
em volta da castanholeira –, pegou o calção, se vestiu lá em cima mesmo e
depois desceu.
Sua mãe, dona Maria Mubarak, estava aguardando o retorno do
cavaleiro Jedi embaixo da castanholeira, com um vistoso galho de goiabeira na
mão.
Arlindo Jorge levou uma surra de criar bicho para aprender a
nunca mais fazer sem-vergonhice no meio da rua.
Tão ou mais divertido quanto o protesto dos dois moleques amazonenses
foi um outro ocorrido na festa de entrega do Oscar de 1974, em Hollywood, no
auge do “streaking”.
David Niven anunciava a entrada de Elizabeth Taylor quando
um homem nu atravessou o palco, acenando para a plateia.
Refeito do susto, Niven recorreu ao humor britânico.
“O pobre homem só conseguiu chamar a atenção e fazer rir
mostrando suas deficiências congênitas”, disse.
Liz Taylor entrou no palco ofegante e completou: “Depois
disso, é meio difícil fazer algo melhor...”
Foi aplaudida de pé.
Um comentário:
Esse povo da Cachoeirinha teeeem históriaaas pra contar!! Rsrs Me divirto muito lendo!!
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